É indispensável levar em conta a história do relevo e os seres vivos que o povoam
As exigências metodológicas para um conhecimento da natureza de uma região qualquer do território intertropical e subtropical brasileiro têm sido cada vez mais amplas e integrativas.
Não é mais possível centrar observações sobre as feições topográficas, as médias climáticas e a hidrografia. Além de aperfeiçoar o tratamento de tais fatos, é preciso realizar uma trajetória entre o mundo físico, o mundo geoecológico e o biótico regional, culminando nas apreciações do delicado e complexo problema das ações antrópicas cumulativas, que responderam pela conjuntura e dinâmica do chamado espaço total regional.
Com base nessas premissas, pode-se tentar elaborar uma seqüência mais rica de tópicos a pesquisar. 1) Compartimentalização morfológica regional, explicada por fatos da história geológica, sobrepostos pela história geomorfológica terminal (velhos aplainamentos; aplainamentos neogênicos; formação dos vales; níveis intermediários de encaixamento; terraceamentos e planícies de inundação). 2) Feições morfológicas de cada um dos escalões do relevo. 3) Mosaico dos solos regionais, dependente dos processos pedogênicos recentes sobre o embasamento rochoso herdado do passado e condicionantes climáticos, bem como a evolução integrada do solo com a vegetação-clímax.
Na interpretação da gênese dos compartimentos regionais, é indispensável levar em conta as interferências tectônicas, relacionadas com os soerguimentos epirogênicos, arqueamentos macrorregionais, falhamentos escalonados, bacias sedimentares de compartimentos de planalto, além das conseqüências dos movimentos glacioestáticos para a evolução das regiões costeiras.
O segundo grupo de fatos a pesquisar em uma região diz respeito à estrutura superficial da paisagem, ou seja, às formas de contato entre os chamados depósitos de cobertura e o subsolo superficial dos terrenos, antevistos em cortes de vertentes ou paredes de erosão. A preocupação com os fatos que ocorrem abaixo dos solos recentes só aconteceu tardiamente no Brasil, durante as excursões de campo de Jean Tricart e André de Cailleux por ocasião do inesquecível Congresso Internacional de Geografia no Rio de Janeiro, em 1956. Tais estudos possibilitaram a compreensão dos fatos paleoclimáticos e paleoecológicos ocorridos nos fins do período Quaternário nas mais diversas regiões do país, desde Roraima até a Campanha Gaúcha.
Na seqüência das investigações científicas sobre a natureza regional, é necessário aprofundar o conhecimento da fisiologia da paisagem. Ou seja, observar e registrar os fatos que dizem respeito à dinâmica no interior de cada ecossistema. A ênfase deve ser dada ao cotidiano da paisagem em diferentes períodos do ano, ou eventualmente durante a atuação de processos espasmódicos (grandes chuvas, enchentes, ressacas excepcionais, queimadas incontroladas).
Reconhecidas as questões básicas, torna-se mais fácil penetrar na complexidade do mundo geoecológico e ecossistêmico. Convém lembrar, logo de início, que o conceito de ecossistema - aperfeiçoado e introduzido por Tansley (1935) - tem seu foco principal no sistema ecológico de um lugar, ou seja, é obrigatório para um estudo aprofundado de uma pequena área. Trata-se de um conceito altamente interdisciplinar, que envolve o estudo do suporte ecológico da vida que ali se implantou, as biotas existentes (vegetal, animal e microrgânica) e a dinâmica climática e geoidrológica regional que garante sustentabilidade prolongada para a sobrevivência do sistema, desde que as ações antrópicas não o perturbem.
É evidente que o tratamento específico do conceito de ecossistema nos obriga a uma abordagem posterior mais aprofundada e significativa. Por fim, é necessário registrar que, para atender às grandes modificações introduzidas pelas atividades antrópicas, os geógrafos criaram o conceito de espaço total regional, considerando a presença eventual de ecossistemas naturais, agroecossistemas e os chamados ecossistemas urbanos, além dos componentes interligadores representados por trilhas, caminhos, estradas, rodovias e ferrovias. Quadros de grande diversidade que associam fatos circulares, lineares e pontuais, variando no espaço e no tempo.
http://www2.uol.com.br/sciam/conteudo/editorial/editorial_16.html
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