quarta-feira, janeiro 04, 2006

A "caixa d'água" do Brasil

Nas últimas décadas, a região Centro-Oeste do Brasil vem se transformando numa espécie de celeiro do país, especialmente com a expansão e consolidação de uma agricultura de caráter empresarial, onde as vedetes são o cultivo da soja e do algodão. Do ponto de vista natural, o Centro-Oeste se destaca pela presença de amplas áreas das chapadas tropicais recobertas extensivamente pela vegetação do cerrado e por uma região conhecida como Pantanal, com características de transição morfoclimática, identificada por uma extensa baixada, com formações vegetais heterogêneas e drenada pelo rio Paraguai. Quando se observa um mapa da rede hidrográfica do Brasil, percebe-se que no interior da região Centro-Oeste correm cursos fluviais para todas as direções. Por isso, o chamado Planalto Central é o mais importante dis¬persor de águas da rede hidrográfica brasileira. Quatro grandes bacias hidrográficas drenam áreas do Centro-Oeste de forma mais ou menos equivalente. A primeira é a Bacia Amazônica que drena a parte centro-norte de Mato Grosso onde correm vários afluentes da margem direita do rio Amazonas, como os rios Xingu, Juruena e Teles Pires, entre outros. A porção leste de Mato Grosso, o centro-norte e o oeste de Goiás são atravessados pelos rios da Bacia do Tocantins-Araguaia. Já, o centro-sul de Goiás e o centro-leste e o sul de Mato Grosso do Sul são cortados pelos rios da Bacia do Paraná. Por fim, toda a parte sul de Mato Grosso e a porção noroeste de Mato Grosso do Sul são atravessados por rios da Bacia do Paraguai. Os rios dessas bacias não cru¬zam exclusivamente as unidades fe¬derativas do Centro-Oeste, mas estendem-se por outras regiões brasileiras e também por nações vizinhas ao nosso país. Isso atribui ainda maior importância à rede hidrográfica do Centro-Oeste: vários países sul-americanos, entre os quais o Brasil, têm o maior interesse em incrementar a navegação fluvial. A importância da rede hidrográfica no Centro-Oeste remonta ao período colonial, quando o garimpo de ouro e de diamantes realizava-se em grande parte ao longo dos rios. Naquela época, os rios se constituíam num dos principais meios de locomoção daqueles que buscavam enriquecer rapidamente no interior do Brasil. Os garimpeiros, assim como os bandei¬rantes que se dirigiam ao território mato-grossense, vindos especial¬mente de São Paulo, utilizavam os cursos fluviais do chamado "caminho das monções", prolongado, em terras do Centro-Oeste, por rios como o Pardo, o Coxim, o Paraguai, o Cuiabá etc. A pecuária, outra atividade econômica que evoluiu paralelamente ao garimpo e mais tarde se sobrepôs à mineração, teve sua expansão associada à hidrografia, na medida em que os eixos de penetração do povoamento se verificavam ao longo dos vales. Os principais núcleos urbanos que se originaram na região estavam, quase sempre, junto às margens dos rios. Desde a época colonial até o século XX, os rios se constituíram nas mais eficientes vias de transporte com que contavam extensas áreas do Centro-Oeste. Diferentemente ao que ocorre em outras regiões do país, os divisores de água do Centro-Oeste nem sempre separam de forma nítida uma bacia hidrográfica de outra. Isso decorre do fato de que, na região, uma parte considerável das elevações é constituída por formas de relevo cujo "topo" é marcado por grande horizontalidade. Por conta desse aspecto morfológico, os altos vales e as nascentes de rios de diferentes bacias podem se localizar tão próximos uns dos outros, que os cursos fluviais podem se dirigir, indiferentemente, para uma ou outra bacia. Esse "embaralhamento" de rios de bacias hidrográficas diferentes é conhecido como "águas emendadas", podendo, eventualmente, facilitar obras que proponham estabelecer ligações fluviais. Por exemplo: seriam possíveis pelo menos duas ligações entre as bacias Amazônica e do Paraguai. Uma delas poria em contato o Rio Guaporé (afluente do Amazonas) com afluentes de pequeno porte do Rio Paraguai. A outra, ocasional¬mente, ocorreria na porção oriental da Chapada dos Parecis, onde existe um grande brejo, resultado da "mistura" de rios das duas bacias. Há ainda a possibilidade de ligação dos rios da Bacia Platina (São Lourenço e Itaquira) com os da Bacia do Tocantins (rios das Mortes e Araguaia). Pode-se também, além disso, viabilizar a ligação entre rios importantes de uma mesma bacia, aproveitando-se da proximidade entre altos cursos de afluentes. É o caso de uma possível ligação entre o Paraná e o Paraguai, ambos da Bacia Platina, através do Rio Pardo (afluente do Pa¬raná) e o Coxim (afluente do Para¬guai). Em função de suas características morfológicas e hidrográficas, a região Centro-Oeste funciona como uma espécie de "caixa d'água" do país, na medida em que dispersa águas em todas as direções. Essa condição geográfica é um fator de grande relevância para uma maior e mais produtiva integração nacional e continental.

AQÜÍFERO GUARANI
•O NOME:Homenagem à população indígena que dominava a Bacia Platina na época do descobrimento da América.
• O VOLUME DE ÁGUA ARMAZENADA:Calcula-se que a reserva contenha 50 quatrilhões de litros de água. É mais do que a água que corre em todos os rios do planeta em um ano, ou seja, 43 quatrilhões de litros. Poderia abastecer a atual população brasileira por 2 mil anos. (Alguns cientistas afirmam que poderá chegar a 3 mil anos).
• A VAZÃO:Chega a 800 metros cúbicos por hora (ou 800 mil litros) em profundidades de mil a 1,2 mil metros. Nas bordas é de cerca 3 litros/hora.
• A PROFUNDIDADE:A água do manancial está situada a uma profundidade que oscila de 50 metros a 1,5 mil metros. 10% da área total está rente a superfície.
• A TEMPERATURA DA ÁGUA:A cada cem metros de profundidade, a temperatura da água aumenta 3ºC. Nos pontos mais profundos, pode chegar a 60ºC. A água tem uma temperatura média de 25ºC a 30ºC .
• A ESPONJA:A água está embebida em um manto de arenito poroso. Trata-se de água da chuva que escorreu lentamente para o subsolo durante 100 milhões de anos, depurando-se.

• O eixo do Rio Paraná é uma referência geográfica. Próximo ao rio, o aqüífero está em grandes profundidades, a mais de mil metros.
• A água do Guarani é suficiente para abastecer a população do mundo inteiro por uma década.(no mínimo)
• Nas margens do aqüífero Guarani, a erosão expõe afloramentos.
• Além do Guarani, um reservatório bem menor, o Bauru, se formou sob o solo da região de São Paulo.
Publicado no Caderno Especial "Eureka" de Zero Hora em 19/03/2001 (com adaptações)

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