A espiral de tensão entre a India e o Paquistão, como resultado da disputa sobre a Caxemira, converte esta região em um dos pontos de maior efervescência e de fricção geopolítica do planeta. O problema tem adquirido altos decibéis emocionais, passíveis de estrepitosos estrondos bélicos, desde que o terrorismo islâmico - supostamente propiciado pelo serviço de inteligência paquistanês -, cravou suas garras sobre a India. Um novo atentado, ocorrido em Bombaim, na primeira quinzena de agosto, ameaça em incrementar a guerra fria que, lamentavelmente, envolve ambos os países.
A tradição hindu remonta há quatro milênios. Entretanto, a partir de 1192, projetou-se uma forte presença muçulmana em território indiano. De fato, apesar da imensa maioria populacional ser de origem hindu, a classe dominante era proveniente dos estratos sociais muçulmanos.
Esta tendência consolidou-se sob a dinastia dos reis durante o império grão-mongol, a partir de 1526. Após o desmembramento desse império, em 1761, os britânicos começaram a exercer seu controle sobre o vasto subcontinente, promovendo a desejada integração entre hindus e muçulmanos.
Durante a primeira década do Século XX, o partido do Congresso da India começou a promover a independência do país. A partir daí, projetaram-se duas tendências: uma representada por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, e, a outra, por Allí Jinnah. Este último, buscou preservar os interesses dos setores muçulmanos, frente ao que considerava uma tendência pró-hindu, por parte de Gandhi. A partir dos anos quarenta do século passado, Allí Jinnah começou a insistir na criação de um Estado muçulmano independente, opondo-se a todo intento unitário.
Em 1947, o subcontinente emergiu da independência, dividido em dois Estados: Índia e Paquistão. Gigantescas massas humanas mobilizaram-se de um setor a outro para conformar dois espaços claramente divididos: um hindu, e outro, muçulmano.
O Estado paquistanês surgiu da província de Punjab, situada a Oeste do novo Estado da Índia. Com a terceira das guerras ocorridas entre essas nações, em 1971, a banda oriental do Paquistão se tornaria independente para formar um novo país: Bangladesh.
Entretanto, foi na primeira guerra entre os dois contendores onde surgiu o cerne do problema que ainda hoje envenena suas relações. A província de Caxemira, majoritariamente muçulmana, uniu-se à India, e não ao Paquistão, por decisão unilateral do marajá governante. Isso desencadeou, como corolário, um enfrentamento bélico que prolongou-se até 1949, quando a ONU estabeleceu um armistício promovendo a divisão da província. Como parte do acordo, a India se comprometeu a celebrar um plebiscito na região da Caxemira, o que, efetivamente, nunca ocorreu. Ao contrário, em 1957, dito território foi anexado à India. Desde então, os dirigentes paquistaneses vêm reclamando, veementemente, demonstrando estar inconformados com essa situação considerada anômala.
O aparecimento de uma linha de terrorismo islâmico, propiciado pelo Paquistão - segundo acusação do governo da India -, conduziu ao “alarme vermelho” as tensões entre os dois países, em mais de uma oportunidade. Após os atos terroristas perpetrados em território estadunidense, em 11 de setembro, o governo paquistanês buscou dissociar-se do fundamentalismo islâmico, e ambos países têm feito algum esforço no sentido de reaproximarem-se. Entretanto, as ações terroristas no território indiano podem terminar desencadeando uma nova conflagração armada, e que, nas atuais circunstâncias, seguramente teria um caráter bélico-nuclear, de conseqüências imprevisíveis.
India e Paquistão parecem ter olvidado que a sadia convivência entre vizinhos e a inter-relação econômica é um fator sinérgico e impulsionador do crescimento e demonstração de maturidade política. Lamentavelmente, estão agindo na contramão da História e, conseqüentemente, devem aprender a conviver com a idéia da própria extinção como parte de uma realidade cotidiana.
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