Clima
Corrida contra o tempo
Preservar florestas e conter o
desmatamento pode render dinheiro
e ajudar no combate aos efeitos do
aquecimento global
Luciana Sgarbi
O cenário de ruas desérticas em Nova Orleans, depois da passagem do furacão Katrina, já tinha servido de alerta aos muitos que relutam em acreditar nos efeitos caóticos do aquecimento global. Agora, a estimativa de que os desastres meteorológicos de 2005 causaram um prejuízo de US$ 200 bilhões, quase 40% a mais do que no ano passado, coloca uma relevante dose de realidade em um assunto que parecia ser ficção científica.
Os dados, preocupantes, foram apresentados na semana passada aos representantes de 189 países na 11ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-11), que foi de 28 de novembro a sexta-feira 9, em Montreal, no Canadá. As estatísticas da Fundação Re de Munique mostram uma evolução acelerada. Desde que se começou a registrar fenômenos climáticos no planeta, em 1850, nunca houve tantos furacões e tempestades tropicais quanto neste ano.
O objetivo do encontro de Montreal era definir medidas concretas a serem implementadas após 2012, quando termina a vigência do Protocolo de Kyoto, acordo internacional que determinou aos países industrializados metas de redução de gases estufa, como o dióxido de carbono (CO2). Como seria de se esperar, os olhos dos participantes ficaram voltados para os EUA.
Pressão – Embora respondam por um quarto das emissões de gases poluentes do planeta, os americanos rejeitaram o Protocolo de Kyoto sob a alegação de que ele não seria bom para a economia do país. O argumento de George W. Bush é de que o setor produtivo americano seria obrigado a reduzir suas atividades enquanto outros países – leia-se China – ficam livres para produzir e poluir à vontade.
Uma das propostas paralelas sugeria que países com grandes coberturas florestais – como o Brasil – recebessem compensações financeiras para conservar intactas essas áreas verdes. “Acredito que esta seja uma das melhores soluções para a entrada do Brasil neste acordo. Se vamos beneficiar o planeta todo, nada mais justo que sejamos recompensados por isso”, diz João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, um dos representantes brasileiros no encontro.
A recompensa à qual Capobianco se refere, que também foi defendida em Montreal pela ministra Marina Silva, pode significar um novo mercado de créditos de carbono, capaz de movimentar cerca de US$ 30 bilhões até 2012, sendo que só o Brasil levaria US$ 3 bilhões ao ano. Na prática, os países que investissem em projetos
de reflorestamento com o objetivo de absorver da atmosfera os gases causadores do efeito estufa estariam isentos da meta estipulada no Protocolo de Kyoto. “Além de beneficiar ambas as partes, o mercado de créditos de carbono ajuda a promover o desenvolvimento sustentável, que dá assistência às comunidades locais”,
explica Capobianco.
A proposta defendida pelo Brasil foi aprovada pelos delegados da convenção em Montreal e estimula países pobres a reduzir o desmatamento em suas florestas, cortando, por tabela, suas emissões de gases de efeito estufa. O acordo, que entra em vigor a partir de 2008, prevê que os países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China, ficariam de fora dos cortes de emissão de poluentes previstos no Tratado de Kyoto. Os detalhes práticos sobre como funcionaria esse novo método de incentivo para os países em desenvolvimento reflorestarem e preservarem suas matas nativas só terão início em maio de 2006.
Apesar de nações como Bolívia, Chile, Congo, Costa Rica, República Dominicana e Nicarágua manifestarem apoio oficial à proposta de compensação defendida pelo Brasil, a Índia considera injusto os países em desenvolvimento serem comparados de alguma forma com os desenvolvidos – estes historicamente responsáveis pelas maiores emissões de CO2 –, que acelerou o aquecimento global do planeta. Em reunião entre os grupos negociadores e o presidente da cúpula, o ministro canadense Stephen Dion, a Índia disse temer que, após 2012, os países desenvolvidos queiram passar a maioria da carga de redução aos países em desenvolvimento. Só o tempo dirá.
Creio que educar é basicamente habilitar as novas gerações no exercício de uma visão não ingênua da realidade, de maneira que seu olhar tenha em conta o mundo, não como uma suposta realidade objetiva em si mesma, mas como o objeto de transformação ao qual o ser humano aplica sua ação. Mario Luiz Rodrigues Cobos - o Silo, "A Paisagem Humana", capítulo 'A Educação'
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário