sexta-feira, setembro 29, 2006

Números aloprados


José Paulo Kupfer

29.09.2006
| Ao classificar como “aloprados” os amigos e assessores trapalhões do “dossiê Tabajara” contra candidatos tucanos nesta eleição, o presidente Lula resgatou um termo que andava fora de moda, mas é de grande utilidade para, entre outros bons usos, definir certos levantamentos e estudos econômicos. Nenhum outro vocábulo, por exemplo, seria mais adequado para resumir o “Relatório da Competitividade Global 2006-2007”, agora divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, aquele mesmo que reúne, em janeiro, governantes de prestígio – ou em busca de – e empresários de grosso calibre, na estação de esqui de Davos, Suíça (também cenário do sanatório de “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann). Eis aí um caso típico de estudo econômico totalmente aloprado.

Na lista deste ano, o Brasil ficou no 66o lugar, num conjunto de 125 países, tendo recuado nove posições em relação ao ranking de 2005. Aparece atrás das economias desenvolvidas, dos emergentes asiáticos de sempre e também de China, Índia e Rússia, grandes emergentes-baleias como nós. Perdeu também para alguns latino-americanos – o indefectível Chile, o aluno mais aplicado das disciplinas neoliberais na região, aparece como 27 mais competitivo e o México na 58a posição.

Ficar atrás desses países em rankings do tipo é, para o Brasil, mais velho do que andar para a frente. Estaria, portanto, tudo certo, não fosse o fato de que, pelo ranking do Fórum Mundial, a Suíça ganhou o troféu de país mais competitivo do mundo e Barbados, com o 31o lugar, classificou-se à frente da Itália (42o). Pobre Suíça, quietinha lá com sua imensa renda per capita e grandes corporações financeiras, sem jamais ter pensado que, além do chocolate e dos relógios, fosse ser mais competitiva que Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e outras potências industriais.

O problema, na verdade, não é uma lista que classifica El Salvador, Tunísia, Maurício ou Azerbaijão como economias mais competitivas que o Brasil. Nem mesmo quando descobre encantos competitivos insuspeitos na ensolarada Barbados, com seus menos de 300 mil habitantes e uma economia que não chega a US$ 3 bilhões por ano. O problema é o crédito que se dá entre nós a uma classificação desse tipo.

Nossos jornalões abriram manchetes para lastimar a derrocada competitiva brasileira. Compraram um prato feito sem perguntar muito como, misturando laranjas e bananas, é possível não produzir uma indigesta salada de frutas. No entanto, de um catado de indicadores nos bancos de dados das agências multilaterais e de um questionário respondido por executivos e empresários, decretou-se o grau de competitividade comparada de economias tão díspares quanto as do Timor Leste ou de Malta. Sem contestação.

Todos sabemos que o Brasil não é um primor de competitividade. Alta carga de impostos, custo do dinheiro nas nuvens, burocracia exasperante, corrupção da grande e da pequena, são barreiras óbvias e poderosas ao bom desempenho das empresas brasileiras. Mas é melhor ir devagar com a louça na hora de generalizar. Em determinados setores e em certos critérios, não andamos tão mal assim. O país produz aço como gente grande, aviões como poucos e commodities agrícolas como os melhores. O próprio levantamento do Fórum Mundial registra que, embora continue devendo em fatores básicos, o Brasil tem avançado mais rápido do que seus pares em indicadores considerados mais avançados, como acesso a tecnologias e sofisticação na gestão de negócios.

De uns tempos para cá, o mundo foi tomado por uma febre de rankings econômicos. Quase todos, no entanto, padecem do mesmo e insuperável mal: a mistura de alhos com bugalhos. Além disso, costumam não disfarçar um viés ideológico que restringe significativamente seu valor informativo. Colocam, por exemplo, excessiva ênfase no enxugamento das contas públicas e no tamanho do estado, mas, ao mesmo tempo, praticamente ignoram os impactos das condições econômicas sobre os trabalhadores e viventes em geral.

O resumo da história é que, se tais levantamentos até podem ser úteis para comparações meramente de referência, não devem nunca servir para dar suporte ao desenho de políticas públicas. Afinal, se o Brasil estabelecesse como meta ser mais competitivo do que Barbados ou Azerbaijão, mesmo se for muito bem sucedido na empreitada, não vai chegar a lugar nenhum que valha a pena. Um projeto como esse, convenhamos, seria totalmente aloprado.


Fonte: NO MÍNIMO

quarta-feira, setembro 27, 2006

Vale no Canadá


Vale do Rio Doce compra canadense Canico por R$ 1,7 bilhão, adiciona o níquel ao portifólio e fica ainda mais poderosa no exterior

Isto É Dinheiro

Por flávia tavares

A Companhia Vale do Rio Doce não esconde de ninguém a sua ambição: “se tornar uma das três maiores companhias de mineração do mundo até o final da década”, como declara em seu website. Um grande passo foi dado nessa direção na semana passada, quando a Vale anunciou a aquisição de 93% das ações da canadense Canico, por R$ 1,7 bilhão. Com a compra, a Vale se
torna a quarta maior produtora mundial de níquel. No pacote, está o ativo da canadense no País, o projeto de Onça Puma, na Serra dos Carajás (PA), que deve funcionar a pleno vapor no primeiro semestre de 2008, depois de receber investimentos de US$ 1,1 bilhão.

Agnelli, presidente: Mais US$ 1,1 bilhão para começar a produzir

Não é a primeira iniciativa da Vale no mercado de níquel, metal usado para a produção de aço inoxidável. A empresa tem um outro projeto, o Vermelho, na mesma região, que receberá
US$ 1,2 bilhão e deve ficar pronto no fim de 2008. “Esse é um mercado de demanda crescente, especialmente com a expansão da economia chinesa”, afirma Gilberto Calaes, economista especializado em mineração. Segundo a própria Vale, as estimativas de crescimento anual da demanda do metal são de 4,5% até 2010. As duas reservas da companhia juntas têm potencial de produzir 104 mil toneladas de níquel por ano. “A compra coloca a Vale numa condição única, a de oferecer aos clientes um portifólio amplo de produtos para a siderurgia mundial: minério, manganês, níquel, carvão”, disse Roger Agnelli, presidente da Vale, ao anunciar o negócio com a Canico.

A Canico é uma das chamadas “junior companies” canadenses, que são empresas de menor porte criadas para levantar recursos na Bolsa de Toronto, criar projetos de mineração viáveis e, eventualmente, ser vendidas para alguma das gigantes do setor siderúrgico. No caso da Canico, ela foi criada exclusivamente para desenvolver o projeto de Onça Puma, no qual investiu US$ 77 milhões desde 2002. “Agora que a missão foi cumprida e assim que o negócio for concluído, estarei desempregado”, disse à DINHEIRO Michael Kenyon, atual presidente da Canico. A Vale já anunciou que pretende fechar o capital da canadense o mais rápido possível e que trocará o conselho administrativo, encerrando as atividades do escritório de Vancouver e concentrando os negócios no Brasil. “A Canico continua existindo como empresa, mas passa a ser totalmente controlada pela Vale”, diz Kenyon. “Eles assumiram o melhor projeto de níquel do mundo.”