Contrariamente ao que vem ocorrendo nos países da América Latina, onde alguns partidos políticos de esquerda desejam, ardentemente, a adoção do mercantilismo estatal, o último bastião comunista, a República Popular da China, foi muito mais pragmática ao ter-se voltado para o capitalismo, desde 1978, conseguindo atingir uma média anual de crescimento na ordem de 9,4%, convertendo-se em uma pujante e promissora economia mundial. Somente entre janeiro e junho deste ano instalaram-se mais de 14.000 novas empresas estrangeiras no país, 17% a mais que no ano anterior e a inversão estrangeira, que cresce a cada ano, já supera os US$ 47 milhões, quase 54% acima em igual período no ano passado. Em junho deste ano, havia um total de 479.600 empresas estrangeiras instaladas, com investimentos na ordem de US$ 521 bilhões.
Estes números alvissareiros são o resultado da adoção dos padrões de economia capitalista, com todas as suas exigências de transparência e respeito ao Império da Lei. Se compararmos estes resultados com os obtidos no Brasil – no momento o país mais progressista da América do Sul, juntamente com o Chile –, verificamos que em 1980 a economia brasileira era maior que a da China, porém, nos últimos 25 anos, o Brasil apresentou um crescimento de 0,5% anual e sua desigualdade na distribuição da renda nacional tem aumentado, significativamente, enquanto mais de 280 milhões de chineses saíram da extrema pobreza e se incorporaram ao mercado de consumo, demandando todo tipo de produtos.
Para que se veja mais claramente a diferença do que é a dinâmica comercial mundial, em 1985 a China exportou aos Estados Unidos no entorno de 4 US$ bilhões, enquanto o Brasil 6,8 US$ bilhões. Já no ano de 2003, as cifras indicavam 154 US$ bilhões de vendas chinesas ao mercado estadunidense, enquanto as brasileiras ascenderam a 17 US$ bilhões o ano passado.
Para os carentes de memória histórica, o notável crescimento chinês é resultado da reviravolta na economia de mercado dada por Deng Xiao-Ping no ano de 1978, ano em que a China adotou uma estratégia de crescimento já experimentada na região Ásia-Pacífico, iniciada pelo Japão e emulada pelos quatro dragões: Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura, e que consistia em sustentar o crescimento econômico em uma estratégia de arrojada exportação orientada aos mercados mundiais de alto nível de consumo, entre as quais figuram, em primeiro lugar, os Estados Unidos.
Nesse mesmo período, a China foi gradualmente baixando o percentual das tarifas, cuja média, em 1994, era de 41% e passou para 12% em 2004. Atualmente, foi estabelecida uma nova lei de comércio exterior que permite a empresas nacionais e estrangeiras, indistintamente, participar de negócios de importação sem requisitos de aprovação prévia das autoridades. Ademais, a economia chinesa não é mercantilista e, neste ano, suas importações vão se posicionar acima das exportações.
O mais notável neste fenômeno é que as exportações são realizadas principalmente por empresas transnacionais instaladas no país, e que representam 50 % das vendas externas e, quando se refere a bens de capital e produtos eletrônicos, elas representam entre 70% e 90% do total, segundo o tipo de bem exportado.
Certamente seria de muito bom alvitre que nos espelhássemos no "modus faciendi" dos economistas chineses, se quisermos continuar deslanchando o crescimento de nossa economia e nos projetarmos, ainda mais, no cenário internacional.
* O autor é Coronel-Aviador R1
* Membro do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra e Pesquisador do INCAER
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