quarta-feira, março 18, 2009

China preocupa-se com segurança dos empréstimos que fez aos EUA

 

A Casa Branca asseverou oficialmente à China que “não existe aplicação mais segura no mundo” para as reservas de divisas do país asiático e pediu encarecidamente a Pequim que continue emprestando, em reação às preocupações manifestadas pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, na semana passada, sobre a sorte de centenas de bilhões trocados por títulos do Tesouro dos EUA e papéis norte-americanos. “Para ser sincero, estou um pouco preocupado”, afirmou Jiabao, no último dia da sessão anual do pleno do parlamento chinês, na sexta-feira 13. “Já emprestamos muito dinheiro aos Estados Unidos”, acrescentou.

Sem esse dinheiro, os EUA não teriam como financiar seu déficit, que este ano, em decorrência da crise e da falta de poupança interna, chegará a 12% do PIB. A otimista declaração de que “não existe aplicação mais segura no mundo” foi feita pelo porta-voz Robert Gibbs. Desde setembro, a China ultrapassou o Japão como o maior credor dos EUA.

Nessa mesma entrevista, Jiabao havia reiterado que “é claro que estamos preocupados com a segurança de nossos ativos”. Afinal, somente em títulos do Tesouro e outros papéis o montante de dinheiro chinês emprestado aos EUA ultrapassa os US$ 727 bilhões. Diz-se até que o banco de hipotecas Freddie Mac só não faliu porque era “too chinese to fail” – “demasiado chinês para quebrar”. Também querendo tranqüilizar Pequim, o diretor do Conselho de economistas da Casa Branca, Lawrence Summers, garantiu que Washington “é um zeloso guardião” das reservas da China.

Prevendo um déficit de 1,752 trilhão de dólares para o exercício fiscal 2008-2009 que finaliza em setembro, agravado por medidas excepcionais tomadas para sustentar a economia americana, o governo dos EUA dificilmente pode dispensar os empréstimos apor-tados pela China.

O que acontece com a Europa?

 

Paul Krugman
Do The New York Times

A Europa me preocupa. Na realidade me preocupa o mundo todo - não existem refúgios seguros para a tempestade econômica mundial. Mas a situação da Europa me preocupa mais do que a dos Estados Unidos. Que fique bem claro, não vou repetir a reclamação padrão dos Estados Unidos de que os impostos na Europa são muito altos e seus benefícios muito generosos. Os grandes Estados do bem-estar social não são a origens da atual crise européia. De fato, como vou explicar em breve, é um fator atenuante. Atualmente na Europa, o perigo evidente e presente vêm de outra direção: da incapacidade do continente em responder efetivamente à crise financeira.

A política fiscal e monetária da Europa enfrenta uma crise tão severa quanto a dos Estados Unidos, mas está fazendo muito pouco para combatê-la.

Com relação ao aspecto fiscal, a comparação com os Estados Unidos é surpreendente. Muitos economistas, inclusive eu, argumentam que o plano de estímulos do governo Obama é muito pequeno para o tamanho da crise. No entanto, as ações dos Estados Unidos fazem com que as ações da Europa sejam vistas como muito menores. A diferença na política monetária também é alarmante. O Banco Central Europeu antecipou-se muito menos que a Reserva Federal (na realidade, aumentou as taxas em julho passado), e evita qualquer medida forte para o descongelamento dos mercados de crédito.

O único fator que está funcionando a favor da Europa é exatamente aquele pelo qual ela é tão criticada: o tamanho e a generosidade dos seus Estados de bem-estar, que estão reduzindo o impacto da crise econômica.

Isto não é pouco. Na Europa, com os seguros de atenção à saúde garantidos e generosas parcelas de seguro desemprego, até o momento não há tanto sofrimento humano quanto nos Estados Unidos. E esses programas também vão ajudar a conter os gastos durante a crise.

No entanto, os ditos "estabilizadores automáticos" não são substitutos da ação positiva. Por que a Europa não está preparada? Os maus dirigentes fazem parte da história. Os banqueiros europeus, que não foram atingidos pela crise, ainda parecem estranhamente complacentes. Nos Estados Unidos, para ouvirmos qualquer coisa parecida com os disparates proferidos pelo ministro da economia alemão, só mesmo vindo dos republicanos.

Há um problema ainda mais sério: a integração econômica e monetária da Europa está muito adiantada em comparação às suas instituições políticas. A economia de muitos países da Europa está fortemente vinculada, assim como a economia de muitos estados dos Estados Unidos, e a maioria da Europa tem uma moeda em comum. No entanto, diferentemente dos Estados Unidos, a Europa não possui o tipo de instituições em nível continental necessárias para enfrentar uma crise continental.

Essa é uma razão importante para a falta de ação fiscal: não há um Governo único na posição de assumir a responsabilidade pela economia européia, cada Estado membro é responsável pelo acúmulo de dívidas enormes para financiar benefícios destinados a eleitores de outros países. Poderíamos esperar que a política monetária fosse mais enérgica. Afinal, embora não exista um Governo europeu, existe o Banco Central Europeu. No entanto, o BCE não é a Reserva Federal dos Estados Unidos, que pode dar-se o luxo de medidas audazes, pois é apoiada por um governo nacional unitário, que já se mobilizou para compartilhar os riscos da sua audácia e, com certeza, cobrirá as possíveis perdas, caso os esforços por descongelar os mercados financeiros não dão certo. O BCE, que deve se submeter a 16 Governos que freqüentemente entram em conflito, não pode contar com o mesmo nível de respaldo.

A Europa, em outras palavras, está demonstrando ser estruturalmente frágil em tempos de crise. A grande pergunta é o que vai acontecer com as economias européias que há alguns anos prosperaram num ambiente de dinheiro fácil, particularmente com a Espanha.

Durante grande parte da última década, a Espanha foi a Flórida da Europa. A sua economia se manteve em alta graças ao auge da especulação imobiliária. Como na Flórida, o auge transformou-se em contração. A Espanha precisa encontrar novas fontes de renda e emprego para substituir o desemprego na construção. No passado, a Espanha teria procurado melhorar a sua competitividade desvalorizando a moeda. No entanto, agora tem o euro - e a única forma de avançar parece ser um processo de disseminação da redução de salários. Isto teria sido difícil nas melhores épocas; evidentemente será muito doloroso se, como parece ser muito provável, a economia européia no seu conjunto está em depressão e com tendência à deflação nos próximos anos.

Será isso um sinal de que a Europa errou em permitir essa integração tão estreita? Será que a criação do euro, em particular, foi um erro? Talvez.

No entanto, a Europa ainda pode mostrar que os céticos estão errados, se os seus políticos começam a mostrar mais liderança. Será que eles farão isso?

Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

sábado, março 14, 2009

Diplomacia brasileira e reunificação coreana

 

Assumirá no final de março em Pyongyang a Embaixada do Brasil na RPDC – República Popular Democrática da Coréia, o diplomata Arnaldo Carrilho, que será nosso primeiro Embaixador naquele país amigo.

Profundo conhecedor da geopolítica asiática, de sua história, de sua economia e da milenar cultura de seus povos, Arnaldo Carrilho tem também uma grande experiência política e diplomática. Aos 71 anos, já foi embaixador por vários anos em vários países da Europa como a Alemanha Oriental, em países árabes como a Arábia Saudita e em 2007 foi o representante brasileiro em Ramallah na Cisjordânia.

Em recente entrevista veiculada pelo UOL, falou sobre seus objetivos à frente dessa nova missão a ele conferida pelo presidente Lula: “Estamos abrindo agora essa embaixada por que o Brasil é hoje em dia, um país que tem uma independência internacional muito marcante. Nós não temos problemas com alianças ou parcerias políticas, somos autônomos. Pouco a pouco, com o crescimento da atividade diplomática do país a gente vai abrindo pelo mundo afora novas missões diplomáticas. O Brasil está abrindo embaixada no Azerbaijão, em mais cinco países no Caribe e acabou de abrir no Mali e na Armênia. Isso faz parte do andamento natural da presença do Brasil no mundo”, disse.

Sobre se encontrará algum problema na Coréia Popular afirmou que “há outros [países] mais fechados. Não se esqueça que há países onde não há nenhuma forma de parlamento, nem de eleições. A Coréia é simplesmente o último em que estamos abrindo uma embaixada. Não vou dizer que a Coréia do Norte é um país aberto. É outro tipo de regime. A Coréia era um reinado até 1910 quando foi ocupada pelo Japão, era um país em que o poder passava dinasticamente. Eu espero que o Brasil contribua muito para que o regime de Pyongyang se sinta mais confortável porque afinal de contas, o Brasil será o primeiro país não socialista das Américas que abrirá uma Embaixada em Pyongyang. Espero que dê uma sensação agradável ao governo da Coréia do Norte. Ter o país de mais expressão da América Latina, sobretudo da América do Sul, presente com uma missão diplomática em Pyongyang é algo relevante. Tenho a impressão de que virão outros países para estabelecer relações diplomáticas com a Coréia do Norte. Pyongyang é uma cidade que ostenta quase 50 missões diplomáticas residentes”, afirmou o Embaixador.

Inteiramente sintonizado com a política externa do governo brasileiro, com o chanceler Celso Amorim e com o presidente Lula, o embaixador brasileiro na RPDC fez importante declaração acerca de questões candentes como a relação entre a Coréia do Norte e do Sul, a reunificação e o papel do Brasil. “O Brasil sempre favorece o diálogo. O país apoiaria qualquer forma de entendimento. O Brasil é favorável à reunificação da Coréia. Nós temos uma embaixada muito ativa em Seul e eu espero corresponder no Norte a essa atividade sob o ponto de vista político. O Brasil se propõe a ver uma Coréia unificada. Aliás eu creio que seja o desejo da comunidade internacional. Ninguém gosta de países de um mesmo povo divididos. No momento [as relações entre as duas Coréias] estão um pouco deterioradas. É sempre assim, tem altos e baixos. Mas são coisas naturais de governos de um mesmo país que têm idéias diferentes”, pontuou.

Arnaldo Carrilho quer desenvolver o comércio bilateral – 380 milhões em 2008 -, quer estimular o contato com empresas brasileiras como é o caso da Sadia que já está discutindo a exportação de carnes de suínos e frangos. O Brasil tem interesse na importação de magnesita cuja produção da RPDC é a segunda do mundo. “Vamos ver o quanto a magnesita norte-coreana poderá participar do comércio Brasil-Coréia do Norte. E quanto às relações políticas elas serão desenvolvidas conforme nossas relações bilaterais acontecerem”, sublinhou.

“O papel do governo brasileiro será de desenvolver relações em todos os sentidos: econômicas e comerciais, culturais, políticas e nos fóruns multilaterais. É uma tarefa bastante extensa. Vou promover a cultura brasileira lá. O líder da Coréia do Norte, por exemplo, adora cinema e espetáculos musicais, e o Brasil tem muito a oferecer para aquele país. Inclusive penso em promover uma exposição de artistas brasileiros que já ensaiaram arte realista-socialista, como se dizia antigamente. Mas ainda não há nada programado a respeito disso”, concluiu o Embaixador brasileiro.

ROSANITA CAMPOS

Regime dos Lamas submetia povo tibetano às trevas da escravidão

 

O texto a seguir é parte de um artigo publicado no jornal Revolutionary Wor-ker, nos EUA. O título original do trecho é “A sociedade de classes no velho Tibet”.
“Antes das mudanças revolucionárias iniciadas em 1949, o Tibet era uma sociedade feudal. Havia duas classes principais: os servos e os aristocratas proprietários dos servos. O povo vivia como os servos na Europa da “Idade das Trevas”, ou como os escravos e os meeiros africanos no Sul dos EUA.

“Os servos tibetanos raspavam as colheitas de cevada da terra dura com arados e foices de madeira. Criavam cabras, ovelhas e iaques para obter leite, manteiga, queijo e carne. Os aristocratas e os lamas dos mosteiros eram proprietários das pessoas, da terra e da maioria dos animais. Forçavam os servos a entregar a maioria dos cereais e exigiam todo o tipo de trabalhos forçados (chamados ulag). Entre os servos, tanto os homens como as mulheres participavam no trabalho duro, incluindo o ulag. Os povos nômades dispersos pelas áridas terras altas do Tibet ocidental também eram propriedade dos senhores feudais e dos lamas.

“O irmão mais velho do Dalai Lama, Thubten Jigme Norbu, alegou que na ordem social lamaísta, “não havia nenhum sistema de classes e a mobilidade de classe para classe tornava impossível qualquer preconceito de classe”. Mas a própria existência dessa ordem religiosa baseava-se num sistema de classes rígido e brutal.

“Os servos eram tratados como seres ‘inferiores’ menosprezados - tal como eram tratados os negros no sistema Jim Crow do Sul dos EUA. Os servos não podiam sentar-se nos mesmos sítios, usar o mesmo vocabulário ou comer com os mesmos talheres que os seus donos. Tocar num dos pertences dos amos poderia mesmo ser punido com chicotadas. Os amos e os servos estavam tão distante uns dos outros que em muitas partes do Tibet falavam idiomas diferentes.

“Era costume um servo pôr-se de joelhos e mãos no chão para que o seu amo pudesse usar as suas costas para montar um cavalo. O estudioso do Tibet A. Tom Grunfeld descreveu uma menina da classe dominante que habitualmente fazia com que os criados a levassem escada acima e escada abaixo por pura preguiça. Frequentemente, os amos atravessavam os riachos às costas dos seus servos.

“No Tibet, a única coisa pior que um servo era um ‘escravo pessoal’ que nem sequer tinha direito a cultivar nenhuma cultura para si próprio. Estes escravos eram frequentemente espancados, obrigados a passar fome e a trabalhar até à morte. Um amo podia transformar um servo em escravo quando quisesse. Na capital do Tibete, Lhasa, havia rotineiramente crianças a ser compradas e vendidas. Cerca de 5% dos tibetanos eram considerados escravos pessoais. E pelo menos outros 10% eram monges pobres que na realidade eram ‘escravos em túnicas’.

“O sistema lamaísta tentava impedir qualquer fuga. Os escravos foragidos não podiam ir simplesmente estabelecer-se nas vastas terras vazias. Alguns ex-servos explicaram à escritora revolucionária Anna Louise Strong que, antes da libertação, ‘Não se podia viver no Tibet sem um amo. Seríamos apanhados como criminosos a não ser que tivéssemos um dono legal.’

OPRESSÃO DA MULHER

  "O Dalai Lama escreveu: ‘No Tibet não havia nenhuma discriminação especial contra as mulheres’. O biógrafo autorizado do Dalai Lama, Robert Hicks, alega que as mulheres tibetanas estavam contentes com a sua situação e que ‘influenciavam os seus maridos’. Mas, no Tibet, nascer mulher era considerado um castigo por comportamento ‘ímpio’ (pecador) numa vida anterior. No velho Tibet, a palavra para “mulher”, kiemen, significava “nascimento inferior”. Dizia-se às mulheres que rezassem: ‘Possa eu rejeitar um corpo feminino e renascer homem’.

Seguradora AIG teve prejuízo de US$ 61,7 bilhões no 4º trimestre

 

Na UTI do Tesouro desde setembro, a maior seguradora dos EUA está exposta a US$ 1,6 trilhão em derivativos, conforme afirma relatório divulgado na internet como parte da campanha por mais fundos junto ao Congresso para mantê-la à tona

Aexposição da seguradora AIG aos derivativos é de US$ 1,6 trilhão, afirma relatório divulgado na internet, às vésperas do anúncio do maior prejuízo já sofrido por uma empresa em só um trimestre, e parte de campanha para aumentar os fundos públicos para mantê-la à tona. Maior seguradora dos EUA, na UTI do Tesouro desde setembro passado, a AIG sofreu um vertiginoso prejuízo de US$ 61,7 bilhões no último trimestre de 2008. Somado às perdas anteriores, o rombo total da AIG no ano passado chegou a US$ 99 bilhões.

O Tesouro dos EUA se antecipou ao anúncio do desastre, e garantiu mais US$ 30 bilhões para manter a AIG em estado de animação suspensa – a terceira dose de bail out desde setembro. O relatório, com o logo da AIG, é apresentado como uma análise do “risco sistêmico” que resultaria da falência da seguradora, tendo sido divulgado no site “Scribd.com”, especializado em documentação de todo tipo e, no nosso caso, sua consulta foi por indicação do conhecido site norte-americano “Counterpunch.com”.

DESMANCHE

O documento adverte que o desmanche que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers seria fichinha perto do colapso final da AIG, dado as ligações do braço de “produtos financeiros” da seguradora, a AIGF (exposta a US$ 1,6 trilhão em derivativos), com 1500 instituições, entre os maiores bancos, governos, fundos soberanos, corporações e fundos de hedge, e à abrangência das suas operações no mundo inteiro. Ameaça, ainda, com uma “corrida aos bancos” no setor de seguros, que praticamente atingiria cada setor da vida americana. Também seriam golpeados os estados e municípios, já que outra subsidiária é a segunda maior seguradora de bônus emitidos por estes.

Desde o inicio do bail out, a AIG já recebeu US$ 162,5 bilhões em dinheiro público, e teve, em troca, de conceder 80% dos ativos como garantia. As ações da AIG – que até setembro passado estavam entre as 30 ‘blue chips’ do Dow Jones Industrial, de onde já foram despejadas -, agora valem minúsculos US$ 0,41. (Com três, dá para comprar uma ação do Citibank, e com quatro, uma da GM. Que portfolio).

De acordo com as agências internacionais, pelo menos um-terço desse dinheiro colocado pelo Tesouro dos EUA na AIG já foi parar direto no caixa de 20 grandes bancos, alguns deles europeus, envolvidos como contrapartes nas operações com derivativos. Cerca de US$ 50 bilhões, o que já levou alguns observadores a classificarem a AIG como uma “câmara de compensação” do bail out. Segundo o jornal inglês “Times”, citando um analista econômico, Donn Vickkrey, “os bancos europeus são dois-terços do problema”... e que haveria “um efeito dominó no mundo inteiro”.

Mas, de acordo com o executivo-chefe que assumiu o comando da AIG após o colapso de setembro, Edward Liddy, tirando o rombo de US$ 62 bilhões, a situação da seguradora “é forte como uma pedra”. ‘“O que o Fed está fazendo através da AIG é assumindo cada passo possível para manter a confiança no sistema financeiro”, filosofou. Embora, sem o repasse adicional de US$ 30 bilhões, as ações da seguradora teriam sido rebaixadas a lixo-final pelas agências de “classificação de risco”, causando nova rodada de naufrágios de derivativos.

O prejuízo recorde da AIG foi tratado com ruidosa ironia pela CNN, que elaborou uma lista do que poderia ser feito com US$ 62 bilhões. Tal como “pagar as dívidas nacionais combinadas da China, Austrália, México e Ucrânia” estimada pelo Almanaque 2008 da CIA; “comprar 46 palácios Buckingham (o palácio da rainha Elizabeth II)”; com a perda de um minuto (US$ 460.000), pagar “metade da pensão anual do ex-executivo-chefe” de outro banco falido, o RBS inglês; e trocar por notas de 1 dólar e preencher uma área do tamanho de Bagdá. Ou, ainda, comprar uma frota de quase 250 Boeing 747 Jumbos. Fazer uma fila com carros usados, de Nova Iorque a Pequim, ida e volta, com base em que um veículo usado nos EUA custa em média US$ 13.900 e mede 5 metros. Calcularam até a parte de cada norte-americano nesse latifúndio: dividindo igualmente por 303 milhões de pessoas, daria US$ 204 por cabeça para repor as perdas da AIG.

ANTONIO PIMENTA

quarta-feira, março 11, 2009

O Brasil em 2050

 

06/03/2009 12:13:38

Delfim Netto

Uma das variáveis estruturais críticas para a formulação de políticas econômicas, capazes de acelerar o desenvolvimento econômico com o uso dos mecanismos do mercado e de políticas públicas que deem moralidade à dura competição que nele prevalece, é a estrutura demográfica. O número de habitantes, a taxa de crescimento, a distribuição etária e, por gênero, a distribuição geográfica, a urbanização e a dinâmica interna, que é controlada pela evolução das taxas de natalidade e de mortalidade. Sua projeção é sempre difícil e sujeita a erros gerados pela própria endogeneidade do processo.
Não é um problema trivial prever os efeitos finais de boas políticas. Por exemplo, a melhoria do nível de educação das mulheres tende a reduzir a taxa de mortalidade infantil pelo maior cuidado com sua higiene pessoal e com a da criança. Ao mesmo tempo, modifica o seu papel na divisão do trabalho no lar. Dá-lhes melhores condições de escolher a sua vida, o que estimula o uso de técnicas anticoncepcionais. Estas possibilitam o maior controle da taxa de fertilidade, o que tende a reduzir a taxa de natalidade.
Uma coisa parece clara: boas políticas públicas de assistência social, de saúde e de educação tendem a reduzir, simultaneamente, a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Isso torna incertos os efeitos sobre a taxa de crescimento da população, mas trabalha na direção de envelhecer a estrutura etária. Pesquisas demográficas da ONU mostram que a idade mediana da população nas nações mais desenvolvidas cresceu de 29 anos, em 1950, para 37 anos, em 2000, e está projetada em 46 anos em 2050.
O último trabalho do IBGE, Uma Abordagem Demográfica para Estimar o Padrão Histórico e os Níveis de Subnumeração de Pessoas nos Censos Demográficos e Contagem da População, incorpora uma projeção da população por sexo e idade até 2050, com as informações sobre a taxa de fecundidade dos dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) de 2002 a 2006.
O trabalho constrói uma trajetória provável da taxa de fecundidade até 2050 e chega à conclusão que, no limite, ela será de 1,5 filho por mulher. Esse número seria alcançado entre 2027 e 2028. Obviamente, em certo momento isso estagnará o crescimento da população. Ela passará, em seguida, a decrescer. Verificadas as hipóteses, a população brasileira passaria por um máximo próximo a 220 milhões de habitantes em torno de 2040.
O resultado não deixa de ser surpreendente e deve ser levado em conta na formulação de nossas políticas econômica e social, uma vez que o envelhecimento da população será rápido e dramático. A idade mediana da população saltará de 20 para 40 anos de 1980 a 2030 e deve atingir 46 anos em 2050, a mesma estimada pela ONU para o mundo desenvolvido. O gráfico dá uma ideia da evolução da população do Brasil entre 1872 (o primeiro censo imperial) e 2008, e mostra as projeções da população e a composição etária até 2050.
Grosseiramente, até 2050 (que em termos de país é amanhã), o número de crianças cairá 56% (21,9 milhões) e o número de idosos aumentará 294% (36,5 milhões). É preciso formular políticas públicas que aumentem a produtividade dos que podem eventualmente trabalhar, que crescerá apenas 8,7% (11,1 milhões). A maior lição desses números é mostrar a futilidade das vinculações constitucionais para proteger certos setores, como se as necessidades da sociedade fossem fixas e eternas.

Delfim Netto

Sextante

http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=3526

Merck compra a Schering e intensifica a monopolização do setor farmacêutico

 

Com US$ 8,5 bilhões do JP Morgan Chase – provavelmente dinheiro público que deveria estar sendo usado para ativar a produção – a corporação farmacêutica Merck comprou a Schering-Plough, intensificando a monopolização do setor nos EUA e em breve demitindo trabalhadores. A transação envolveu US$ 41 bilhões, e mais da metade (56%) foi através de troca de ações.

A “nova” Merck será a número dois do mundo em faturamento, segundo previsão das agências internacionais, com base no volume atual de cada uma, que computados junto chega a US$ 47 bilhões. Comunicado conjunto divulgado no dia 9 confirmou a transação, sendo que os atuais acionistas da Merck terão 68% da empresa combinada e os da Schering, 32%. O capo da Merck, Richard Clark, anunciou planos de “economizar custos” de US$ 3,5 bilhões anuais. Traduzindo: demissões em massa à vista.

A Dow Chemical, mas-todonte do setor químico, adquiriu a concorrente Rohm and Haas por US$ 18 bilhões e, mais explícita, já dimen-sionou as demissões: vai fechar 3500 postos de trabalho. Que vão se somar aos 6.500 cujo corte havido sido anunciado pelas duas empresas anteriormente.

China quer crescimento com base na demanda interna

 

A China adotará o desenvolvimento do mercado interno como estratégia de longo prazo e tomará novas medidas para impulsionar o consumo e revitalizar a economia do país, afirmou o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em seu informe à sessão de abertura da XI Assembléia Popular Nacional. Para este ano, a meta é de um crescimento de 8% do PIB e de criação de 9 milhões de empregos, e no final do ano passado a China anunciou um gigantesco plano de obras em infra-estrutura, bancado com recursos do governo e das estatais, já em execução.

Jiabao apontou que a China promoverá com papel destacado a demanda interna, para a retomada do crescimento econômico, desacelerado no último período devido à redução das exportações. Ele ressaltou que o governo chinês contribuirá de forma ativa para maior desenvolvimento do mercado interno, aumentando os ingressos da população, estimulando a compra de automóveis e o desenvolvimento da área rural.
Também será estimulada a construção civil, oferecendo moradia adequada às famílias com baixo poder aquisitivo, e acelerando a reconstrução das áreas afetadas pelo terremoto ocorrido na província de Sichuan em maio do ano passado, assinalou o primeiro-ministro chinês.

Ação do Citibank agora vale menos que bilhete de metrô

 

Papéis do Citi, inflados em 2007 a até 57 dólares, desabaram na quinta-feira dia 5 para US$ 1,02, chegando a ficar no meio do pregão a US$ 0,97

Em meio aos “testes de stress” a que estão sendo submetidos os 19 maiores bancos norte-americanos desde a quarta-feira de cinzas, as ações do Citibank furaram a barreira do US$ 1 na quinta-feira dia 5, e de acordo com piada que circula na internet, em breve serão oferecidas nas lojas de “tudo por 1 dólar”. Ou trocadas por uma tampinha de coca-cola em bom estado de conservação.

Conforme a agência Dow Jones, citando o economista Joseph Saluzzi, a situação real do Citibank é que “tem tantas obrigações, tantos ativos podres”, que suas ações “não seriam nem mesmo negociadas, não fosse o suporte do governo”. Os papéis do Citibank, inflados em 2007 a até US$ 57 dólares, desabaram na quinta-feira dia 5 para US$ 1,02, chegando a ficar no meio do pregão a US$ 0,97. “Se você me dissesse no meio de 2007 que o Citi escorregaria abaixo de US$ 1, eu diria que você era um louco”, afirmou Saluzzi. Aliás, no final de fevereiro, o Citibank só se manteve à tona após anúncio de acordo com o governo Obama para transformação das ações preferenciais em mãos do Tesouro, com o bail out, em ações ordinárias, com direito a voto, o que significa assumir 36% do controle do banco, se tornando no maior acionista. Antes disso, o Citibank chegara a perder em cinco dias 44% do valor com que vinha sendo “cotado”. (Bons tempos aqueles, do auge da bolha, em 2007, quando o Citi era ‘o maior banco do mundo em valor de mercado’; ou da nossa Década Perdida, quando, do alto do Comitê dos Credores, achacava países e arrotava soluções, do FMI, para tudo).

O mesmo quadro de banco zumbi é compartilhado pelo Bank of America (BofA), que, guloso, engoliu o Merrill Lynch e sofreu indigestão braba. Na mesma semana de fevereiro em que as ações do Citibank encolheram 44%, nada menos de 32% do suposto valor do BofA foi pelo ralo. A propósito, segundo a revista inglesa “The Economist” a conversão em ações ordinárias do dinheiro que o governo dos EUA já botou nesses dois bancos, pelo “valor de mercado” de fevereiro, levaria o Estado a ser dono de “dois terços do BofA e de cerca de 80% do Citi”.

JP MORGAN: -13,99%

A primeira semana de março também abalroou o JP Morgan Chase, que tem posado de “mais sólido”, e cujo “valor” se reduziu de 13,99% após a agência de “classificação de risco” Moody’s rever para negativa a tendência do status do banco. Também foram revistas as classificações do Wells Fargo, e do Bank of America, com reduções no valor de respectivamente 16% e 11,7%. Já a AIG teve de ser levada para a UTI de novo. Se o Citibank furou a barreira da ação a US$ 1, a GM está chegando lá: na sexta-feira dia 6, sua cotação na bolsa afundou 22%, para US$ 1,45 a ação. Outros portentos da fina flor dos monopólios dos EUA deram de cara na barreira de US$ 10 a ação, como a American Express, a GE, Dow Chemical e a Alcoa.

ANTONIO PIMENTA

Proteção à indústria e controle dos bancos defendem a Índia da crise

 

Enquanto os EUA viam sua economia despencar, no quarto trimestre de 2008, em
6,2% e o Japão em 12,7%, a Índia apresentava crescimento de 5,3% em relação ao mesmo período de 2007

O governo da Índia prevê que o país crescerá de 7% a 7,5% durante o ano de 2009, com elevação do crescimento a partir do segundo trimestre. No pior trimestre (até agora) da crise econômica considerada a mais grave desde 1930, o quarto de 2008, enquanto a economia dos EUA apresentava uma contração anualizada do PIB de 6,2% e o Japão se retraía em 12,7%, a Índia apresentou crescimento de 5,3%.

O Banco de Desenvolvimento da Ásia declarou em seu mais recente relatório: “A Índia, a economia mais dinâmica do Sul da Ásia está saindo do efeito direto da crise financeira global em seus sistemas bancários e mercados financeiros”.

O articulista Heather Thimmons, do New York Times, reconheceu que o país, cujo PIB está em cerca de US$ 1,15 trilhão, tem mantido sua estabilidade econômica graças ao “sistema financeiro, dominado pelo Estado e praticamente desconectado do mercado externo”. Pouco antes, seus colegas articulistas de jornais norte-americanos e consultores de Wall Street diziam que ele impedia o crescimento mais rápido do país. O Herald Tribune, em março de 2007, queixava-se de um sistema em que “os maiores bancos foram nacionalizados em 1969, sob a primeira-ministra Indira Gandhi”.
DIRECIONAMENTO

Diana Farell da consultora Mc Kinsey Global Institute se baseava no fato de que os bancos estão obrigados a direcionar 36% (no mínimo) do total de seus empréstimos à agricultura, pequenas empresas e estatais, para afirmar que “a Índia não suporta o adiamento das mudanças em seu sistema financeiro”. Entre elas, é claro, escan-carar as portas aos bancos estrangeiros. O Herald também considerava absurdo “este sistema que direciona 70% da poupança líquida da economia ao governo e empresas estatais”.

Regulando este sistema financeiro, o Reserve Bank of India (RBI, o Banco Central do país), diante da crise, reduziu as taxas básicas de juros. Em 29 de outubro de 2008, bai-xou de 6,93% para 6,66%. Em 26 de novembro, mais uma redução deixando-a em 5,5%. Estas já haviam sido rebaixadas em 15 de setembro de 2008 e em 8 de outubro do mesmo ano.

Outro exemplo da presença estatal é o item do Orçamento de 2009 para a Agricultura que trata do Fundo para o Desenvolvimento da Infra-estrutura Rural – principal instrumento para canalizar fundos bancários para o financiamento da infra-estrutura no campo. Ele cresceu de US$ 10,7 bilhões, em 2004, para US$ 28 bilhões em 2009.

Foi com base nesse sistema financeiro, investimentos do Estado na agricultura, e em setores definidos como prioridade na industrialização e produção tecnológica – a exemplo da farmacêutica e de informática – que a Índia conseguiu apresentar, nos últimos anos, um crescimento médio de 9% ao ano, devendo ficar em 7,1% ao longo de 2008. Agora, o consultor para economia da Índia e Sudeste Asiático da Macquarie Capital, Rajeev Malik, autor do artigo “Índia: melhor do que a maioria”, reconhece que “a Índia não é tão vulnerável quanto outros países”.

Aliás, entre os que se alinhavam como arautos do neoliberalismo, já se começa a ouvir o reconhecimento de que políticas que consideravam retrógradas – como a proteção da indústria nacional – foram exatamente as que impediram o país de Mahatma Ghandi de patinar na presente crise. Como delineou Jawaharlal Nehru, sucessor de Ghandi: “É melhor produzir na Índia com dificuldade do que importar produtos estrangeiros”.

Um exemplo é a indústria farmacêutica indiana, com cerca de 20 mil fábricas, que emprega 500 mil pessoas em empregos diretos e outras 2,5 milhões em indiretos. O preço dos remédios ficou abaixo da inflação nos últimos 15 anos. O presidente da Associação das Indústrias Farmacêuticas, Nihcal Israni, declara que a auto-suficiência do país em medicamentos ultrapassa os 70%.

O analista da Comissão de Internacional de Comércio dos EUA, William Greene, destacou que “a indústria farmacêutica indiana passou, nos últimos 30 anos, de quase não existente a uma das líderes mundiais na produção de genéricos, quarta no mundo em termos de volume produzido”. Foi a Lei de Patentes da Índia, de 1970 que permitiu isso. Mesmo depois da independência, o país era um mercado assegurado para as indústrias britânicas. O arquiteto da lei, S. Vendaraman resumiu o princípio que norteou a lei: “Não somos contra as patentes, mas a Índia não suporta a submissão aos monopólios”.

Trata-se de uma economia com forte base no consumo interno que responde por 60% do PIB. O diretor para a Ásia da consultora em participações acionárias, 3i, Anil Ahuja, destacou que “enquanto países em desenvolvimento, com economias orientadas para exportação importaram problemas dos desenvolvidos, com a Índia isso não aconteceu”.
BAIXA DOS JUROS

Entre as medidas do governo para debelar a crise, além de rebaixar os juros, estão o perdão das dívidas bancárias aos pequenos agricultores e empresários, continuidade do subsídio ao petróleo e fertilizantes e aumento de salários para funcionários públicos, corte nos impostos ao consumidor e investimentos em infra-estrutura e construção de casas. Para o perdão da dívida estão direcionados US$ 20 bilhões, que podem chegar a US$ 80 bilhões. Para investimentos em infra-estrutura, US$ 195 bilhões. Também, no orçamento de 2009, está programada a construção de 600 mil casas para os agricultores pobres.

Como resumiu o secretário de Assuntos Econômicos, Ashok Chawla, “o trabalho imediato do governo é garantir que o crescimento econômico volte ao seu rumo de alto crescimento econômico. Os gastos públicos são portanto cruciais para reviver a demanda geral”.

Entre as medidas que permitem o crescimento na agricultura destacam-se a garantia de preços mínimos de produtos como o arroz aos agricultores e a segurança alimentar que inclui um Sistema de Distribuição Pública, que atingiu 22,7 milhões de toneladas de trigo e 28,5 milhões de toneladas de arroz.

No seu 11º Plano Quinquenal, que tem início em 2009, o governo busca manter o crescimento em torno dos 9%; criação de cerca de 12 milhões de empregos por ano; prover acesso universal à saúde e educação; redução da proporção de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza a menos da metade até 2014 e apoio à indústria indiana que registrou que a indústria cresceu, na consecução do plano quinquenal anterior, 9,5% ao ano, sendo que o setor de construção a 26% ao ano e o de comunicações a 13,5%.

NATHANIEL BRAIA