quinta-feira, março 30, 2006

A Problemática da soja na Amazônia

RNW: A Problemática da soja na Amazônia

UE pressiona países pobres

RNW: UE pressiona países pobres

Celulose divide Argentina e Uruguai

Mario de Freitas

30-03-2006

A construção de fábricas de celulose, matéria-prima do papel, na cidade fronteiriça de Fray Bentos, no Uruguai, seria o principal tema do encontro, da quarta-feira, entre os presidentes do Uruguai, Tabaré Vázquez, e da Argentina, Néstor Kirchner, e suspenso na última hora, mais uma vez por falta de acordo sobre como resolver esta questão, às margens do Rio da Prata, que vem dividindo os dois países.

Guerra verbal
Ambos os países, sócios com o Brasil e o Paraguai no Mercosul, e com governos de esquerda, recentemente eleitos, estão, há meses, numa guerra verbal e diplomática em razão deste conflito. Apresentado como uma questão de defesa do meio-ambiente, este caso tem caráter político e econômico. Quando estava na oposição, na chamada Frente Ampla, Tabaré Vázquez era contra as plantações de eucaliptos, matéria-prima da celulose. Em 2003, boicotou a inauguração das obras da Usina de Ence.

Fray Bentos e ponte internacional, imagem via SatéliteAs empresas finlandesas e espanholas estão investindo 1,8 bilhão de dólares nestas obras, equivalentes a 12 % do produto interno bruto do Uruguai. Atualmente, Tabaré defende a manutenção das fábricas de celulose em seu território. A cidade de Fray Bentos foi escolhida porque pode, tanto receber a madeira pelo rio da Prata, como exportar a celulose para a Europa e os Estados Unidos.

Nos últimos meses, ambientalistas argentinos fecharam diversas pontes internacionais e boicotam tudo o que se refere ao Uruguai.

O governo argentino possui uma posição ambígua, pois aceita e diz respeitar essas manifestações de protesto, mas mantém inúmeras outras indústrias de celulose, enquadradas entre as mais poluentes do globo terrestre. Sobre elas não exerce nenhum controle ambiental sério. Não somente os ambientalistas argentinos se opõem a estas fábricas poluentes. No Uruguai há inúmeras vozes, que vêem além dos interesses econômicos e políticos imediatos, como o filósofo Miguel Ángel Cabrera e os ambientalistas Ricardo Carrere e Carlos Pérez Arrarte.

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Ricardo Carrere, que é Coordenador internacional do Movimento Mundial pela Defesa das Florestas, deu detalhes sobre a indústria de Fray Bentos, explicando quais os danos negativos provocados pelas grandes fábricas de celulose. Ele ressaltou que o Uruguai é auto-suficiente. Com as 50 mil toneladas anuais de celulose produz o papel necessário para o consumo interno do país. As um milhão e meio de toneladas de toneladas que estas fábricas irão produzir se destinam à exportação.

Para Carrere, o problema não envolve apenas o Uruguai e a Argentina, pois é “decorrente do modelo de exploração dos países tropicais pobres, para garantir o enorme consumismo em países ricos”.

Ele ressaltou que seu país produz o papel necessário para o consumo. Para Carrere, o problema não envolve apenas o Uruguai e a Argentina, pois é "decorrente do modelo de exploração dos países tropicais pobres, para garantir o enorme consumismo em países ricos".


Rádio Holanda

terça-feira, março 28, 2006

Morte por exaustão no corte de cana em SP - Hora do Povo


Jornada de trabalho excessiva, saúde e condições de alimentação precárias nas lavouras de cana foram constatadas pelo relatório da Delegacia do Trabalho de SP

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Batatais, a Delegacia Regional do Trabalho de Ribeirão Preto e o Ministério Público denunciaram a exploração dos cortadores de cana da região, que já registra mortes por exaustão. Os casos estão sendo apurados pelo MP e as denúncias já chegaram à Organização das Nações Unidas (ONU).

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Batatais e diretor da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB-SP), João Pereira da Silva, afirma que “além da resistência dos usineiros, que querem manter no topo a sua lucratividade, na região de Ribeirão Preto, o piso salarial dos cortadores é de R$ 410,00 mensais. Em média, em virtude da sobrecarga de trabalho, a remuneração pode chegar a R$ 600,00” para uma carga horária que chega até 16 horas diárias. “Até que uma solução definitiva seja tomada para resolver o problema, o sindicato vem pressionando as usinas para que sejam feitos exames médicos mais detalhados nos trabalhadores que trabalham durante a safra”, frisou.

O sindicato levantou que a baixa remuneração dos trabalhadores (que ganham em média R $ 2,70 por tonelada cortada) e a forma de pagamento (por produtividade) tem levado os cortadores de cana a trabalhar até 16 horas diárias. Em muitos casos, esse esforço é fatal e já pode ter causado a morte súbita de, pelo menos, onze cortadores desde 2004.

MORADIA

A Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo (DRT/SP) elaborou um estudo que aponta os principais problemas - e as propostas para solucioná-los - do trabalho que está sendo executado pelos cortadores de cana do Estado. A DRT identificou graves insuficiências nas condições de trabalho que apontam para uma exploração absurda dos trabalhadores por parte das usinas e dos atravessadores terceirizados para comandar os cortadores.

A Delegacia averiguou também que existem “péssimas condições de residência para os trabalhadores mi-grantes (falta banheiro, piso, instalações elétricas precárias), excesso de trabalhadores alojados (desrespeito às normas de segurança - m2, higiene), preço do aluguel alto per capta, em relação ao tipo de moradia e quantidade de pessoas. Em Américo Brasiliense as casas chegam a alojar 17 trabalhadores, cada um pagando R$ 50,00 por/mês”, alertou o relatório. O preço final do aluguel chega a um total de R$ 850,00 por mês , quando o valor de mercado do aluguel na região é de R$ 300,00. A intermediação da locação, via de regra, é feita por um funcionário (turmeiro) da própria Usina. “Conclusão: não há o descanso necessário para o trabalhador, exploração e moradia sem condições mínimas de dignidade”, alertou o relatório.

Uma das soluções apontadas pela DRT é o fim da terceirização que acaba por aumentar ainda mais a exploração da mão-de-obra, chegando a roubar dos trabalhadores até mesmo na hora da pesagem da cana para calcular a remuneração devida aos cortadores.

REPROVADOS

O excesso de jornada de trabalho, a saúde do trabalhador e as condições de alimentação também foram avaliados, e reprovados, pela DRT. Falta de descanso aos domingos e horas extras sem remuneração são alguns dos problemas detectados. Na alimentação, o estudo constatou que a comida é preparada em condições higiênicas e nutricionais precárias e não existem os intervalos legais e costumeiros para a alimentação e repouso.

A DRT propõe que o fornecimento da alimentação seja feito pelo empregador para todos os empregados optantes e que seja feita a fiscalização do cumprimento obrigatório dos intervalos, e exigiu a redução imediata da jornada, instalação de sanitários, fornecimento de água para higiene, de água potável e abrigo para alimentação.

segunda-feira, março 27, 2006

A revolta dos incluídos - Isto É, 29/03/2006



Estudantes franceses vão às ruas e entram em choque com a polícia para protestar contra lei do governo que flexibiliza o trabalho dos jovens


Por Fernando F. Kadaoka






A França está em convulsão. Conflitos entre a polícia e estudantes universitários, passeatas de sindicatos de trabalhadores e muitas bombas de gás lacrimogêneo tomaram conta das ruas nos últimos dias. O ápice da crise pode se dar nesta terça-feira 28 se for concretizada a ameaça das organizações estudantis e das centrais sindicais – juntas, elas prometem paralisar o país com uma gigantesca greve geral. O mundo já assistiu a semelhante filme em maio de 1968, quando das barricadas de Paris se irradiou a utopia socialista sob o lema “exigir o impossível”. Na crise atual, porém, esqueça-se a utopia. A revolta é essencialmente conservadora e pleiteia apenas a manutenção de direitos sociais já adquiridos. Os estudantes franceses brigam contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), lei recém-aprovada pelo governo do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Ela determina que as empresas que contratarem jovens com menos de 26 anos poderão demiti-los sem aviso prévio ou pagamento de indenizações dentro de um prazo de até dois anos – para os trabalhadores em geral esse período de teste no emprego se limita a três meses. A lei faz parte do processo de desmonte do pesado estado de bem-estar social francês. O problema é que não apenas os estudantes, mas também a maioria dos franceses não deseja nenhuma mudança nesse status quo. No caso do CPE, cerca de 70% dos franceses são contrários a sua vigência.

Os estudantes fazem muito barulho como sempre. Na semana passada, mais da metade das 84 universidades do país parou. Cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram dos atos de protesto – entre elas havia estudantes, professores, trabalhadores, aposentados, opositores do governo, neonazistas e baderneiros. O déjà vu de maio de 1968 ficou por conta somente da invasão da Sorbonne, a mais tradicional universidade francesa: com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, a polícia retirou de seu campus cerca de 200 universitários. “Nossa revolta não é para conseguir mais, é para não perder o que temos”, diz o estudante Nadjet Boubakeur. Um dos grandes líderes do movimento é o universitário Bruno Julliard. Ele ameaça: “Se até a noite de sábado (dia 25) o governo não tiver anulado essa lei, continuaremos com os protestos.” O primeiro-ministro, De Villepin, continua intransigente e admite apenas pequenas mudanças no texto da lei, mas não a sua extinção.

O CPE surgiu no esteio dos conflitos nos subúrbios franceses, quando o descontentamento dos jovens descendentes de imigrantes eclodiu numa enorme onda de violência e queima de automóveis. Enquanto a taxa de desemprego no país é de 9,6%, entre os menores de 26 anos ela alcança 23%. Em subúrbios das grandes cidades, o desemprego entre os jovens bate os 40%. “Para a esquerda, essa lei é o fim dos direitos trabalhistas. Para a direita, uma solução pragmática para o desemprego. Para mim, é o fim do sonho dos estudantes de classe média que esperavam ter as mesmas condições de trabalho dos pais”, disse a ISTOÉ Kalypso Nicolaidis, professora da Oxford University. O governo francês diz que a rigorosa legislação trabalhista desestimula a contratação de jovens, uma vez que as empresas têm de arcar com altos custos para funcionários ainda inexperientes. Faz sentido. Ocorre, porém, que benefícios sociais são um vespeiro difícil de mexer. Basta lembrar que até mesmo a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a “dama de ferro”, suou o tailleur para esmagar os sindicatos e implementar mudanças na área trabalhista.


Entenda o conflito

Quem são eles?

Estudantes universitários franceses, filhos da classe média, liderados por organizações estudantis como a União Nacional dos Estudantes da França (Unef)


O que querem?

Para iniciar o diálogo, os estudantes exigem a revogação do Contrato do Primeiro Emprego (CPE) – uma lei proposta pelo governo que dá aos empregadores o direito de demitir jovens com menos de 26 anos no prazo de dois anos sem indenização ou aviso prévio. Para os outros trabalhadores, esse prazo é de no máximo três meses


Quantos são?

Metade das 84 universidades públicas francesas parou total ou parcialmente. No protesto de sábado 18, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas em mais de 150 passeatas por todo o país


Quem os apóia?

As principais centrais sindicais de esquerda, que controlam grande parte dos serviços públicos – entre eles os transportes coletivos –, como a CGT e a CFTC. Professores e aposentados também apóiam os estudantes


O que pode acontecer?

O primeiro-ministro De Villepin mostra-se irredutível em revogar a lei; aceita apenas fazer pequenas alterações que não modifiquem a estrutura. Os estudantes e os sindicatos prometem greve geral para o dia 28

Submarino nuclear

Voltou aos planos da Marinha brasileira a construção da poderosa arma



Por Cláudio Camargo



Por dentro do submarino
Como funciona o submarino nuclear
Por que o Brasil precisa de um?


Em janeiro de 2005, a Marinha do Brasil iniciou os procedimentos para adquirir um novo submarino convencional e reaparelhar os outros cinco de sua frota, comprados da Alemanha entre 1989 e 2005. Este reaparelhamento prevê a aquisição de novos sistemas de armas (software), torpedos e sonares para os submarinos em serviço. Estes, classificados de classe Tupi, são derivados do modelo alemão U-209 e propelidos a motores diesel-elétricos. O primeiro deles foi fabricado na Alemanha, mas os outros quatro foram montados no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, dentro da filosofia de capacitar o País a dominar a tecnologia de fabricação de submarinos.

A aquisição/montagem dos submarinos Tupi integrou o programa nuclear da Marinha do Brasil, iniciado em 1979, mas freqüentemente interrompido por problemas orçamentários. Esse programa visa dotar o País com um submarino de ataque de propulsão nuclear, mas com armamento convencional (SSN). Como essa tecnologia não é franqueada pelos poucos países que a dominam, a Marinha investiu no desenvolvimento do próprio know-how. Em 27 anos, esse pioneirismo, nem sempre compreendido, conseguiu capacitar o Brasil para produzir um protótipo de reator nuclear e o domínio, quase completo, do ciclo de combustível, através do enriquecimento de urânio por meio de ultracentrífugas.

A outra parte desse programa previa o desenvolvimento de um casco – tecnicamente chamado plataforma – que pudesse comportar o reator nuclear. Nesse particular, o êxito não se repetiu. Apesar das tentativas, não foi possível adaptar o casco do submarino convencional para o nuclear, basicamente porque, para ter segurança, um submarino nuclear deve ter um diâmetro de pelo menos dez metros – coisa difícil de se conseguir a partir de um submarino convencional de 1.400 toneladas.

A partir disso, duas questões se colocam quando se cogita da compra de um novo submarino convencional e do reaparelhamento da frota. A primeira é saber se o País deveria congelar um programa que custou tanto e deu tantos frutos. Não seria o caso de se buscar um novo elo para o desenvolvimento do casco do submarino nuclear? Uma alternativa seria conhecer melhor outras opções, como a oferecida pela França, que por ter desenvolvido primeiramente os submarinos de propulsão nuclear com mísseis balísticos (SSBN) transferiu a tecnologia do casco aos submarinos nucleares com armamento convencional (SSN) e até a submarinos diesel-elétricos.

A outra questão é saber se a Marinha pretende seguir a doutrina adotada pela FAB no programa F/X para a compra de novos caças e exigir dos fornecedores a abertura dos códigos-fonte dos sistemas de armas. A obtenção desses códigos permitiria eliminar a vulnerabilidade de mecanismos de interferência do inimigo em seu sistema. É bom lembrar que, na guerra das Malvinas (1982), os britânicos, de posse dos elementos dos códigos-fonte dos mísseis Exocets argentinos, por exemplo, neutralizaram essa arma letal. Se os argentinos tivessem o mesmo acesso, poderiam ter modificado os códigos e impedido a neutralização de suas armas.

O bom para o Brasil seria ficar com as duas opções: cascos adequados ao submarino nuclear e acesso aos códigos-fonte do sistema de armas. Resta saber quem oferecerá tais alternativas.

domingo, março 26, 2006

Instituto estuda modo de prever secas e cheias


Dados de pesquisa devem ser disponibilizados para o público

Preparar a população para enfrentar grandes secas e enchentes na região amazônica é um dos objetivos do estudo encabeçado por Jochen Schöngart, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Schöngart conta que pesquisas em torno da influência de fatores como a chuva e a inundação no crescimento das árvores despertaram nele a necessidade de elaborar modelos simples que mostrem a relação entre os picos de cheia e seca dos rios da região, a partir da análise de dados oceanográficos e meteorológicos. Na prática, as informações geradas por esses cálculos deverão ser repassadas à população, de modo que seja possível articular planos de emergência, frente à ameaça iminente de grandes cheias e secas.

Em quase dois anos de estudos destinados a esse projeto, Schöngart afirma que os resultados parciais do trabalho já permitem que ele faça uma previsão do pulso de inundação (força que acarreta a cheia e na seca dos rios) para esse ano.

– Os dados referentes ao nível da água, diariamente coletados e armazenados no Porto de Manaus desde 1903, refletem quanto de chuva cai nas cabeceiras dos rios. Esses dados são usados na composição do modelo múltiplo, que analisa quais fatores externos explicam a variação dos picos de cheia e seca ao longo dos anos, para prever os próximos picos de cheia e seca dos rios – explica o pesquisador.

O ponto central do estudo está no fato de as cheias e secas refletirem a variação de chuvas nas cabeceiras dos rios numa área de aproximadamente 3 milhões de km². De acordo com Schöngart e outros pesquisadores, os oceanos são a fonte controladora dessas chuvas. Se as águas dos oceanos tropicais esquentam ou esfriam, as conseqüências dessas mudanças atingem muitas regiões no mundo de forma diferenciada.

– O El Niño, que é o fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico Tropical, gera grandes secas na Amazônia e fortes chuvas no sudeste do país. Ao contrário, a La Niña, que é o resfriamento do Pacífico equatorial, traz consigo uma maior incidência de chuva na região amazônica – diz Schöngart.

Atualmente a Amazônia vem sofrendo a influência da La Niña, que deverá durar de três a seis meses, e por isso há previsão de um pico pronunciado de cheia para esse ano, devido ao fenômeno.

– De acordo com meus cálculos, esse ano estamos esperando uma cheia de 28,9 metros acima do nível do mar. Não será grande, se comparada a de 1999, considerada uma das maiores, atingindo 29,3 metros – destaca.

A pesquisa já se encontra em sua fase final. Os dados serão encaminhados para publicação em revista científica especializada. Schöngart espera melhorar as condições de vida da população local, a partir da aplicabilidade dos resultados obtidos com o estudo.

– Com base nos cálculos dos picos do pulso de inundação, as comunidades, principalmente as do interior, poderão planejar suas atividades em tempo hábil, de modo que não fiquem carentes de alimentação, água, transporte e serviços de saúde e ensino – ratifica o pesquisador.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

EUA já têm 20 guarnições na América do Sul

Zero Hora Digital

sexta-feira, março 24, 2006

Floresta deve encolher 40% até 2050, diz estudo

CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Uma cifra assombra a Amazônia. Um estudo publicado hoje prevê que 40% da floresta pode desaparecer em 2050 se nada for feito para conter o ciclo de destruição imposto pelo avanço da fronteira agrícola. Pior, a política de criação de áreas protegidas adotada hoje pelo governo não basta para conter a tendência. É preciso fazer algo muito mais complicado: cumprir a lei.

O número apocalíptico vem de uma simulação de computador. É a mais detalhada já feita do futuro da Amazônia, construída ao longo dos últimos anos por uma equipe do Brasil e dos EUA. O grupo usou uma série de dados históricos sobre tendências de desmatamento de 1997 a 2002, e conseguiu prever com precisão como a destruição evoluiria nos dois anos seguintes.

"Para 2003 e 2004, o desmatamento caiu em cima da curva do nosso pior cenário", disse à Folha Britaldo Soares-Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ele é um dos principais arquitetos do novo modelo computacional, disponível na internet (www.csr.ufmg.br/simamazonia) e apresentado hoje num artigo científico na revista "Nature" (www.nature.com).

Partindo da série histórica, o modelo apresenta dois futuros possíveis para a floresta. No primeiro, em que tudo fica como está em termos de ação do governo e do setor produtivo ("business as usual"), a área da maior floresta tropical do mundo sofre uma redução drástica, de 5,4 milhões para 3,2 milhões de quilômetros quadrados em nove países.

Nesse cenário catastrófico, dois terços da cobertura florestal de seis bacias hidrográficas amazônicas desaparecem. A situação é particularmente dramática nas florestas secas de Mato Grosso, palco da expansão recente da soja (perdem 76% da área), e nas florestas de babaçu do Maranhão (perdem 97%). Quase uma centena de mamíferos tem seu habitat reduzido em 40%.

As emissões de carbono correspondentes a tamanha perda de floresta são de deixar qualquer industrial americano do petróleo esfumaçando de inveja: são 32 bilhões de toneladas do principal responsável pelo aquecimento global lançadas na atmosfera em 2050. Isso equivale a quatro anos de emissões mundiais.

Outro mundo é possível

A principal novidade do estudo, no entanto, é a inclusão do chamado fator "governança" em um dos cenários do modelo.

Os cientistas ainda debatem o sentido da palavra. Mas segundo o ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woode Hole Research Center, dos EUA, ela consiste basicamente da implementação de políticas públicas na Amazônia. A reserva legal é respeitada pelos produtores, a pavimentação de novas rodovias é feita segundo critérios de proteção ambiental e o programa de criação de unidades de conservação na floresta segue a toda.

"Simplesmente implementando a lei ambiental atual seria possível evitar 1 milhão de quilômetros quadrados de desmatamento" em 2050, afirma Nepstad, que juntamente com Soares-Filho é o autor principal do estudo.

Isso considerando um limite de reserva legal (o quanto se pode desmatar dentro de uma propriedade) de 50%, mais baixo do que os 80% previstos pela lei. Mas para a lei ser cumprida, diz o pesquisador, seriam necessárias pressões de mercado --que Nepstad afirma existirem-- por carne e soja ambientalmente corretas.

Pague para preservar

A economia de carbono no cenário de governança é de 17 bilhões de toneladas. "Todo o Protocolo de Kyoto [acordo mundial contra as emissões de gases-estufa] prevê a redução de 2 bilhões de toneladas", compara Nepstad. "Cumprir a lei na Amazônia evita 17 bilhões. É uma oportunidade gigantesca para o Brasil", diz.

Tanto Nepstad quanto Soares-Filho defendem que a comunidade internacional banque essas emissões evitadas, já que o Brasil estaria deixando de lucrar domesticamente (ao reduzir a conversão de floresta em pasto e lavoura) para prestar um serviço ao planeta (a estabilização do clima).

"A inclusão do conceito de governança é muito bem-vinda", diz Gilberto Câmara, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e especialista em modelagem ambiental na Amazônia. Ao mesmo tempo em que elogia o estudo, Câmara afirma ter dúvidas sobre a tal "governança privada". "Há uma grande disparidade dos atores sociais na Amazônia. Rondônia tem um perfil, a Terra do Meio tem outro."

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    quinta-feira, março 23, 2006

    Israel fecha Gaza e geram fome na população palestina


    As tropas israelenses de ocupação “estenderam o fechamento de áreas palestinas barrando trabalhadores de entrar em Israel e fechando a principal passagem de cargas em Gaza, no cruzamento Karni causando uma redução severa do suprimento de trigo”, conforme denunciou o Centro de Mídia Palestina, no dia 19.

    O fechamento da entrada em Karni, na principal artéria utilizada para o transporte de carga da Cisjordânia para a Faixa de Gaza, já se prolonga por 3 semanas e causou um prejuízo de US$ 10.5 milhões.

    Como resultado das medidas nazistas de punições coletivas sobre a principal companhia produtora de farinha de trigo interrompeu sua produção responsável pelo suprimento de 60% da farinha consumida em Gaza. Há um receio crescente entre os palestinos da região de que haja escassez de pão nos próximos dias.

    Essa preocupação também foi veiculada pelo Ministério Palestino da Economia.

    A ONU expediu um informe alertando que “ao aumentar o cerco, Israel fez recair uma danosa situação nos territórios palestinos desde as eleições palestinas de janeiro”.

    O escritório da Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU também alertou que a suspensão por parte de Israel do repasse dos pagamentos recolhidos aos trabalhadores palestinos e os alfandegários, também recolhidos pelos israelenses, à Autoridade Nacional Palestina a colocam em perigo de colapso de suas atividades centrais tais como os serviços de segurança, saúde, educação, distribuição de água e eletricidade, saneamento e coleta de lixo. A ONU denunciou que as cidades de Jenin, Tulqarem, Qalqilya, Tubas, Salfit e a Faixa de Gaza são as principais atingidas.

    A ONU denunciou ainda que a manutenção destas medidas agressivas podem provocar uma crise humanitária além de ampliar o nível de desemprego que já atinge 64% da população palestina ativa, resultado dos prejuízos econômicos causados pelas décadas de ocupação agravadas com o governo do carniceiro Sharon sucedido agora por Ehud Olmert.

    Programa espacial é discutido pelos dois países


    A Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT) enviaram uma delegação à China onde se reunirão com dirigentes da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), tendo em pauta a cooperação referente ao Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS). Segundo o diretor de Satélites e Aplicações da AEB, Miguel Henze, serão avaliados as operações do satélite CBERS-2, que se encontra na órbita da terra, o cronograma de lançamento dos próximos satélites e aspectos sobre comercialização das imagens dos CBERS, que até então eram distribuídas gratuitamente. As receitas obtidas com as vendas serão divididas igualmente entre os dois países.

    Os satélites da série CBERS geram imagens do território nacional, que são utilizadas, entre outras finalidades, para controle de desflorestamento da Amazônia, gerenciamento de recursos hídricos, uso do solo e previsão agrícola. Da série, já foram lançados o CBERS-1, em 1999, e o CBRES-2, em 2003, que se encontra em funcionamento. Está previsto para o final do ano o lançamento do CBERS-2B, com uma câmera mais potente, a partir do território chinês.

    Segundo o Ipea, “a disponibilidade dos dados do CBERS resultou na distribuição de mais de 160 mil imagens. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entrega hoje uma média de 350 imagens por dia do satélite para 15 mil usuários de 2,5 mil instituições, entre universidades públicas e privadas, prefeituras, jornais, empresas de consultoria, geologia, petróleo, engenharia, aerolevantamento, topografia, saneamento, eletricidade e órgãos do governo”.

    Os satélites já acompanham, por exemplo, hábitos de peixes e até detectam focos de malária. “Não há país grande como o Brasil sem um programa espacial ambicioso. A extensão territorial exige monitoramento contínuo, em nome da segurança e da soberania”, afirma Luiz Bevilacqua, do Laboratório nacional de Computação Científica, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

    China propõe desenvolvimento de TV Digital conjunta com o Brasil


    A China propôs ao Brasil o desenvolvimento conjunto de um sistema de TV Digital como alternativa aos sistemas disponíveis atualmente - norte-americano, europeu e japonês.

    Pela proposta chinesa, participariam ainda do desenvolvimento do projeto a Rússia e a Índia, países com os quais os chineses estão negociando o assunto. A proposta foi feita pelo diretor da Comissão Econômica de Xangai, Li Jing Peng, à delegação brasileira que visitou o país asiático, chefiada pelo vice-presidente da República, José Alencar.

    “O Brasil tem muitas sinergias com a China. Nós podemos exportar muito produtos para a China e fazer da China uma plataforma de ingresso de produtos brasileiros em toda Ásia”, afirmou o vice-presidente José Alencar no encerramento do Seminário do Conselho Empresarial Brasil China, em Xangai, que reuniu empresários brasileiros e chineses de diversos setores. O encontro contou com a presença de dirigentes de várias estatais chinesas, como as companhias aéreas China Eastern Airlines e Xangai Airlines, e o grupo alimentício Xangai Sugar, Cigarrete & Wine Co.

    “Nós vamos iniciar os chineses nos segredos do futebol, e eles nos vão passar os segredos de seu crescimento”, disse Alencar.

    Durante a visita, José Alencar presidiu ainda, junto com a vice-primeiro-ministro chinês, Wu Yi, uma reunião bilateral para “impulsionar a aliança estratégica” entre Brasil e China, com a instalação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Coordenação e Cooperação (Cosban), criada em 2004 na viagem do presidente Lula.

    Hora do Povo

    Eclipse Total do Sol Começa no Brasil

    http://www.fatorgis.com.br
    Vai acontecer no dia 29 de março de 2006, a partir das 05h:35 o primeiro eclipse total do Sol visível no Brasil neste século. Este fenômeno raro se repetirá no território brasileiro somente em 2045.

    O melhor ponto para observar o eclipse será a região de Timbaú do Sul, próximo à Praia da Pipa no Rio Grande do Norte. O Eclipse Solar começa no interior do Rio Grande do Norte, passando pelo nordeste da África e Ásia Central e terminando na Mongólia.

    O site da NASA sunearth.gsfcnasa.gov/eclipse/eclipse.html divulga previsões, mapas e figuras. No Brasil, o site www.geobusca.net também disponibiliza para download um arquivo completo do Google Earth com toda a trajetória do eclipse, horário e duração em cada ponto percorrido.

    Imagem: O máximo do eclipse acontece às 10:10 UTC (meio-dia na Líbia). No início da tarde o eclipse chega ao Mediterrâneo e à Turquia, quando terá seu maior público.

    Fonte: Geobusca

    terça-feira, março 21, 2006

    Trilhos cortam o sertão - A bilionária ferrovia Transnordestina

    começa a operar em abril com a perspectiva de mudar a realidade do Nordeste
    Por Eduardo Hollanda
    Colaborou Ana Carvalho


    Há algo de novo sob o sol do sertão. Está saindo do papel a ferrovia Transnordestina. Trata-se da estrada de ferro que vai cruzar três Estados do Nordeste com o objetivo de escoar a produção da agroindústria local pelos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, capazes de receber navios de grande porte. Ela terá um custo alto, estimado em R$ 4,5 bilhões, mas, em compensação, guarda um potencial para mudar a face econômica do nordeste. A primeira etapa da obra, com 110 quilômetros, será entregue no próximo mês. Ligará os municípios de Salgueiro, em Pernambuco, a Missão Velha, no sul do Ceará. Ao todo, a Transnordestina terá mais de dois mil quilômetros de trilhos. As maiores etapas começam a ser construídas a partir de 2007, com previsão de término para 2010. A obra vai incluir, em seu rumo norte, a modernização de mais 955 quilômetros de estradas de ferro já existentes.

    Os recursos para a empreitada são, na maioria, públicos. A construção ficará a cargo da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), uma subsidiária da CSN. A companhia terá direito a operar a ferrovia em regime de concessão e vai entrar com R$ 300 milhões de recursos próprios. Outros R$ 250 milhões virão de novos parceiros privados e mais R$ 400 milhões de um empréstimo do BNDES no rateio da obra. O Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) entra com R$ 1,5 bilhão, que será transformado em ações da CFN e entregue ao BNDES. Os R$ 2,05 bilhões do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste serão ressarcidos de duas maneiras: metade paga como empréstimo e metade transformada em ações. O secretário executivo do Ministério da Integração Regional, Pedro Brito, afirma que o sistema é bom para todas as partes. “Nossos contratos são de concessões que terminam em 25 anos. O concessionário só terá o retorno do capital com os trens operando. Isso nos dá certeza de que as obras não vão atrasar.”

    Dados oficiais apontam que soja e milho começam a ser plantados em quantidade crescente no sul do Piauí, refletindo no crescimento da soja no Maranhão. A expectativa da chegada da ferrovia também incrementa o plantio de grãos. O trem rumo ao litoral facilitará o escoamento dessa produção. Hoje, a operação é dificultada em razão da precariedade das estradas. Na ótica da CFN, vários setores da agroindústria entrarão nos trilhos do transporte de carga a baixo custo.

    Quando pronta, a Transnordestina estará apta a se integrar às ferrovias Norte-Sul, Carajás e à Centro-Atlântica, que cobre Bahia, Sergipe, Minas Gerais e Espírito Santo. Prevê-se que em seu primeiro ano de funcionamento a nova ferrovia transportará 17 milhões de toneladas de carga. Calcula-se que dela poderão derivar até 600 mil novos empregos.

    domingo, março 19, 2006

    Principais Conceitos da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED)

    DIEESE - PED - Principais Conceitos

    Explosão do sol - fonte: ISTO É - 22/03/2006

    Especialistas afirmam que o Sol
    explodirá novamente dentro de dois anos

    Um estudo do Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas dos EUA conseguiu prever quando será a próxima explosão do Sol – ocorrerá entre o final de 2007 e o início de 2008. Ela será entre 30% e 50% mais forte que a última, ocorrida em 2004 e considerada a mais intensa tempestade solar dos últimos 15 anos. Assim como um médico que utiliza aparelhos de ultra-sonografia para examinar a gestação de suas pacientes, a cientista Mausumi Dikpati, chefe da pesquisa, valeu-se de dados coletados por um telescópio espacial para analisar o movimento das correntes elétricas no interior do Sol. A partir de uma simulação feita com dados dos últimos oito ciclos solares, foi possível chegar a um resultado preciso e prever quando o Sol voltará a explodir.

    O ciclo solar se caracteriza pela inversão do campo magnético do Sol, quando parte da energia acumulada em seu núcleo explode e produz labaredas e tempestades de partículas radioativas que banham a atmosfera da Terra. As explosões liberam mais de cinco milhões de toneladas de energia pura no espaço e seus reflexos são sentidos em todo o espaço. “Os mais prejudicados são os satélites, as missões espaciais, o sistema de comunicação dos aviões e as redes de fornecimento de energia”, diz Mausumi. A Nasa teme que a tempestade solar que está por vir interfira ou até destrua as naves que estão no espaço. Na aviação, será preciso um novo planejamento de rotas até 2012, quando o ciclo solar alcançará o seu auge com um aumento na formação de nuvens e maior incidência de chuvas. A influência do Sol no clima da Terra foi o tema central do 11º Simpósio Internacional sobre o Sol, recém-realizado no Rio de Janeiro. “O próximo ciclo solar trará mais chuvas”, diz Pierre Kaufmann, astrofísico da Universidade Mackenzie, de São Paulo. Assim, antecipar o comportamento explosivo do Sol é fundamental para preservar as condições ambientais da Terra e proteger o nosso planeta. Protegê-lo, quem diria, da fúria do astro que o alimenta de energia e calor.

    Os efeitos da força solar no universo

    segunda-feira, março 13, 2006

    Descobertos os mistérios dos vulcões

    Cientistas europeus criam um novo
    método capaz de prever quando e
    como haverá erupções


    http://www.terra.com.br/istoe/1899/ciencia/1899_descobertos_os_misterios_dos_vulcoes.htm

    Sete milhões deixam a classe média

    Em duas décadas, famílias brasileiras perderam poder de compra, acesso ao consumo e viraram novos pobres


    Por Gilberto Nascimento

    A classe média está menor. Entre 1980 e 2000, sete milhões de pessoas que ocupavam essa faixa da sociedade perderam seus empregos e não conseguiram recuperá-los. Em conseqüência, tiveram seu poder de compra reduzido, o padrão de vida rebaixado e, assim, saíram forçadamente da classe B para passar a tomar parte na classe C. Segundo o IBGE, em 1980 os assalariados que participavam do estrato social respondiam por 31,7% da População Economicamente Ativa (PEA). Vinte anos depois, porém, essa participação caiu para 27,1%. “A perspectiva é de que o número de pessoas expulsas da classe média aumente nos próximos anos”, diz o economista Márcio Pochman, professor do Instituto de Economia da USP e um dos autores do Atlas da nova estratificação social, estudo que mapeou as transformações na sociedade brasileira na década de 1990. “O ajuste do mercado de trabalho se deu principalmente nas profissões tipicamente de classe média, e esse ajuste continua.”

    Com a perda de sete milhões de integrantes, a camada média da sociedade está reduzida, hoje, a uma faixa da qual fazem parte 57,8 milhões dos 180 milhões de brasileiros. A renda per capitaper capita até 19,4 mínimos. Em todos os seus escalões, a classe média diminui de tamanho. A “média baixa” passou de 44,5% em 1980, para 54,1% em 2000. A “média média” caiu de 32,2% para 23,1%. A média alta foi a que menos sofreu, variando de 23,2% para 22,8%. Porém, mesmo quem manteve o status social está sofrendo outros tipos de perdas. Recursos antes usados para a compra de bens ou recreação e cultura passaram, nos últimos tempos, de acordo com o estudo, a ser gastos no pagamento de itens básicos do dia-a-dia. As despesas com habitação, que em 1987 respondiam por 17,6% do consumo total da classe média, ocupavam em 2003 nada menos que 29,5% do orçamento familiar. As despesas com transportes saltaram, no mesmo período, de 8,7% para 16,9%. As compras de bens, enquanto isso, diminuíram drasticamente. No período 1987-2003, o item “aumento de ativo” caiu de 10,8% para 3,9%. Significa a redução de compras de bens como carros e imóveis. desse segmento social, em valores de novembro de 2005, varia de 1,7 salário mínimo

    A realidade de quem passou por essas transformações é dramática. A assistente administrativa Lilian Vittoreti chegou a ter empregada doméstica, casa na praia, freqüentava academia, viajava nas férias e seus filhos estavam matriculados em escolas particulares e em cursos de inglês. Tudo isso acabou depois que seu marido perdeu o cargo de gerente numa rede de lojas em que tinha participação no faturamento. No momento, ele está desempregado e Lilian vende planos de saúde. “Estou ensaiando uma volta por cima”, diz ela. “Mas tenho consciência de que será muito difícil recuperar tudo o que já tivemos.”

    Emergentes devem sofrer mais com gripe aviária

    BBCBrasil.com | Reporter BBC | Emergentes devem sofrer mais com gripe aviária

    Mundo tem 300 mi de obesos e 170 mi de crianças desnutridas - 13/03/2006

    Folha Online - Mundo - Mundo tem 300 mi de obesos e 170 mi de crianças desnutridas - 13/03/2006

    sexta-feira, março 10, 2006

    Mercosul: a caminho da integração sul-americana


    Vários acordos de integração ocorreram na América Latina. Muitos não passaram de tentativas integracionistas frustradas que não foram adiante, na maioria das vezes, pela grande diferença política e econômica entre os países acordados, como ocorreu com a Alalc. Outros persistem sem grande desenvoltura, como o Pacto Andino.

    No entanto, o Mercosul vem ganhando corpo e destaque, consolidando-se cada vez mais como via de integração entre os países da América do Sul.

    O texto abaixo, de Mônica Arroyo, professora do Departamento de Geografia da Universidad de Buenos Aires, mostra a complementaridade entre globalização e regionalização e faz uma análise da formação do Mercosul no atual contexto da América Latina, em particular, da Argentina e do Brasil.

    Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências?

    Duas tendências concomitantes no sistema internacional contemporâneo têm se acentuado na última década: a globalização e a regionalização da economia. Elas se opõem quanto à direção do movimento que em cada uma está implícita. A globalização remete à idéia de um movimento que tem como "campo de ação" todo o planeta, um movimento que opera na escala mundial. A regionalização, por outro lado, mostra uma tendência a atuar em uma área limitada do planeta, em uma escala mais reduzida. Porém, na realidade, essa oposição é só aparente já que essas tendências complementam-se para dar respostas às mudanças estruturais que estão transformando paulatinamente o cenário mundial.

    [...]

    Algumas particularidades latino-americanas

    A formação de um mercado comum no Cone Sul (Mercosul) é uma das iniciativas intra-regionais de caráter minilateral que se têm registrado na América Latina no início da década de 90. [...]

    Efetivamente, a crise estrutural que tem afetado secularmente o continente se aprofunda com uma gravidade sem precedentes [...]. Isso se expressa claramente a partir de 1982, quando sucessivamente diferentes países latino-americanos declaram a moratória. A posterior aplicação de políticas de ajuste permite explicar o predomínio da estagnação, recessão e descapitalização que caracteriza a chamada "década perdida".

    Esta denominação refere-se basicamente ao fato de que a América Latina está em um período de retardamento de seu processo de industrialização. "O modelo de crescimento com endividamento, após o choque dos juros, implicou, no início da década de 80, programas de estabilização que foram administrados por meio de contenção de demanda interna sem uma definição prévia de política industrial e sem priorizar setores, ou mesmo as áreas sociais, o que acabou por provocar uma desorganização econômica" (Cacciamali, 1991:226). É conveniente lembrar que tais receitas recessivas são tuteladas ou controladas pelo Fundo Monetário Internacional, que desde 1982 monitoriza o pagamento da dívida externa.

    "Integração: uma tentativa de incremento comercial"

    Diante desse contexto particular para o continente latino-americano e das mudanças estruturais do sistema econômico internacional, procuram-se conformar, como uma das formas de reativação econômica, associações minilaterais que dinamizem o comércio intrazonal.

    Salienta-se que esses fatos têm seu correlato no plano político, pois a renovação dos numerosos governos no começo da década, indício da consolidação nos processos de transição democrática que vivem vários países da região, vem acompanhada por um desenho mais pragmático da política externa. Tentam-se transformar os processos de integração já em curso em um instrumento para dinamizar as relações econômicas exteriores.

    "Em meio à estagnação, a integração"

    Neste contexto situa-se o Mercosul, proposta de integração entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que surge com a assinatura do Tratado de Assunção em março de 1991. [Veja box.]

    Optou-se por uma proposta que implica um importante aprofundamento no processo de integração econômica. Outras modalidades, como uma área de livre-comércio e uma união aduaneira, exigem um grau menos avançado de integração. Limitam-se ao tratamento da questão das barreiras ao comércio (dos membros da comunidade entre si e no seu relacionamento com o resto do mundo). O mercado comum, por sua parte, inclui a livre-mobilidade da mão-de-obra e de capital, o qual exige um importante esforço na coordenação das políticas internas dos países envolvidos. Sem dúvida, trata-se de proposta ambiciosa para cumprir em quatro anos.

    Agora, para entender o Mercosul, a análise deve remontar a seu antecedente mais recente, o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE) entre Argentina e Brasil, que foi assinado em 1986.

    Os momentos da integração econômica no Cone Sul

    O processo de integração no Cone Sul começa em 1985 com um encontro entre os presidentes Raúl Alfonsín (Argentina) e José Sarney (Brasil) em Foz do Iguaçu. Este fato é significativo já que se situa no processo de reabertura democrática iniciado nos dois países depois de traumáticos regimes militares, nos quais predominava uma relação de mútua desconfiança.

    Assim sendo, começa-se a assinar uma série de acordos e protocolos bilaterais visando aprofundar um programa de negociações. Um dos objetivos mais significativos do PICE é promover uma especialização intra-setorial, na qual se prioriza o intercâmbio de bens análogos com certo grau de diferenciação. Isto implica uma divisão do trabalho por produtos mais que por ramos de produção, estimulando uma diversificação das estruturas produtivas e o aproveitamento das economias de escala.

    Esta opção é uma tentativa de reverter o esquema predominante no comércio bilateral, que se baseia fundamentalmente na exportação de produtos primários com pouco grau de processamento por parte da Argentina diante das exportações brasileiras de manufaturas. Esquema clássico de especialização intersetorial, que, em uma situação de mercado ampliado, pode até provocar a desaparição de algum setor em um dos parceiros comerciais. Pelo contrário, o comércio intra-ramo promovido pelo PICE busca a criação de vantagens comparativas dinâmicas que incrementem a competitividade de alguns setores. Daí a preferência que se outorga às indústrias de bens de capital, alimentar e automobilística.

    [...]

    Além de estabelecer mecanismos progressivos de eliminação tarifária e de remoção de barreiras não-tarifárias, propõem-se medidas como a formação de empresas binacionais e a criação de um fundo de investimentos, visando estimular a complementaridade produtiva.

    "Do livre-comércio ao mercado comum"

    [...]

    Como foi indicado [...], o processo de integração aprofunda-se no sentido de aspirar à constituição de um mercado comum e também alcança uma nova dinâmica. Estabelece uma redução tarifária generalizada, linear e automática, a partir de 20% de redução tarifária anual, junto a uma eliminação de barreiras não-tarifárias, que significa uma liberalização comercial de caráter universal (todos os produtos são submetidos automaticamente à redução tarifária), regida por prazos de cumprimento estrito. [...]

    Esta decisão de acelerar o processo de formação de um mercado comum com o estabelecimento de calendários extremamente apertados é também uma forma de desconhecer as assimetrias entre os países envolvidos e, em conseqüência, das relações econômicas preexistentes. Dificilmente pode-se atender a essas dificuldades em um ritmo tão peremptório. A propósito, é bom lembrar que na Europa, sem crise de inflação e dívida externa, esse processo levou mais de quatro décadas.

    No entender de Araújo (1990), "a decisão de encurtar os prazos do programa foi uma temeridade, posto que nenhum dos dois governos está preparado para enfrentar, nos próximos dois ou três anos, as dificuldades inerentes ao complicado exercício de harmonizar políticas. [...] Em outro de seus trabalhos (1991), acrescenta que "a fim de evitar que o Mercosul se torne mais um exemplo da longa lista de fracassos latino-americanos, seria conveniente, enquanto há tempo, reduzir transitoriamente seu escopo para um tratado de livre-comércio, e estabelecer prazos mais sensatos para a formação do mercado comum".

    Um dilema ainda não resolvido

    Um processo de integração econômica entre vários países responde, sem dúvida, a uma decisão de tipo político que imprime determinado conteúdo ao projeto. Este último depende principalmente dos processos políticos internos de cada país, da condução de seus governos e da participação dos diferentes segmentos da sociedade civil. Daí que vários autores falam dos possíveis cenários ou opções que o processo de integração pode enfrentar.

    A respeito, Halperín (1991) aponta duas opções para os governos do Cone Sul: uma negociação de abertura maciça para o aproveitamento planificado dos mercados; ou uma abertura irrestrita com condições impostas pelas "forças do mercado".

    A primeira opção exige uma regulação estatal mediante unificação e harmonização das políticas econômicas, incluindo previsões para os diferentes setores e ramos de produção e uma política externa comum. Pode-se assimilar este caminho ao cenário "industrialista" definido por Chudnosky e Porta (1990), os quais supõem uma liberalização comercial dentro de um projeto global de reestruturação industrial. Para isso, precisa-se de políticas industriais e tecnológicas ativas em cada país, e um esforço deliberado de harmonização das políticas econômicas além do plano cambial.

    A segunda opção, ao contrário, implica uma elevada desregulação das atividades econômicas. Seria suficiente, neste caso, compatibilizar os regimes de promoção setorial e fixar algum mecanismo de paridade ou equivalência cambial de caráter permanente. Esta concepção assemelha-se à "comercialista" que apontam Chudnosky e Porta, na qual a coordenação das políticas econômicas centra-se basicamente no tipo de câmbio. A partir daí a reestruturação passa a ser orientada estritamente pelos mecanismos do mercado.

    A diferença no grau de intervenção estatal que subjaz a cada uma das opções implica, também, resultados diferenciados. Uma implementação de políticas industriais e tecnológicas ativas, associada a uma liberalização comercial progressiva, permitiria orientar o processo de industrialização em face de um aumento de sua competitividade a partir de economias de escala e especialização. Ao contrário, uma abertura rápida e uma desregulação da economia podem conduzir a uma reconversão com um alto custo social e a um aprofundamento do esquema de especialização intersetorial.

    Mercosul: velhas tendências

    Neste sentido, deseja-se destacar que a possibilidade de atingir níveis crescentes de competitividade não depende exclusivamente dos esforços individuais dos agentes econômicos. Cada vez mais na experiência internacional torna-se central a idéia de "competitividade sistêmica" como base sólida para o desenvolvimento econômico. Segundo Kosakoff (1991), esta noção "substitui e, por sua vez, se superpõe aos esforços individuais, que, embora sejam condição necessária para atingir esse objetivo, devem estar acompanhados, necessaria-mente, por inumeráveis aspectos que conformam o entorno das firmas (desde a infra-estrutura física, o aparato científico-tecnológico, a rede de provedores e subcontratistas, os sistemas de distribuição e comercialização até os valores culturais, as instituições, o marco jurídico, etc.)".

    Sem dúvida, as condições que conformam tal entorno dependem em grande medida da presença ativa do Estado, o único que pode facilitar a participação de todos os agentes econômicos no processo, fundamentalmente das pequenas e médias empresas.

    Conforme observado, pode-se concluir que o enfoque do avanço gradual por setores, que predominou no primeiro momento do processo de integração entre Argentina e Brasil, corresponderia basicamente à via de tipo "industrialista". Pelo contrário, a inflexão produzida a partir de 1990 mostra que o novo esquema parece estar mais próximo da opção "comercialista", na qual o Estado aparece subordinado à lógica do mercado.

    A partir desse suposto, pode-se inferir que em um cenário "comercialista" predominam as velhas tendências, isto é, um esquema de intercâmbio no qual só se beneficiam os setores mais concentrados, os que já detêm um importante grau de controle da economia.

    ARROYO, Mônica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências? In: SCARLATO, Francisco C.; SANTOS, Milton et al. (org.).
    O novo mapa do mundo: globalização e espaço latino-americano. 4. ed. São Paulo: Hucitec/Annamblume, 2002. p. 123-129.

    "Mercosul: criação do Tratado de Assunção"

    De acordo com o Artigo no 1 desse Tratado, os Estados-parte decidem constituir um mercado comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994 e que implica as seguintes metas:
    a) livre-circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países;
    b) o estabelecimento de uma política comercial comum em relação a terceiros países;
    c) a coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-membros; e
    d) o compromisso de harmonizar as legislações nacionais nas áreas pertinentes.

    ARROYO, Mônica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências?
    In: SCARLATO, Francisco C.; SANTOS, Milton et al. (org.). O novo mapa do mundo: globalização e espaço latino-americano. 4. ed. São Paulo: Hucitec/Annamblume, 2002. p. 125.

    Biólogos acham cerrado "molhado" em Goiás - 09/03/2006

    Folha Online - Ciência - Biólogos acham cerrado "molhado" em Goiás - 09/03/2006

    Nova mancha no currículo de Júpiter - 09/03/2006

    Folha Online - Pensata - Salvador Nogueira - Nova mancha no currículo de Júpiter - 09/03/2006

    Forte terremoto é registrado a 855 quilômetros do Brasil

    Fenômeno ocorreu no Oceano Atlântico e chegou a seis graus na escala Richter

    Forte terremoto é registrado a 855 quilômetros do Brasil
    Fenômeno ocorreu no Oceano Atlântico e chegou a seis graus na escala Richter.Um terremoto de seis graus na escala Richter foi registrado no Oceano Atlântico ontem, um pouco antes das 15h do horário de Brasília. O fenômeno, de forte intensidade, foi detectado pelo US Geological Survey.

    O local do tremor fica a 855 quilômetros da ponta leste do Brasil, na região da ilha de Fernando de Noronha e do Estado de Pernambuco. O terremoto ocorreu a 10 quilômetros de profundidade.

    quarta-feira, março 08, 2006

    AFP - UE e EUA pressionam o Sudão para que aceite força da ONU em Darfur

    BRUXELAS, 8 Mar (AFP) - A União Européia e os Estados Unidos pressionaram nesta quarta-feira o Sudão para que aceite a presença de uma força de paz da ONU em Darfur, região desse país africano consumida em violento conflito bélico e crise humanitária.

    A pressão européia e americana aconteceu durante uma reunião em Bruxelas da qual participaram, também, dirigentes da ONU e da União Africana (UA).

    "O governo do Sudão nada deve ter contra a ONU", disse o Alto Representante para a Política Externa da UE, Javier Solana, depois das discussões que contaram com a presença do vice-presidente sudanês Ali Osman Mohamed Taha.

    Desde fevereiro de 2003, a região de Darfur, no sul do Sudão, vem sendo palco de uma guerra civil entre o exército e rebeldes, que causou entre 180.000 e 300.000 mortos, além de provocar o deslocamento de 2,6 milhões de pessoas.

    A União Africana mobilizou em 2004 uma força composta por 7.000 homens, mas os problemas de recursos enfrentados motivaram o Conselho de Segurança da ONU a pedir no dia 3 de fevereiro passado a elaboração de planos para substitui-la por missão de paz das Nações Unidas.

    O presidente George W. Bush apoiou esta decisão e propôs organizar uma missão da ONU apoiada pela OTAN e composta pelo dobro dos efetivos da UA.

    Mas o presidente sudanês, Omar ao-Béchir, reiterou sábado passado que não queria uma "intervenção estrangeira" em Darfur, e qualificou de "perigoso" o projeto da ONU.

    Nesta quarta-feira, europeus e americanos voltaram a pressionar os africanos.

    "Esperamos que o governo sudanês não resista", disse o subsecretário de Estado americano Robert Zoellick, destacando que as tropas da União Africana deviam ser o "centro" da futura força da ONU.

    terça-feira, março 07, 2006

    clicNotíciasClasse média se distancia do sonho de ascensão social

    clicNotícias

    FAO prevê que redução da pobreza levará 146 anosONU propôs metas para serem cumpridas até 2015

    O secretário-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura ea Alimentação (FAO), o senegalês Jacques Diouf, advertiu hoje que, nas atuais condições, serão necessários 146 anos para alcançar as metas de redução da pobreza propostas pela ONU para serem cumpridas até 2015.

    – O objetivo da ONU de reduzir à metade o número de pessoas que passam fome, com as atuais tendências, não será alcançado em 2015, mas em 2150 – afirmou Diouf na abertura da II Conferência Mundial sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Agrícola.

    Segundo cálculos das Nações Unidas, aproximadamente 900 milhões de pessoas (três quartos da população mundial pobre) vive em áreas rurais e depende do acesso à terra para sobreviver. A conferência, convocada pela FAO e que acontece até sexta-feira em Porto Alegre, conta com a participação de delegações de 80 países, 20 das quais lideradas por seus ministros.

    A reunião de Porto Alegre, que acontece 27 anos depois da primeira Conferência sobre Reforma Agrária da FAO, tem como objetivo debater as políticas de distribuição de terra e de água frente ao compromisso assumido em 2000 pelos países da ONU de reduzir à metade até o ano de 2015 o número de pobres e pessoas que passam fome.

    – Vinte e sete anos se passaram desde a primeira conferência e chegou a hora de voltar a debater o tema, quando o problema se situa no eixo da política de segurança alimentar do mundo – afirmou o secretário da FAO em seu discurso.

    O senegalês enfatizou que, nas atuais condições, dificilmente a ONU cumprirá seu objetivo de reduzir a pobreza, embora, em declarações posteriores, esclareceu "esperar que essas tendências mudem para que esse objetivo possa ser alcançado".

    O Movimento dos Sem-terra (MST), que participa da Conferência como observador, acha que, sem uma reforma completa na economia mundial, será impossível a ONU consiguir cumprir seu objetivo.

    – Um bispo costumava dizer que não basta estar a favor dos pobres, pois é preciso estar contra os ricos. Há riqueza suficiente para resolver os problemas de pobreza, mas sem vontade política a pobreza só será reduzida em 5015 – disse o líder nacional do MST, o economista João Pedro Stédile.

    Segundo Diouf, a reforma agrária deixou de ser exclusivamente um problema de acesso à terra e passou a ser também uma questão de garantir aos mais pobres e vulneráveis oportunidades de renda e garantias de alimentação.

    Isso exige, acrescentou, que os pequenos agricultores também sejam competitivos para produzir, assim como investimentos em capacitação e infra-estrutura. O ministro brasileiro de Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que também participou da abertura da conferência, disse que infelizmente os objetivos da primeira reunião, em 1979 em Roma, não foram cumpridos e chegou a hora de discuti-los novamente.

    Rosseto afirmou que a globalização aumentou a pobreza e as desigualdades e que as negociações que atualmente os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) adiantam não podem abordar a agricultura sem levar os agricultores em consideração.

    – As normas que regulam o comércio internacional incidem em todos os países e é necessário um esforço comum para defender a economia da agricultura familiar – disse.

    O ministro admitiu que o Brasil, onde apenas 2,7% dos proprietários monopolizam 57% das terras, ainda tem muito o que fazer em matéria de reforma agrária.

    Rossetto acrescentou que foi significativo a FAO escolher Porto Alegre como sede da Conferência, uma vez que a cidade é berço do Fórum Social Mundial e foi onde surgiu o movimento que considera "outro mundo possível".

    Tanto Diouf como Rossetto destacaram que a reunião contará com uma importante participação da sociedade civil, e inclusive um representante da organização internacional Via Camponesa teve a oportunidade de discursar na cerimônia de abertura.

    José Alencar, vice-presidente e chefe de Estado em exercício, esteve presente na abertura e destacou os esforços brasileiros no combate à fome em nível nacional e a defesa da criação de um fundo mundial destinado à luta contra a pobreza em todo o planeta.

    AGÊNCIA EFE

    Erupção do Vesúvio atingiria 3 milhões de pessoas, diz pesquisa

    BBCBrasil.com | Reporter BBC | Erupção do Vesúvio atingiria 3 milhões de pessoas, diz pesquisa

    domingo, março 05, 2006

    A Terra esfriou mais cedo?

    Novas medições sugerem que o nosso planeta pode não ter passado seus primeiros 500 milhões de anos afogado em lava. É possível que oceanos, continentes e a vida tenham surgido mais cedo.
    Por John W. Valley




    Um novo conceito sobre como era a Terra primordial, coberta por oceanos há 4,4 bilhões de anos, contrasta com o mundo quente e hostil normalmente representado nos livros didáticos. A Lua estava mais próxima naquele tempo, por isso parecia maior do que nos dias de hoje.


    Manuais de geologia afirmam que nosso planeta passou seus primeiros 500 milhões de anos coberto por magma quente, mas essa tese pode estar errada. Cristais de zircão revelam que a superfície da Terra talvez tenha esfriado bem antes, permitindo desde cedo o surgimento de oceanos, continentes e oportunidades para a origem da vida.

    Na sua infância, que começou há cerca de 4,5 bilhões de anos,a Terra brilhava como se fosse uma estrela tênue. Oceanos incandescentes de magma alaranjado ondulavam na superfície do planeta após as freqüentes colisões com imensos meteoros, alguns do tamanho de pequenos planetas, que orbitavam o Sol recém-criado. Viajando em média a 90 mil km/h (75 vezes a velocidade do som), cada corpo impactante se incendiava na superfície da Terra, estilhaçando, derretendo e até se vaporizando no momento do contato.

    Logo no início, o ferro denso afundava no magma para formar o núcleo metálico, liberando gravidade para derreter todo o planeta. Meteoritos continuaram a colidir com a Terra durante centenas de milhões de anos.

    Ao mesmo tempo, no núcleo da Terra, o decaimento de elementos radioativos produzia seis vezes mais calor do que hoje. Essas condições infernais tinham de se acalmar para que as rochas derretidas se solidificassem, para que os continentes se formassem, para que a atmosfera de vapor se condensasse, e para que a primeira forma de vida pudesse evoluir. Mas, quão rapidamente a superfície da Terra esfriou? A maioria dos cientistas assume que o ambiente infernal durou 500 milhões de anos, uma era geológica batizada como Hadeana. O maior apoio para tal visão vem da ausência de rochas intactas com mais de 4 bilhões de anos - e dos primeiros sinais fossilizados de vida, que surgiram muito tempo depois.

    Nos últimos anos, entretanto, geólogos - incluindo meu grupo da Universidade de Wisconsin-Madison - descobriram cristais de minério de zircão antigos cuja composição química está mudando o conceito sobre os primórdios da Terra. As propriedades incomuns desses minerais duráveis - cada um do tamanho do ponto final desta sentença - possibilitou aos cristais preservar indícios sobre como teria sido o ambiente da Terra quando eles se formaram. Essas minúsculas cápsulas do tempo carregam evidências de que oceanos habitáveis para a vida primordial e, mesmo os continentes, poderiam ter surgido 400 milhões de anos antes do que geralmente se pensava.

    Resfriamento
    Desde o século XIX cientistas vêm tentando calcular quão rapidamente a Terra se resfriou, mas poucos esperavam descobrir evidências sólidas.

    Embora os oceanos de magma, no início, estivessem com mais de 1.000oC, a idéia tentadora de uma Terra primitiva temperada veio de cálculos da termodinâmica. Os números indicam que a crosta poderia ter se solidificado na superfície em 10 milhões de anos. Como o planeta endureceu externamente, a fina camada de rocha solidificada teria isolado o exterior das altas temperaturas vindas do interior da Terra. Se houve períodos tranqüilos adequados entre os grandes impactos de meteoritos, se a crosta era estável, e se o efeito estufa da atmosfera não aprisionou muito calor, então as temperaturas poderiam ter caído rapidamente, abaixo do ponto de ebulição da água. Além disso, o Sol primitivo era mais fraco e deve ter contribuído com menos energia.

    Para a maioria dos geólogos, entretanto, o incontestado nascimento turbulento do planeta e os poucos indícios no registro geológico parecem, contrariamente, apontar para um prolongado clima ultraquente. A rocha intacta mais antiga conhecida é a Gnaisse Acasta, de 4 bilhões de anos, no noroeste do Canadá. Essa pedra, porém, formou-se nas profundezas do planeta e não carrega nenhuma informação sobre as condições da superfície. A maioria dos cientistas assume que as condições infernais presentes na superfície do planeta devem ter obliterado qualquer rocha que se formou muito cedo. As rochas mais antigas conhecidas que se originaram sob a água (e, portanto, em ambientes relativamente mais frios) datam de 3,8 bilhões de anos atrás. Esses sedimentos, expostos em Isua, no sudoeste da Groenlândia, também contêm a evidência de vida mais antiga.

    Escavações Profundas
    Nos anos 1980 , os cristais de zircão começaram a acrescentar novos dados sobre a Terra primitiva, quando uns poucos e raros grãos em Jack Hills e em Mount Narryer, no oeste da Austrália, foram reconhecidos como os materiais terrestres mais antigos - chegando a quase 4,3 bilhões de anos. Mas a informação que esses cristais carregavam parecia ambígua, em parte pelo fato de os geólogos estarem inseguros quanto à identidade da rocha matriz. Uma vez formados, os cristais de zircão são tão duráveis que podem persistir, mesmo se a sua rocha matriz for levada à superfície e destruída por exposição ao ar e erosão. O vento ou a água podem então transportar os grãos sobreviventes por grandes distâncias antes de o mineral se incorporar a depósitos de areia e cascalho que, mais tarde, solidificam-se em rochas sedimentares. De fato, os cristais de zircão - talvez milhares de quilômetros distantes de suas fontes - foram descobertos incrustados em um banco de cascalhos fossilizado chamado de conglomerado de Jack Hills.

    Assim, a despeito do entusiasmo com a descoberta desses fragmentos primevos da Terra, a maioria dos cientistas, incluindo eu, continuou a aceitar a visão de que o clima do nosso jovem planeta era Hadeano. Foi depois de 1999 que os avanços tecnológicos permitiram novos estudos com o zircão do oeste da Austrália, o que desafiou a tese convencional sobre a história mais antiga da Terra.

    Os cristais de zircão australianos não revelaram os seus segredos tão facilmente. Em primeiro lugar, o conglomerado de Jack Hills está isolado na fronteira de imensas fazendas de ovelhas situadas 800 km ao norte de Perth, a cidade mais isolada da Austrália. O conglomerado foi depositado três bilhões de anos atrás e marca o limite noroeste de um conjunto de formações rochosas, todas anteriores a 2,6 bilhões de anos. Para conseguir recuperar menos do que uma pitada de cristais de zircão, coletamos centenas de quilos de rochas desses afloramentos remotos e os transportamos até nosso laboratório para triturá-los e separá-los, como se estivéssemos procurando grãos especiais na areia de uma praia.

    Uma vez extraídos de sua rocha-fonte, os cristais individuais poderiam ser datados, já que os zircões são excelentes cronômetros geológicos. Além da sua longevidade, contêm traços de urânio radioativo, que decai para chumbo a um ritmo conhecido. Quando um cristal de zircão se forma a partir de magma solidificado, átomos dos elementos zircônio, silício e oxigênio combinam-se em proporções exatas (ZrSiO4) para criar uma estrutura cristalina exclusiva do zircão; o urânio ocasionalmente os substitui como um traço de impureza. Átomos de chumbo, por outro lado, são muito grandes para substituir adequadamente qualquer dos elementos da composição, e por isso os cristais de zircão nascem virtualmente livres de chumbo. O relógio urânio-chumbo começa a funcionar tão logo o zircão se cristaliza, e a razão chumbo/urânio aumenta com a idade do cristal. Os cientistas conseguem determinar a idade de um cristal de zircão não danificado com 1% de exatidão. No caso da Terra primitiva isso representa margem de erro de 40 milhões de anos.

    A datação de partes específicas de um único cristal foi realizada pela primeira vez no início dos anos 1980, quando William Compston e colegas da Universidade Nacional Australiana em Canberra inventaram um tipo de microssonda iônica, um instrumento bastante grande que batizaram de Shrimp (sigla em inglês para microssonda iônica sensitiva de alta resolução). Embora a maioria dos cristais de zircão seja quase invisível a olho nu, a microssonda iônica lança um raio de íons tão estreitamente focado que pode arrancar um pequeno número de átomos de qualquer alvo na superfície do cristal. Um espectrômetro de massa mede então a composição desses átomos ao comparar suas massas. Foi o grupo de Compston - trabalhando com Robert Pidgeon, Simon A. Wilde e John Baxter, da Universidade Curtin de Tecnologia, também na Austrália - que primeiro datou os zircões de Jack Hills, em 1986.

    Sabendo disso, abordei Wilde. Ele concordou em reinvestigar as datações por urânio-chumbo dos cristais de zircão de Jack Hills como parte da tese de doutorado de William H. Peck, meu aluno, hoje professor assistente da Universidade Colgate. Em 1999, Wilde analisou 56 cristais não-datados usando uma Shrimp aprimorada na Universidade de Curtin.

    Descobriu que cinco desses cristais apresentavam idade superior a 4 bilhões de anos. Para nossa grande surpresa, a idade do mais velho deles superava 4,4 bilhões de anos. Algumas amostras provenientes da Lua e de Marte têm idade similar, e os meteoritos são, geralmente, mais antigos; mas nada com essa idade tinha sido descoberto na Terra, nem mesmo se esperava descobrir. Quase todos achavam que, se esses antigos cristais de zircão tivessem existido, a dinâmica das condições dos Hadeanos teria destruído a todos. Nem desconfiávamos que a mais excitante das descobertas ainda estava por vir.

    Velhos Oceanos
    Peck e eu fomos atrás dos zircões de Wilde, do oeste da Austrália, porque estávamos de olho em uma amostra bem preservada do oxigênio mais antigo da Terra. Sabíamos que os cristais de zircão poderiam reter evidências, não apenas de quando sua rocha hospedeira teria se formado, mas também de como isso ocorreu. Em especial, estávamos usando as proporções de diferentes isótopos de oxigênio para estimar as temperaturas dos processos que teriam levado à formação de magmas e rochas.

    Os geoquímicos medem a proporção de oxigênio 18 (18O, um raro isótopo com oito prótons e dez nêutrons, que representa cerca de 0,2% de todo o oxigênio da Terra) para o oxigênio 16 (16O, o isótopo mais comum, que compreende 99,8% do total). Esses átomos são chamados de isótopos estáveis porque não sofrem decaimento radioativo e, desse modo, não mudam espontaneamente com o passar do tempo. Entretanto, a proporção de 18O e 16O incorporada dentro do cristal durante a sua formação varia de acordo com a temperatura ambiente na época em que o cristal se formou.

    A razão 18O/16O é bem conhecida para o manto da Terra (a camada de 2.800 km de espessura embaixo da fina camada de 5 km a 40 km dos continentes e da crosta oceânica). Magmas que se formam no manto sempre apresentam quase a mesma proporção de isótopo de oxigênio. Por questão de simplicidade, os geoquímicos ajustam essas proporções relativas àquela da água do mar e expressam-na naquilo que é chamado de notação delta (?). O ?18O do oceano é 0 por definição, e o ?18O do zircão do manto é 5,3, o que significa que tem uma razão 18O/16O maior que a da água do mar.

    Por isso Peck e eu esperávamos descobrir um valor de 5,3 para o manto primitivo, quando levamos os cristais de zircão de Jack Hills analisados por Wilde, incluindo os cinco mais antigos, até a Universidade de Edimburgo, naquele mesmo verão. Lá, John Craven e Colin Graham nos auxiliaram a usar um tipo diferente de microssonda iônica, especialmente projetada para medir as proporções do isótopo de oxigênio. Havíamos trabalhado juntos muitas vezes nas décadas precedentes, para aperfeiçoar a técnica e poder analisar amostras um milhão de vezes menores do que aquelas analisadas no meu laboratório em Wisconsin.

    Após 11 dias de análises ininterruptas e poucas horas de sono, completamos as medições e descobrimos que as nossas predições estavam erradas. Os valores ?18O do zircão eram superiores a 7,4.

    Ficamos atordoados. O que poderia significar essa alta proporção isotópica? Nas rochas mais jovens a resposta seria óbvia, porque amostras assim são comuns. Um cenário previsível é o de que as rochas a baixas temperaturas na superfície da Terra podem adquirir tal característica se interagirem quimicamente com água de chuva ou do oceano. As rochas com alto 1?8O, quando soterradas e fundidas, formam o magma que retém esse alto valor, que é então passado aos zircões durante a cristalização. Desse modo, a água líquida e as baixas temperaturas são necessárias na superfície da Terra para formar zircões e magmas com altos ?18O; não se conhece nenhum outro processo que resulte nisso.

    A descoberta de altas proporções de isótopos de oxigênio nos zircões do conglomerado de Jack Hills significa que provavelmente já existia água líquida sobre a superfície da Terra pelo menos 400 milhões de anos antes das rochas sedimentares conhecidas mais antigas, da Groenlândia. Se correto, é provável que já houvesse oceanos inteiros naquele tempo, tornando o clima primitivo da Terra mais parecido com uma sauna do que com uma bola de fogo Hadeana.

    Vestígios Continentais
    Poderíamos basear conclusões tão importantes sobre a história da Terra em uns raros e diminutos cristais? Protelamos a publicação de nossas descobertas por mais de um ano para reexaminar as análises. Enquanto isso, outros grupos conduziam suas próprias pesquisas em Jack Hills.

    Steven Mojzsis, da Universidade do Colorado, e colegas da Universidade da Califórnia em Los Angeles confirmaram nossos resultados, e todos publicamos estudos em 2001 descrevendo as descobertas.

    As possíveis implicações dos achados acerca do zircão propagaram entusiasmo no meio científico. Na violência superaquecida de um mundo Hadeano, nenhuma amostra teria sobrevivido para que os geólogos pudessem estudá-la. Mas esses cristais de zircão indicavam um mundo mais ameno e familiar, além de fornecer meios para esclarecer os seus segredos. Se o clima da Terra era frio o bastante para que existissem oceanos de água logo no começo, então talvez os cristais de zircão pudessem nos revelar se os continentes e outros aspectos da Terra moderna já existiam também naquele tempo. Para tanto, tínhamos de olhar mais fundo nos cristais.

    Mesmo o menor dos cristais de zircão contém outros materiais encapsulados. Esse conteúdo, bem como o padrão de crescimento dos cristais e a composição das impurezas, podem revelar muito sobre o local de origem do zircão. Quando Peck e eu estudamos cristais de 4,4 bilhões de anos, por exemplo, descobrimos que continham partes de outros minerais, inclusive quartzo. Isso nos causou surpresa, já que o quartzo é raro nas rochas primitivas e provavelmente não existia na primeira crosta que se formou sobre a Terra. A maior parte do quartzo vem de rochas graníticas, comuns em crosta continental que se formou posteriormente.

    Se os cristais de zircão do conglomerado de Jack Hill vieram de uma rocha granítica, tal evidência daria suporte à hipótese de que são amostras do primeiro continente criado no mundo. Mas é preciso ter cautela, pois uma pequena quantidade de quartzo pode se formar nos últimos estágios da cristalização do magma, mesmo se a rocha matriz não for granítica. Por exemplo, cristais de zircão e uns poucos grãos de quartzo foram descobertos na Lua, onde nunca surgiu uma crosta granítica do tipo continental. Causaria surpresa a alguns cientistas se os cristais de zircão mais antigos da Terra tivessem se formado num ambiente parecido com o da Lua primitiva ou, então, por algum outro meio que hoje já não é mais comum, como o impacto de meteoritos gigantes ou vulcanismo profundo. Até agora, porém, não descobrimos evidências convincentes para essas hipóteses.

    Há indícios, contudo, a favor da crosta continental nos elementos-traço (aqueles que substituem o zircão em níveis abaixo de 1%). Os cristais do conglomerado de Jack Hills têm elevada concentração desses elementos, bem como padrões de európio e cério que são mais comumentes formados durante a cristalização da crosta, o que significa que os zircões foram constituídos próximos à superfície da Terra e não no manto. Além disso, as proporções dos isótopos radioativos de neodímio e háfnio - dois elementos usados para determinar o tempo dos eventos de criação da crosta continental - sugerem que partes significativas da crosta continental formaram-se já há 4,4 bilhões de anos.

    A distribuição dos cristais de zircão antigos nos forneceu evidências adicionais. A proporção de cristais de zircão com mais de 4 bilhões de anos excede 10% em algumas amostras do conglomerado de Jack Hills. Além disso, sua superfície está altamente desgastada, e as faces originalmente angulosas estão arredondadas, sugerindo que os cristais foram impelidos para longe de sua rocha originária. Como puderam viajar centenas ou milhares de quilômetros, em forma de areia levada pelo vento, e ainda assim se concentrar em um mesmo local, a menos que houvesse uma grande quantidade deles? Como escaparam de ser soterrados e fundidos no calor do manto a menos que uma fina crosta de tipo continental fosse estável o bastante para preservá-los? Essas descobertas implicam que os cristais de zircão já foram abundantes e se originaram em uma região ampla, possivelmente uma massa de terra continental. Se foi assim, é provável que as rochas daquele tempo ainda existam; uma perspectiva entusiasmante, pois seria possível aprender muito com uma rocha intacta dessa idade.

    Além do mais, a distribuição por idade dos zircões antigos é desigual. As datações se aglomeram em certos períodos de tempo, e nenhum cristal de outras eras foi descoberto. Meu ex-aluno de graduação Aaron J. Cavosie, hoje professor assistente da Universidade de Porto Rico, descobriu tal evidência mesmo em zircões de zona única, nos quais o núcleo se formou mais cedo, há cerca de 4,3 bilhões, com crescimento circundante posterior, entre 3,3 bilhões e 3,7 bilhões de anos atrás. Na borda, o zircão é mais jovem do que no núcleo, já que os cristais crescem concentricamente pela adição de material aos grãos que estão na parte mais externa. Mas a grande diferença etária, com lapsos de tempo, entre os centros e as bordas desses cristais de zircão indica que dois eventos distintos ocorreram, separados por um intervalo maior. Nos cristais de zircão mais jovens, fáceis de obter, esse tipo de relação etária do centro para a borda resulta dos processos tectônicos que derretem a crosta continental e reciclam os cristais que estão no seu interior. Muitos cientistas tentam testar se condições similares produziram os antigos cristais de zircão do conglomerado de Jack Hills.

    Mais recentemente, E. Bruce Watson, do Instituto Politécnico Rensselaer, e Mark Harrison, da Universidade Nacional Australiana, relataram níveis de titânio menores do que o esperado nesses antigos cristais de zircão, sugerindo que a temperatura de seu magma original deve ter sido de entre 800oC e 650oC. Essa temperatura baixa seria possível somente se as rochas-matriz fossem graníticas; a maioria das rochas não-graníticas derrete a altas temperaturas, e assim os seus zircões deveriam conter mais titânio.

    Um zircão é para Sempre
    Desde que meus colegas e eu analisamos as proporções de isótopos de oxigênio naqueles cinco cristais de zircão de Jack Hills, em 1999, os dados que sustentam nossas conclusões aumentaram rapidamente. Investigadores em Perth, Canberra, Pequim, Los Angeles, Edimburgo, Estocolmo e Nancy estão analisando dezenas de milhares de cristais de zircão de Jack Hills com o auxílio de microssondas iônicas e outras técnicas de datação, em busca de amostras com mais de 4 bilhões de anos.

    Centenas de cristais de zircão recentemente descobertos vieram de várias localidades com idade entre 4 bilhões e 4,4 bilhões de anos. Alguns foram achados 300 km ao sul do conglomerado de Jack Hills. Geoquímicos examinam outras antigas regiões da Terra, na esperança de descobrir os primeiros cristais de zircão anteriores a 4,1 bilhões de anos fora da Austrália.

    A intensificação das buscas está estimulando o aperfeiçoamento das tecnologias. Cavosie obteve análises com mais exatidão e identificou mais de 20 cristais de zircão do conglomerado de Jack Hills com alta proporção de isótopos de oxigênio, o que indica temperaturas mais frias na superfície e a presença de oceanos há 4,2 bilhões de anos. Meus colegas e eu continuamos as buscas, com o auxílio do primeiro modelo da mais nova geração de microssonda iônica, a Cameca IMS-128, instalada no meu laboratório em março passado.

    Muitas questões serão respondidas se pedaços das rochas originais que formam os cristais de zircão puderem ser identificados. Mas, mesmo que isso não ocorra, ainda temos muito o que aprender com essas minúsculas cápsulas do tempo.




    Cápsulas do Tempo

    Por muito tempo, geólogos pensaram que as condições hostis presentes no nascimento do nosso planeta, 4,5 bilhões de anos atrás, deram lugar a um clima mais ameno há cerca de 3,8 bilhões de anos.

    Hoje, pequenos cristais de zircão, que retêm evidências claras de quando e como foram formados, sugerem que a Terra esfriou muito mais cedo, talvez há 4,4 bilhões de anos.

    Alguns cristais de zircão mais antigos apresentam composições químicas herdadas de ambientes mais frios e úmidos, como os necessários para a evolução da vida.


    John W. Valley completou o doutorado em 1980 pela Universidade de Michigan em Ann Arbor, onde começou a se interessar pela Terra em seu estado primitivo. Ele e seus alunos passaram a explorar o registro das rochas mais antigas por toda a América do Norte e Austrália, Groenlândia e Escócia. Hoje, Valley é presidente da Sociedade Mineralógica da América e professor de geologia da Universidade de Wisconsin-Madison, onde fundou o sofisticado laboratório WiscSIMS.


    Para conhecer mais

    A cool early Earth. John W. Valley, William H. Peck, Elizabeth M. King e Simon A. Wilde, em Geology, vol. 30, no 4, págs. 351-354, abril de 2002.

    Magmatic d18O in 4400-3900 Ma detrital zircons: a record of the alteration and recycling of crust in the early Archean. Aaron. J. Cavosie, J. W. Valley, S. A. Wilde e the Edinburgh Ion Microprobe Facility, em Earth and Planetary Science Letters, vol. 235, no 3, págs. 663-681, 15 de julho de 2005.

    O website do autor, "Zircons are forever" está no endereço www.geology.wisc.edu/zircon/zircon-home.html

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