Defesanet 09 Janeiro 2006 | |
Petrobras prevê auto-suficiência sustentável
Presidente da estatal diz que produção aumentará 10%
ao ano até 2010 e que busca refinarias no exterior
PEDRO SOARES
A auto-suficiência na produção de petróleo virá em 2006 e se sustentará no futuro graças ao aumento da produção de óleo bruto e não porque o consumo do combustível no país está em queda em razão da substituição da gasolina pelo álcool, impulsionada pelo lançamento dos carros flex, diz o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
Segundo o executivo, a produção de petróleo crescerá numa proporção maior do que o consumo de derivados, o que assegura ao país uma "auto-suficiência sustentável" de longo prazo. A produção de óleo aumentará de 9,5% a 10% ao ano até 2010. Passará dos atuais 1,85 milhão de barris/dia para 2,3 milhão em 2010. É mais do que cresce a demanda de derivados no país, cuja expansão anual será da ordem 2,6%.
Tal cenário, diz, abre a possibilidade para Petrobras não só exportar petróleo mas também investir em refinarias no exterior. "A produção vai crescer a ritmo muito maior e, por isso, vamos ter de exportar", afirmou Gabrielli.
Sua pretensão, no entanto, não é vender no exterior o óleo pesado (de menor valor comercial) produzido especialmente na bacia de Campos. É ter refinarias na Ásia, onde estão sendo prospectados negócios na China e no Japão, e na Europa, onde a companhia busca oportunidades na Espanha e em Portugal, revela o executivo. Nenhum desses negócios, porém, estão próximos de desfecho, diz.
A negociação mais adiantada (falta só assinar contrato) é a aquisição do controle -ao menos 51%, diz Gabrielli- de uma refinaria em Pasadena (Texas). Sobre o valor, Gabrielli só deu uma pista: "Não serão bilhões". Ou seja: sairá por até US$ 1 bilhão -preço considerado baixo para entrar no mercado dos EUA.
"Se refinar e vender como derivado no exterior, a margem de ganho [lucro] aumenta. Isso faz com que a capacidade de investir no Brasil também aumente."
O sentido econômico é simples: do ponto de vista logístico, é mais barato despachar um superpetroleiro ao exterior e refinar o óleo lá fora do que exportar combustíveis a granel em pequenos navios.
Em 2002, quando o presidente da Petrobras era Francisco Gros e FHC presidia o Brasil, a Petrobras adquiriu a refinaria argentina Pecom (atual Petrobras Energia). O PT (ou parte dele), na oposição, reclamou. Sempre em defesa do governo Lula, Gabrielli faz a seguinte análise: "O PT rejeitava a idéia de esfacelar a Petrobras, para privatizá-la em partes em troca de uma expansão internacional em uma parte dela."
E defende a internacionalização da companhia: "É importante ter uma refinaria nos EUA. Hoje, somos um grande produtor de petróleo pesado, que tende a ter desvalorização em relação ao leve."
Investir no exterior não significa, no entanto, reduzir investimentos no país: "Pretendemos fazer com que o refino externo seja suplementar, permitindo adicionar valor ao nosso negócio, ao nosso óleo pesado", afirmou.
Para tal, a Petrobras está planejando investir simultaneamente em duas refinarias no país -uma em Pernambuco, para abastecer o Nordeste e refinar óleo pesado do Brasil e da PDVSA (estatal venezuelana sócia no projeto) e outra destinada a produzir prioritariamente matéria-prima (nafta) para a indústria petroquímica. A planta produzirá também resinas usadas na fabricação do plástico.
Indagado se o futuro da Petrobras seria se tornar uma companhia de energia especializada em produzir biomassa (álcool, biodiesel etc), Gabrielli diz que tudo dependerá do que for mais vantajoso. "Poder, pode. Mas tudo depende de preço relativo. Da relação de preço entre o álcool hidratado e a gasolina". Hoje, mesmo com o "boom" do carro flex, há mais demanda pela gasolina.
No caso do biodiesel, a Petrobras já investe na produção, com a instalação de unidades de processamento. É uma estratégia diferente da do álcool, quando nos anos 1970 a produção ficou com os usineiros e a Petrobras entrou só na distribuição.
Ainda assim, Gabrielli ressalta que o Brasil é o mercado com maior presença de combustíveis alternativos ao petróleo, o que amplia as possibilidades da Petrobras de trocar o petróleo pela biomassa quando o primeiro se tornar escasso.
"Dois terços dos caros novos são flex. Todos os postos do Brasil têm pelo menos uma bomba de álcool puro. Vinte e cinco por cento da gasolina é misturada com álcool. A frota de carros à gás é grande, especialmente no Rio ou em São Paulo. De forma ilegal, usa-se GLP nos carros no interior. Há um conjunto de substitutos de gasolina que nenhum outro país do mundo tem. Isso faz com que a demanda seja muito mais sensível a preço do que qualquer outro país", diz Gabrielli.
Bolívia e gás
Tal programa, reconhece, pode afetar a Petrobras, maior empresa daquele país. Sobre a possibilidade do governo de Evo Morales, presidente eleito da Bolívia, nacionalizar as duas refinarias de propriedade da estatal brasileira naquele país, afirmou: "É preciso analisar objetivamente quais são as condições que isso vai ocorrer. Temos refinarias que são legalmente constituídas, com contratos definidos. Estamos abertos para discutir com o governo do povo boliviano."
Mas Gabrielli sabe do risco que perder os investimentos feitos: "O presidente Evo Morales foi eleito com maioria no Congresso para reescrever a Constituição boliviana. Portanto, tudo pode mudar na Bolívia. Estamos num momento de esperar e discutir."
Principal fonte de riqueza da Bolívia, o gás está mais do que nos planos da Petrobras.
A idéia, afirma, é aumentar a produção para cerca de 100 milhões de metros cúbicos até 2010 tanto no Brasil quanto na Bolívia, onde a Petrobras é uma das principais produtoras. Hoje, o Brasil importa de 28 a 29 milhões de metros cúbicos da Bolívia. Lá, a produção só aumentará se as condições impostas pelo governo forem vantajosas, diz.
Aqui, a realidade é outra: a Petrobras desenvolve projetos nas bacias nordestinas (especialmente no projeto de Manati, BA), Campos (RJ), Santos (SP, onde está o maior reservatório de gás do país) e Espírito Santo.
O mercado do gás melhorou com o leilão de energia, no qual a Petrobras conseguiu contratos para parte das térmicas de sua propriedade. "A demanda brasileira cresce a ritmo muito grande [10% ao ano]. E a demanda térmica apresenta menos instabilidade depois do leilão de energia. O leilão de energia define mais ou menos um horizonte sobre a demanda térmica, porque passamos a ter contratos de fornecimento, o que reduz a nossa incerteza."
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