terça-feira, novembro 28, 2006

Alavanca do crescimento é redução acelerada dos juros

Paulo Nogueira Batista Jr: “Não é preciso fazer nada de extraordinário”

‘Alavanca do crescimento é redução acelerada dos juros’

De acordo com o economista, “há limites para a utilização da política fiscal como alavanca do crescimento. É sobretudo no excesso de restrição no campo da moeda e do crédito que se observa o impacto negativo sobre a atividade econômica”

Na avaliação do economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV, “talvez nunca tenha sido tão fácil - pelo menos do ponto de vista econômico - colocar o país em movimento. Todas ou quase todas as explicações ‘clássicas’ para o baixo dinamismo da economia nos últimos 25 anos parecem superadas. A inflação brasileira, que já foi um problema crônico, às vezes agudo, está basicamente liquidada. As contas externas, que foram em vários períodos o calcanhar-de-aquiles da economia, estão sólidas. Também não há crise fiscal à vista. As contas públicas não se mostram tão fortes quanto as externas, mas não pedem ajustamentos drásticos, de cunho recessivo”.

GARGALO

“A economia possui”, diz o economista, “margens expressivas de capacidade produtiva ociosa. O principal gargalo, pelo lado da oferta, é a infra-estrutura, principalmente de transportes. É compreensível, assim, a ênfase do governo na ampliação do investimento público e na execução mais rápida dos projetos nas áreas de energia e transportes. Também é válida a preocupação em reduzir tributos, especialmente sobre investimentos, uma vez que a carga tributária subiu demais no Brasil”.

Paulo Nogueira indaga: “Como fica a meta de 4,25% do PIB para o superávit primário? Se o governo tentar preservá-la, o corte de impostos e o aumento dos investimentos públicos terão que ser neutralizados por uma redução de despesas correntes não-financeiras. Nesse caso, o impacto expansivo da desoneração tributária e da ampliação do investimento será contrabalançado pelo impacto contracionista da diminuição dos gastos correntes. O efeito líquido sobre o PIB tenderá a ser modesto. Por outro lado, se o superávit primário ficar muito abaixo da meta, a dívida crescerá como proporção do PIB, o que pode abalar a confiança na sustentabilidade das contas do governo”.

No artigo “Destravando a economia”, no jornal “Folha de S.Paulo”, o economista diz que “há limites relativamente estreitos para a utilização da política fiscal como alavanca para o crescimento. A alavanca principal é outra - e está basicamente nas mãos do Banco Central. É sobretudo no campo da moeda e do crédito que se observa um excesso de restrição, com impacto negativo sobre o nível de atividade econômica”.

Segundo Paulo Nogueira, “não é preciso fazer nada de extraordinário. O ritmo de diminuição da taxa básica de juro pode ser acelerado para que, ao longo de 2007, a taxa real praticada no Brasil se aproxime das que se observam no resto do mundo. A TJLP, a taxa de juro de longo prazo que vigora nos empréstimos do BNDES, também pode sofrer queda adicional, favorecendo a retomada dos investimentos. O Banco Central deve, além disso, reduzir gradualmente os compulsórios bancários de modo a aumentar a oferta de crédito e diminuir as taxas de juro nos empréstimos do sistema financeiro. Com a redução mais rápida das taxas de juro, é provável que o real sofra alguma depreciação, o que contribuirá para acelerar o crescimento do PIB e manter as contas externas ajustadas”.

LOBBY

“É possível mudar a política de moeda e crédito sem mudar o comando do Banco Central? Teoricamente, sim. Na prática, não. A diretoria atual do BC está muito comprometida com uma linha diferente e dificilmente se predisporá a uma mudança substancial de orientação. Aí reside a grande dificuldade, que é mais política do que econômica. A atual equipe do Banco Central tem o respaldo do lobby financeiro”, afirma.

“Por outro lado, com a sua reeleição por larga margem, o presidente da República está no ápice do seu poder. Se não contrariar esse lobby agora, não o fará nunca mais”, diz o economista.

domingo, novembro 26, 2006

Admirador de Chávez, Tariq Ali exclui Lula de 'eixo da esperança'

Mônica Vasconcelos
De Londres bbc

O escritor paquistanês Tariq Ali acaba de lançar o seu mais recente livro, em que saúda um grupo de líderes latino-americanos que estaria desafiando o poderio do "império norte-americano" para criar uma força regional que defenda os interesses do sul.

Em Pirates of the Caribbean: Axis of Hope ("Piratas do Caribe: Eixo de Esperança", em tradução livre), a figura central é o presidente venezuelano Hugo Chávez. Para Ali, no entanto, o presidente Lula não faz parte do grupo.

Tariq Ali nasceu em Lahore, no Paquistão, em 1943, mas foi educado em Oxford, na Grã-Bretanha. No final da década de 1960, foi um dos estudantes radicais que lideraram um violento protesto contra a Guerra do Vietnã em frente à embaixada americana em Londres.

Apesar do ímpeto estudantil ter diminuído com o tempo, o escritor paquistanês ainda é um feroz crítico da política externa dos Estados Unidos e de Israel e uma voz ativa em protestos contra guerras, sejam os conflitos na Sérvia, no Afeganistão ou no Iraque.

Ali é autor de romances, roteiros para cinema, peças de teatro e inúmeros livros de não-ficção, incluindo obras como Confronto de Fundamentalismos, Bush na Babilônia e Conversations With Edward Said.

Leia abaixo a entrevista de Tariq Ali à BBC:

BBC - Chávez tem um bom relacionamento com Fidel Castro. Seria isso um retorno do marxismo?

Tariq Ali - Não acho. Encontrei Chávez sete vezes nos últimos anos e enquanto escrevia este livro. A julgar pelas políticas que ele está adotando, o que me parece que ele está fazendo é criar uma democracia social de esquerda, no modelo do governo trabalhista do pós-guerra britânico.

Usar o Estado para regular o país, gastar o dinheiro do petróleo em saúde, em educação, reforma agrária, construção de casas para os pobres, este é o programa do seu governo.

Ele tem muita clareza a respeito do que faz e diz que nós não estamos vivendo no século 20, estamos em um outro século e vamos funcionar de acordo, mas não vamos aceitar o Consenso de Washington, não vamos aceitar as políticas neoliberais e vamos desafiar os Estados Unidos.

BBC - Um dos argumentos contra Chávez é a maneira como ele parece disposto a se associar a qualquer um que seja antiamericano. Qualquer um que é inimigo de Washington é amigo de Chávez?

Ali - Isso é um certo exagero. Basicamente, o que ele está tentando fazer é criar um bloco no sul que possa resistir, desafiar e brigar por seus próprios interesses. Seu foco principal está na América do Sul.

Então, a vitória de Evo Moralles na Bolívia, Ortega na Nicarágua, as eleições adulteradas pelo Estado no México... O continente está agora polarizado entre os bolivaristas e os que apóiam o Consenso de Washington.

E o que é interessante é que não existe fundamentalismo religioso envolvido. Trata-se essencialmente de uma visão social que Chávez e seus seguidores estão tentando projetar.

BBC - O poder real de Chávez está no petróleo, não? Os chineses querem, os Estados Unidos querem também...

Ali - Bem, ele vende bastante para os Estados Unidos e o petróleo está no centro do programa de reformas que ele está fazendo. O que os Estados Unidos não gostam é que, se outros países tentarem fazer reformas como essa, ele está disposto a oferecer petróleo barato.

Está fazendo isso com a Bolívia, está fazendo isso com Cuba, provavelmente vai fazer isso com a Nicarágua. E isso é algo a que os americanos não estão acostumados, enfrentar esse tipo de oposição.

BBC - Quão democrático é esse movimento?

Ali - É totalmente democrático. Chávez deu ao povo venezuelano o poder de escolher sua nova Constituição. É a única Constituição no mundo, com exceção da Suíça, que inclui o direito de retirar o presidente.

A oposição se opôs e, depois, tentou usar esse direito para derrubar Chávez, mas ele venceu. Ele venceu abertamente, diante dos olhos do público e dos observadores internacionais.

Ele é constantemente atacado pelas redes particulares de televisão e a mídia privada. Nenhuma TV ou jornal foi proibido ou suprimido. Ele existe por causa do apoio dos pobres.

A Venezuela é um país onde a divisão de classes é refletida na divisão racial. Então, parte da hostilidade das oligarquias a Chávez acontece por que ele tem a pele escura.

BBC - O senhor acredita que esse movimento está se espalhando? Há grandes países sul-americanos contra o movimento. Um deles, na sua opinião, é o Brasil.

Ali - O Brasil está claramente contra. E tem havido grandes discussões dentro do PT a respeito do caminho a ser tomado. Vamos ver o que ele (Lula) faz no segundo mandato.

BBC - Por que o Brasil não está incluído no "Eixo da Esperança"?

Ali - Porque o primeiro mandato de Lula foi muito decepcionante. A decisão tomada por seu partido e por seus consultores próximos, e especialmente pelo ex-ministro (Antonio) Palocci, foi não fazer nada que questionasse a ordem econômica estabelecida no Brasil, o que significa manter tudo o que havia sido feito para agradar o FMI e as instituições financeiras globais.

Isso foi muito desapontador, não apenas para mim, mas para muitos no Brasil. Como resultado, o presidente Lula não ganhou as eleições no primeiro turno, seis milhões de eleitores votaram em um candidato à esquerda dele. Então, espero que, no segundo mandato, o Brasil se torne parte do eixo da esperança.

BBC - O senhor fala de Chávez dando dinheiro do petróleo para os pobres na Venezuela. No Brasil, existe o Bolsa Família. Alguns defendem a tese de que o Norte e o Nordeste do país vivem hoje um desenvolvimento econômico simplesmente porque existe mais dinheiro em circulação e que Lula foi eleito pelos pobres. O senhor vê similaridades entre Lula e Chávez nesse sentido?

Ali - Eu não vejo similaridades. As políticas radicais de distribuição de riqueza na Venezuela foram muito mais longe do que em qualquer outro país latino-americano. E a experiência brasileira foi decepcionante, uma visão que é compartilhada pela população brasileira.

E nem falamos em corrupção. A corrupção em grande escala e os escândalos que envolvem o PT, um depois do outro... foram muito desmoralizantes. Então, a questão é o que Lula é capaz de fazer no segundo mandato.

As publicações internacionais, como Financial Times e Economist mostram o Brasil como um modelo alternativo ao da Venezuela. Eles estão perfeitamente conscientes do que está acontecendo. Entretanto, eu não perdi a esperança.

Esse primeiro mandato deveria servir como uma lição para Lula e aquela facção do PT que quer seguir exatamente o que dizem as instituições financeiras globais. Então, vamos ver o que acontece. Mas, até agora, não foi bom.

O que eu gostaria de ver um governo progressista brasileiro fazer são duas coisas. Internamente, uma reforma agrária: distribuição de terras para os camponeses pobres. E, depois, tentar construir um sistema de educação no país.

E a terceira coisa é que Lula precisa criar uma política externa independente. Fiquei muito chocado quando ele decidiu apoiar a ocupação do Haiti pelos Estados Unidos: a operação franco-americana no Haiti. Tropas brasileiras foram enviadas para ocupar o país, um general brasileiro cometeu suicídio, outro renunciou, porque só o que ordenavam a eles é que matassem as pessoas pobres daquela ilha.

BBC - Chávez tem sido acusado de autoritarismo e o senhor o defende neste aspecto. É possível para um país ficar fora do consenso neoliberal e não apelar para o autoritarismo? O senhor foi a Cuba e falou da opressão e da homofobia no sistema cubano.

Ali - Esse foi o caso no passado. Eles estão tentando mudar agora. O homossexualismo agora foi legalizado, os autores proibidos nos anos 1970 e 1980 hoje estão sendo publicados. Eles perceberam que têm de mudar e uma das razões pelas quais estão mudando é por causa do impacto da Venezuela.

O que os latino-americanos estão mostrando é que é perfeitamente possível democraticamente, porque Chávez foi eleito cinco vezes, fazer mudanças sociais. E o povo quer que você faça isso. Estas pessoas estão usando o sistema democrático para fazer mudanças sociais.

No Ocidente, por exemplo, a democracia está se esvaziando, com pouquíssimas diferenças entre a centro-esquerda e a centro-direita.

BBC - Chávez não estaria tentando ser presidente vitalício?

Ali - Isso não é verdade. Ele foi eleito todas as vezes. E vai continuar sendo eleito. A oposição na Venezuela está uma bagunça porque eles apoiaram um golpe de Estado contra ele, organizaram uma greve da classe média contra ele, falam abertamente sobre derrubá-lo... Ou seja, não são muito inteligentes.

Eu detecto o autoritarismo nas sociedades ocidentais em que vivemos hoje. As mentiras que foram ditas para nos levar à guerra contra o Iraque, mentiras pelas quais os políticos não foram punidos ou julgados.

Na verdade, quando vou à América Latina hoje em dia, e comparo a vibrante democracia latino-americana com o que vemos hoje no Ocidente, acho muito encorajador.

Claro, não há garantias. Não sei o que vai acontecer daqui a dez anos, ninguém sabe. Mas acho que existe um eixo de esperança, e isso é muito encorajador. As pessoas estão envolvidas com a política, enquanto, no Ocidente, jovens com idades entre 16 e 26 anos sequer têm interesse em votar.

BBC - Não poderíamos ver a estratégia de Chávez como a velha política populista de dar dinheiro aos pobres em troca de votos?

Ali - Se fosse tão simples, a oligarquia venezuelana poderia ter feito a mesma coisa. Não acho que é tão simples, e acho que as pessoas já não sabem o significado de populismo, essa palavra já foi abusada demais.

O que Chávez está fazendo é usar os lucros do petróleo para ajudar os pobres. Você tem grandes investimentos em educação, em saúde, em habitações populares, algo que nunca aconteceu antes. Isso explica a popularidade dele, e é por isso que ele vai ser eleito de novo.

E porque ele está mostrando a outras partes do mundo que isso é possível, ele é odiado pela elite internacional. Você pode ler exatamente os mesmos ataques a Chávez em qualquer jornal do Ocidente. Praticamente todos os jornais falam exatamente da mesma maneira sobre ele. Inclusive parte da imprensa brasileira.

Isto é uma indicação de que algo está sendo feito. Não apenas para vencer as eleições. Este não é o objetivo. O objetivo é mudar a situação dos pobres.

BBC - Outra crítica feita pela oposição a Chávez é que, ao usar o dinheiro do petróleo dessa forma, ele não estaria protegendo o futuro da Venezuela. O que o senhor diz sobre isso?

Ali - Acho que o futuro da Venezuela é o povo venezuelano. E se ele está melhorando as condições de vida dos venezuelanos, a educação, a saúde, ele está tomando conta do futuro da Venezuela.

Você tem hoje programas de alfabetização para adultos no país, para garantir que todos possam ler e escrever. O fato de que ele tem de fazer isso no início do século 21 é uma indicação do que não foi feito antes.

Esqueça o que diz a oposição. Eles tiveram uma grande chance, durante os últimos 70 anos, e não fizeram nada.

terça-feira, novembro 21, 2006

Efeitos culturais da globalização



Política


“Nós vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão desaparecendo”. Quem não ouviu, no mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? A globalização é um chavão de nosso tempo, uma discussão que está na moda, onde opiniões fatalistas conflitam com afirmações críticas, e o temor de uma homogeneização está no centro do debate. Suposições de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou, simplesmente, de uma economia mundial, surgem seguidamente, cujas conseqüências levariam a processos de unificação e adaptação, aos mesmos modelos de consumo e a uma massificação cultural. Mas há que se perguntar: trata-se apenas de conceitos em disputa ou há algo que aponte, de fato, nesta direção? Quais são, afinal, os efeitos culturais da globalização?

ANTÔNIO INÁCIO ANDRIOLI


O processo de constituição de uma economia de caráter mundial não é nada novo. Já no período colonial houve tentativas de integrar espaços intercontinentais num único império, quando a idéia de “dominar o mundo” ficou cada vez mais próxima. Por outro lado, a integração das diferentes culturas e povos como “um mundo” já foi desejada há muito tempo e continua como meta para muitas gerações. Sob esta ótica, o conceito de globalização poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse tão marcado pelo desenvolvimento neoliberal da política internacional.

Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o termo globalização são identificados processos que têm por conseqüência a subjugação e a ligação transversal dos estados nacionais e sua soberania através de atores transnacionais, suas oportunidades de mercado, orientações, identidades e redes. Por isso, ouvimos falar de defensores da globalização e de críticos à globalização, num conflito pelo qual diferentes organizações se tornam cada vez mais conhecidas. Neste sentido, não se trata de um conflito stricto sensu sobre a globalização, mas sobre a prepotência e a mundialização do capital. Esse processo, da forma como ele atualmente vem acontecendo, não deveria sequer ser chamado de globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada e exclui a sua maior parte – se observamos a circulação mundial de capital, podemos constatar que a maioria da população mundial (na Ásia, na África e na América Latina) permanece excluída.

Essa forma de globalização significa a predominância da economia de mercado e do livre mercado, uma situação em que o máximo possível é mercantilizado e privatizado, com o agravante do desmonte social. Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistema financeiro, à redução do espaço de ação para os governos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de endividamento dos estados nacionais. Condições para que essa globalização pudesse se desenvolver foram a interconexão mundial dos meios de comunicação e a equiparação da oferta de mercadorias, das moedas nacionais e das línguas, o que se deu de forma progressiva nas últimas décadas. A concentração do capital e o crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem a mesma renda de 600 milhões de outras pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de pessoas passam fome) são os principais problemas sociais da globalização neoliberal e que vêm ganhando cada vez mais significado.

É evidente que essa situação tem efeitos sobre a cultura da humanidade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis. Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie de conformidade e adaptação. Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos são taxados de incompetentes e os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua própria pobreza. Paralelamente a isso, surge nos países industrializados uma nova forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem entrelaçada com a luta por espaços de trabalho. É claro que a violência surge também como reação dos excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma crescente “cultura da violência” na sociedade. Também não podemos esquecer que o próprio crime organizado oferece oportunidades de trabalho e segurança aos excluídos.

Embora tenham sido desenvolvidos e disponibilizados mais meios de comunicação, presenciamos um crescente isolamento dos indivíduos, de forma que as alternativas de socialização têm sido, paradoxalmente, reduzidas. A exclusão de muitos grupos na sociedade e a separação entre camadas sociais têm contribuído para que a tão propalada integração entre diferentes povos não se efetive; pelo contrário, isso têm levado a um processo de atomização da sociedade. O valor está no fragmento, de modo que o engajamento político da maioria ocorre de forma isolada como, por exemplo, o feminismo, o movimento ambientalista, movimentos contra a discriminação ética e sexual, etc. Tudo isso sem que se perceba um fio condutor que possa unificar as lutas isoladas num projeto coletivo de sociedade. Nessa perspectiva fala-se de um “fim das utopias”, que se combina com uma nova forma de relativismo: “a verdade em si não existe; a maioria a define”.

No que se refere à educação, cresce a sobrevalorização do pragmatismo, da eficiência meramente técnica e do conformismo. O mais importante é a formação profissional, concebida como único meio de acesso ao mercado de trabalho. A idéia é a de que, com uma melhor qualificação técnica, se tenha maiores possibilidades de conseguir um emprego num mercado de trabalho em declínio. Em conseqüência a isso, a reflexão sobre os problemas da sociedade assume cada vez menos importância; e valores como engajamento, mobilização social, solidariedade e comunidade perdem seus significados. Importante é o luxo, o lucro, o egocentrismo, a “liberdade do indivíduo” e um lugar no “bem-estar dos poucos”. Esses valores são difundidos pelos grandes meios de comunicação e os jovens são, nisto, os mais atingidos. A diminuição do sujeito/indivíduo surge como decorrência, pois o ser humano é cada vez mais encarado como coisa e estimulado a satisfazer prazeres supérfluos. Os excluídos são descartados sem perspectiva e encontram cada vez menos espaço na sociedade que, afinal de contas, está voltada aos consumidores, enquanto o acesso público é continuamente reduzido.

Por outro lado, há reações que se desenvolvem internacionalmente contra essa tendência. A ampliação das possibilidades de comunicação tem contribuído para que protestos isolados pudessem se encontrar e constituir redes. O lema: “pensar globalmente e agir localmente” pôde ser superado, de forma que uma ação global se tornou possível, o que alterou a visão de mundo e os limites de tempo e espaço. Para além das diferenças étnicas, religiosas e lingüísticas dos povos, podemos falar de uma nova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que é beneficiada pela globalização neoliberal e, de outro, a maioria que é prejudicada com a ampliação do livre mercado. Esse conflito está no centro do debate atual da humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade futura. Se a imagem das futuras gerações será fragmentada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas a possibilidade de uma crescente desumanização é muito grande.

(Autor) Adrioli é doutorando em Ciências Sociais na Universidade de Osnabrück - Alemanha.

domingo, novembro 19, 2006

Soja avança sobre o mercado do biodiesel - 19/11/2006

Folha Online - Soja avança sobre o mercado do biodiesel - 19/11/2006:

HUMBERTO MEDINA
da Sucursal de Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagoniza nesta semana um ato simbólico a favor do grande capital do agronegócio e da soja como principal matriz energética do biodiesel.

Para saber mais clique no link acima.

sábado, novembro 18, 2006

Elogio da lentidão

Milton Santos

O mundo de hoje parece existir sob o signo da velocidade. O triunfo da técnica, a onipresença da competitividade, o deslumbramento da instantaneidade na transmissão e recepção de palavras, sons e imagens e a própria esperança de atingir outros mundos contribuem, juntos, para que a idéia de velocidade esteja presente em todos os espíritos e a sua utilização constitua uma espécie de tentação permanente. Ser atual ou eficaz, dentro dos parâmetros reinantes, conduz a considerar a velocidade como uma necessidade e a pressa como uma virtude. Quanto aos demais não incluídos, é como se apenas fossem arrastados a participar incompletamente da produção da história.

Sem dúvida, a maioria das pessoas, das empresas e das instituições não se utiliza das velocidades exponenciais tecnicamente possíveis e muitos continuam a sobreviver na lentidão, mas isso não impede que o ideário dominante, em todos os arcanos da vida social, sugira uma existência com ritmos cada vez mais acelerados. Paralelamente, aquela questão do "fixo tecnológico", fulcro de tantas discussões teóricas nos anos 60 e 70, retoma atualidade.

Dizia-se que a entrada de um país na linhagem das nações desenvolvidas dependia da aceitação de condições tecnológicas então consideradas modernas, sem as quais a presença atuante no plano internacional seria impossível. Mas havia, também, os que discutiam e recusavam essa premissa, afirmando que tecnologias intermediárias seriam capazes de dar conta, satisfatoriamente, do processo de crescimento de um determinado país. Era um tempo diferente do atual e no qual o debate civilizatório impedia o triunfo do pensamento único.

Fuga para a frente

Hoje, graças às novas realidades da presente globalização, aquela tese do "technological fix" se robusteceu e se impõe com muito mais força, já que a batalha encarniçada entre os agentes dominantes da economia os leva à busca desesperada de tecnologias "up-to-date", por sua vez necessitadas de adaptação urgente _técnica ou organizacional_ cada vez que uma nova conquista científica é obtida.

A necessidade, sempre presente, de competir por um mercado que é uma permanente fuga para a frente conduz a essa espécie de endeusamento da técnica, autorizando os agentes vitoriosos a manter sua posição de superioridade sobre os demais. Na medida em que as grandes empresas transnacionais ganharam dimensões planetárias, a tecnologia se tornou um credo generalizado, assim como a velocidade. Ambas passam a fazer parte do catecismo da nova fé.

Todos acabam aceitando como verdade essa premissa. Ser ultramoderno impõe-se como uma ilusão generalizada, e o tempo desejado é o tempo da nova técnica. Seu ideário se alimenta de uma construção ideologia elaborada de forma sistêmica, mas que é apenas diretamente funcional para um pequeno número de atores privilegiados. De fato, somente algumas pessoas, firmas e instituições são altamente velozes. O resto da humanidade, em todos os países, vive e produz de uma outra maneira.

Essa velocidade exacerbada, própria a uma minoria, não tem e nem busca sentido. Serve à competitividade desabrida, coisa que ninguém sabe para o que realmente serve, de um ponto de vista moral ou social. Fruto das necessidades empresariais de apenas um punhado de firmas, tal velocidade põe-se a serviço da política de tais empresas. E estas arrastam a política dos Estados e das instituições supranacionais. E aí se situa a matriz de um grave equívoco. Porque, vista historicamente, a técnica não é um absoluto.

Aliás, em seu estado absoluto, a técnica jamais foi realizada. Todas as vezes em que deixa de ser um capítulo da ciência para transformar-se em história, ela se relativiza. Por isso, a velocidade hegemônica atual, do mesmo modo que aquelas que a precederam _e tudo o que vem com ela e que dela decorre_ é apreciável, mas não imprescindível. Não é certo que haja um imperativo técnico, o imperativo é político. A velocidade utilizada é um dado da política, e não da técnica.

Daí a emergência possível de uma pergunta de ordem prática: será mesmo impossível limitar a velocidade dos mais velozes, isto é, dos mais fortes? Ou, em todo caso, poderíamos limitar essa força dos mais fortes?

No passado, a ordem mundial pôde, em diversos momentos da história, construir-se mediante a não-obediência aos ditames da técnica mais moderna.

Os cem anos que se confundem com o século do imperialismo abrigaram grandes conjuntos políticos territoriais vivendo e convivendo segundo "idades" técnicas diversas, ou melhor, segundo combinações desiguais dos avanços técnicos possíveis. O Império Britânico estava à frente quanto à posse e ao uso das tecnologias então mais modernas, e os outros impérios vinham na rabeira, depois e depois. Mas isso não os impedia de conviver. O exercício da política permitia enfrentar os conflitos internos e sugerir, cada vez, novas formas de equilíbrio.

Aliás, de um ponto de vista internacional, o que se passa dentro de cada império parece se espelhar em relação ao que se verificava externamente. A política comercial aplicada no interior desses grandes conjuntos territoriais, fragmentados e espalhados em diversos continentes, é que acabava permitindo a possibilidade de sua harmonização, malgrado suas diferenças de poder, dentro do conjunto do mundo ocidental (1). O notável é que o balanço desses cem anos que precedem a atual fase de globalização permite, apesar das guerras que os marcaram, reconhecer, junto aos inegáveis progressos técnicos e ganhos econômicos, a manifestação também de progressos políticos e éticos, com a ampliação da idéia de humanidade solidária e de sociedade nacional solidária, mediante a conquista e a busca de aperfeiçoamento de um estatuto político eficaz na construção de uma vida social civilizada, nos planos nacional e internacional.

Casa coletiva

O progresso técnico não constituía obstáculo ao progresso moral, quando havia, paralelamente, progressos políticos. Assim, o problema fundamental é o de retomar o curso dessa história, recolocando o homem em seu lugar central no planeta. Uma das condições para alcançá-lo parece ser o reconhecimento da realidade dos territórios tal como sempre foram utilizados pela população como um todo.

São usos múltiplos marcados por diferentes velocidades e pela utilização de técnicas as mais diversas, maneira de deixar que o território nacional constitua uma verdadeira casa coletiva, um abrigo para todos, empresas, instituições e homens. Somente dessa forma, soluções de convivência plenas ou sequiosas de humanidade são possíveis.

Não se trata de pregar o desconhecimento da modernidade _ou uma forma de regresso ao passado, mas de encontrar as combinações que, segundo as circunstâncias próprias a cada povo, a cada região, a cada lugar, permitam a construção do bem-estar coletivo. É possível dispor da maior velocidade tecnicamente possível no momento e não utilizá-la. É possível fruir da modernidade nova, atual, sem ser obrigatoriamente o mais veloz.

Numa situação em que se combinam técnicas e tempos e velocidades diferentes, sem que um deles obrigatoriamente arraste os demais, se impõem forçosamente soluções políticas que não passem obrigatoriamente pela economia e suas conhecidas paixões inferiores.

A velocidade não apenas se define a partir do tempo utilizado para superar as distâncias. A questão é a de encontrar, para a palavra velocidade, equivalentes na prática social e política.

Acreditamos que a noção de cidadania se possa prestar à discussão aqui proposta, desde que a consideremos em sua tríplice significação: cidadania social, econômica e política. Quanto mais se afirmam essas diversas vertentes da cidadania, maior é a garantia de que a "velocidade" pode ser limitada, ao mesmo tempo em que os benefícios da modernidade encontram a possibilidade de uma difusão democrática. Será dessa forma que, num primeiro momento, serão reforçadas as individualidades fortes, provocando a necessidade de uma informação veraz, criando limites à propaganda invasora e enganosa, tudo isso se dando paralelamente a uma renovação do papel do Estado nacional.

Será, também, por meio desse processo que o mercado interno será revigorado e os mercados comuns entre países serão horizontalizados, abrindo caminho para que o dinheiro regresse à sua condição histórica de equivalente universal e abandone a sua função atual de regedor exclusivo e despótico das relações econômicas. Pelas mesmas razões, aquilo a que chamamos de "informalidade da economia" melhor cumprirá suas funções econômica, social e política sem a necessidade de formalizações alienantes e fortalecendo o papel da cultura localmente constituída como um cimento social indispensável a que cada comunidade imponha sua própria identidade e faça valer, a um ritmo próprio, o seu sentido mais profundo.

Será um mundo no qual os que desejarem ter pressa poderão fazê-lo livremente e no qual os que não são apressados serão fortalecidos, de modo a poder pensar na reconstrução da paz mundial e na luta por uma convivência social digna e humana dentro de cada país.

Nota

1. Milton Santos, "A Natureza do Espaço" (ed. Hucitec), págs. 36, 37 e 152, 153.

Milton Santos é geógrafo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, autor, entre outros livros, de "Por uma Outra Globalização" (Record).

'NOSSO MUNDO NÃO ESTÁ À VENDA'


Rede mundial reavalia neoliberalismo econômico pós-OMC

Articulação de mais de 150 organizações mundiais, rede “Nosso Mundo não Está à Venda” se reúne em São Paulo para avaliar processos de aplicação das teorias neoliberais, base dos acordos de livre-comércio.

Data: 18/11/2006
SÃO PAULO – Ao se completarem 20 anos da Rodada Uruguai do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) - que, em 1995, resultou na criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) -, alcançar os objetivos de uniformizar um sistema econômico mundial que dite regras e procedimentos para o comércio internacional parece cada vez mais distante. Não tem sido fácil encontrar consensos entre os 150 países membros da OMC. Travadas em sua última reunião de cúpula em Hong Kong, ocorrida em dezembro do ano passado, as negociações parecem ter chegado a um ponto morto em que conflitos de interesses entre países ricos e pobres vêm se configurando como obstáculos aparentemente intransponíveis.

A falta de acordos no principal foro de debates sobre o comércio mundial, no entanto, não tem brecado o avanço da agenda neoliberal em outros espaços de negociação, como os diversos Tratados de Livre Comércio (TLCs) bi e multilaterais e regionais, instrumentos que, pelo poder econômico dos países ricos, têm facilitado a imposição de sua agenda aos “parceiros” em desenvolvimento, com conseqüências bastante desfavoráveis para os seus setores mais vulneráveis.

Esta reflexão tem sido adotada como linha condutora dos movimentos antiglobalização desde 1999, quando grandes manifestações sociais paralisaram os trabalhos da OMC em Seattle. Desde então, reunidas na articulação mundial “Nosso Mundo não Está à Venda” (ou OWINFS, em sua sigla em inglês), estas organizações têm se especializado não apenas em protestos e mobilizações contra a OMC – como aconteceu nas cúpulas de Cancún, em 2003, e em Hong Kong, em 2005 –, mas também em um acompanhamento sistemático das negociações setoriais em Genebra, sede da organização, e na capacitação dos movimentos para o entendimento dos procedimentos, das burocracias, da linguagem e das entrelinhas do comércio mundial.

Entre os dias 10 e 12 deste mês, cerca de 60 representantes das mais de 150 organizações-membro do OWINFS se reuniram em São Paulo para avaliar e reorganizar as estratégias do movimento, uma vez que, enquanto a OMC continua paralisada, os TLCs têm avançado com muita rapidez.

Fazendo uma rápida retrospectiva dos últimos anos, o economista Martin Khor, diretor do da ONG Third World Network, baseada na Malásia, avaliou que, entre os principais acertos do OWINFS, se inclui a pressão sobre os governos dos países em desenvolvimento. O diálogo com os negociadores oficiais não apenas pautou o debate sobre pobreza e assimetrias, mas levou à retirada dos Temas de Cingapura - investimentos, compras governamentais, políticas de concorrência e facilitação do comércio - da pauta da OMC, exemplifica.

O fortalecimento das redes e articulações sociais tem sido fundamental para este processo, e, em regiões como a América Latina, desempenharam o papel de evidenciar o fracasso da proposta neoliberal – questionada inclusive por parte dos governos, a exemplo do descarte da Alca no ano passado.

Agora, no entanto, seria preciso avançar não apenas para além da OMC - o que significa incluir na pauta o acompanhamento dos TLCs e das negociações com Instituições Financeiras Internacionais (IFIs), que muitas vezes usam as condicionalidades em seus empréstimos para impor a agenda do capital aos países pobres -, mas também estar atento às estratégias transversais deste capital, bem como propor alternativas concretas.

“Não é mais tão difícil sermos ouvidos quando falamos em desvantagens de certos acordos econômicos com os governos mais pobres. A liberalização do comércio tem sido vista de forma crítica. Mas sabemos que comércio não é apenas movimentação de produtos. Hoje, um dos aspectos mais perigosos são os investimentos, sempre bem acolhidos pelos governos. As empresas estrangeiras acabam sendo instrumentos terríveis de exploração da população e dos recursos naturais. Um estudo da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) acaba de apontar que as patentes das transnacionais são feitas por suas filias nos países em desenvolvimento. Investimentos nestes países às vezes é mais estratégico do que comércio”, exemplifica a sul-africana Dot Keet, especialista em macroeconomia de países em desenvolvimento.

Alternativas e estratégias
Na avaliação dos rumos do OWINFS, a experiência latino-americana teve um grande destaque não apenas em função dos logros na oposição à Alca, mas pelo estágio avançado dos debates regionais sobre alternativas ao neoliberalismo.

Ainda em 2002, a Aliança Social Continental, articulação hemisférica de organizações e movimentos sociais, elaborou uma proposta política para a região chamada “Alternativa para as Américas”, documento que foi aproveitado posteriormente como base da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), proposta pelo presidente venezuelano Hugo Chávez em resposta à Alca. Também surgiu aqui, pelas mãos do presidente boliviano Evo Morales, o contraponto aos TLCs, com os chamados TLPs (Tratados de Comércio dos Povos). Não que estas propostas se transformem em receitas para o resto do mundo, ponderou a assembléia do OWINFS, mas poderão ser um ponto de partida.

O fato de que campanhas como “Água fora da OMC”, que pretende retirar o debate sobre recursos hídricos do âmbito comercial e transformá-lo em pauta dos Direitos Humanos, podem ser bancadas por governos – como prometeu a administração boliviana neste assunto específico – levou à reafirmação da importância do diálogo com estes setores, mas se avaliou que é imprescindível fortalecer os movimentos sociais, com quem OWINFS deve estreitar laços através de processos de capacitação, por um lado, e adoção de suas demandas, por outro, e com outras redes, como o movimento contra a guerra, o movimento contra as bases militares americanas, a bandeira pela soberania alimentar, defendida pela Via Campesina.

Tomando em conta as diferenças regionais em termos de grau de organização dos movimentos e de demandas e conjunturas particulares, o OWINFS buscou estabelecer alguns princípios para suas ações, como a luta pela erradicação da pobreza, a regulação do comércio e do fluxo de capital mundial, a não sobreposição de políticas globais às domésticas, apoio às iniciativas regionais de integração, que as questões ambientais e recursos naturais sejam excluídos das negociações comerciais, e que os acordos da Unesco e da Organização Internacional do Trabalho tenham prioridade sobre o comércio, entre outros.

“Nosso foco começou sendo a OMC, mas agora ele se amplia para todo o sistema multilateral de comércio, a globalização corporativa, as Instituições Financeiras Internacionais. Uma das atividades é treinar e capacitar os atores locais a compreender os mecanismos de negociação e a tratar com os governos, mas o OWINFS traduz as demandas das bases, o que é o seu dia a dia, para os demais setores. Nosso objetivo maior é lincar os vários grupos de luta contra a globalização neoliberal para maximizar os impactos de nossas lutas”, explica Margrete Strand, da ONG americana Public Citizen.

Pesquisas expõem as múltiplas faces do racismo no Brasil


Negros e pardos recebem menores salários, têm maior dificuldade em conseguir emprego, lideram estatísticas de vítimas de mortes violentas e constituem maioria da população carcerária. Segundo dados de 2004, na faixa dos 15 aos 24 anos, há 74% mais vítimas entre os negros que entre os brancos.

PORTO ALEGRE - O mito sobre uma suposta democracia racial no Brasil é cada vez mais surrado pela realidade. Os indicadores sociais do país não cansam de mostrar que negros e pardos ganham menos, sofrem mais com a violência, são a maioria da população carcerária, recebem menores salários e têm maior dificuldade para conseguir emprego. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa nesta sexta-feira (17) mostrando que a população de cor de pele declaradamente preta e parda tem menos escolaridade e um rendimento médio equivalente à metade do que é recebido pela população que se declara branca. A conclusão é resultado de um levantamento realizado nas seis principais regiões metropolitanas do país. Entre os trabalhadores por conta própria, a média de rendimentos de pretos e pardos é de R$ 533,28, contra R$ 1.046,16 para os brancos. Quase o dobro, portanto. Entre os trabalhadores domésticos, os brancos ganham em média 14,2% a mais do que negros e pardos. Quanto ao rendimento habitual, negros e pardos recebem menos que os trabalhadores brancos, ainda que em relação ao mesmo nível educacional, grupamento de atividade ou posição na ocupação.

O IBGE procurou investigar também um segmento mais homogêneo da população, abrangendo homens de 18 a 49 anos de idade e com 11 anos ou mais de estudo. Esse segmento manteve a diferenciação de rendimentos entre os brancos, de um lado, e os negros e pardos, de outro. A diferença maior (97,9%) foi verificada entre os trabalhadores sem carteira de trabalho. Essa diferença é ainda mais alta considerando-se apenas o setor da construção civil, chegando a 105,6%. Nos domicílios pesquisados, cuja pessoa de referência era negra ou parda, o rendimento per capita médio das seis regiões foi de R$ 417,23, enquanto que no caso dos domicílios com principal responsável branco foi de R$ 950,46.

A face social do racismo
Negros e pardos, que representam 42,8% da população em idade ativa (PIA), também lideram o ranking do desemprego, chegando a 50,8% do total de desempregados do país. Enquanto o índice de desocupação entre essa camada da população chega a 11,8%, o dos empregados brancos é de 8,6%. Em setembro de 2006, entre os trabalhadores com carteira assinada no setor privado, 59,7% eram brancos e 39,8% negros e pardos. Segundo o IBGE, a maior participação dos brancos nesta categoria se justifica pela sua grande presença nas regiões metropolitanas como forte presença do emprego formal (São Paulo e Porto Alegre) onde, respectivamente, 44,9% e 44,2% da população ocupada têm carteira assinada. A população branca constitui a maioria entre os trabalhadores sem carteira assinada (54,5%) e os por conta própria (55%), enquanto negros e pardos representam 57,8% dos trabalhadores domésticos.

No geral, segundo dados do IBGE, os negros são 47,3% da população brasileira, mas correspondem a 66% do total de pobres. Um outro estudo, elaborado pelas pesquisadoras Enid Rocha e Luseni Maria de Aquino, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra como essa situação de maior vulnerabilidade social afeta a maioria da população jovem entre 15 e 24 anos. A condição de extrema pobreza atinge 12,2% dos 34 milhões de jovens brasileiros, membros de famílias com renda per capita de até um quarto do valor do salário mínimo. Entre essa população, aproximadamente 67% não concluíram o ensino fundamental e 30,2% não trabalham e não estudam. E cerca de 71% desses jovens são negros.

A violência e seus alvos privilegiados
É justamente esse setor da população que apresenta a maior taxa de mortalidade por causas violentas, principalmente homicídios, conforme apontou o relatório elaborado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI), divulgado nesta quinta-feira (leia matéria "Juventude é maior vítima da década da violência no país").

O "Mapa da Violência 2006 - jovens do Brasil" mostra que, na faixa dos 15 aos 24 anos, há 85% mais vítimas entre os negros que entre os brancos. Os dados, de 2004, mostram que a taxa de homicídios entre jovens brancos ficou em 34,9 mortes por 100 mil habitantes, contra 64,7 entre os negros da mesma idade. Esses números fizeram parte do debate público durante o processo do referendo do desarmamento, mas não chegaram a sensibilizar a maioria da sociedade.

Em seu livro “Desarmamento – Evidências Científicas” (Dacasa Editora), Marcos Rolim resume assim a percepção que acabou saindo vitoriosa no referendo: “Tudo se passa como se enquanto as balas perdidas, as disputas entre gangues e as investidas da polícia estiverem matando os filhos dos pobres, as classes privilegiadas e parte da chamada ‘opinião pública’ seguirão acreditando que todos estes problemas não dizem respeito às ‘pessoas de bem’”.

Esses números também se refletem na composição da população carcerária brasileira. Segundo dados de 2004, do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, essa população havia atingido o número de 340 mil presos. Naquele ano, o número de vagas disponíveis era de apenas 195 mil, gerando um déficit de 145 mil vagas. A estimativa feita em 2004 foi a de que encerraríamos 2006 com uma população de aproximadamente 500 mil presos. Os estudos sobre o perfil da população penitenciária brasileira indicam que os presos são, em sua maioria, jovens entre 18 e 30 anos, do sexo masculino, majoritariamente negros e pardos, com baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Grande parte estava desempregada quando foi presa e vivia na periferia das cidades.

O cruzamento de todos esses números e estudos indica fortemente que o racismo, tantas vezes negado e dissimulado na sociedade brasileira, manifesta-se de diversas formas no cotidiano, prejudicando sempre os mesmos setores sociais. O fato é que negros e pardos ganham menos, são as principais vítimas da violência e são presos em maior número. Que nome dar a isso?

Agência Carta Maior

sexta-feira, novembro 17, 2006

RNW: Blair e o Oriente Médio

RNW: Blair e o Oriente Médio: "Em pouco tempo, muitas mudanças ocorreram no cenário mundial: os democratas venceram as eleições para o Congresso norte-americano; o secretário da Defesa Donald Rumsfeld deixou o cargo que ocupava; um grupo de advogados apresentou uma queixa contra ele em um tribunal alemão, acusando-o de ter cometido abusos contra os direitos humanos nas prisões de Guantánamo e do Iraque; e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, defendeu a idéia de que o Irã e a Síria podem ajudar a encontrar a paz no Iraque e região."

Quanto mais quente, pior

.: CartaCapital na Escola :.

Planeta Favela

.: CartaCapital na Escola :.

domingo, novembro 12, 2006

IPEAData

IPEAData

Dicionário de conceitos

IPEAData

IPEAData
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Muitos números para pesquisas, dados econômicos, populacionais, agropecuários, geográficos e muito mais!!!!!

África se volta para a China

África se volta para a China:

"Nos próximos quatro anos, a China estará reservando uma verba para o Continente Africano de 9 bilhões de euros. Uma metade desta quantia será em forma de créditos e empréstimos, e a outra, como investimentos. Neste encontro de cúpula em Pequim, entre China e África, foram assinados 16 acordos comerciais, de mais de 1 bilhão e meio de euros."

Clique no link para saber mais

sexta-feira, novembro 10, 2006

AS EMPRESAS SUPERPODEROSAS


Se existe um lado bom na grave crise política deste ano é o fato de os brasileiros estarem mais preocupados com os temas ligados à ética. Avaliações desse tipo também ganham força no mundo empresarial, uma tendência confirmada pelos mais de mil presidentes, superintendentes, vice-presidentes e diretores de companhias de 43 setores da economia ouvidos por CartaCapital/TNS InterScience, na oitava edição do Prêmio As Empresas Mais Admiradas no Brasil.

A Natura, que neste ano conquista o bicampeonato, é conhecida pelos projetos sociais e ambientais nos quais se envolve. Além de ser a mais votada, a fabricante de cosméticos e perfumes tem a liderança em quatro dos 11 fatores propostos pela TNS InterScience. São eles: compromisso com ética, responsabilidade social, inovação e compromisso com RH.

Além da valorização das características relacionadas à ética e à responsabilidade social, explica Arão Sapiro, consultor e presidente do Instituto de Estudos para a Competitividade (Insec), também ganham importância neste ano os fatores do conjunto finanças (solidez financeira, compromisso com o País e competir globalmente). “Houve um amadurecimento do empresariado e dos profissionais, que conseguem admirar as características das companhias de uma forma mais balanceada”, avalia o especialista.

Outra tendência, confirmada no estudo deste ano, é a valorização da indústria de base – que produz para outras indústrias. Três delas, Votorantim, Gerdau e Companhia Vale do Rio Doce, esta última com o melhor desempenho na comparação dos últimos três anos, aparecem entre as dez mais admiradas nas três últimas pesquisas.

“Também vem ganhando importância a solidez financeira, uma das competências difíceis de ser atingidas num país de economia instável como o nosso”, comenta Sapiro.

Em 2005, a proporção entre companhias nacionais e de capital estrangeiro no ranking das mais admiradas mantém-se a mesma do ano passado (são oito brasileiras e três de outros países). Isso mostra que, de acordo com o universo pesquisado, o que conta não é somente o tamanho do patrimônio ou o faturamento, em que as empresas estrangeiras levam vantagem. As empresas brasileiras, em especial aquelas com atuação internacional, são as que recebem melhor avaliação.

AS 10 MAIS ADMIRADAS
2005

2004

2003

EMPRESA
2005(%)
2004(%)
2003(%)
Natura
15,7
16,4
7,4
Nestlé
8,4
10,7
11,5
10º
Vale do Rio do Doce (CVRD)
6,9
4,0
2,2
Gerdau
4,9
3,2
3,9
24º
TAM
4,5
2,1
0,9
Votorantim
4,3
4,1
4,0
Embraer
3,9
3,2
4,3
Petrobrás
3,5
6,7
2,5
Microsoft
2,4
2,9
3,0
12º
GE
2,4
1,3
2,5
10º
13º
Itaú
2,3
2,1
1,5
Base: 1,023/ Fonte: Total de executivos

Clique aqui para conferir as vencedoras de 2004

Clique aqui para conferir as vencedoras de 2003

Clique aqui para conferir as vencedoras de 2002

Clique aqui para conferir as vencedoras dos anos anteriores

O BRASIL ANDA EM CÍRCULOS


Economistas da Unicamp lançam livro e questionam a política econômica

Por Márcia Pinheiro

A política econômica do primeiro mandato de Lula em muito se assemelhou à dos oitos anos de Fernando Henrique Cardoso. Com um agravante: aprofundou-se a ortodoxia, especialmente no que se refere ao manejo da taxa de juro pelo Banco Central. Essa é a principal conclusão a que chegaram 11 pesquisadores do Instituto de Economia da Unicamp, em um trabalho de três anos e meio, detalhado no livro A Supremacia dos Mercados e a Política Econômica do Governo Lula (348 páginas, editora Fundação Unesp).

Olga Vlahou
Outras vozes.
Belluzzo, Carneiro e Pereira discutemo futuro do País com leitores
Um debate com três dos autores marcou o lançamento da obra, na livraria Fnac Pinheiros, terça-feira 7. Trocaram idéias com o público Ricardo Carneiro, também organizador dos textos; Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial de Carta Capital; e Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Segundo Carneiro, no governo Lula, houve algumas melhorias, como nas contas do setor externo e na distribuição de renda. Mas, provocou, “em que medida esses avanços são sustentáveis?” Na sua avaliação, o desempenho econômico dos últimos anos deveu-se ao “excepcional ciclo internacional” de farta liquidez, taxas de juros baixas e aceleração das economias asiáticas.

Ele lançou algumas questões que deveriam estar na mente da equipe econômica que vai assumir o Brasil a partir de janeiro de 2007. Em primeiro lugar, “o que é necessário fazer para que o País rompa esse círculo vicioso de baixo crescimento?” Em termos qualitativos, sustenta, não houve no primeiro mandato de Lula uma diferenciação da estrutura produtiva para que os bens finais tivessem maior conteúdo tecnológico. Em suma, seria preciso reorganizar o Estado brasileiro para uma mudança de rota. Carneiro admite que hoje ao menos existe uma política industrial, “uma inovação, que não consta do ideário liberal”. Contudo, não foi articulada com outras iniciativas. Ficou solta, com poucos resultados concretos.

A segunda questão levantada pelo economista diz respeito ao papel do Banco Central. Ele pontua que o BC esteve demasiadamente comprometido com a estabilidade de preços. Mais preocupante é que cabe somente ao BC definir os preços-chave de duas variáveis (câmbio e juro), o que foi “desfavorável ao desenvolvimento, incentivou o ganho financeiro, especulativo e desestimulou o setor produtivo”.

Também em conseqüência desses superpoderes do BC, agravou-se o problema fiscal brasileiro. “A ausência de crescimento engessou o Orçamento, por causa dos polpudos gastos com o juro da dívida mobiliária federal.” Por isso, diz Carneiro, é extremamente importante conferir qual será a nova diretoria do BC. “Houve uma captura de uma agência importante por parte do sistema financeiro”, lamenta.

O especialista lembra que “há um erro crucial que se chama terceiro e quarto trimestres de 2004. A economia vinha crescendo, com investimentos avançando por cinco trimestres consecutivos”. Em razão do choque dos preços das matérias-primas, houve aumento da taxa Selic e o “BC derrubou um ciclo de investimentos que não acontecia havia cinco anos”. “O BC tem muito poder e uma forma perversa de independência, pois não presta contas a ninguém”, diz.

Já o economista Edgard Pereira fez um convite, em seu texto, para olhar o Brasil a partir do que aconteceu no âmbito internacional. De acordo com ele, é preciso colocar claramente a questão da autonomia da política econômica em um cenário da supremacia dos mercados. Fundamental, ainda, é distinguir o fluxo de mercadorias, a partir da Ásia, dos centros de valorização financeira do capital, cujos principais atores são os fundos hedge, que arbitram taxas de câmbio e de juros de diferentes países.

Pereira avalia que, pelo modelo adotado desde a era FHC, a economia brasileira ficou “autocontida”. “Se expandir, cria problemas no balanço de pagamentos e na inflação”. Por isso, o BC pratica juros elevados, para manter a inflação sob controle, via câmbio. O que resulta em uma economia de desempenho medíocre, que exibe taxas baixas de crescimento.

O economista do Iedi apresentou três variáveis que caracterizam a armadilha da atual política econômica. Desde FHC, a taxa de juro real situa-se ao redor de 10% ao ano. O crescimento médio nos últimos 12 anos ficou em torno de 2,5%. E, calcula o BC, o chamado produto potencial (quanto o PIB pode crescer sem pressionar a inflação) é de 3,5%. “Parece que o BC faz 10% de juro real para atingir um crescimento de 3,5% e só consegue 2,5%”, afirma. “O BC tem errado sistematicamente.” E vai além: “Se não houver redução significativa do juro real, todo o resto será perfumaria”.

É evidente ainda, dizem esses economistas, que uma queda forte do juro real tenderá a provocar um desarranjo momentâneo no mercado financeiro. Ao recolocar o câmbio no lugar, ou desvalorizá-lo, haverá um repique da inflação. Mas aí entraria o que Belluzzo chama de maestria do cozinheiro, que tem em Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed), a sua mais perfeita imagem.

Greenspan costumava dizer que não acreditava em modelos para fixar o juro. Para comandar a política monetária, seria preciso ter habilidades de cozinheiro, e não de engenheiro, dosando de forma discricionária o custo do dinheiro. Discutir o regime de metas de inflação no Brasil, diz Belluzzo, tornou-se um exercício teológico, como se suas premissas fossem algo sacralizado, intocável.

O economista reforça que houve má administração da política monetária, sobretudo pela insistência em se usar o câmbio como âncora, vício que começou nos primeiros quatro anos de FHC. Sobrepôs-se sempre o medo da inflação. A diretoria do BC não se deu conta de que haviam mudado alguns paradigmas da economia global. “Os americanos retomaram o crescimento pelo consumo, as taxas de juro internacionais foram até negativas, caso do Japão, e a demanda chinesa por commodities minerais e agrícolas mostrou-se fortíssima.”

Essa mudança estrutural do capitalismo, com a China como correia de transmissão de um modelo de produção de baixíssimo custo e, agora, com qualidade, foi “tectônica”, diz Belluzzo. E, por não entender a alteração de cenário, o “Brasil foi mal, muito mal nesse jogo”. O economista alerta para o fenômeno de desindustrialização, que é o desmanche das cadeias produtivas. “Ficamos com os setores menos dinâmicos de produção, com baixa densidade tecnológica.”

Foi criado um cluster industrial global, a partir da China, cujas conseqüências ainda não estão totalmente mensuradas. E, alerta o economista, “com 1 trilhão de dólares em reservas, os chineses vão transformar a África em um centro produtor de commodities imbatível”, o que tornará o Brasil menos competitivo.

Quanto aos próximos quatro anos, os três especialistas mostram-se céticos. Belluzzo não aposta em uma guinada da política econômica. “Lula tenderá a continuar conservador porque, em uma visão superficial, seu primeiro mandato foi bem-sucedido”, afirma. Carneiro sugere que se abra o debate sobre o custo da estabilidade dos preços, sem haver estabilidade monetária, porque o País tornou-se refém do câmbio.

“A sociedade não é homogênea. Diferentes estratos têm graus de tolerância variados à inflação. A atual política privilegia interesses de quem possui ativos financeiros”, afirma. E Belluzzo complementa, ao citar o governador eleito de São Paulo, José Serra: “Mais dois anos com esse nível de câmbio e a indústria brasileira vai desaparecer”.

UM NOCAUTE TÉCNICO


Os eleitores surraram republicanos em geral e neoconservadores em especial

Por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa




Gerald Herbert/AP
Men in black.
Gates, da CIA (à frente), toma o lugar de Rumsfeld, forçado a renunciar à Defesa
O poder do Congresso dos EUA é real se quiser exercê-lo. Raramente o fez desde que os republicanos, em 2001, assumiram o controle do Executivo e das duas casas do Legislativo ao mesmo tempo. Mesmo em maioria, o Partido Democrata dá espaço a debate, pois suas correntes sindicais, liberais e conservadoras divergem tanto entre si quanto as dos republicanos e raramente concordam quanto a uma política coerente. O Partido Republicano é mais homogêneo e não tem dificuldades em cerrar fileiras em torno dos interesses das grandes empresas.

Resultado: o poderoso Capitólio fez lembrar o Congresso do México dos anos de hegemonia do PRI ou do Brasil do general Médici – um cartório de luxo para ratificar atos do Executivo. Como apontou a revista The Economist, essa legislatura abriu mão de fiscalizar e questionar os desmandos do governo no Iraque e em Guantánamo e a transformação do superávit fiscal de mais de 200 bilhões de dólares em um déficit equivalente. O número de sessões foi o menor em 60 anos. Pacotes decisivos foram aprovados em madrugadas sonolentas. As emendas clientelistas ao Orçamento decuplicaram, incluindo 223 milhões de dólares para uma famosa ponte que atenderá uma ilha de 50 moradores no Alasca.

Embora o rosto de Bush júnior tenha aparecido bem mais na propaganda democrata que na republicana, as intenções de voto oscilaram bastante no final da campanha. Uma vantagem democrata de 10% a 15% das intenções de voto pareceu se firmar em março, depois da destruição da mesquita xiita de Samarra, e iniciar um ciclo de violência inaudita no Iraque. Mas, em agosto, os preços dos combustíveis caíram e as bolsas subiram, após o aparente relaxamento das tensões com o Irã, e essa margem recuou para um empate técnico que indicaria a manutenção da maioria republicana, ainda que reduzida.

Entre setembro e outubro, o caos piorou em Bagdá e – talvez mais decisivo – um deputado republicano tido como paladino da luta contra a pedofilia, Mark Foley, confessou assédio sexual a menores. A vantagem dos democratas saltou para mais de 20% e indicou vitória arrasadora nas duas casas do Congresso.

As últimas pesquisas, porém, sinalizavam recuperação dos republicanos, que no grande dia voltaram a alimentar a esperança de manter a maioria. A última pesquisa Gallup, fechada na antevéspera da eleição, 5 de novembro, dava aos democratas uma vantagem de 11% entre eleitores registrados, reduzida a 8% entre eleitores regulares (que costumam realmente votar) e 7% entre eleitores prováveis (que declararam a intenção de ir às urnas).

Nesse mesmo dia, Bush júnior jogou seu último trunfo: a condenação de Saddam Hussein à morte (texto abaixo). Mas o impacto da condenação do ex-ditador não foi o esperado.

O Congresso deixou de ser republicano, mas não quer dizer que tenha se tornado liberal e pacifista. O Partido Democrata, predominantemente neoliberal já nos anos Clinton, inclinou-se ainda mais à direita nos anos de Bush júnior para tentar atrair os eleitores republicanos, especialmente nesta eleição.

A grande maioria dos congressistas democratas, inclusive todos os senadores, aprovou a invasão do Iraque e o fiel da balança no Senado deverá ser Lieberman, o democrata que a apoiou com mais entusiasmo. Hoje, a maioria dos democratas inclina-se a uma retirada gradual. Também os republicanos já se movem nessa direção.

Não se deve esperar uma guinada brusca, mas o novo Congresso pode ser mais amigável para com as demandas populares, sindicais e ambientalistas e menos complacente para com a Casa Branca. Deve ser mais crítico em relação a iniciativas bélicas, às ameaças aos direitos civis e às violações de leis internacionais. Pode olhar as contas públicas com mais atenção e talvez reverter a atual tendência de deixar a previdência social e o sistema de saúde serem silenciosamente erodidos pelo déficit, levando a questão a debate público. Deve também tomar uma atitude mais positiva em relação à prevenção do aquecimento global – até porque muitos republicanos, como Arnold Schwarzenegger, já defendem e aprovam iniciativas nesse sentido.

É menos claro se haverá mudanças quanto à migração – a hostilidade aos imigrantes latinos é mais generalizada entre republicanos, mas muitos democratas assumem a mesma atitude. Certo é que permanecerá o apoio incondicional a Israel: os democratas dependem tanto do lobby sionista quanto os republicanos, ou mais, e o número de judeus no Congresso é recorde: 13 senadores e pelo menos 30 deputados. Também foi eleito o primeiro deputado muçulmano – o negro Keith Ellison, convertido na juventude –, mas isso não equilibra o jogo.

No campo do comércio exterior, o Brasil tem menos a recear: a maior oposição à renovação do Sistema Geral de Preferências que beneficia alguns de seus produtos vinha de republicanos dispostos a retaliar a oposição brasileira (e indiana) às propostas dos EUA na OMC. Mas, em geral, o protecionismo aumentará: para aprovar acordos de livre-comércio, os democratas devem exigir padrões trabalhistas e ambientais além da capacidade dos países periféricos.

Os acordos de livre-comércio pendentes – como os do Peru, da Colômbia e do Equador – estarão em risco se não forem ratificados até o fim do ano. O fast track, a autorização à Casa Branca para negociar acordos sem sujeitá-los à revisão item por item, dificilmente será renovado em julho de 2007. Será o último prego no caixão da Rodada de Doha, da OMC. Apesar de isso afastar as já reduzidas expectativas de abertura dos EUA a produtos agrícolas brasileiros, é politicamente uma boa notícia para o Mercosul, que terá menos dificuldades para manter o Uruguai e o Paraguai em suas fileiras e atrair novos parceiros entre seus vizinhos.

Decepcionados, muitos dos neoconservadores que apoiaram o governo Bush júnior agora o criticam e reconhecem a provável derrota no Iraque, como mostrou a revista Vanity Fair. Mas o título da reportagem, Neo Culpa, é enganoso. Segundo Richard Perle, ex-assessor da Defesa, “não foram tomadas as decisões certas na hora certa e as discussões foram infindáveis. O presidente é o responsável por não perceber a dimensão da oposição e deslealdade no seu próprio governo”. Entenda-se: não foi culpa nossa, a receita daria certo se aplicada até o fim com competência e decisão... como diziam os stalinistas após o colapso do Leste Europeu e os neoliberais depois do fracasso na América Latina.

Agora, os democratas têm chances de fazer o próximo presidente, que bem poderia ser a senadora reeleita Hillary Clinton, preferida dentro do partido, ou o senador afro-americano Barack Obama, mais popular entre eleitores independentes. Do lado republicano, o candidato mais forte (ainda favorito nas pesquisas) é John McCain, conhecido por confrontar Bush júnior em relação à tortura, seguido por outros de perfil relativamente liberal – Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, e Mitt Romney, governador de Massachusetts em fim de mandato. Se algo parece certo, é que os neocons não farão o próximo governo.


ENTREGUE NA DATA MARCADA
Um veredicto encomendado pelos cúmplices da metrópole

Velhos amigos.
Rumsfeld cumprimenta Saddam em 1983, quando o iraquiano já cometera o crime pelo qual é agora condenado à forca
Um dos slogans que privaram Bush pai de sua reeleição perguntava aos eleitores, em uma conjuntura de crise econômica e desemprego: “Saddam Hussein ainda tem seu emprego. E você?” O momento da desforra dos Bush foi claramente ditado pelo calendário eleitoral da metrópole, onde foram pouco ouvidas as críticas de juristas internacionais à legitimidade e credibilidade do julgamento.

O assassinato de dois advogados de Saddam demonstra a ausência de condições de segurança para o exercício da defesa plena, disse Pedro Estevam Serrano, professor de direito constitucional da PUC-SP ao site jurídico Última Instância. “Julgar Saddam por violações de direitos humanos sem observar os seus direitos humanos é uma contradição. O modo como ele foi julgado e o tribunal pelo qual ele foi julgado foram absolutamente ilícitos sob o ponto de vista dos mesmos valores pelos quais ele está sendo julgado. O adequado seria ele ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional, por ser um órgão independente, localizado em um país fora do ambiente do conflito e permanente.”

O relator especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU, Leandro Despouy, é da mesma opinião: Saddam deveria ter direito a um tribunal internacional, pois a Corte iraquiana foi “estabelecida por uma ocupação que muitos consideram ilegal e composta por juízes selecionados durante a ocupação e financiados pelos Estados Unidos”.

Note-se a ironia: o crime pelo qual Saddam foi condenado à forca – o massacre de 148 xiitas em 1982 – deu-se mais de um ano antes de o líder iraquiano trocar um famoso aperto de mãos com o enviado presidencial de Washington, Donald Rumsfeld. Na época, seu regime enfrentava o Irã com dinheiro, armas e apoio de Ronald Reagan, que se esforçou por abafar as brutalidades do regime iraquiano – inclusive o uso de armas químicas – e impedir que a imprensa as destacasse.

A maioria das 150 mil a 300 mil vítimas atribuídas ao regime baathista morreu nesse período ou no final da primeira guerra do Golfo, depois que Bush pai e o britânico John Major incitaram xiitas e curdos contra Saddam e os traíram, por calcular que um regime xiita em Bagdá não conviria a seus interesses. Esses números, aliás, empalidecem ante o milhão de vítimas dos embargos impostos ao Iraque nos anos 90 – na maioria crianças – e os 601 mil mortos pela violência desencadeada no país desde 2003, pela invasão e ocupação anglo-americana.


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EM FOGO BRANDO


A imagem de prosperidade do Oriente mascara tensões que continuam a se acumular e podem deflagrar outra crise

Por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa

Há muitos anos, a imagem da Ásia Oriental vem sendo associada a crescimento econômico e a sociedades trabalhadoras e disciplinadas, em contraste com o barril de pólvora do Oriente Médio, o caos social latino-americano e o desolador quadro africano. Por baixo do estereótipo, porém, a região acumula tensões políticas e sociais que podem explodir quando menos se espera. O crescimento econômico não traz automaticamente a tranqüilidade política, especialmente quando é acompanhado de crescimento de desigualdades sociais e étnicas.

Eranga Jayawardena/AP
Sri Lanka.
Atentado suicida recorda ao mundo a guerra esquecida
Em Sri Lanka, de invejáveis 5,6% de crescimento econômico em 2005, 129 soldados do governo foram mortos e 515 feridos na luta contra os separatistas tâmeis pela Península de Jaffna, em 11 de outubro. No dia 16, um suicida jogou um caminhão-bomba contra um comboio naval e matou 98 marinheiros. Essa guerra esquecida matou 65 mil desde 1983.

Enquanto a maioria cingalesa da ilha de Sri Lanka é budista (com uma minoria muçulmana), os tâmeis, cerca de 26% da população, são, na maioria, hinduístas (com uma minoria cristã), mas lutam por uma causa social e étnica, não religiosa. Nem só muçulmanos são capazes de atos brutais quando acuados.

Metade dos tâmeis tem raízes muito antigas no país, mas a outra metade descende de indianos que foram trabalhar em plantações de chá, café e borracha a partir de 1823. Esses tiveram a cidadania cassada com a independência do Sri Lanka em 1948 e se viram privados de direitos civis e sociais pelo governo, receoso do peso eleitoral dessa comunidade de trabalhadores rurais inclinada ao marxismo.

Cerca de 600 mil tâmeis foram deportados para a Índia a partir dos anos 60, até o início da luta separatista em 1976. Em julho de 1983, uma incursão separatista que matou 13 soldados levou multidões de cingaleses – com participação de membros do partido do governo – a linchar e saquear tâmeis sem distinção. Causaram de mil a 3 mil mortes, destruíram 18 mil casas e estabelecimentos e fizeram 600 mil fugirem do país. Não houve punições ou indenizações.

A tragédia uniu as comunidades tâmeis, ampliou o apoio à causa separatista e deu início à guerra em grande escala. Em 2003, o Parlamento cingalês concedeu a cidadania a todos os tâmeis, mas o ressentimento pelo massacre de 1983 e a miséria continuam a impulsionar a luta pela independência. Os separatistas controlam, na prática, quase a metade do território que reivindicam, cerca de um terço da ilha.

Milhares de quilômetros ao norte, na encosta do Himalaia, o Nepal, paraíso de hippies e mochileiros nos anos 60 e 70, está à beira do caos. Um impasse ameaça a tensa trégua entre uma monarquia absolutista e anacrônica e uma guerrilha comunista que já controla a maior parte de seu território, tem considerável apoio popular e exige uma Assembléia Constituinte que deverá optar entre a manutenção da monarquia e a proclamação de uma república democrática.

Entre um e outro, a Índia enfrenta a ameaça permanente de atentados de grupos separatistas da Caxemira (majoritariamente muçulmana) com apoio mais ou menos discreto do Paquistão, que não perdoa a Nova Délhi ter respaldado o bem-sucedido separatismo do antigo Paquistão Oriental, hoje Bangladesh. Igualmente perigosas são as retaliações brutais vez por outra promovidas por fundamentalistas hindus contra a minoria muçulmana, que põem em risco a unidade da maior democracia do mundo.

Manish Swarup/AP
Pintura de guerra.
No Nepal, aldeões recebem a guerrilha em grande estilo
No Sudeste Asiático, a próspera Tailândia – foco inicial da crise asiática de 1997, mas com 4,5% de crescimento em 2005 – volta a surgir como fator de instabilidade. O golpe militar contra o governo “populista” da Tailândia, acusado de “comprar” apoio dos pobres, foi bem recebido pelos investidores, mas a oposição interna cresce. Em 1º de outubro, um motorista de táxi de 60 anos protestou lançando contra um tanque o próprio carro, coberto de inscrições onde se lia “mártir” e “destruidores do país”. Hospitalizado, disse a repórteres que “faria de novo se tivesse outra chance”. Várias escolas públicas do interior foram incendiadas, aparentemente em protesto contra o novo regime.

Apesar de a lei marcial proibir reuniões com mais de cinco pessoas, estudantes queimaram nas ruas cópias da “constituição provisória” decretada pelos militares e o Conselho pela Reforma da Mídia, uma organização de intelectuais, jornalistas e ativistas que lutava por mais liberdade de imprensa durante o governo de Shinawatra, também organizou uma manifestação para exigir a restauração da Constituição de 1997 e protestar contra a presença de censores militares nas estações de tevê.

Como em muitos países da América Latina, uma elite conservadora “culta” confronta massas de “aldeões ignorantes” cada vez menos propensos a mantê-la no poder sem receber nada em troca. Esses, a grande maioria, dificilmente respaldarão em referendo a constituição a ser redigida pela nova assembléia formada por militares, burocratas e membros da elite oposicionista, escolhidos a dedo pelos generais. Nesse país já agitado por uma guerrilha separatista no sul etnicamente malaio, o resultado poderá ser a volta do país à condição de ditadura militar aberta à qual retornava até 1992, incentivando o surgimento de oposições mais radicais.

Nas Filipinas, o governo neoliberal de Gloria Macapagal-Arroyo está em conflito com a Suprema Corte sobre uma emenda constitucional que adiaria as eleições de maio de 2007, as quais provavelmente perderia. Quer prevaleça o Judiciário, quer o Executivo, há risco de inquietação social, instabilidade política e fortalecimento do movimento separatista dos moros, muçulmanos da ilha de Mindanao. Pior ainda é a situação da Indonésia, mal recuperada da crise asiática, devastada pelo tsunami de 2004, foco da gripe aviária, agitada por vários movimentos separatistas e pelo terrorismo fundamentalista do grupo Jemaah Islamiyah, responsável por grandes ataques terroristas, repetidos anualmente desde 2002. Mas ambos os países cresceram mais de 5% em 2005.

Ahn Young-Joon/AP
Fera acuada.
A pequena Coréia do Norte põe em risco o equilíbrio estratégico, os investimentos e a economia do Extremo Oriente
Por fim, mas não com menor importância, há o impasse da recém-nuclearizada Coréia do Norte. É muito difícil tentar prever o futuro desse regime extremamente fechado, mas todas as alternativas preocupam. Se houver um confronto armado, o governo de Pyongyang pode ser varrido, mas o Japão corre o risco de um ataque nuclear, a economia da Coréia do Sul pode ser destruída em horas e o desfecho pode ser um perigoso confronto entre China e EUA.

Se o impasse se prolongar, o Japão – cujas atrocidades e pretensões imperiais na Segunda Guerra Mundial ainda inspiram desconfiança e ressentimento nas duas Coréias e na China – deve aproveitar o pretexto para se rearmar, instigando uma corrida armamentista com a China. Isto, por sua vez, aumentaria a tensão com Taiwan, onde continuam as pressões por uma declaração de independência inaceitável para os chineses. O risco percebido de investimento tenderia a aumentar em toda a região, o que agravaria as repercussões de uma provável recessão estadunidense e poderia servir de estopim a uma nova crise asiática.

Mesmo que, em vez de cair atirando, o regime da Coréia do Norte desmorone em silêncio, como sonham os neoconservadores de Washington, as conseqüências podem não ser tão agradáveis quanto parecem esperar. A Coréia do Sul terá um problema humano e econômico que, guardadas as proporções, será muito pior do que aquele que a Alemanha enfrenta desde 1990.

A Alemanha Oriental tinha mais de um terço da renda per capita da Ocidental e menos de um terço de sua população. Mas ainda hoje, 16 anos e 1,5 trilhão de euros em subsídios depois, sua reestruturação continua um problema social e um empecilho à recuperação econômica da Alemanha. Na Coréia, o Norte pesaria muito mais: tem (na melhor das hipóteses) um décimo da renda per capita do Sul e quase a metade de sua população – e o Sul, apesar de todo o seu crescimento, está longe de ter a solidez institucional e o poderio econômico que tinha a Alemanha Ocidental antes da unificação. Se ficar, o bicho come, se correr...