Por Cláudio Camargo
Por dentro do submarino |
Como funciona o submarino nuclear |
Por que o Brasil precisa de um? |
Em janeiro de 2005, a Marinha do Brasil iniciou os procedimentos para adquirir um novo submarino convencional e reaparelhar os outros cinco de sua frota, comprados da Alemanha entre 1989 e 2005. Este reaparelhamento prevê a aquisição de novos sistemas de armas (software), torpedos e sonares para os submarinos em serviço. Estes, classificados de classe Tupi, são derivados do modelo alemão U-209 e propelidos a motores diesel-elétricos. O primeiro deles foi fabricado na Alemanha, mas os outros quatro foram montados no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, dentro da filosofia de capacitar o País a dominar a tecnologia de fabricação de submarinos.
A aquisição/montagem dos submarinos Tupi integrou o programa nuclear da Marinha do Brasil, iniciado em 1979, mas freqüentemente interrompido por problemas orçamentários. Esse programa visa dotar o País com um submarino de ataque de propulsão nuclear, mas com armamento convencional (SSN). Como essa tecnologia não é franqueada pelos poucos países que a dominam, a Marinha investiu no desenvolvimento do próprio know-how. Em 27 anos, esse pioneirismo, nem sempre compreendido, conseguiu capacitar o Brasil para produzir um protótipo de reator nuclear e o domínio, quase completo, do ciclo de combustível, através do enriquecimento de urânio por meio de ultracentrífugas.
A outra parte desse programa previa o desenvolvimento de um casco – tecnicamente chamado plataforma – que pudesse comportar o reator nuclear. Nesse particular, o êxito não se repetiu. Apesar das tentativas, não foi possível adaptar o casco do submarino convencional para o nuclear, basicamente porque, para ter segurança, um submarino nuclear deve ter um diâmetro de pelo menos dez metros – coisa difícil de se conseguir a partir de um submarino convencional de 1.400 toneladas.
A partir disso, duas questões se colocam quando se cogita da compra de um novo submarino convencional e do reaparelhamento da frota. A primeira é saber se o País deveria congelar um programa que custou tanto e deu tantos frutos. Não seria o caso de se buscar um novo elo para o desenvolvimento do casco do submarino nuclear? Uma alternativa seria conhecer melhor outras opções, como a oferecida pela França, que por ter desenvolvido primeiramente os submarinos de propulsão nuclear com mísseis balísticos (SSBN) transferiu a tecnologia do casco aos submarinos nucleares com armamento convencional (SSN) e até a submarinos diesel-elétricos.
A outra questão é saber se a Marinha pretende seguir a doutrina adotada pela FAB no programa F/X para a compra de novos caças e exigir dos fornecedores a abertura dos códigos-fonte dos sistemas de armas. A obtenção desses códigos permitiria eliminar a vulnerabilidade de mecanismos de interferência do inimigo em seu sistema. É bom lembrar que, na guerra das Malvinas (1982), os britânicos, de posse dos elementos dos códigos-fonte dos mísseis Exocets argentinos, por exemplo, neutralizaram essa arma letal. Se os argentinos tivessem o mesmo acesso, poderiam ter modificado os códigos e impedido a neutralização de suas armas.
O bom para o Brasil seria ficar com as duas opções: cascos adequados ao submarino nuclear e acesso aos códigos-fonte do sistema de armas. Resta saber quem oferecerá tais alternativas.
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