terça-feira, março 07, 2006

FAO prevê que redução da pobreza levará 146 anosONU propôs metas para serem cumpridas até 2015

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura ea Alimentação (FAO), o senegalês Jacques Diouf, advertiu hoje que, nas atuais condições, serão necessários 146 anos para alcançar as metas de redução da pobreza propostas pela ONU para serem cumpridas até 2015.

– O objetivo da ONU de reduzir à metade o número de pessoas que passam fome, com as atuais tendências, não será alcançado em 2015, mas em 2150 – afirmou Diouf na abertura da II Conferência Mundial sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Agrícola.

Segundo cálculos das Nações Unidas, aproximadamente 900 milhões de pessoas (três quartos da população mundial pobre) vive em áreas rurais e depende do acesso à terra para sobreviver. A conferência, convocada pela FAO e que acontece até sexta-feira em Porto Alegre, conta com a participação de delegações de 80 países, 20 das quais lideradas por seus ministros.

A reunião de Porto Alegre, que acontece 27 anos depois da primeira Conferência sobre Reforma Agrária da FAO, tem como objetivo debater as políticas de distribuição de terra e de água frente ao compromisso assumido em 2000 pelos países da ONU de reduzir à metade até o ano de 2015 o número de pobres e pessoas que passam fome.

– Vinte e sete anos se passaram desde a primeira conferência e chegou a hora de voltar a debater o tema, quando o problema se situa no eixo da política de segurança alimentar do mundo – afirmou o secretário da FAO em seu discurso.

O senegalês enfatizou que, nas atuais condições, dificilmente a ONU cumprirá seu objetivo de reduzir a pobreza, embora, em declarações posteriores, esclareceu "esperar que essas tendências mudem para que esse objetivo possa ser alcançado".

O Movimento dos Sem-terra (MST), que participa da Conferência como observador, acha que, sem uma reforma completa na economia mundial, será impossível a ONU consiguir cumprir seu objetivo.

– Um bispo costumava dizer que não basta estar a favor dos pobres, pois é preciso estar contra os ricos. Há riqueza suficiente para resolver os problemas de pobreza, mas sem vontade política a pobreza só será reduzida em 5015 – disse o líder nacional do MST, o economista João Pedro Stédile.

Segundo Diouf, a reforma agrária deixou de ser exclusivamente um problema de acesso à terra e passou a ser também uma questão de garantir aos mais pobres e vulneráveis oportunidades de renda e garantias de alimentação.

Isso exige, acrescentou, que os pequenos agricultores também sejam competitivos para produzir, assim como investimentos em capacitação e infra-estrutura. O ministro brasileiro de Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que também participou da abertura da conferência, disse que infelizmente os objetivos da primeira reunião, em 1979 em Roma, não foram cumpridos e chegou a hora de discuti-los novamente.

Rosseto afirmou que a globalização aumentou a pobreza e as desigualdades e que as negociações que atualmente os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) adiantam não podem abordar a agricultura sem levar os agricultores em consideração.

– As normas que regulam o comércio internacional incidem em todos os países e é necessário um esforço comum para defender a economia da agricultura familiar – disse.

O ministro admitiu que o Brasil, onde apenas 2,7% dos proprietários monopolizam 57% das terras, ainda tem muito o que fazer em matéria de reforma agrária.

Rossetto acrescentou que foi significativo a FAO escolher Porto Alegre como sede da Conferência, uma vez que a cidade é berço do Fórum Social Mundial e foi onde surgiu o movimento que considera "outro mundo possível".

Tanto Diouf como Rossetto destacaram que a reunião contará com uma importante participação da sociedade civil, e inclusive um representante da organização internacional Via Camponesa teve a oportunidade de discursar na cerimônia de abertura.

José Alencar, vice-presidente e chefe de Estado em exercício, esteve presente na abertura e destacou os esforços brasileiros no combate à fome em nível nacional e a defesa da criação de um fundo mundial destinado à luta contra a pobreza em todo o planeta.

AGÊNCIA EFE

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