domingo, março 26, 2006

Instituto estuda modo de prever secas e cheias


Dados de pesquisa devem ser disponibilizados para o público

Preparar a população para enfrentar grandes secas e enchentes na região amazônica é um dos objetivos do estudo encabeçado por Jochen Schöngart, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Schöngart conta que pesquisas em torno da influência de fatores como a chuva e a inundação no crescimento das árvores despertaram nele a necessidade de elaborar modelos simples que mostrem a relação entre os picos de cheia e seca dos rios da região, a partir da análise de dados oceanográficos e meteorológicos. Na prática, as informações geradas por esses cálculos deverão ser repassadas à população, de modo que seja possível articular planos de emergência, frente à ameaça iminente de grandes cheias e secas.

Em quase dois anos de estudos destinados a esse projeto, Schöngart afirma que os resultados parciais do trabalho já permitem que ele faça uma previsão do pulso de inundação (força que acarreta a cheia e na seca dos rios) para esse ano.

– Os dados referentes ao nível da água, diariamente coletados e armazenados no Porto de Manaus desde 1903, refletem quanto de chuva cai nas cabeceiras dos rios. Esses dados são usados na composição do modelo múltiplo, que analisa quais fatores externos explicam a variação dos picos de cheia e seca ao longo dos anos, para prever os próximos picos de cheia e seca dos rios – explica o pesquisador.

O ponto central do estudo está no fato de as cheias e secas refletirem a variação de chuvas nas cabeceiras dos rios numa área de aproximadamente 3 milhões de km². De acordo com Schöngart e outros pesquisadores, os oceanos são a fonte controladora dessas chuvas. Se as águas dos oceanos tropicais esquentam ou esfriam, as conseqüências dessas mudanças atingem muitas regiões no mundo de forma diferenciada.

– O El Niño, que é o fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico Tropical, gera grandes secas na Amazônia e fortes chuvas no sudeste do país. Ao contrário, a La Niña, que é o resfriamento do Pacífico equatorial, traz consigo uma maior incidência de chuva na região amazônica – diz Schöngart.

Atualmente a Amazônia vem sofrendo a influência da La Niña, que deverá durar de três a seis meses, e por isso há previsão de um pico pronunciado de cheia para esse ano, devido ao fenômeno.

– De acordo com meus cálculos, esse ano estamos esperando uma cheia de 28,9 metros acima do nível do mar. Não será grande, se comparada a de 1999, considerada uma das maiores, atingindo 29,3 metros – destaca.

A pesquisa já se encontra em sua fase final. Os dados serão encaminhados para publicação em revista científica especializada. Schöngart espera melhorar as condições de vida da população local, a partir da aplicabilidade dos resultados obtidos com o estudo.

– Com base nos cálculos dos picos do pulso de inundação, as comunidades, principalmente as do interior, poderão planejar suas atividades em tempo hábil, de modo que não fiquem carentes de alimentação, água, transporte e serviços de saúde e ensino – ratifica o pesquisador.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

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