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  |        |    Isolado e preservado pela geografia durante séculos, o Tibet  verá completada a partir de hoje a ocupação chinesa - iniciada na invasão  comunista em 1950. Será inaugurada a ferrovia mais alta do mundo, ligando  Golmud, na província chinesa de Qinghai, a Lhasa, capital tibetana, último  trecho da linha que tem início em Pequim.
  A primeira ferrovia para o  Tibet era um sonho do falecido líder comunista Mao Tsé-Tung, tecnologicamente  impossível de ser concretizado na época. Após quatro anos de trabalho e um  investimento de US$ 4,4 bilhões (R$ 9,5 bilhões), a engenharia chinesa apresenta  ao mundo uma obra que é - junto com a hidrelétrica das Três Gargantas - motivo  de orgulho para o governo do país, por ter superado o terreno congelado e  altitudes inacreditáveis. É saudada pelos governantes chineses como a solução  dos problemas da região, atraindo turistas e investimentos, mas ativistas  pró-Tibet acreditam que essa é a sentença de morte da cultura tradicional  tibetana. Já ambientalistas temem danos irreparáveis ao precioso ecossistema do  platô de Qinghai.
  Os trilhos cortam o teto do mundo por 1.142  quilômetros, chegando a uma altitude superior aos 5 mil metros e relegando ao  segundo lugar os 4,8 mil metros alcançados pela linha Lima-Huncayo, no Peru.  Mais de 30 mil pessoas trabalharam na construção da ferrovia, que está acima dos  4 mil metros de altitude em 80% de seu trajeto e corre sobre solo  permanentemente congelado.
  Nos trens que percorrerão a linha, vagões  construídos pela empresa canadense Bombardier - mais conhecida por seus aviões -  têm janelas duplas com filtros ultravioletas para amenizar os efeitos da luz  solar. O sistema de circulação de ar está projetado para regular o oxigênio no  interior dos vagões conforme a altitude.
  Sistema garante que solo sob  trilhos permaneça congelado 
  Caso, mesmo assim, algumas pessoas  tenham dificuldade para respirar devido à altitude, os vagões com passagem mais  cara poderão ser pressurizados, de acordo com Zhang Jianwei, representante da  Bombardier na China.
  Grande parte do terreno da região tem uma camada de  permafrost sob a superfície, um tipo de solo composto por terra e rochas  permanentemente congeladas, além de gelo. Para tornar o solo estável, foi criado  um sistema que envolve uma série de tubos enterrados no solo ao longo dos  trilhos, para garantir que permaneçam congelados. Pontes e elevadas sustentam os  trilhos nos trechos onde o terreno foi considerado perigoso.
  Embora o  governo afirme que nenhum operário morreu na execução da obra por problemas  relacionados à altitude, moradores das localidades por onde passam os trilhos  afirmam que pelo cem morreram em acidentes. Em algumas áreas, as equipes tiveram  de escavar túneis através do gelo, usando tubos de oxigênio para respirar, sob  um frio de 35ºC negativos.
  Estimada em 47 horas e 28 minutos, a viagem  de Pequim a Lhasa custará US$ 48 (R$ 104) na classe mais barata, chamada  "yingzuo" (cadeira dura). Na classe mais cara, a "ruanwo" (cama macia), com  cabines privativas e televisão, as passagens custarão US$ 157 (R$ 340).
  Governado pelos monges budistas por centenas de anos, Lhasa é hoje um  lugar muito diferente de quando os chineses invadiram o Tibet, há mais de 50  anos, e começaram a impor a cultura da etnia Han, dominante na China. Por mais  que a milenar cultura tibetana seja um dos principais atrativos para os  turistas, a partida do trem T27 da capital chinesa, hoje, pode decretar o início  de sua extinção.
 
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