terça-feira, julho 25, 2006

Como fica a Rodada Doha após fracasso das negociações?

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Como fica a Rodada Doha após fracasso das negociações?
Trabalhadores em plantação de café em Ruanda
Países africanos têm acesso limitado a outros mercados
As negociações da Rodada Doha, que buscavam um acordo para a liberalização do comércio internacional, foram suspensas nesta segunda-feira depois do fracasso de novas negociações.

Esse fracasso coloca em risco o esforço de anos de negociações e campanhas de ONGs e ativistas para criar melhores condições de comércio internacional, que pudessem beneficiar principalmente os países mais pobres.

Mas o acontece agora? Como fica a situação para os principais envolvidos nas negociações? A BBC responde algumas questões sobre o assunto.

O que representam essas negociações para as pessoas em países ricos e pobres?

O mundo tem tentado chegar a um novo acordo para expandir o livre comércio, com a intenção de ajudar, principalmente, os países pobres.

As conversas vinham sendo realizadas desde 2001, mas o progresso tem sido muito lento. Uma reunião-chave, realizada em Hong Kong em dezembro de 2005, ficou bem aquém das expectativas iniciais.

Defensores de um acordo comercial argumentam que ele ajudaria a acabar com a pobreza em países em desenvolvimento, enquanto países ricos também poderiam se beneficiar com a possibilidade de vender mais bens e serviços no exterior.

Eles dizem que um acordo estimularia o crescimento global e aumentaria o número de empregos, mas críticos afirmam que ele custaria postos de trabalho em países em desenvolvimento e prejudicaria as pessoas pobres.

Por quê as negociações foram suspensas?

Desde o fim do encontro de Hong Kong, a Organização Mundial de Comércio (OMC) definiu uma série de prazos para tentar avançar nas negociações.

A questão mais importante diz respeito à redução, por parte dos Estados Unidos e da União Européia, de barreiras à exportações agrícolas de países em desenvolvimento, incluindo subsídios e tarifas.

Em contrapartida, os países ricos querem que grandes países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, reduzam suas barreiras para importações de bens manufaturados.

Porém, após quatro anos de conversas, parece que nenhuma das partes importantes está preparada para se comprometer o suficiente para impulsionar as negociações rumo a uma conclusão.

Um dos problemas tem sido a forte pressão dos lobbies agrícolas nos Estados Unidos e na União Européia para evitar grandes reduções da proteção no setor.

De quem é a culpa?

Desde que as perspectivas de um acordo diminuíram, cada lado busca culpar o outro.

A União Européia diz que os Estados Unidos têm sido muito ambiciosos e não mostraram flexibilidade suficiente para se chegar a um acordo.

Os Estados Unidos, por sua vez, culpam as pressões protecionistas da Política Comum Agrícola da União Européia.

Já os países em desenvolvimento dizem que as nações ricas nunca estiveram seriamente comprometidas em abrir seus mercados, e enquanto elas não o fizerem, eles também não terão pressa em fazer o mesmo.

O principal problema é que o livre comércio agrícola - o grande assunto desta rodada - é muito mais difícil de negociar do que o livre comércio de bens manufaturados.

Apesar de pequenos, os lobbies agrícolas são poderosos e os lobbies industriais nos países ricos não exerceram muita influência para impulsionar um acordo de comércio.

O que ocorre daqui para a frente?

As negociações podem ser retomadas posteriormente, mas elas enfrentam um grande obstáculo nos Estados Unidos.

O Congresso americano deu ao governo um mandato negociador, o "fast track", apenas até julho de 2007.

"Fast track", ou autoridade de promoção comercial, significa que o Congresso é obrigado a aprovar ou vetar o acordo inteiro, o que evita com que a oposição possa adicionar emendas e com isso forçar os Estados Unidos a renegociar o acordo inteiro.

No atual ambiente político do Congresso americano, antes das eleições de novembro e com a impopularidade de acordos comerciais por causa de um imenso déficit comercial, é bem provável que não haja extensão do "fast track".

E qualquer acordo comercial sem a participação da maior economia do mundo não teria sentido.

Portanto, a idéia de retomar as conversas dentro de alguns meses parece irreal.

E se a rodada de comércio entrar em colapso?

Pode ser muito cedo para dizer que este é o fim total desta rodada de negociações comerciais - algumas rodadas duraram vários anos.

Um fracasso na conclusão de uma rodada de comércio pode ter sérias conseqüências para a OMC, que foi criada apenas em 1995, e para o sistema de comércio multilateral.

Os países poderão cada vez mais fechar acordos comerciais bilaterais entre eles, o que deixaria os países pequenos em desvantagem.

A falta de regras claras que regualmentem o comércio internacional poderia preocupar as empresas.

Os maiores perdedores seriam os grandes países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e África do Sul, que têm uma série de produtos agrícolas que gostariam de exportar para países ricos.

Os países mais pobres, que receberam a oferta de acesso livre aos mercados como parte de qualquer acordo, têm menos capacidade de se beneficiar com qualquer abertura de mercado.

É por isso que algumas organizações não-governamentais dizem que nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim para os pobres, e que seria melhor começar do rascunho para redesenhar o sistema de comércio mundial de uma forma mais justa.

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