O FannieMae e o Freddie Mac, os dois principais bancos de crédito para habitação, respondem por 50% da dívida em hipotecas dos EUA – US$ 5 trilhões – e teriam um rombo de US$ 75 bilhões de capital para bancar empréstimos e garantir hipotecas
O sistema de financiamento da habitação dos EUA praticamente entrou em colapso no final de semana, após insistentes rumores e advertências sobre o estado crítico dos dois principais bancos de fomento do setor, o Fannie Mae e o Freddie Mac, levarem o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, a anunciar medidas de emergência. Somados, o Fannie e o Freddie são responsáveis pela metade da dívida em hipotecas dos EUA – US$ 5 trilhões – e teriam um rombo de pelo menos US$ 75 bilhões de capital para bancar os empréstimos e as garantias concedidas a hipotecas.
Na sexta-feira, o quadro era de caos no sistema bancário dos EUA. O segundo maior banco independente do setor de hipotecas, o IndyMac, da Califórnia, faliu. O banco de investimento Lehman Brothers – que tem assento no Fed de Nova Iorque – viu suas ações afundarem 20%. Tornou-se público que Citibank, Merrill Lynch, JP Morgan Chase e Wachovia iriam apresentar novos – e enormes - rombos nos balanços do segundo trimestre. O órgão federal de supervisão do sistema bancário, FDIC, admitiu o risco de quebra de mais “90 bancos”. Para completar, as ações do Fannie Mae e do Freddie Mac, negociadas em Wall Street, desabaram respectivamente 30 e 45% só numa semana.
SOLIDEZ
Faltava pouco para declarar o sistema hipotecário do país na UTI, e Paulson e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, ainda tentaram com declarações no Senado dos EUA adiar o colapso. Asseveraram a “solidez” do Fannie e do Freddie e que ambos “estavam regulatoriamente capitalizados”. Mas, antes que a bolsa de Nova Iorque abrisse – e desmoronasse –, Paulson anunciou no domingo urgentes medidas de contenção, e que o Fed de Nova Iorque estava autorizado a garantir os créditos necessários para mantê-las à tona.
Como se vê, além do Fed, agora também dá expediente no domingo o secretário do Tesouro de Bush. A agência Reuters registrou, inclusive, que o governo dos EUA estudava até mesmo a aquisição de ações dos bancos de fomento – “não uma nacionalização”, explicaram, mas uma “tomada de controle” temporária. Criado pelo presidente Roosevelt durante a Grande Depressão para estimular a indústria da construção civil e a venda de moradias, o Fannie Mae empresta para bancos e caixas hipotecárias, e não para o público; foi privatizado em 1968. Posteriormente, foi criado o Freddie Mac, com funções análogas. Apesar de considerado um banco “patrocinado” pelo governo, é uma instituição privada, com ações em Wall Street, e operando com bonds e derivativos.
Desde o estouro da bolha do subprime, as duas empresas vinham sendo pressionadas ao extremo, para absorverem mais e mais hipotecas e papéis bichados dos grandes bancos abalroados pela crise. Em março, quando se deu a bancarrota do Bear Stearns, o governo Bush mandou arrombar os dois bancos de fomento, através de, entre outras coisas, esticar seu limite para compra desses títulos-lixo para aliviar Wall Street. Não se sabe exatamente quanto é o rombo gerado. Artigo do “The New York Times” apontou US$ 11 bilhões. Um ex-diretor do Fed afirmou que o buraco é de US$ 75 bilhões. E com os maiores bancos, corretoras e caixas imobiliárias dos EUA pendurados.
GARANTIA
O NYT afirmou que “o governo [Bush] chegou até mesmo a analisar criar uma lei que ofereça uma garantia explícita do governo para os US$ 5 trilhões de débito possuído ou garantido pelas companhias”. O que, apontou, seria “uma opção muito menos atrativa, porque efetivamente dobraria o tamanho da dívida pública”. (Além de “ineficaz”, porque “os mercados já aceitam amplamente que o governo está por trás das companhias”). O jornal advertiu, também, que o colapso poderia “causar danos às economias do mundo inteiro, porque os papéis do Fannie e Freddie ‘são mantidos por numerosas instituições financeiras, bancos centrais e investidores estrangeiros’”. A intervenção é permitida por uma lei de 1992, em caso do Fannie e Freddie estarem “criticamente subcapitalizados”.
Outra gravíssima conseqüência, como assinalou o jornal nova-iorquino, é que, como as duas são “de longe, as maiores provedoras de financiamento para empréstimos para a casa própria”, se não tivessem como obter empréstimos “não seriam capazes de comprar hipotecas dos empres-tadores comerciais”. O que, avaliou, “faria mais caro e mais difícil, senão impossível, o crédito para os compradores de casas”, resultando no “congelamento do mercado de moradia nos EUA”.
A intervenção do secretário do Tesouro, e de Bernanke, no domingo, não evitou que, na segunda-feira, as ações do Fannie Mae e do Freddie Mac continuassem no mais baixo ponto em 17 anos. Após serem infladas no início do pregão, voltaram a despencar pesadamente, acabando por encolher 5% (Fannie) e 8% (Freddie). Mas tem mais bancos chegando na UTI. O Washington Mutual viu também na segunda-feira suas ações despencarem 34%, após relatório do Lehman Brothers dizer que terá US$ 21 bilhões de rombo no balanço do segundo trimestre. Já o National City, de Cleveland, – também entre as 500 maiores empresas da “Fortune” – sofreu queda de 14,7% na cotação de suas ações.
ANTONIO PIMENTA - Hora do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário