Do Estadão
PF indicia empresário e DJ por vazamento de prova do Enem
Os 2 foram interrogados ontem em São Paulo; polícia procura terceiro homem suspeito de participar da fraude
Sergio Pompeu, Renata Cafardo e Fausto Macedo
A Polícia Federal indiciou ontem dois suspeitos de fraudarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): o empresário e publicitário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid. A PF está convencida do envolvimento de ambos na trama do vazamento das provas. O exame foi cancelado na quinta-feira depois que o Estado avisou o Ministério da Educação (MEC) que havia tido acesso ao caderno de questões.
Rodrigues e Gregory foram interrogados à tarde na superintendência regional da PF em São Paulo. Depois dos depoimentos, eles foram liberados. A polícia não vê necessidade de pedir a prisão dos dois à Justiça. Gregory afirmou à PF que teria sido Felipe Pradella quem obteve as provas e as repassou a ele. Ainda não se sabe se Pradella é segurança do consórcio contratado para aplicação e logística do exame ou se tinha a função de coordenar o manuseio dos cadernos de questões.
O plano era vender os documentos “para repórteres” e “levantar um dinheiro”. A PF acredita que o escândalo que levou ao adiamento do Enem, que seria neste fim de semana, foi protagonizado por “um grupo amador”. Após 72 horas de investigação, o inquérito está praticamente fechado na avaliação da PF. Falta localizar Pradella.
A PF quer saber se ele teria agido sozinho ou se teve auxílio de alguém em posto mais graduado na equipe que atua no consórcio para que tivesse acesso ao cofre onde os papéis estavam guardados. A PF pretende estabelecer se o segurança conseguiu a prova “no exercício do cargo” ou se a furtou com a cumplicidade de algum superior.
Equipes policiais percorreram endereços do investigado. Se até amanhã ele não se apresentar, a PF vai requerer formalmente à Justiça Federal sua prisão e mandados de busca. A PF tem pressa. A Presidência da República pediu uma resposta o quanto antes. Por determinação de seu diretor-geral, delegado Luiz Fernando Corrêa, a PF quer concluir a missão no início da semana.
Na noite de sexta-feira, a equipe do delegado Marcelo Sabadin, que conduz a apuração, começou a procurar Gregory. Primeiro os agentes foram a uma danceteria em Osasco. Depois, bateram à porta da MySpace, balada no Itaim. O DJ atua rotineiramente nesses endereços.
Às 3 horas de ontem, a PF fez contato com o advogado Antônio José Craid, pai de Gregory. Os dois estavam reunidos na casa do advogado, em Barueri. “Estou me inteirando dos fatos”, disse ele à PF. O delegado convenceu Craid a apresentar o rapaz. Também foi antecipado o depoimento de Luciano Rodrigues, inicialmente marcado para amanhã. O empresário foi à PF acompanhado de seu advogado, Luiz Vicente Bezinelli.
VIOLAÇÃO DE SIGILO
Rodrigues e Gregory foram enquadrados no artigo 325 do Código de Processo Penal, que define o crime de violação de sigilo funcional – revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em silêncio. A pena prevista, em caso de condenação, é de 6 meses a dois anos de detenção. Eles foram indiciados também no artigo 327 que considera funcionário público, “para os efeitos penais”, quem, embora de maneira transitória ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública – neste caso a pena será aumentada da terça parte.
Gregory relatou à PF que, de posse das provas que lhe teriam sido entregues por Felipe Pradella, procurou Luciano Rodrigues, seu amigo e dono de uma pizzaria nos Jardins. O encontro na pizzaria ocorreu na terça-feira à noite. Ele declarou estar desempregado e contou que Pradella é seu amigo “há mais ou menos 4 ou 5 anos, empinaram pipa e jogaram futebol” nas ruas de Osasco e de Barueri, na Grande São Paulo.
“Esse amigo da gráfica sabia que eu tinha contato com a imprensa porque sou DJ e conheço muitos repórteres”, disse Gregory. Segundo a PF, ele admitiu que pretendia vender a papelada. Rodrigues afirmou que não sabia da venda dos documentos. Disse que pretendia apenas levar para a imprensa o que considerava “um furo jornalístico de grande importância”.
“O Luciano foi indiciado por divulgar documento público, não foi indiciado por ter participado do furto ou do vazamento”, declarou o advogado Luiz Bezinelli. “Estou achando um absurdo o indiciamento . Tanto que na segunda-feira vou impetrar habeas corpus para trancar o inquérito contra ele.”
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