quarta-feira, outubro 21, 2009

O SUS na vanguarda científica

 

Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer, diabetes, epilepsia, acidente vascular cerebral (AVC). Essas são apenas algumas das dezenas de doenças que afetam milhões de brasileiros que torcem todos os dias para que os cientistas encontrem a cura do mal que os atinge. O caminho para que a terapia celular seja usada como qualquer outro procedimento médico ainda é longo, mas os primeiros passos já foram dados. Balanço do Ministério da Saúde mostra que R$ 65 milhões já foram investidos, desde 2005, em pesquisas com células-tronco. Desse montante, cerca de 60% foi financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O restante foi arcado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

– Não é o dinheiro privado que financia pesquisas com células-tronco nem no Brasil, nem no mundo. São os governos – afirma o secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães. – Os empresários não o fazem porque é muito arriscado e se não houver sucesso, eles podem falir. Os governos não costumam falir.

No total, são mais de 300 pesquisadores trabalhando no Brasil em 90 grupos que foram contemplados com financiamento público. Segundo Guimarães, o ministério tem interesse especial nas pesquisas que buscam a cura das doenças que causam maior impacto na população, como as cerebrovasculares, diabetes e doenças do coração.

– Mas como as pesquisas são experimentais, não dá para dirigir uma área específica – explica.

Em 2008, o SUS gastou R$ 65 milhões no tratamento de pacientes que tiveram infarto agudo do miocárdio. O valor deve ser maior em 2009, uma vez que entre janeiro e julho já foram gastos R$ 48 milhões. Os gastos com o tratamento de paciente que sofrem de insuficiência cardíaca são bem maiores. Foram R$ 252 milhões em 2008 e R$ 168 milhões no primeiro semestre deste ano. Já o tratamento de AVC isquêmico e hemorrágico custou aos cofres do SUS R$ 134 milhões em 2008.

O Brasil tem sido pioneiro em diversas pesquisas com células-tronco. Pela primeira vez no mundo, pesquisadores estão injetando as células-tronco da medula óssea diretamente nos pulmões para tratar pacientes com silicose, doença pulmonar provocada pela inalação de poeiras minerais que acomete cerca de seis milhões de pessoas no país. A pesquisa, de autoria de Marcelo Morales, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também pode ajudar os pacientes que sofrem de síndrome de desconforto respiratório agudo, responsável por levar 50% dos doentes ao óbito.

Outro estudo, coordenado pelo Instituto do Coração de São Paulo (Incor), com células-tronco mononucleares para doença isquêmica crônica, conhecida como angina, também é pioneiro no mundo. A pesquisa, que recebeu R$ 3 milhões do Ministério da Saúde, faz parte do Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatia, que tem ainda três linhas de pesquisa com células-tronco: para doença de Chagas, insuficiência cardíaca e infarto agudo. Ao todo, o estudo recebeu R$ 13 milhões da pasta e será a primeira pesquisa do mundo com uma grande amostra de pacientes, 1.200, na área de terapia celular para doenças cardíacas.

Autor do trabalho que produziu células pluripotentes – capazes de produzir vários tipos de tecidos – a partir de células-tronco adultas, o neurocientista da UFRJ Stevens Rehen afirma que o financiamento de pesquisas no Brasil cresceu substancialmente, apesar de ainda estar longe do que necessita a comunidade científica. O trabalho do cientista realizado em parceria com o biomédico do Instituto Nacional do Câncer (Inca) Martin Bonamino, fez do Brasil o quinto país a produzir células-tronco pluripotentes a partir de células não-embrionárias. Rehen acredita que em pouco tempo serão realizados testes clínicos em humanos com células-tronco embrionárias.

Incentivos fiscais

Referência em estudos com células-tronco para a regeneração muscular, a coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e pró-reitora de Pesquisa da Universidades de São Paulo (USP), Mayana Ratz, também acredita que os investimentos em pesquisas nessa área tem têm crescido no Brasil, mas ainda são tímidos se comparado com outros países do mundo como Estados Unidos e Japão. A pesquisadora destaca também que existe muita burocracia para importar o material usado nas pesquisas.

– Já pedi pessoalmente ao presidente Lula que dê um voto de confiança nos pesquisadores – conta Mayana. – A nossa pesquisa é muito mais cara. Para a cientista, falta no Brasil incentivos fiscais para que os empresários invistam recursos em pesquisas científicas. – Também não existe a cultura de pessoas muito ricas que tiveram parentes vítimas de doenças degenerativas investirem recursos em pesquisas a fundo perdido.

00:52 - 21/10/2009

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