Para O'Neill, que cunhou a expressão Bric, País terá bom desempenho se controlar inflação e estimular investimentos
Fernando Dantas
O Brasil pode crescer a um ritmo de 5% por muito anos, mas, para isso, é necessário que o próximo governo mantenha a inflação sob controle e estimule os investimentos. A visão é de Jim O"Neill, chefe de pesquisa econômica global do Goldman Sachs e famoso mundialmente por ter criado a expressão Bric - o grupo de grandes países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, que estudos do Goldman Sachs previram que vai superar em PIB o G-7 (sete principais países ricos) antes de 2030.
"Dependendo do que acontecer nas eleições, é possível que o Brasil possa crescer mais do que 5% por vários anos", disse O"Neill ontem numa entrevista à imprensa em São Paulo, parte de uma visita ao País, na qual esteve com cerca de 600 clientes do Goldman Sachs.
Entusiasta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, O"Neill declarou que "dá para argumentar que o presidente Lula é o melhor, o mais bem-sucedido gestor político de um grande país nessa década". Para ele, o principal fator do sucesso atual do Brasil, e que deveria ser mantido pelo próximo governo, é "a inflação baixa e controlada, que está criando toda uma nova geração de cidadãos que podem planejar no médio e longo prazo seu consumo e investimento".
O"Neill acrescentou que "a coisa mais importante nas eleições, seja lá quem for (eleito presidente) é que não se mude isso". Ele mostrou preocupação pelo fato de que, na sua última visita ao Brasil, tenha tido a impressão de que o Banco Central não era "muito popular".
"Espero que essa não seja ainda a visão que prevalece no País; se vocês olharem a força dos indicadores (econômicos) do Brasil, não parece que o Banco Central esteja freando o crescimento", afirmou.
Para o economista, o Brasil deveria se satisfazer numa primeira fase com um crescimento em torno de 5%, que não provocasse inflação ou desequilíbrios externos graves, para só depois tentar acelerar para 7%. Sobre o real valorizado, disse que há grandes países exportadores que conseguem conviver com isso, e não há solução fácil.
Em relação ao investimento, O"Neill citou um indicador de "ambiente para o crescimento" do Goldman, no qual três das fraquezas do Brasil, na comparação com a média de outros Brics e emergentes, são o baixo nível de investimento em relação ao PIB, o grande tamanho do Estado em relação ao PIB e a pouca abertura da economia.
Ele deu ênfase à questão do investimento, mencionando que um dos fatores que explicam o melhor desempenho econômico da China em relação à Índia é que o primeiro país encoraja mais o investimento estrangeiro na produção. O"Neill mencionou que, em suas frequentes viagens pelas mais diversas partes do mundo, ele tem se encontrado com muitas empresas e investidores querendo entrar no Brasil pela primeira vez. "Acho muito importante que o atual governo e os próximos encorajem isso."
Quanto ao PIB global, ele apontou que a projeção do Goldman Sachs, de crescimento de 4,1% em 2010, está acima do consenso de mercado. E o maior risco de erro da previsão, frisou, é que o mundo cresça ainda mais, já que há uma série de indicadores de retomada, como o salto de 84% nas vendas de carros na China em um ano, a aceleração do crescimento das exportações coreanas, chinesas e japonesas, ou a cifra estonteante de 30 milhões de novas linhas de celulares por mês da China e da Índia. "Quando as pessoas dizem que não há descolamento (dos emergentes), penso que eles devem morar num país diferente do meu", ironizou O"Neill.
Em relação à economia brasileira, ele disse que a capacidade do País de superar a crise era o teste que faltava para mostrar que merecia de fato fazer parte dos Brics. Para ele, a boa reação do Brasil à crise foi "um prêmio para a boa gestão macroeconômica do Banco Central e do governo Lula e, possivelmente, do governo anterior". Quanto ao mercado acionário brasileiro, disse que ainda pode subir muito, embora esteja menos atraente do que estava no início da retomada de alta.
O"Neill recordou-se de como, há dois anos, quando esteve no Brasil, ele tinha que justificar o tempo todo o "B" dos Brics. Agora, disse, "há um grau maior de confiança entre os brasileiros - certamente dos homens de negócio - sobre o Brasil do que em qualquer outro momento anterior em que eu tenha vindo aqui".
Ele fez uma menção bem-humorada ao brasileiro Paulo Leme, economista do Goldman para mercados emergentes, que tem projeções de crescimento para o Brasil que muitas vezes O"Neill considera excessivamente pessimistas (e com quem fez uma aposta sobre o assunto, de um jantar "em qualquer restaurante do mundo"): "Digo ao Paulo que precisa ser mais animado em relação ao seu país".
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