quarta-feira, maio 07, 2008

Notícias dos EUA

São duas as principais forças dominantes nos EUA: o conservadorismo político e o capitalismo extremo.

Ambas estão em xeque. A primeira, pelo entusiasmo em torno da candidatura do democrata jovem e negro Barack Obama. A segunda, pela recessão que parece já ter se instalado na maior e mais sofisticada economia do mundo.

Nesse contexto, há muita gente arrebatada pela "mudança política" que estaria tomando conta dos EUA. E pelos sinais de "crise profunda no capitalismo" dominante naquelas bandas.

O mundo (e os EUA fazem parte dele) vive em constante mudança. Mas não tão rápido.

A candidatura de Obama ganhou força nesta semana. Mas seu problema é ser negro e ter apenas 46 anos. Se escolhido candidato e eleito, derrubaria toda a lógica que domina a política dos EUA há décadas.

Uma pergunta: porque será que Obama é o único senador negro na atual legislatura norte-americana? A resposta não deve incluir a premissa de que faltariam candidatos negros para o cargo.

Já a tese de que o cansaço com os conservadores após o desastre da administração George W. Bush levaria automaticamente a um presidente mais moderno, de frescor liberal, é muito frágil.

Vale lembrar que o último presidente democrata dos EUA, Bill Clinton, foi eleito, duas vezes, com uma plataforma que passava longe das questões caras aos ditos liberais: era contra o aborto, a favor da pena de morte e pregou (e executou) um conservadorismo fiscal a ponto de entregar o governo com grande superávit.

Já sua política para os homossexuais nas Forças Armadas é um primor: "Don't ask, don't tell" (não pergunte, não conte)...

Já o candidato escolhido há meses no campo republicano, John McCain, tem o perfil ideal para o americano médio. O tal "red neck" (pescoço vermelho) que nada tem a ver com os cidadãos daquele país com quem os turistas costumam trombar nas ruas de Nova York, Miami, Chicago ou na Califórnia. Esses locais fazem parte dos EUA, mas não são os EUA.

Na última eleição geral nos EUA, para a renovação do Congresso há dois anos, os democratas recuperaram a maioria. Muitos viram ali um forte sinal de mudança. O "detalhe" é que apenas 40% dos eleitores saíram de casa para votar naquele pleito (o voto não é obrigatório nos EUA). Já nas eleições presidenciais, o "turn out" de eleitores às urnas sempre ronda cerca de 60%, mobilizando muito mais pessoas, principalmente em Estados fora dos eixos mais esclarecidos.

Sobre o segundo vetor em xeque (o estágio e o modelo do capitalismo norte-americano) é preciso recordar quão rapidamente os EUA saíram de ciclos de desaquecimento recentes.

O último deles foi uma tempestade perfeita: incorporou ao mesmo tempo o estouro da chamada "bolha da internet", uma série de fraudes em balanços de empresas gigantescas e, em cima disso tudo, os ataques do 11 de Setembro de 2001.

Para surpresa de todos, em poucos meses os EUA voltaram a crescer e lideraram, nos últimos cinco anos, o mais longo ciclo de crescimento mundial em três décadas.

Em um país de natureza e história conservadora e capitalista como os EUA, ignorar o poder dos vetores que o colocaram em seu atual estágio econômico e político é, isso sim, acreditar em um verdadeiro mundo novo.

Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.

E-mail: fcanzian@folhasp.com.br

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Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
http://profjefersongeo.blogspot.com/

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