Antonio Cerrillo
As plantações para produção de biocombustíveis ¿ opção energética que vem ganhando preferência para a substituição da gasolina e do petróleo na condição de carburante - estão atraindo oposição social cada vez maior. Organizações não governamentais de diversos países produtores desse tipo de matéria-prima (soja argentina ou brasileira, óleo de palma indonésio ou da Malásia) vêm denunciando os estragos que a agricultura industrial praticada atualmente e o cultivo de safras energéticas estão causando: desflorestamento, despovoamento das regiões rurais, perda de biodiversidade, contaminação de águas, superlotação nas cidades e fome.
Também alertam que esses produtos vegetais, que os países ricos do norte desejam para manter abastecidos os tanques de seus carros, são essenciais para o sustento básico e a segurança alimentar dos países em desenvolvimento.
Em uma linha semelhante de argumentação, um relatório das Nações Unidas alertava, na semana passada, que a corrida por produzir grandes volumes de biocombustíveis (com base no milho, cana-de-açúcar, soja ou palma) poderia causar mais desflorestamento, queimadas e empobrecimento ainda maior das populações rurais. A ONU não se opõe a uma ampliação no uso dos combustíveis de base vegetal, mas teme que essa fonte de energia se estenda sem controle e sem que todas as conseqüências sejam levadas em conta.
Os biocombustíveis contam com o beneplácito dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, como forma de reduzir os gases de aquecimento global. Ainda assim, o número de críticos não pára de crescer. As reservas e as ressalvas são acatadas, na Espanha, por organizações como a Veterinarios sin Fronteras, o Observatorio de la Globalización e a Xarxa de Consum Solidari, que pediu que os planos de promoção do uso desse tipo de combustível sejam postergados até que todas as dúvidas sejam esclarecidas.
"Os biocombustíveis vão acentuar os desequilíbrios já existentes em um modelo agrário que já causou graves danos ambientais e sociais, assim como exacerbou a pobreza em muitos países", explica Jorge Rulli, pesquisador do Grupo de Reflexión Rural da Argentina, que fez uma conferência sobre o assunto na semana passada em Barcelona. Há temores de que o cultivo de variantes transgênicas de produtos como o milho ou a soja seja retomado ou intensificado em países como Argentina e Paraguai.
"A monocultura provocou deslocamentos maciços de população para as cidades, e contaminação dos campos. O setor agrícola não propicia grande número de empregos, e o desemprego rural alimenta o desemprego urbano", de acordo com o pesquisador argentino. "Vamos transformar nossos campos de soja em novos campos de petróleo", ele lamentou. De acordo com Rulli, o impacto das expectativas quanto aos biocombustíveis já se faz sentir em seu país. "Há especulação com terras, e o preço da terra nas regiões rurais cresceu. Não há mais espaço para a criação do gado, e os bovinos começam a ocupar as terras baixas e as regiões de beira de estrada", afirma.
O relatório da ONU mencionado acima afirma, igualmente, que o cultivo de safras energéticas (cereais ou cana-de-açúcar para a produção de etanol, e soja ou palmeiras para a produção de biodiesel) pode causar desequilíbrio no abastecimento alimentar. O perigo é que as terras sejam reservadas à produção de safras base para combustíveis, em detrimento de outros produtos básicos.
A escassez e a alta de preços agravariam as condições de vida das populações de baixa renda. No México, a alta no preço das tortillas de milho (o alimento básico da dieta mexicana) devido ao desvio de produção dessa safra para a indústria do etanol nos Estados Unidos causou sério mal-estar social.
A disparidade entre pobres e ricos poderia, inclusive, se ampliar ainda mais. "Caso criemos uma competição de preços de cereais entre as famílias dos países do sul, que precisam desses produtos para seu sustento, e as famílias dos países industrializados, que precisam deles para manter abastecidos os tanques de seus automóveis, está claro quem poderá pagar mais e para quem os produtos serão vendidos", disse Gustavo Duch, diretor da Veterinarios sin Fronteras.
Além disso, a União Européia prevê a importação de grande volume de matérias-primas para produção de biocombustíveis de regiões de floresta tropical, alagados e outros ecossistemas, denunciam esses mesmos grupos. "Os biocombustíveis são uma ameaça para as florestas", disse Rulli, alertando sobre os perigos que isso acarreta no Equador, Colômbia e Brasil.
Na Indonésia, os planos de desenvolvimento de biocombustíveis (vinculados à política da União Européia) prevêem expandir em 43 vezes a produção de óleo de palma, o que destruiria 20 milhões de hectares de floresta tropical, de acordo com a Veterinarios sin Fronteras.
Jorge Rulli sustenta que a ênfase deveria ser aplicada a outras soluções, como a economia de energia e a adoção de formas mais eficientes de uso da energia e dos combustíveis. "Há dois perigos, no caso dos biocombustíveis. Além das conseqüências negativas em termos de alimentação e de meio ambiente, estão sendo criadas falsas expectativas e falsas esperanças tecnológicas.
O perigo é que isso resulte em que as pessoas deixem de lado os esforços de promoção de uma maior economia de energia e de hábitos de consumo mais responsáveis, que representam as soluções essenciais de que necessitamos parta mitigar as alterações climáticas e nos aproximarmos de uma sociedade mais justa", diz Gustavo Duch.
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
La Vanguardia
As plantações para produção de biocombustíveis ¿ opção energética que vem ganhando preferência para a substituição da gasolina e do petróleo na condição de carburante - estão atraindo oposição social cada vez maior. Organizações não governamentais de diversos países produtores desse tipo de matéria-prima (soja argentina ou brasileira, óleo de palma indonésio ou da Malásia) vêm denunciando os estragos que a agricultura industrial praticada atualmente e o cultivo de safras energéticas estão causando: desflorestamento, despovoamento das regiões rurais, perda de biodiversidade, contaminação de águas, superlotação nas cidades e fome.
Também alertam que esses produtos vegetais, que os países ricos do norte desejam para manter abastecidos os tanques de seus carros, são essenciais para o sustento básico e a segurança alimentar dos países em desenvolvimento.
Em uma linha semelhante de argumentação, um relatório das Nações Unidas alertava, na semana passada, que a corrida por produzir grandes volumes de biocombustíveis (com base no milho, cana-de-açúcar, soja ou palma) poderia causar mais desflorestamento, queimadas e empobrecimento ainda maior das populações rurais. A ONU não se opõe a uma ampliação no uso dos combustíveis de base vegetal, mas teme que essa fonte de energia se estenda sem controle e sem que todas as conseqüências sejam levadas em conta.
Os biocombustíveis contam com o beneplácito dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, como forma de reduzir os gases de aquecimento global. Ainda assim, o número de críticos não pára de crescer. As reservas e as ressalvas são acatadas, na Espanha, por organizações como a Veterinarios sin Fronteras, o Observatorio de la Globalización e a Xarxa de Consum Solidari, que pediu que os planos de promoção do uso desse tipo de combustível sejam postergados até que todas as dúvidas sejam esclarecidas.
"Os biocombustíveis vão acentuar os desequilíbrios já existentes em um modelo agrário que já causou graves danos ambientais e sociais, assim como exacerbou a pobreza em muitos países", explica Jorge Rulli, pesquisador do Grupo de Reflexión Rural da Argentina, que fez uma conferência sobre o assunto na semana passada em Barcelona. Há temores de que o cultivo de variantes transgênicas de produtos como o milho ou a soja seja retomado ou intensificado em países como Argentina e Paraguai.
"A monocultura provocou deslocamentos maciços de população para as cidades, e contaminação dos campos. O setor agrícola não propicia grande número de empregos, e o desemprego rural alimenta o desemprego urbano", de acordo com o pesquisador argentino. "Vamos transformar nossos campos de soja em novos campos de petróleo", ele lamentou. De acordo com Rulli, o impacto das expectativas quanto aos biocombustíveis já se faz sentir em seu país. "Há especulação com terras, e o preço da terra nas regiões rurais cresceu. Não há mais espaço para a criação do gado, e os bovinos começam a ocupar as terras baixas e as regiões de beira de estrada", afirma.
O relatório da ONU mencionado acima afirma, igualmente, que o cultivo de safras energéticas (cereais ou cana-de-açúcar para a produção de etanol, e soja ou palmeiras para a produção de biodiesel) pode causar desequilíbrio no abastecimento alimentar. O perigo é que as terras sejam reservadas à produção de safras base para combustíveis, em detrimento de outros produtos básicos.
A escassez e a alta de preços agravariam as condições de vida das populações de baixa renda. No México, a alta no preço das tortillas de milho (o alimento básico da dieta mexicana) devido ao desvio de produção dessa safra para a indústria do etanol nos Estados Unidos causou sério mal-estar social.
A disparidade entre pobres e ricos poderia, inclusive, se ampliar ainda mais. "Caso criemos uma competição de preços de cereais entre as famílias dos países do sul, que precisam desses produtos para seu sustento, e as famílias dos países industrializados, que precisam deles para manter abastecidos os tanques de seus automóveis, está claro quem poderá pagar mais e para quem os produtos serão vendidos", disse Gustavo Duch, diretor da Veterinarios sin Fronteras.
Além disso, a União Européia prevê a importação de grande volume de matérias-primas para produção de biocombustíveis de regiões de floresta tropical, alagados e outros ecossistemas, denunciam esses mesmos grupos. "Os biocombustíveis são uma ameaça para as florestas", disse Rulli, alertando sobre os perigos que isso acarreta no Equador, Colômbia e Brasil.
Na Indonésia, os planos de desenvolvimento de biocombustíveis (vinculados à política da União Européia) prevêem expandir em 43 vezes a produção de óleo de palma, o que destruiria 20 milhões de hectares de floresta tropical, de acordo com a Veterinarios sin Fronteras.
Jorge Rulli sustenta que a ênfase deveria ser aplicada a outras soluções, como a economia de energia e a adoção de formas mais eficientes de uso da energia e dos combustíveis. "Há dois perigos, no caso dos biocombustíveis. Além das conseqüências negativas em termos de alimentação e de meio ambiente, estão sendo criadas falsas expectativas e falsas esperanças tecnológicas.
O perigo é que isso resulte em que as pessoas deixem de lado os esforços de promoção de uma maior economia de energia e de hábitos de consumo mais responsáveis, que representam as soluções essenciais de que necessitamos parta mitigar as alterações climáticas e nos aproximarmos de uma sociedade mais justa", diz Gustavo Duch.
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
La Vanguardia
Nenhum comentário:
Postar um comentário