segunda-feira, maio 01, 2006

O gasoduto de US$ 20 bi - Isto É

Com o Mercosul em crise, Hugo Chávez insiste num projeto polêmico
Por Cláudio Camargo


Conciliador: o “encrenqueiro” Chávez fala em união.

O projeto de uma comunidade sul-americana de nações vem se esvaindo antes mesmo de se tornar realidade – e por obra de presidentes supostamente interessados em promovê-la. Os sintomas mais recentes são a campanha de Evo Morales contra empresas brasileiras na Bolívia e a rusga entre Tabaré Vazquez (Uruguai) e Néstor Kirchner (Argentina) por conta da instalação de duas multinacionais produtoras de celulose no Uruguai. Ironicamente, a idéia de integração regional só recupera fôlego nas mãos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tido por muitos como um grande encrenqueiro. Numa reunião na semana passada em São Paulo entre ele, o presidente Lula e Kirchner, o venezuelano obteve a ratificação do Brasil e da Argentina para seu projeto de construir, até 2017, um supergasoduto de quase dez mil quilômetros que transportaria gás da Venezuela para o Brasil, o Uruguai e a Argentina. A obra, que poderá acabar com o gargalo energético da região, custará cerca de US$ 20 bilhões, a serem financiados pela PDVSA, Petrobras e por investidores privados. De quebra, Chávez – em sintonia com o Brasil – estendeu o convite à Bolívia, que é contra esse gasoduto do Cone Sul. “A incorporação da Bolívia é fundamental. Juntas, as reservas da Venezuela e da Bolívia (as duas maiores da América do Sul) tornam o projeto sustentável”, disse Chávez.

“O investimento se pagará em pouco tempo. Acho que vão sobrar recursos”, brincou ele. Chávez garantiu que o gás sairá barato para os consumidores sul-americanos, mas vendeu seu peixe na embalagem de integração regional, não se esquecendo de alfinetar os EUA. “A Venezuela está mais interessada no desenvolvimento da América do Sul”, disse. “Se levássemos em conta apenas o interesse financeiro, não estaríamos aqui em São Paulo, mas em Washington. Se a questão fosse apenas a ganância econômica, estaríamos fazendo acordo com os EUA”, disparou Chávez, o único dos “três mosqueteiros” (definição do venezuelano para a trinca formada por ele, Lula e Kirchner) que se dignou a falar com a imprensa.

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