O que está por trás da decisão de Morales de retirar a empresa brasileira do país
Máquinas paradas: o empresário Eike Batista (à esq.) retirou sua
empresa da Bolívia depois das ameaças de confisco de Evo Morales
Com cinco ministros do presidente da Bolívia, Evo Morales, à sua volta, o empresário brasileiro Eike Batista pensou no pior. “Achei que ia sair de lá preso”, disse ele, em segurança no Rio de Janeiro, a respeito da reunião travada dez dias atrás em
La Paz. Dono da EBX Siderurgica de Bolivia, empreendimento no qual já investiu
US$ 60 milhões, Eike foi explicar seus planos ao novo governo para operar a companhia sem causar desmatamento na floresta boliviana. Não deu certo. Na
terça-feira 25, o empresário anunciou que acabara de encerrar suas operações no país, amargando um prejuízo de, no mínimo, US$ 20 milhões. Motivo: declarações
do presidente Morales de que a EBX poderia ter todos os seus ativos confiscados, caso não deixasse o país imediatamente. Morales alegou falta de licença ambiental e, nacionalista, lembrou uma antiga lei que impede empresas estrangeiras de se instalarem na área de fronteira do país. Mesmo com a saída forçada, o confisco
não está descartado.
Instalada desde o ano passado na cidade de Puerto Quijarro, a 50 quilômetros da fronteira com o Brasil, a EBX iria colocar em operação nos próximos dias o primeiro de seus quatro altos-fornos. Dois já haviam sido construídos – e a questão, agora, é saber se haverá tempo de transferi-los para um novo endereço no Brasil ou no Paraguai antes que Morales e seus ministros resolvam endurecer ainda mais. Eike também desistiu de construir duas termelétricas em parceria com uma cooperativa boliviana, projeto orçado em US$ 180 milhões. “Não dá para confiar no governo boliviano e construir a usina sem a certeza de ter o gás”, descartou ele.
A EBX iria gastar US$ 30 milhões em proteção ambiental. A madeira que alimentaria os altos-fornos estaria no porcentual da vegetação que, pela lei boliviana, pode virar lavoura. Em vez de queimar a mata, os proprietários de terras venderiam a madeira à empresa. Durante a construção dos altos-fornos, a companhia empregou cerca de 900 bolivianos. Na etapa seguinte, de funcionamento, havia previsão de compra de madeiras de mais de cinco mil pequenos proprietários. Por isso, a presença da empresa na cidade obteve a simpatia de grande parte da população local, seduzida pelos empregos. Em uma manifestação de apoio à permanência da EBX, moradores seqüestraram por 13 horas três ministros de Morales. Toda a confusão ocorre às vésperas de Eike estrear no mercado de ações com a abertura do capital da MMX, empresa de sua holding. Irritado, o empresário reconhece que a Bolívia tem razões de sobra para enxergar os estrangeiros com a desconfiança de um país que amarga 500 anos de exploração predatória, mas não veste a carapuça. “Lamento que eles tenham sido espoliados, mas eu não posso pagar o preço de 500 anos de história. Nunca tirei nada do país. Nem comecei”, lembrou Eike.
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