sábado, março 14, 2009

Seguradora AIG teve prejuízo de US$ 61,7 bilhões no 4º trimestre

 

Na UTI do Tesouro desde setembro, a maior seguradora dos EUA está exposta a US$ 1,6 trilhão em derivativos, conforme afirma relatório divulgado na internet como parte da campanha por mais fundos junto ao Congresso para mantê-la à tona

Aexposição da seguradora AIG aos derivativos é de US$ 1,6 trilhão, afirma relatório divulgado na internet, às vésperas do anúncio do maior prejuízo já sofrido por uma empresa em só um trimestre, e parte de campanha para aumentar os fundos públicos para mantê-la à tona. Maior seguradora dos EUA, na UTI do Tesouro desde setembro passado, a AIG sofreu um vertiginoso prejuízo de US$ 61,7 bilhões no último trimestre de 2008. Somado às perdas anteriores, o rombo total da AIG no ano passado chegou a US$ 99 bilhões.

O Tesouro dos EUA se antecipou ao anúncio do desastre, e garantiu mais US$ 30 bilhões para manter a AIG em estado de animação suspensa – a terceira dose de bail out desde setembro. O relatório, com o logo da AIG, é apresentado como uma análise do “risco sistêmico” que resultaria da falência da seguradora, tendo sido divulgado no site “Scribd.com”, especializado em documentação de todo tipo e, no nosso caso, sua consulta foi por indicação do conhecido site norte-americano “Counterpunch.com”.

DESMANCHE

O documento adverte que o desmanche que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers seria fichinha perto do colapso final da AIG, dado as ligações do braço de “produtos financeiros” da seguradora, a AIGF (exposta a US$ 1,6 trilhão em derivativos), com 1500 instituições, entre os maiores bancos, governos, fundos soberanos, corporações e fundos de hedge, e à abrangência das suas operações no mundo inteiro. Ameaça, ainda, com uma “corrida aos bancos” no setor de seguros, que praticamente atingiria cada setor da vida americana. Também seriam golpeados os estados e municípios, já que outra subsidiária é a segunda maior seguradora de bônus emitidos por estes.

Desde o inicio do bail out, a AIG já recebeu US$ 162,5 bilhões em dinheiro público, e teve, em troca, de conceder 80% dos ativos como garantia. As ações da AIG – que até setembro passado estavam entre as 30 ‘blue chips’ do Dow Jones Industrial, de onde já foram despejadas -, agora valem minúsculos US$ 0,41. (Com três, dá para comprar uma ação do Citibank, e com quatro, uma da GM. Que portfolio).

De acordo com as agências internacionais, pelo menos um-terço desse dinheiro colocado pelo Tesouro dos EUA na AIG já foi parar direto no caixa de 20 grandes bancos, alguns deles europeus, envolvidos como contrapartes nas operações com derivativos. Cerca de US$ 50 bilhões, o que já levou alguns observadores a classificarem a AIG como uma “câmara de compensação” do bail out. Segundo o jornal inglês “Times”, citando um analista econômico, Donn Vickkrey, “os bancos europeus são dois-terços do problema”... e que haveria “um efeito dominó no mundo inteiro”.

Mas, de acordo com o executivo-chefe que assumiu o comando da AIG após o colapso de setembro, Edward Liddy, tirando o rombo de US$ 62 bilhões, a situação da seguradora “é forte como uma pedra”. ‘“O que o Fed está fazendo através da AIG é assumindo cada passo possível para manter a confiança no sistema financeiro”, filosofou. Embora, sem o repasse adicional de US$ 30 bilhões, as ações da seguradora teriam sido rebaixadas a lixo-final pelas agências de “classificação de risco”, causando nova rodada de naufrágios de derivativos.

O prejuízo recorde da AIG foi tratado com ruidosa ironia pela CNN, que elaborou uma lista do que poderia ser feito com US$ 62 bilhões. Tal como “pagar as dívidas nacionais combinadas da China, Austrália, México e Ucrânia” estimada pelo Almanaque 2008 da CIA; “comprar 46 palácios Buckingham (o palácio da rainha Elizabeth II)”; com a perda de um minuto (US$ 460.000), pagar “metade da pensão anual do ex-executivo-chefe” de outro banco falido, o RBS inglês; e trocar por notas de 1 dólar e preencher uma área do tamanho de Bagdá. Ou, ainda, comprar uma frota de quase 250 Boeing 747 Jumbos. Fazer uma fila com carros usados, de Nova Iorque a Pequim, ida e volta, com base em que um veículo usado nos EUA custa em média US$ 13.900 e mede 5 metros. Calcularam até a parte de cada norte-americano nesse latifúndio: dividindo igualmente por 303 milhões de pessoas, daria US$ 204 por cabeça para repor as perdas da AIG.

ANTONIO PIMENTA

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