sábado, março 14, 2009

Diplomacia brasileira e reunificação coreana

 

Assumirá no final de março em Pyongyang a Embaixada do Brasil na RPDC – República Popular Democrática da Coréia, o diplomata Arnaldo Carrilho, que será nosso primeiro Embaixador naquele país amigo.

Profundo conhecedor da geopolítica asiática, de sua história, de sua economia e da milenar cultura de seus povos, Arnaldo Carrilho tem também uma grande experiência política e diplomática. Aos 71 anos, já foi embaixador por vários anos em vários países da Europa como a Alemanha Oriental, em países árabes como a Arábia Saudita e em 2007 foi o representante brasileiro em Ramallah na Cisjordânia.

Em recente entrevista veiculada pelo UOL, falou sobre seus objetivos à frente dessa nova missão a ele conferida pelo presidente Lula: “Estamos abrindo agora essa embaixada por que o Brasil é hoje em dia, um país que tem uma independência internacional muito marcante. Nós não temos problemas com alianças ou parcerias políticas, somos autônomos. Pouco a pouco, com o crescimento da atividade diplomática do país a gente vai abrindo pelo mundo afora novas missões diplomáticas. O Brasil está abrindo embaixada no Azerbaijão, em mais cinco países no Caribe e acabou de abrir no Mali e na Armênia. Isso faz parte do andamento natural da presença do Brasil no mundo”, disse.

Sobre se encontrará algum problema na Coréia Popular afirmou que “há outros [países] mais fechados. Não se esqueça que há países onde não há nenhuma forma de parlamento, nem de eleições. A Coréia é simplesmente o último em que estamos abrindo uma embaixada. Não vou dizer que a Coréia do Norte é um país aberto. É outro tipo de regime. A Coréia era um reinado até 1910 quando foi ocupada pelo Japão, era um país em que o poder passava dinasticamente. Eu espero que o Brasil contribua muito para que o regime de Pyongyang se sinta mais confortável porque afinal de contas, o Brasil será o primeiro país não socialista das Américas que abrirá uma Embaixada em Pyongyang. Espero que dê uma sensação agradável ao governo da Coréia do Norte. Ter o país de mais expressão da América Latina, sobretudo da América do Sul, presente com uma missão diplomática em Pyongyang é algo relevante. Tenho a impressão de que virão outros países para estabelecer relações diplomáticas com a Coréia do Norte. Pyongyang é uma cidade que ostenta quase 50 missões diplomáticas residentes”, afirmou o Embaixador.

Inteiramente sintonizado com a política externa do governo brasileiro, com o chanceler Celso Amorim e com o presidente Lula, o embaixador brasileiro na RPDC fez importante declaração acerca de questões candentes como a relação entre a Coréia do Norte e do Sul, a reunificação e o papel do Brasil. “O Brasil sempre favorece o diálogo. O país apoiaria qualquer forma de entendimento. O Brasil é favorável à reunificação da Coréia. Nós temos uma embaixada muito ativa em Seul e eu espero corresponder no Norte a essa atividade sob o ponto de vista político. O Brasil se propõe a ver uma Coréia unificada. Aliás eu creio que seja o desejo da comunidade internacional. Ninguém gosta de países de um mesmo povo divididos. No momento [as relações entre as duas Coréias] estão um pouco deterioradas. É sempre assim, tem altos e baixos. Mas são coisas naturais de governos de um mesmo país que têm idéias diferentes”, pontuou.

Arnaldo Carrilho quer desenvolver o comércio bilateral – 380 milhões em 2008 -, quer estimular o contato com empresas brasileiras como é o caso da Sadia que já está discutindo a exportação de carnes de suínos e frangos. O Brasil tem interesse na importação de magnesita cuja produção da RPDC é a segunda do mundo. “Vamos ver o quanto a magnesita norte-coreana poderá participar do comércio Brasil-Coréia do Norte. E quanto às relações políticas elas serão desenvolvidas conforme nossas relações bilaterais acontecerem”, sublinhou.

“O papel do governo brasileiro será de desenvolver relações em todos os sentidos: econômicas e comerciais, culturais, políticas e nos fóruns multilaterais. É uma tarefa bastante extensa. Vou promover a cultura brasileira lá. O líder da Coréia do Norte, por exemplo, adora cinema e espetáculos musicais, e o Brasil tem muito a oferecer para aquele país. Inclusive penso em promover uma exposição de artistas brasileiros que já ensaiaram arte realista-socialista, como se dizia antigamente. Mas ainda não há nada programado a respeito disso”, concluiu o Embaixador brasileiro.

ROSANITA CAMPOS

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