sexta-feira, setembro 26, 2008

Síntese de países

O Mundo em síntese num ótimo esquema informações variadas de todos os países do Mundo você em com neste sítio

IBGE - Países@

Vale a pena conferir e consultar quando necessário.

A crise de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim

JOSEPH STIGLITZ

 

Para o prêmio Nobel de Economia de 2001, a crise financeira que atingiu Wall Street e os mercados financeiros de todo o mundo equivale, para o fundamentalismo de mercado, ao que foi a queda do Muro de Berlim para o comunismo. "Ela diz ao mundo que esse modelo não funciona. Esse momento assinala que as declarações do mercado financeiro em defesa da liberalização eram falsas", diz Stiglitz.

Nathan Gardels – El País

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia em 2001, sustenta que a crise de Wall Street evidencia que o modelo de fundamentalismo de mercado não funciona. Para ele, a crise que sacudiu Wall Street é para esse modelo o equivalente ao que foi a queda do Muro de Berlim para o comunismo. Stiglitz critica a complexidade dos produtos financeiros que provocaram a crise e os incentivos ao risco dos sistemas de recompensa dos executivos.
Barack Obama afirma que o naufrágio de Wall Street é a maior crise financeira desde a Grande Depressão. John McCain diz que a economia está ameaçada, mas é basicamente forte. Qual deles têm razão?
Stiglitz – Obama está muito mais próximo da verdade. Sim, os Estados Unidos tem talentos, grandes universidades e um bom setor de alta tecnologia. Mas os mercados financeiros desempenham um papel muito importante, sendo responsáveis nos últimos anos por cerca de 30% dos lucros empresariais. Os executivos dos mercados financeiros obtiveram esses lucros com o argumento de que estavam ajudando a gerir o risco e a garantir maior eficácia ao capital. Por isso, diziam, mereciam rendimentos tão altos. Ficou demonstrado que isso não é certo. A gestão que eles executaram foi muito mal. Agora, o tiro saiu pela culatra e o resto da economia pagará porque as trocas comerciais cairão devido à redução do crédito. Nenhuma economia moderna pode funcionar bem sem um setor financeiro vibrante.
Assim, o diagnóstico de Obama, quando diz que nosso setor financeiro está em estado deplorável, é correto. E se está em um estado deplorável, isso significa que nossa economia está em um estado deplorável. Ainda que não levássemos em conta a comoção financeira, mas só a dívida doméstica, nacional e federal, isso já bastaria para ver a seriedade do problema. Estamos nos afogando. Se observarmos a desigualdade, que é a maior desde a Grande Depressão, o problema é sério. Se observarmos o estancamento dos salários, o problema é sério. A maior parte do crescimento econômico dos últimos cinco anos baseava-se em uma bolha do setor imobiliário, que agora estourou. E os frutos desse crescimento não foram repartidos amplamente. Em resumo, os fundamentos não são bons.
Qual deveria ser, na sua opinião, a resposta política ao afundamento de Wall Street?
Stiglitz – Está claro que necessitamos não só voltar a regular, mas também redesenhar o sistema regulador. Durante seu reinado como chefe do Federal Reserve, no qual surgiu essa bolha hipotecária e financeira, Alan Greenspan tinha muitos instrumentos ao seu alcance para freá-la, mas não conseguiu fazer isso.
Afinal de contas, Ronald Reagan escolheu-o por sua atitude contrária à regulação. Ele substituiu a Paul Volcker no Federal Reserve, conhecido por manter a inflação sob controle. O governo Reagan não acreditava que ele fosse um “liberalizador” adequado. Por conseguinte, nosso país sofreu os efeitos de escolher como regulador supremo da economia a alguém que não acreditava na regulação. De modo que, para corrigir o problema, a primeira coisa que precisamos é de líderes políticos e responsáveis que acreditem no papel da regulação. Além disso, precisamos estabelecer um sistema novo, capaz de suportar a expansão das finanças e dos instrumentos financeiros de um modo melhor que os bancos tradicionais.
Precisamos, por exemplo, regulamentar os incentivos. Eles têm que ser pagos baseando-se nos resultados de vários anos, e não no de apenas um, porque este último modelo fomenta as apostas. As opções de compra de ações fomentam a adulteração da contabilidade e é preciso frear essa prática. Em resumo, oferecemos incentivos para que se alimentasse um mau comportamento no sistema.
Além de freios, precisamos de faixas de controle. Historicamente, todas as crises têm estado associadas a uma expansão muito rápida de determinados tipos de ativos. Se conseguimos frear esse processo, podemos impedir que as bolhas cresçam de modo descontrolado. O mundo não desapareceria se as hipotecas crescessem 10% e não 25% anualmente. Conhecemos tão bem o patrão que deveríamos fazer algo para dominá-lo. Precisamos ainda de uma comissão de segurança para os produtos financeiros, assim como temos no caso dos produtos de consumo. O setor financeiro estava inventando produtos que não geriam o risco, mas sim o produziam.
Certamente, acredito na necessidade de uma maior transparência. No entanto, desde o ponto de vista dos critérios reguladores, esses produtos eram transparentes em um sentido técnico. Mas eram tão complexos que ninguém os entendia. Mesmo que fossem tornadas públicas todas as cláusulas destes contratos, elas não trariam a nenhum mortal alguma informação útil sobre seu risco. Muita informação equivale a nenhuma informação. Neste sentido, aqueles que pedem mais revelações como solução para o problema não entendem a informação. Se alguém compra um produto, necessita de uma informação simples e básica: qual é o risco. Essa é a questão.
Os ativos hipotecários que provocaram o caos estão em mãos de bancos ou fundos soberanos da China, Japão, Europa e países do Golfo. Como essa crise os afetará?
Stiglitz – É certo. As perdas das instituições financeiras européias com as hipotecas subprime foram maiores do que as verificadas nos Estados Unidos. O fato de os EUA terem diversificado esses ativos hipotecários por todo o mundo, graças à globalização dos mercados, suavizou o impacto interno. Se não tivéssemos disseminado o risco por todo o mundo, a crise seria muito pior. Uma coisa que agora se entende, a conseqüência dessa crise, é a informação assimétrica da globalização. Na Europa, por exemplo, não se sabia muito bem que as hipotecas norte-americanas são hipotecas sem lastro: se o valor da casa baixa mais que o da hipoteca, pode-se devolver a chave ao banco e ir embora. Na Europa, a casa serve de garantia, mas o tomador do empréstimo segue endividado, aconteça o que aconteça. Este é um dos perigos da globalização: o conhecimento é local, sabe-se muito mais sobre sua própria sociedade do que sobre as outras.
Qual é então, em última análise, o impacto do naufrágio de Wall Street na globalização regida pelo mercado?
Stiglitz - O programa da globalização esteve estreitamente ligado aos fundamentalistas do mercado: a ideologia dos mercados livres e da liberalização financeira. Nesta crise, observamos que as instituições mais baseadas no mercado da economia mais baseada no mercado vieram abaixo e correram a pedir a ajuda do Estado. Todo mundo dirá agora que este é o final do fundamentalismo de mercado. Neste sentido, a crise de Wall Street é para o fundamentalismo de mercado o que a queda do Muro de Berlim foi para o comunismo: ela diz ao mundo que este modo de organização econômica é insustentável. Em resumo, dizem todos, esse modelo não funciona. Este momento assinala que as declarações do mercado financeiro em defesa da liberalização eram falsas.
A hipocrisia entre o modo pelo qual o Tesouro dos EUA, o FMI e o Banco Mundial manejaram a crise asiática de 1997 e o modo como procedem agora acentuou essa reação intelectual. Agora os asiáticos dizem: “Um momento, para nós, vocês disseram que deveríamos imitar o modelo dos Estados Unidos. Se tivéssemos seguido vosso exemplo, agora estaríamos nesta mesma desordem. Vocês, talvez, possam se permitir isso. Nós, não”.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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quarta-feira, setembro 24, 2008

EUA: 1 em cada 416 famílias perderam suas casas em agosto

 

Apenas durante o mês de agosto deste ano, uma em cada 416 famílias norte-americanas viram seus imóveis serem hipotecados. Apenas no estado da Califórnia, foram mais de 101 mil processos, 40% a mais do que em julho e 75% a mais do que em agosto de 2007.

Em meio às cifras bilionárias do atual cenário econômico, muitas vezes os dados que afetam diretamente a população (os mais pobres, principalmente) passam desapercebidos. Em artigo publicado no jornal norte-americano Workers World, o escritor e jornalista Fred Goldstein atenta para esse e outros aspectos da crise que assola o país.

Leia abaixo o texto:

O colapso capitalista

Com a ajuda governamental de US$ 85 bilhões da AIG, a gigante dos seguros, o Federal Reserve e o Departamento do Tesouro fizeram outra tentativa desesperada para sustentar uma estrutura financeira global em processo de colapso. Essa última tentativa de resgatar uma enorme firma financeira vem no mesmo rumo da ajuda de US$ 200 bilhões dada aos dois maiores bancos hipotecários do mundo, a Fannie Mae e o Freddie Mac, há apenas dez dias.

Acordos secretos enviam a conta para os trabalhadores

O presidente do Federal Reserve Bank of New York, Timothy Geithner, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, têm estado assoberbados em reuniões ininterruptas, articulando acordos. Isso tem sido efetuado em segredo, por trás das costas dos trabalhadores e das camadas médias, para quem será remetida a conta. Eles têm desenvolvido esses acordos com os mesmos tubarões dos empréstimos da alta finança cujas orgias de especulação, jogo e fraude na busca do lucro levaram à crise.

A farra especulativa da Wall Street levou a uma crise mundial realmente formidável. Ao longo dos últimos três dias, a AIG, a maior companhia seguradora do mundo, com US$ 1 bilhão em ativos, esteve a poucas horas da bancarrota.

A Lehman Brothers, um prestigiado banco de investimento com 158 anos de idade, com US$ 639 bilhões em ativos e US$ 613 bilhões em dívidas, caiu na maior bancarrota da história dos Estados Unidos.

A Merrill Lynch, outro pilar dos bancos de investimento com mais US$ 1 bilhão em ativos, conseguiu evitar a bancarrota só depois de ser engolida pelo Bank of America.

O Washington Mutual, a maior caixa econômica dos EUA, teve a classificação dos seus títulos reduzida a lixo e está encostada às cordas.

Quando a crise da bancarrota estava em desenvolvimento, na quinta-feira 11 de Setembro, Paulson disse aos banqueiros que o governo não iria intervir e que eles teriam de resolver o problema entre si próprios. Isso foi na semana passada. Agora o governo dos EUA providenciou mais US$ 85 bilhões para o salvamento dos bancos. É um sinal de crise e de fraqueza.

Apesar de o salvamento da Fannie Mae e do Freddie Mac ter dado alívio aos possuidores de bilhões de dólares de dívidas que possuíam junto aos dois bancos hipotecários, isso também colocou uma enorme tensão sobre o sistema financeiro e foi mais um sinal de fraqueza e fragilidade profunda. Novos resgates foram excluídos, disse o governo. Esse limite foi como traçar uma linha na areia.

Mas as declarações de Paulson e Geithner não tiveram impacto sobre os banqueiros. Eles buscavam os seus próprios interesse imediatos e jogaram na defesa frente ao seu próprio governo. No fim, apesar de Washington deixar a Lehman Brothers fracassar, a AIG era uma outra história. O Federal Reserve Board e o Tesouro fizeram uma meia volta humilhante e intervieram no último minuto, "temendo uma crise financeira em escala mundial" (New York Times, 17/9).

O salvamento da AIG pelo Fed é instrutivo quanto à profundidade da crise. A AIG nem sequer é um banco. Ela não é regulamentada pelo governo federal. O Fed teve de utilizar poderes de emergência para intervir, os quais são considerados necessários não só porque a AIG emite apólices de seguros para milhões de indivíduos e empresas comerciais, como também porque ela segurou mais de US$ 400 bilhões em títulos apoiados por hipotecas e outros investimentos de risco de jogadores e especuladores por todo o globo.

A AIG tomou dinheiro emprestado de muitos dos grandes bancos e jogou seus ativos a fim de fazer maiores lucros. Quando as hipotecas começavam a cair e os possuidores dos títulos apoiados por hipotecas começavam a pedir seus pagamentos dos seguros, a posição financeira da AIG se deteriorava rapidamente.

A imprudência financeira do sistema pode ser medida pelo fato de uma companhia de seguros, que é supostamente regulamentada para se manter conservadora, precisamente porque é a guardiã de fundos que devem estar disponíveis para cumprir as necessidades de emergência dos segurados, fosse livre para participar no cassino global.

A AIG opera em mais de cem países, tem 116 mil empregados — 62 mil na Ásia — e tem instalações bancárias privadas para gente rica. Ela faz corretagem de negócios em ações, administra fundos mútuos, possui 900 aviões no seu negócio de leasing e em geral alavancou seu negócio de seguros numa operação especulativa globalizada.

Crise dos trabalhadores e oprimidos é ignorada

A crise dos banqueiros produziu manchetes sensacionais, com relatos hora a hora da agonia de um punhado de milionários e bilionários na Wall Street. Mas a mídia capitalista deixou de lado o drama real da massa de hipotecas que afeta as vidas de milhões de trabalhadores.

Centenas de bilhões de dólares foram repartidos entre banqueiros que caíram numa crise em grande parte devido a empréstimos hipotecários predatórios e à revenda daquelas hipotecas no mercado capitalista global. Nenhum alívio está previsto para as vítimas da indústria hipotecária da banca.

Foi dada pouca atenção à notícia de que em agosto houve 303.879 pedidos de hipotecas — um aumento de 12% em relação ao mês anterior e um acréscimo de 27% em relação ao ano passado. Uma em cada 416 famílias nos EUA recebeu um aviso de hipoteca no mês de agosto. Só na Califórnia houve 101.714, mais de 40% em relação ao mês anterior e 75% mais do que um ano atrás.

Enquanto derrama lágrimas sobre as agruras dos banqueiros, a imprensa capitalista não apresenta manchetes acerca de um estudo recente intitulado "Estado do sonho: hipotecado", que mostrava que a crise das hipotecas resultara na maior destruição de riqueza pessoal na história das comunidades afro-americanas e latinas.

Segundo o estudo, mutuários afro-americanos perderam entre US$ 71 e US$ 92 bilhões devido aos empréstimos contraídos ao longo dos últimos oito anos. O número para a população latina, o qual é ainda mais elevado do que para a população afro-americana, mostra perdas entre os US$ 75 e os US$ 98 bilhões.

Juntamente com a crise financeira está a crise crescente da economia capitalista geral, pois a super-produção resulta em subida do desemprego. Mais de 84 mil trabalhadores perderam o emprego em agosto, elevando o total anual a mais de 605 mil. Mais de dois milhões de pessoas foram acrescentadas ao desemprego nos últimos 12 meses, elevando o total oficial a 9,4 milhões. O desemprego a longo prazo também aumenta.

O desemprego dos trabalhadores negros atingiu 10,6%, devido principalmente a perdas de emprego entre mulheres negras. O desemprego entre mães solteiras e a juventude também cresce. E esses números governamentais não incluem milhões de trabalhadores desencorajados que desistiram de procurar emprego.

Em meio à crise do crédito, foi anunciado que a produção industrial – a base do emprego e do rendimento – em agosto caiu no máximo de três anos. Houve uma diminuição de 1,1% na produção das fábricas, minas e serviços públicos. A produção automóvel caiu 12%, a maior queda numa década.

Uma coisa está clara com a presente crise: nem a classe capitalista, que possui toda a riqueza produtiva, nem o governo capitalista, que supervisiona o sistema, tem o controle da situação econômica ou financeira.

Cada medida que eles tomam para deter a crise do crédito é seguida por outra erupção de pânico. Cada vez que o mercado de ações sobe, ele rapidamente perde todos os seus ganhos e ainda mais. E por muito que os sábios declarem não haver recessão, o crescimento firme do desemprego e o declínio da produção continua, sem consideração por quaisquer dos chamados "estímulos econômicos".

Mudança na psicologia da classe dominante

A intervenção do governo capitalista na crise bancária provocou uma mudança súbita na psicologia da classe dominante pois esta observa o seu sistema a girar descontroladamente. Depois de o sistema capitalista ter ultrapassado a crise da década de 1930, os patrões nos EUA começaram a esquecer-se das razões por que o presidente Roosevelt havia tomado medidas sem precedentes para resgatar a economia. Eles começaram a desdenhar qualquer intervenção do governo nos seus assuntos.

Naturalmente, eles sempre estiveram prontos para receber esmolas sob muitas formas — subsídios, gastos militares, legislação especial, isenções fiscais, etc. Mas sentiam-se os altos e poderosos dominadores corporativos do mundo.

Intervenção do governo, dizem eles, era para a Europa e social-democratas. As classes dominantes européias haviam sido sacudidas pelos trabalhadores e pela luta de classe, pela divisão e pela guerra. Porque os dominadores europeus eram fracos e precisavam ser apoiados pelos governos capitalistas, tinham de submeter-se ao monitoramento estatal dos seus assuntos. Tal caminho, entretanto, era fortemente rejeitada pela Wall Street e os gigantes da indústria.

Esta crise de agora é uma enorme degradação para o capital financeiro estadunidense, o qual costumava dar lições a outros governos capitalista sobre os males da intervenção governamental. Subitamente, contudo, os banqueiros e os patrões estão todos unidos, desde a extrema direita até os moderados e os liberais, no aplauso ao Tesouro e ao Federal Reserve Board pela sua "oportuna" intervenção. Eles estão a submeter-se, em meio a resmungos mas com clareza, à supervisão e monitoramento do governo a fim de salvar o seu sistema do colapso.

Com esta crise, a estrutura do capitalismo estadunidense está a entrar numa nova etapa. O governo capitalista começou, numa base gradual a princípio mas talvez mais sistematicamente no futuro, a absorver os passivos e as dívidas podres dos jogadores e da oligarquia da especulação financeira. Isto pode apenas aprofundar a crise a longo prazo, tornando-a mais profunda no organismo do capitalismo dos EUA.

Isto determina que haja não só repercussões econômicas como também políticas por todo o mundo quando imperialistas rivais virem a vulnerabilidade dos dominadores nos EUA. Isto determina o enfraquecimento do imperialismo estadunidense e ao mesmo tempo torna-o mais perigoso quando ele procura sair da sua crise.

A contradição básica do capitalismo

Os democratas querem lançar culpas sobre Bush e pedem por mais regulamentação. Naturalmente os financeiros pediram ao governo para eliminar a maior parte das regulamentações, as quais datavam da Depressão, que estabeleciam restrições às suas operações de jogo. Essa desregulamentação começou com a administração Reagan e atingiu um ponto alto na administração Clinton. Por instigação do Citicorp e de Robert Rubin, que deixou o Goldman Sachs para se tornar secretário do Tesouro, o Glass-Steagall Act foi revogado em 1998, sob o patrocínio do atual conselheiro econômico de McCain, Phil Gramm. A lei proíbe aos bancos comerciais que se envolvam na banca de investimentos, subscrevam ações e operações em bolsa de valores, subscrições e outras atividades que facilitam a hiper-especulação generalizada do tipo que antecedeu a Depressão.

E naturalmente a administração Bush minou todas as tentativas de inibir a concessão de empréstimos hipotecários predatórios e deu liberdade de ação total a toda espécie de especulação não regulamentada de bilhões de dólares de jogo especulativo, a qual aumentou o risco geral no sistema financeiro global. Mas, apesar da demagogia do Partido Democrata, a administração Bush não é a causa da crise.

A intervenção do governo, a regulamentação mais forte dos monopólios e as práticas mais "prudentes" não podem ultrapassar a contradição fundamental do capitalismo: a propriedade privada dos meios de produção sociais, globalizados.

É uma contradição irreconciliável que uma minúscula minoria controle a produção da riqueza do mundo para seu próprio proveito. É uma contradição irreconciliável que este aparelho global pare de funcionar quando há uma crise de lucratividade para os patrões. E tais crises ocorrem sempre, mais cedo ou mais tarde, devido à anarquia da produção capitalista.

Nenhum capitalista sabe onde aquilo que é produzido poderá ser vendido. Mas na corrida por "fatia de mercado" para o lucro máximo, cada agrupamento capitalista é obrigado a expandir a produção.

Em simultâneo, as leis do capitalismo obrigam cada capitalista a reduzir os salários dos trabalhadores tanto quanto possível. Nas últimas três décadas, a classe capitalista criou um sistema de baixos salários que contrapõe trabalhadores uns contra outras numa base global. Isto apenas agrava e acelera a contradição do sistema do lucro.

Sob o capitalismo, a produção é anárquica e finalmente expande-se a um ponto em que os trabalhadores não podem comprar o que foi produzido a um preço que dê lucro aos patrões. Essa anarquia da produção está a ser refletida na anarquia do sistema financeira na crise atual.

Na crise atual, multimilionários no topo da sociedade capitalista podem perder parte da sua riqueza, a qual realmente existia apenas no papel, mas eles mantêm suas mansões, serviçais, limusines e Lear jets. São os trabalhadores que sentem a crise econômica.

A única saída é o caminho da resistência — como o movimento para travar hipotecas, o qual vem ganhando força por todo o país

Tradução reproduzida do Resistir.info, com adaptações ao português do Brasil

segunda-feira, setembro 22, 2008

O Curso Atlas oferecerá:

O Curso Atlas oferecerá, a partir de outubro, Módulos Intensivos por disciplina, com 15 horas-aula, para que os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira Diplomática-CACD- possam reforçar sua preparação em áreas específicas.

Os Módulos Intensivos são abertos também ao público externo e mantêm o viés pedagógico dos nossos cursos regulares. A programação se estende por novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, afim de completar o tratamento de todo o programa da concurso. As matrículas já estão abertas.

O candidato que optar por três módulos poderá participar gratuitamente de um quarto a sua escolha.

INGLÊS         6 a 10 de outubro

                - turno matutino e noturno (de acordo com a demanda)

                - 2 aulas para TPS, 2 para Técnicas de Tradução e 2 para Técnicas de Versão

- 4 aulas para Redação

                - Professora Flávia Westphalen

POLÍTICA INTERNACIONAL – Temas contemporâneos        13 a 17 de outubro

                - turno matutino

                - Professor Marcos Carra

GEOGRAFIA DO BRASIL                  20 a 24 de outubro

                - turno noturno

                - Professor Jeferson Pitol

REDAÇÃO                       20 a 24 de outubro

                - turno noturno

- Professor Maurício

-O curso está baseado na análise de espelhos de prova originais e na realização de exercícios específicos para a prova de redação do CACD. No último dia, será realizado simulado de segunda fase.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA prova de redação – 2ª fase do CACD –                20 a 24 de outubro

                - turno matutino

- Professor Maurício

- Análise e discussão das obras recomendadas para a segunda fase do CACD desde o não de 2006. Todas as obras serão apresentadas e discutidas nas 15 h do curso de acordo com o viés necessário à realização da prova de redação.

Investimento

Aluno Atlas:       R$ 150,00 por módulo

Aluno externo: R$ 300,00 por módulo (R$ 20,00 hora/aula)

INFORMAÇÕES: www.cursoatlas.com

51-30627745

informacoes@cursoatlas.com

O Povo vs Wall Street

Precisamos de uma solução urgente para consertar as falhas do sistema financeiro que estão causando a atual crise. Os governos dos Estados Unidos e Europa cobriram o prejuízo das instituições financeiras com dinheiro público e agora quem vai sair perdendo vai ser a população. O sistema se mostrou falho, colocando a estabilidade econômica do mundo todo em risco. Agora, a população global tem o direito e dever de se manifestar. Participe desta campanha que será apresentada à líderes europeus e o Congresso dos Estados Unidos. Clique no link para assinar a petição e encaminhe este email para seus amigos.

http://www.avaaz.org/po/global_finance_action/97.php?cl_tf_sign=1

Obrigado,

A equipe Avaaz

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Amig@s,

Semana passada um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Lehman Brothers, declarou falência com uma dívida de $613 milhões de dólares. Antes dele vieram abaixo a Fannie Mae e Freddie Mac as maiores corretoras EUA e a seguradora AIG. Para evitar um colapso total da economia e o pânico nas bolsas de valores, os Estados Unidos lançaram um pacote econômico astronômico. Um governo que antes defendia o mercado livre, auto-regulado, agora está intervindo com um cheque de USD$ 700 bilhões para Wall Street. Quem vai pagar a conta? Os contribuintes. O pacote econômico do governo logo vai afetar o bolso da classe média, a garantia de empregos, de moradia, poupanças e previdências sociais.

A crise já abalou a Europa, chegou na China e Ásia, e promete alcançar o resto do mundo. Devemos nós pagar pela irresponsabilidade das instituições financeiras dos Estados Unidos?

Cidadãos comuns do mundo todo estão se sentindo impotente perante as forças do mercado e a promessa de uma forte recessão. O sistema financeiro é tão complexo que poucos conseguem entender, muito menos se manifestar sobre este assunto tão importante. Mas esta semana nós conseguimos uma chance única de agir e demandar maiores regulamentações para o mercado financeiro. Nossa campanha será apresentada para líderes Europeus e pretendemos entregá-la também para o Congresso dos Estados Unidos e o próximo presidente americano. Para apresentar está petição à líderes globais, precisamos de um grande número de assinaturas, portanto clique no link para assinar a petição:

http://www.avaaz.org/po/global_finance_action/?cl=129697843&v=2168

O mercado financeiro global é pouco compreensível para um leigo em economia, as regras que o governam estão cheias de pequenas falhas e brechas. Nas últimas décadas as instituições financeiras se aproveitaram de uma política de mercado livre com uma regulamentação mínima. Quando o mercado finalmente ruiu, eles ficaram com uma dívida enorme que agora será paga com dinheiro público. Até os neoliberais mais radicais que pregam o livre comércio estão pedindo regulamentações mais fortes. A segurança econômica da população não pode mais ser colocada em risco, o mercado financeiro precisa de regulamentações mais rígidos que os responsabilizem pelas suas ações.

Entre os que apóiam um mercado mais monitorado está o Ex-Primeiro Ministro da Dinamarca, Poul Rasmussen. Ele se aliou à Avaaz para entregar nossa petição para um encontro de líderes europeus onde uma proposta de reformulação do mercado financeiro será discutida. Segundo Rasmussen, é importante demonstrar a mobilização da sociedade civil global em resposta à crise, mostrando para líderes europeus e globais que a opinião pública quer mais transparência e regulamentação: "Uma reforma do mercado financeiro é um passo fundamental em direção à uma globalização mais justa. Sua voz pode contribuir para isso".

O mercado financeiro global está interligado e todos serão afetados, desde o operário até o alto executivo, da Ásia à América do Sul. Os governantes ainda estão em choque sem dar boas explicações nem apresentar soluções. Precisamos unir nossas vozes agora, enquanto o futuro ainda está sendo definido. Assine a petição no link abaixo e encaminhe este email para seus amigos e familiares:

http://www.avaaz.org/po/global_finance_action/?cl=129697843&v=2168

Com esperança e determinação,

Paul, Graziela, Ricken, Ben, Iain, Veronique, Brett, Pascal, Milena e toda a equipe Avaaz

Leia mais:

Congresso dos EUA estuda resgate financeiro de 700.000 bilhões de dólares - AFP:
http://afp.google.com/article/ALeqM5iBvQKdiCJ63E2JFV-SUxzFQkw9Sg

Crise vai durar pelo menos até 2009 - Estado de São Paulo:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080921/not_imp245517,0.php

Entenda a crise financeira que atinge a economia dos EUA - Folha Online: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u447052.shtml



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domingo, setembro 21, 2008

Quarta Frota: mensagem de guerra




 

 

Quarta Frota: mensagem de guerra


AUTOR:  Raúl ZIBECHI

Traduzido por  Omar L. de Barros Filho


Em primeiro de julho, a marinha dos Estados Unidos reativará a Quarta Frota, com a intenção de "combater o terrorismo", as "atividades ilícitas" e enviar uma "mensagem" para a Venezuela e ao resto da região. De parte de Washington, trata-se da primeira reação de longo alcance depois do ataque ao acampamento das FARC, em primeiro de março passado, o que estremeceu o tabuleiro regional e colocou em evidência a debilidade da superpotência e o isolamento de seus aliados na região.

O comunicado do Pentágono, emitido em 25 de abril, argumenta que a reativação da Quarta Frota – criada em 1943 para enfrentar a ameaça dos submarinos nazistas no Caribe e América do Sul, e dissolvida em 1950 – servirá para "demonstrar o compromisso dos Estados Unidos com seus sócios regionais".

Image:Thumb_KERNAN.jpgA frota será comandada pelo contra-almirante Joseph D. Kernan, atual chefe do Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval, terá sua base em Mayport, Flórida, e dependerá do Comando Sul, com sede em Miami. Onze navios, entre eles um porta-aviões e um submarino nuclear, conformarão o núcleo inicial da frota.

A decisão do Pentágono ocorre em um momento de particular tensão na América do Sul e de extrema volatilidade nos mercados de commodities. Não se deve esquecer que um terço das importações de petróleo dos Estados Unidos provém da Venezuela, México e Equador, o que converte a região em um espaço estratégico para manter a supremacia econômica e militar do principal país do planeta.

Em segundo lugar, o império vem colhendo uma sucessão de derrotas na região. Entre as mais relevantes: o triunfo de Fernando Lugo no Paraguai, a iminente criação do Conselho Sul-americano de Defesa requerido pelo Brasil e a Venezuela, a garantia ao processo liderado por Rafael Correa no Equador, que supõe reveses para as multinacionais petrolíferas e mineiras, e a consolidação da independência econômica de países como o Brasil, que apontam para o fortalecimento de um Mercosul cada vez menos dependente das economias do primeiro mundo.

A tudo isso devem-se somar, em terceiro lugar, as fortes tendências de instabilidade na região, como mostram as recentes revoltas no Haiti, a potente disputa pela hegemonia na Bolívia e a ofensiva de setores do grande empresariado contra o governo de Cristina Fernández, na Argentina.

Diante deste panorama, no qual a instabilidade tende a ser mais aguda frente à feroz especulação do capital, que está provocando altas espetaculares dos preços dos alimentos, a reativação da Quarta Frota representa uma aposta em um tipo de intervencionismo de caráter aeronaval e não terrestre, como reconhece o analista conservador argentino Rosendo Fraga (A Quarta Frota e os submarinos de Chávez, 28 de abril, em Nueva Mayoría).

Com efeito, por estar atolado no Iraque e Afeganistão, o Pentágono não dispõe de forças terrestres para "entreter" em outros teatros de operações. Daí a aposta no fortalecimento, através de meios aéreos e navais, para controlar uma região que cada vez mais se torna menos amável.

A mobilização da Quarta Frota, porém, não é só uma advertência, mas, sobretudo, uma ameaça. Embora Hugo Chávez tenha manifestado que "o velho império já não assusta", o que é correto no cenário geral, Washington, concretamente, segue sendo capaz de fabricar crises, como o está demonstrando estes dias na Bolívia. No país andino está se encenando uma estratégia bem planejada que pretende aprender com os "erros" cometidos na Venezuela, onde o fracasso do golpe de Estado de abril de 2002 foi a base da radicalização do processo.

Na Bolívia, ao contrário, implementa-se uma estratégia menos estridente mas tão destrutiva como o golpismo, lastreada em uma demanda de autonomia que, na realidade, faz parte do projeto estratégico de Evo Morales, mas que é utilizada com fins opostos: em vez de empoderar os movimentos sociais e a sociedade civil, busca blindar os interesses da oligarquia crucenha e frear o processo de mudanças iniciado pelo governo de La Paz. O resultado, ainda no melhor dos cenários, é a fabricação de um processo que pode arrastar o governo de Evo para uma crise de Estado, forçando-o a negociar na baixa o programa de transformações, ou provocando sua renúncia para evitar uma guerra ou a divisão do país.

Neste ponto, vale a pena levar em consideração as reflexões do geógrafo norte-americano David Harvey, que sustenta que o neoliberalismo se caracteriza pelo que denomina como "acumulação por despojo", ou seja, pela apropriação de bens comuns, empresas e até estados. Em um recente artigo (O neoliberalismo como destruição criativa), Harvey argumenta que para "restaurar o poder de classe" – ameaçado por rebeliões a partir dos anos 60 – fabricam-se crises para poder impor o receituário neoliberal. Essas crises podem assumir formas muito distintas: o golpe de Estado, como no Chile em 1973; a invasão, como no Iraque; ou a ameaça de bancarrota, como foi feito com a cidade de Nova York, em 1975, para derrotar os sindicatos municipais.

O certo é que a acumulação por despojo não pode ser feita sem violência, material ou simbólica, ou ambas, em um processo totalmente antidemocrático de imposição vertical de um modelo de sociedade. Já não se trata somente de defender os privilégios de uma classe social, como aconteceu nos 60 e 70 por meio de golpes de Estado em toda a região. Digamos que aquela era uma tática "defensiva" dos de cima para manter seus privilégios. Agora, as coisas são inteiramente diferentes: busca-se remodelar o mapa da região, e do mundo, a favor das multinacionais e do império, deslocando populações inteiras de onde há riquezas naturais ou lá onde o capital busca terras para produzir commodities mediante monoculturas. E, para isso, varrer com corrupção ou à força os governantes incomodados. A Quarta Frota é mais uma peça dessa engrenagem.




Fonte: CubaDebate

Artigo original publicado em 8/5/2008


Tradução redigida em português do

Sobre o autor

Omar L. de Barros Filho é editor de ViaPolítica e membro de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Esta tradução pode ser reproduzida livremente na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como a menção ao autor, aos tradutores, aos revisores e à fonte.

URL deste artigo em Tlaxcala:
http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=5221&lg=po


 

 

 

 

 

 




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Profº Jeferson Pitol Righetto
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21 de setembro é Dia Internacional contra a Monocultura de Árvores

Já está disponível a versão em português do vídeo "Montanhas de papel, montanhas de injustiça", que documenta os impactos da indústria da celulose e o papel. Produzido pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM), o vídeo de 11 minutos é uma ferramenta a mais no contexto das atividades do dia 21 de setembro, Dia Internacional contra as Monoculturas de Árvores, criado para gerar consciência sobre o consumo desmedido de papel e sobre as lutas locais das comunidades que enfrentam as monoculturas de árvores e as plantas de celulose no Sul. A Amigos da Terra Internacional, a Global Forest Coalition e o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais concordaram em juntar forças para, nessa data, despertar a consciência de todos a respeito dos problemas sociais e ambientais decorrentes da expansão de tais plantações. Veja o vídeo abaixo:



Montanhas de papel. Crescente Injustiça from WRM on Vimeo.

Um dos documentos da campanha justifica assim a escolha de um dia internacional para protestar contra a monocultura de árvores:

A data coincide com o Dia Internacional da Paz proclamado pela ONU, que é justamente o que as comunidades afetadas pelas plantações desejam: paz para viverem em harmonia com a natureza e com outros seres humanos. As plantações de árvores vêm destruindo essa paz, e a necessidade de colocar essa questão em um dia específico em nível internacional provém de várias questões: A primeira e mais importante é que muitas pessoas- nos países do Sul e do Norte- desconhecem completamente os impactos sociais e ambientais decorrentes das monoculturas de árvores em grande escala e acreditam que uma plantação de árvores é sempre positiva. Também desconhecem o fato de essas plantações não terem como objetivo a melhora dos meios de vida das comunidades locais, e sim a satisfação do consumo esbanjador nos países do Norte.



Sent: Saturday, September 20, 2008 10:25 PM
Subject: 21 de setembro é Dia Internacional contra a Monocultura de Árvores


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quinta-feira, setembro 18, 2008

Paulo Nogueira Batista Jr: Crepúsculo dos ídolos

 

Caro leitor, estou perplexo. Não sei por onde começar. O desastre financeiro aqui nos EUA é de proporções impressionantes. Nunca vi nada igual em minha vida. E olhe, leitor, posso lhe assegurar que já vi e vivi muita coisa: a crise da dívida externa dos anos 80, as crises cambiais da década de 90, entre muitos outros episódios.

Por Paulo Nogueira Batista Jr*

Mas a atual crise é muito diferente desses episódios. Ela tem como epicentro o sistema financeiro dos EUA – o maior, o mais sofisticado e, até recentemente, o mais respeitado do mundo. Na década de 90, as crises tinham origem na periferia da economia mundial, em lugares como México, Tailândia ou Rússia. Agora, a maior economia do mundo é o palco de acontecimentos tenebrosos.

A confiança nos EUA e, em especial, nas suas instituições financeiras foi profundamente abalada. Depois do que aconteceu com Bear Stearns, Fannie Mae, Freddie Mac, Lehman Brothers, Merrill Lynch, AIG – todas elas instituições de tradição e credibilidade –, ninguém acredita mais em ninguém.

A tempestade financeira parece não ter fim. Os preços dos imóveis continuam caindo. O sistema financeiro ainda tem muitas bandas podres, não só nos EUA como também na Europa Ocidental. Outras instituições de porte e renome devem falir ou precisar de socorro oficial.

Há uma certa ironia na situação atual. Um governo comprometido com o livre mercado, avesso à regulação financeira e à participação do Estado na economia, está sendo forçado a praticar uma das maiores intervenções da história. Na prática, grande parte do sistema financeiro está sendo nacionalizada.

Aliás, a aversão à regulação do sistema financeiro foi um dos fatores que contribuíram para o acúmulo de graves distorções e vulnerabilidades. É provável que um dos resultados da crise venha a ser o fortalecimento da regulação e a supervisão não apenas dos bancos, mas de um conjunto maior de agentes financeiros. Após a crise, o sistema financeiro será provavelmente menor e menos livre do que foi até agora.

O Tesouro e o BC americanos enfrentam um dilema que é clássico, mas que raramente se apresenta de forma tão aguda. Por um lado, o governo precisa socorrer as instituições de grande porte para fazer face ao chamado risco sistêmico, isto é, o risco de que o colapso de uma grande firma leve a uma destrutiva reação em cadeia dentro do sistema financeiro. Por outro, essas intervenções costumam ter um custo elevado para as contas públicas e, em última análise, para o contribuinte.

Além disso, elas podem envolver um "risco moral", isto é, solapar a disciplina no mercado e estimular comportamentos arriscados.

Em situações de extrema instabilidade, como a atual, o risco sistêmico tende a ganhar precedência em relação ao custo fiscal e ao "risco moral". Porém, no fim de semana passado, o governo americano tomou uma decisão muito arriscada: resolveu permitir o colapso do Lehman Brothers, um dos maiores e mais tradicionais bancos de investimento dos EUA. Alguns afoitos se aventuraram a celebrar a vitória das preocupações com o "risco moral".

Bem. A hegemonia do "risco moral" não durou 48 horas. O colapso do Lehman desencadeou um pandemônio nos mercados. No final da terça-feira, o Fed teve que anunciar uma intervenção muito maior do que teria sido a do Lehman: US$ 85 bilhões para salvar uma das maiores seguradoras do mundo -a AIG. Não obstante, os mercados ainda estão extremamente nervosos.

A crise continua.

* Paulo Nogueira Batista Jr é economista e diretor-executivo do FMI

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo

ONU: há quase um bilhão de famintos no planeta

 

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques Diouf, revelou nesta quarta-feira (17/09) no Parlamento da Itália que o número de famintos no mundo é de 925 milhões de pessoas.

"O número de pessoas famintas antes do aumento do preço dos alimentos em 2007 era de 850 milhões. Apenas este ano aumentou em 75 milhões, por isto alcançou o total de 925 milhões", disse Diouf.

O diretor-geral da FAO afirmou isto em discurso nas Comissões de Agricultura e de Assuntos Exteriores do Senado italiano, onde declarou que para enfrentar a situação são necessários US$ 30 bilhões anuais.

Para Diouf, os US$ 30 bilhões terão de ser investidos para dobrar a produção de alimentos e eliminar a fome. Esse volume de investimentos é "modesto", em comparação aos mais de US$ 100 bilhões em subsídios gastos no mundo por ano ou os US$ 1,3 trilhão de gastos em armas anualmente, segundo Diouf.

Para o diplomata senegalês trata-se de uma "cifra modesta" caso se considere que países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) destinam US$ 376 bilhões para sustentar seu setor agrícola.

Também afirmou que após o aumento de 12% do preço dos alimentos entre 2005 e 2006 e de 24% em 2007, o índice da FAO registrou crescimento de 50% nos sete primeiros meses deste ano.

O diretor-geral da FAO reiterou que as previsões indicam que, mesmo que a produção de cereais no mundo melhore, os preços se manterão estáveis nos próximos anos e a crise dos alimentos continuará nos países pobres.

Se a atual tendência foi mantida, Diouf alerta que a meta de reduzir a fome pela metade apenas será alcançada em 150 anos

Fome na Europa

A Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia) propôs nesta quarta-feira (17)  aumentar em dois terços, para 500 milhões de euros, o orçamento anual para os programas de ajuda à repartição de alimentos entre as pessoas que vivem em condições miseráveis do bloco europeu.

O Executivo comunitário apresentou uma proposta com a qual pretende revisar e ampliar os planos atuais com os quais a UE custeia a distribuição de alimentos, diante da atual crise de preços, que agravou o problema da falta de comida entre as classes mais desfavorecidas.

Atualmente, esses programas de distribuição de alimentos contam com uma verba de 300 milhões de euros anuais. Na proposta, a CE pretende elevar para 500 milhões o orçamento anual em 2009.

Segundo a CE, 43 milhões de cidadãos estão em risco de "pobreza alimentícia" porque não podem arcar com os custos de um prato de comida com carne ou pescado a cada dois dias.

A comissária de Agricultura européia, Mariann Fischer Boel, declarou em coletiva de imprensa que a proposta, além de aumentar os fundos, amplia o número de produtos que podem ser doados e facilita o abastecimento de alimentos para os mais necessitados.

Da redação, com agências

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=43521

A grande questão: que foi o New Deal? e tem a ver com hoje?

 

O articulista Rupert Cornwell procura comparar didaticamente a crise atual com a Grande Depressão dos anos 30 nos Estados Unidos. Arrisca a conclusão de que "um novo New Deal é garantido" – seja com Barack Obama ou John McCain. No final, pergunta: "Então estamos numa outra Grande Depressão?" – e dá três respostas que "sim" e outras três que "não". Confira o texto, publicado no diário britânico The Independent.


Os gráficos ilustram o artigo original

Por que perguntamos isto agora?

A convulsão econômico-financeira em curso tem sigo crescentemente vinculada com a crise que começou com a quebra (crash) de Wall Street em 1929, pavimentando o terreno para a Grande Depressão dos anos 30. O colapso, a mais profunda e prolongada recessão econômica dos tempos modernos, prolongou-se pela maior parte da década.

A resposta de Franklin Delano Roosevelt (ou FDR), que se tornou presidente dos Estados Unidos em 1933, foi o New Deal ("Novo Acordo", ou "Novo Trato"). Mas a economia americana não se recuperou realmente até a entrada do país na 2ª Guerra Mundial.

O que era o New Deal?

O New Deal é o nome abreviado de uma montanha de programas governamentais introduzidos por Roosevelt entre 1933 e 1938. O termo em si tem origem no discurso de FDR ao aceitar a candidatura na Convenção Democrata de 1932 em Chicago. Ali ele prometeu "um novo acordo para o povo americano".

As muitas medidas incluíram o apoio à – e a reforma da  – indústria bancária em colapso, uma nova agência reguladora das bolsas, movimentos para sustentar salários e preços, a criação de programas massivos de empregos públicos e – talvez a mais importante de todas – o lançamento da Seguridade Social.

Tomadas em conjunto, as medidas não só constituíram um "novo acordo" para ajudar o homem da rua nos EUA. Elas também iniciaram uma nova era de ativismo governamental, em termos tanto de intervenção como de regulação econômica. Muitos programas do New Deal ainda existem, como parte de uma rede de salvaguardas que nem os direitistas mais laissez faire (termo em francês no original; numa tradição livre, ultraliberais) dos EUA ousariam tocar.

Por que ele foi implantado?

O afundamento econômico dos EUA e outros países no início dos anos 30 seria quase impossível de se imaginar hoje. Uma recessão de algum tempo seria inevitável depois do estouro da bolsa especulativa na quebra de 1929 (causada por uma excessiva elevação dos preços das ações, e não dos imóveis, como em 2000-2006).

Mas os tempos de maus negócios foram muito piorados por uma guerra comercial internacional do tipo olho-por-olho, iniciada pelo infame Smoot-Hawley Act de 1930, elevando as tarifas de importação americanas, e pelo fracasso do Federal Reserve, o banco central dos EUA, em bombear dinheiro no sistema para prevenir o pânico e a fuga dos bancos. Quando FDR tomou posse, a taxa de desemprego nos EUA estava em torno de 25%, o setor agrícola estava em ruínas e a produtividade industrial era 33% menor que antes do crash. Era preciso tomar medidas drásticas para restaurar a confiança, numa escala que só o governo poderia proporcionar.

Há semelhanças políticas com 2008?

Nos Estados Unidos elas abundam. Então, como agora, uma longa era de domínio republicano estava chegando ao fim.  Mesmo que John McCain abocanhe a vitória em novembro, isso não alterará o fato de que o movimento conservador que assumiu os controles com a eleição de Ronald Reagan em 1980 perdeu sua força.

Em 1932, a esmagadora derrota de Herbert Hoover por Roosevelt também sinalizou o fim de um longo período de ascendência republicana. Hoje os astros também se alinham a favor dos democratas (embora saber se o país está pronto para Barack Obama seja uma questão completamente distinta).

George W. Bush foi sarcasticamente apelidado "George Herbert Hoover Bush". A América está pendendo para a esquerda, e a governança volta a estar na moda. A derrocada em Wall Street cimentou um amplo convencimento de que o capitalismo do livre-mercado precisa de rédeas. Tal como em 1932, o pêndulo de 2008 está oscilando outra vez rumo a maior regulação e intervenção.

E o que dizer de semelhanças econômicas?

Até onde se pode conceber, a atual convulsão pode resultar numa segunda Grande Depressão. Mas embora a história e as crises econômicas do passado proporcionem lições que podemos ignorar ou não, elas nunca se repetem tal como o foram.

Os tempos atuais são dolorosos, mas não no nível de 1932 (ao menos por enquanto). A economia dos EUA, que cresceu 3,3% no segundo trimestre do ano, tecnicamente ainda não está sequer em recessão. O desemprego encontra-se em 6%, não 25%, e a produtividade industrial caiu 1% em 2007, não 33%.

Nos anos 30, a crise era composta por preços em queda, enquanto o governo tentava equilibrar seus orçamentos com medidas deflacionárias mesmo quando a economia estava se contraindo. Hoje, a deflação não está no horizonte; na verdade, a queda nos preços das commodities e produtos agrícolas tornou-se um alívio e não uma ameaça. O problema não é o de falta de dinheiro na economia como um todo, mas o da relutância dos bancos em emprestar dinheiro exceto para os mais confiáveis tomadores.

Então aprendemos algo com o passado?

Com certeza. Nos anos 30, o Smoot-Hawley Act impôs uma guerra comercial por cima de um período de maus negócios. Apesar do enguiço da Rodada de Doha sobre a liberalização do comércio, e do generalizado criticismo face à globalização, há hoje um escasso risco de um protecionismo tão radical.

Entretanto, Ben Bernanke, o atual presidente do Federal Reserve e ex-professor na Universidade de Princeton, é um estudioso de muitos anos da Grande Depressão. Ele criticou publicamente o comportamento do Fed na época, e não repetirá os mesmos erros. Ao deixar o banco Lehman Brothers vir abaixo, o governo dos EUA sinalizou que o sistema bancário precisa se purgar da toxina das hipotecas de má qualidade. Porém com seus movimentos para injetar liquidez, o banco central sinalizou que não permitirá que o próprio sistema venha abaixo.

Então os EUA podem passar sem um New Deal?

Não necessariamente. Tudo depende da extensão em que a crise atingir o homem da rua. Tudo indica que os EUA, como a Inglaterra, estão resvalando para a recessão. No cenário mais favorável, o crescimento será retomado em algum ponto de 2009.
Nos EUA, isso ocorrerá quando os preços dos imóveis baixarem e se estabilizarem, e os bancos voltarem a ter confiança em emprestar o dinheiro que agora estão acumulando para se protegerem da tempestade. Neste caso, com os mercados de crédito voltando ao normal, o mau tempo terá durado relativamente pouco.

Porém se a recessão perdurar, o clamor por programas do estilo New Deal vai crescer. Na verdade alguns já estão reivindicando que o governo use a oportunidade para estimular os gastos na arruinada infraestrutura pública dos EUA – rodovias, pontes, ferrovias e por aí vai – para criar novos empregos e bombear outra vez energia nos negócios.

O que McCain e Obama estão dizendo?

Inevitavelmente, eles discordam sobre a crise. Para John McCain, a bagunça foi causada pelos gulosos e descontrolados bancos e companhias hipotecárias. Para Obama e os democratas, a crise é uma ata de acusação contra toda uma filosofia econômica republicana que só olhou para os ricos e cegamente insistiu que o mercado faria o melhor.

Porém eles concordam em uma coisa: a necessidade de mais regulação, para não deixar que as coisas se repitam. Neste sentido pelo menos, qualquer que seja a gravidade dos tempos ruins, um novo New Deal é garantido.

Então estamos numa outra Grande Depressão?

Sim...

• Os bancos podem ter dinheiro, mas quem os fará emprestá-lo?

• A globalização financeira garante que a crise se alastrará, façam o que fizerem os países.

• Esta bolha passou 20 anos se gestando, duas vezes mais que a que estourou em 1929.

Não...

• A crise na economia real não é nem de perto tão severa. Os EUA ainda estão crescendo.

• Os reguladores aprenderam suas lições e não farão os mesmos erros dos anos 30.

• A economia mundial está menos centrada nos EUA, o que reduz o risco de contágio.

Fonte: The Independent

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=43550

quarta-feira, setembro 17, 2008

A IMPORTÂNCIA DE UMA DEFINIÇÃO DE TERRORISMO

 

Existe uma divergência notória da comunidade internacional em relação à definição de terrorismo. O que é ou não é terrorismo tem sido uma das grandes questões com que os principais atores políticos internacionais se têm debatido. Não há ainda nenhuma definição unanimemente aceite pela comunidade internacional. Pelo contrário, várias definições coexistem e o consenso parece longe de ser alcançado. Nós, os ocidentais pecamos freqüentemente pelo discurso hegemônico sobre terrorismo. Temos a tendência de assumir que o que fazemos é contra-terrorismo, algo não desejável, mas necessário para atingir um bem maior. Pelo contrário, o que “eles”, os terroristas, fazem é abominável e injustificável. Os “nossos” erros são considerados de caráter excepcional, os erros “deles” são vistos como intencionais e intrínsecos à sua própria natureza. Por outras palavras, ”eles” fazem reféns, “nós” detenções.

Torna-se extremamente urgente a criação de uma definição de terrorismo aceite pela comunidade internacional de forma a reduzir as tensões entre as nações e resolver as crises internacionais. A falta da tal definição, principalmente no seio das Nações Unidas, dificulta os esforços internacionais contra esta ameaça. Na base da divergência sobre a formulação de uma definição de terrorismo estão dois pontos de vista que, embora parecendo teoricamente complementares, na prática são irreconciliáveis. Para uns a proteção do Estado e dos seus valores democráticos está no centro do debate, para outros, o mais importante é a não opressão dos designados “ freedom fighters ”. O que este artigo pretende é dar um contributo para a definição de terrorismo, distinguindo-o de outras formas de violência.

Há autores que definem terrorismo pelo Efeito produzido. É fácil de medir esta variável, mas no entanto um ladrão de bancos não é, geralmente, considerado terrorista se a sua ação não contiver um objetivo político. Definir terrorismo através do seu Método parece simples também, mas será que um sniper americano que faz uso de um método terrorista, é considerado terrorista? A Intenção, dizem alguns, também deve ser equacionada. É difícil estabelecer um ato como sendo terrorista baseado exclusivamente na intenção, mas é precisamente isso que distingue um ladrão de bancos terrorista, que atua com um objetivo político, de outro ladrão de bancos, que vulgarmente atua com objetivos econômicos. Outros acrescentam que se pode definir uma ação terrorista pelo Contexto , ou seja, que uma definição deve refletir a percepção popular de que o terrorismo usado durante uma luta pela libertação contra uma ocupação opressiva é mais justificável do que quando usado numa luta contra um “justo” ocupador. Todas estas nuances tornam a definição de uma definição de terrorismo muito relativa.

Terrorismo também não é guerrilha. Primeiro, terrorismo é, geralmente, materializado, num local calmo, ao contrário da guerrilha que se associa geralmente ao ambiente de guerra. Segundo, o alvo do terrorismo são não-combatentes ao contrário da guerrilha em que o alvo são combatentes. Terceiro, o número de baixas resultantes do terrorismo tem por base razões político-psicológicas, ao contrário da guerrilha, em que as razões são político-militares. Quarto, o terrorismo é normalmente materializado num ambiente urbano, enquanto que a guerrilha se associa mais ao ambiente rural. Quinto, enquanto que guerrilha se verifica em unidades geográficas e territoriais bem definidas, no terrorismo isso não se verifica, podendo ocorrer em áreas territoriais e geográficas difusas e previamente indefinidas. Sexto, freqüentemente a organização que está por trás da atividade terrorista não é visível, é quase sempre feita num underground level , enquanto que a organização das atividades de guerrilha é geralmente bem visível. Sétimo, o terrorismo opera a partir de pequenas células ao contrário da guerrilha, em que há um grupo de dimensão considerável. Oitavo, enquanto que a guerrilha faz, normalmente, parte de um movimento popular de grandes dimensões, o terrorismo não encontra tanta base de apoio popular. Nono e último, o número de baixas na guerrilha é significativamente maior que no terrorismo: Vietnam/Afeganistão: 1 milhão; 11 de Setembro: aproximadamente 3337.

Terrorismo também é diferente de genocídio. Enquanto que no genocídio o alvo é a totalidade de um dado grupo, sendo o objetivo a sua completa extinção, o terrorismo não tem como alvo o todo. Ou seja, no terrorismo o alvo é uma terceira parte envolvida, para além das próprias vitimas que são instrumentalizadas para atingir essa tal terceira parte em conflito, enquanto que no genocídio o alvo é as próprias vítimas, não há uma terceira parte a influenciar.

O que distingue atos terroristas de crime, insanidade ou outras formas de guerra, é que os atos terroristas são geralmente motivados politicamente, fazem parte de uma estratégia, são muito dramáticos, as vítimas não são combatentes, e essas mesmas vítimas têm o “valor” estratégico de direcionar a mensagem para uma terceira parte.

Por fim, o famoso chavão “one man"s terrorist is another man"s freedom fighter” é falsa. Um indivíduo pode ser só uma coisa ou ambas. “Freedom fighting” é definido com referência a um objetivo, terrorismo refere-se a um método. Porque terrorismo é um método, apesar de alguns o terem elevado a ideologia, e porque Estados e entidades não estatais usam terrorismo, parece mais correto falar em métodos terroristas do que em movimentos terroristas. Sendo assim, definindo por oposição ao outro só serve para retirar legitimidade à noção de “ freedom fighting ” e para complicar deliberações políticas. Exemplos de ações de “ freedom fighting ” são a primeira intifada Palestina; a luta Indiana pela independência ou o movimento pelos direitos civis nos EUA.

Estabelecidas as devidas distinções, pode definir-se terrorismo como um método premeditado, politicamente motivado, comunicador de violência ou uma ameaça de violência contra não-combatentes em que as mortes das vítimas têm um valor mais psicológico do que estratégico-funcional e que procura influenciar uma terceira parte, geralmente a parte que dirige a comunidade que é alvo das ações. Em suma, e para ilustrar melhor esta definição de terrorismo acima mencionada, vejamos alguns casos práticos. Não é terrorismo: o assassinato de J.F. Kennedy; massacres em escolas; assassinatos de oficiais espanhóis pela ETA; ataque suicida do Hezbollah contra os marines norte-americanos ( grey area - se esses oficiais estiverem a dormir ou não estiverem ao serviço já pode ser considerado terrorismo); a operação militar americana no Afeganistão. É terrorismo: assassinatos de banqueiros pela RAF (outra grey area – se os banqueiros são vistos como oficiais do sistema capitalista-imperialista não é terrorismo); castigo coletivo das forças israelitas aos Palestinos; os bombardeamentos aliados em Dresden ou Hiroshima; treino americano aos Contras com o objetivo de aterrorizar a população de Nicarágua.

Ana Manuel Ferreira Malheiro de Magalhães,
Jornal Defesa, Portugal

Desequilíbrios estruturais do capitalismo atual

 

A atual crise econômico-financeira internacional se insere no marco de um ciclo longo recessivo, do qual o capitalismo não logrou sair desde seu início, em meados da década de setenta do século passado. Sem essa inserção, fica difícil a apreensão do caráter dessa crise, das conseqüências que pode produzir e do cenário que deve surgir depois dela.

Leia mais..... no Blog do Emir (Sader) - Carta Maior

CRISE NO SISTEMA FINANCEIRO

 

A falência do quarto maior banco dos

Estados Unidos

O Lehman Brothers declarou falência nesta segunda-feira, provocando quedas nas bolsas de valores de todo o mundo. Duramente atingido pela crise no mercado imobiliário dos EUA, somente na semana passada, o banco perdeu mais de 77% de seu valor de mercado. Grupo de dez grandes bancos anuncia constituição de fundo de emergência.

Redação - Carta Maior

Data: 15/09/2008

O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos, declarou falência nesta segunda feira. Simultaneamente, outro dos maiores bancos dos EUA, o Merrill Lynch foi comprado pelo Banco da América por cerca de 50 mil milhões de dólares. Os dois anúncios tiveram
grande efeito nas bolsas de todo o mundo, que registraram queda.
O Lehman Brothers mantém negócios com os principais bancos do mundo e sua falência deverá causar prejuízos a todas essas instituições. Somente na semana passada, o banco perdeu mais de 77% de seu valor de mercado. Entre março e agosto deste ano, perdeu US$ 6,7 bilhões.
Só no terceiro trimestre deste ano, o Lehman Brothers perdeu 3,9 mil milhões de dólares, na desdobramento da crise do mercado imobiliário dos Estados Unidos. Durante o fim-de-semana, outros bancos tentaram comprar o Lehman Brothers, primeiro o britânico Barclays e depois o Banco da América. Ambas as tentativas fracassaram porque o Tesouro dos EUA se negou a dar condições de apoio semelhantes às que deu ao JP Morgan em março passado quando este adquiriu o Bear Stearns. O secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Henry Paulson alegou que tal apoio faria com que todos os bancos dos EUA em condições semelhantes solicitassem o mesmo apoio.
O Banco da América decidiu então comprar o Merryl Linch, o terceiro banco de investimento dos EUA, que desde o início da crise do mercado imobiliário perdeu 52 mil milhões de dólares.
O Federal Reserve (banco central dos EUA), anunciou no domingo um conjunto de novas medidas para ajudar o sistema financeiro, nomeadamente a ampliação dos mecanismos para a concessão de empréstimos.
Um grupo de 10 bancos, dos maiores de todo o mundo, anunciou a constituição de um fundo de 70 bilhões de dólares para fazer frente às necessidades de crédito. Cada um desses bancos poderá receber uma injecção de liquidez até o máximo de um terço do valor total do fundo. Os bancos que constituíram este fundo, que incluem Banco da América, Barclays, Deutsche Bank, UBS, JPMorgan e Citigroup, indicaram que outros bancos poderão participar na iniciativa e ampliar o valor do fundo.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaImprimir.cfm?materia_id=15236

terça-feira, setembro 09, 2008

Concurso de Admissão a Carreira Diplomática




Caros professores, por favor repassar para suas listas

O módulo de redação é baseado em aulas expositivas, nas quais são analisadas redações aprovadas e reprovadas nos CACD's (Concurso de Admissão a Carreira Diplomática) de 2006, 2007 e 2008, e na realização de exercícios semanais de redação. Os critérios de correção aplicados são baseados na tabela usada pela banca corretora do CACD nos últimos três concursos.

São realizados simulados mensais da prova de português da segunda fase do CACD.

As aulas expositivas são ministradas um sábado por mês. Todos os exercícios serão corrigidos semanalmente.

Como se trata de um curso com foco em exercícios, os interessados podem vir a integrar o grupo a qualquer momento.

Em decorrência da limitação das vagas, solicitamos que manifestem interesse e confirmem sua matrícula com antecedência.

Aproveitamos a oportunidade para informar que o Curso Intensivo iniciou no dia 18 de agosto e que ainda dispomos de vagas para Módulo Completo ou Individual.

Maiores informações,

Tel: 3062-7745

E-mail: informações@cursoatlas.com





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Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
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A nova geografia do carvão

 

O fim do reinado do carvão como forma dominante de energia no mundo remonta aos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, quando Winston Churchill, então primeiro lorde do Almirantado, decidiu adoptar o petróleo para substituir o carvão como combustível dos vasos de guerra da Royal Navy.


Luis Queiros

Começava o reinado do petróleo. Em 1914 o governo britânico assumiu-se como principal accionista da Anglo Persian Oil Company. E, no final da guerra, assegurou o controlo do canal de Suez e o domínio da Mesopotâmia.
Perante a anunciada escassez e os elevados preços do petróleo e do gás, o carvão, que ao longo do séc. XX perdeu muita da sua importância a favor do petróleo, surge de novo como uma esperança para resolver os problemas energéticos do futuro. A produção e o consumo cresceram rapidamente nos anos recentes e muitas coisas entretanto mudaram: o smog londrino transferiu-se para Pequim; assiste-se ao esgotamento das reservas e à diminuição da produção no Reino Unido, na Alemanha, na França e na Polónia; o carvão já não é utilizado para aquecer as casas ou para movimentar as locomotivas a vapor, mas ainda assegura 40% da produção mundial de energia eléctrica.
Segundo a EIA (Energy Information Agency) seis países, com 84% das reservas e cerca de 80% da produção, protagonizam a cena mundial do carvão: a China, os EUA, a Índia, a Austrália, a Rússia e a África do Sul.
A China, responsável por um terço da produção mundial com 2,9 mil milhões de toneladas por ano, é o maior produtor e ao mesmo tempo o maior consumidor de carvão. O aumento do consumo nos últimos anos tem sido espectacular (crescimento anual médio de 17% entre 2002 e 2005!) prevendo-se a duplicação do seu consumo até 2025. Por tal forma que a China, antes um grande exportador, já irá importar carvão em 2008, e necessitará de importar muito mais no futuro, para fazer face às suas crescentes necessidades. O carvão é o primeiro responsável pelo milagre económico chinês. Isto à custa de elevados níveis de poluição, de emissão de CO2 e de outros gases de efeito de estufa para a atmosfera, e da perda de muitas vidas humanas. De acordo com um artigo do Times publicado em 2007, terão morrido, num único ano, 5000 mineiros em acidentes nas minas de carvão chinesas.
Os Estados Unidos, que produzem 50% da sua energia eléctrica em centrais a carvão, têm vindo a rever em baixa as suas reservas exploráveis, e prevêem reduzir as exportações daqui até 2025. A Índia depende do carvão para levar energia eléctrica a importantes zonas do país, e projecta construir novas mega-centrais térmicas. A África do Sul está a aumentar a sua capacidade de produção de combustíveis líquidos a partir do carvão na refinaria de Sasol, e projecta também duas novas centrais térmicas a carvão. A Austrália é o quarto produtor e o maior exportador mundial de carvão, sendo o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e a Europa os seus principais clientes. No entanto as exportações da Austrália correspondem apenas a 5% do consumo chinês. A Colômbia e a Indonésia são dois países exportadores cuja produção têm vindo a crescer, mas serão insuficientes para satisfazer a crescente procura no futuro.
Existe a ideia de que as reservas de carvão poderão durar para muitos anos. A EIA estima que, com o consumo actual, o abastecimento estará assegurado por 160 anos. Porém, contrariamente ao que se passa com o petróleo ou o gás natural, os países produtores de carvão são também os grandes consumidores, de tal forma que apenas 12 a 15% da produção mundial se destina à exportação. E a tendência é para este valor diminuir no futuro, à medida que os grandes produtores forem aumentando o seu consumo.
O conceituado Energy Watch Group, no seu relatório anual de 2007, avança com a previsão de que a produção mundial de carvão irá entrar em declínio a partir de 2025.Um outro estudo de B. Kavalov, do Institute for Energy (IFE), realizado para a Comissão Europeia, aponta 2015 como o ano em que poderão surgir os primeiros problemas relacionados com a disponibilidade de carvão para importação, no mercado internacional.
Para países com uma forte dependência energética externa, como é o caso de Portugal, a avaliação da segurança do abastecimento tem que ser feita atempadamente. A nossa estratégia de diversificação e a aposta nas fontes renováveis é a correcta, mas o carvão ainda é responsável por cerca de 30% da energia eléctrica que se produz em Portugal. Também nós vamos ter de encarar a provável situação de penúria que se anuncia. A confirmar-se, a escassez de carvão associada aos elevados preços desta matéria-prima, terá um forte impacto na factura da energia eléctrica dos portugueses.

http://www.jornaldenegocios.pt/imprimirNews.php?id=330274

Inscrições na UFRGS começam no dia 22

[Zero Hora] - 09 de Setembro de 2008
Começa no dia 22 o período de inscrições para o vestibular 2009 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Os candidatos terão até 12 de outubro para garantir a participação no concurso somente pela internet. O edital foi divulgado ontem no site .ufrgs.br
Com 244 vagas a mais do que no ano passado, a UFRGS oferecerá 75 opções de graduação no próximo concurso. As novidades são os bacharelados em Fisioterapia e Análise de Políticas e Sistemas de Saúde (noturno) e a licenciatura em Dança. Além dos novos currículos, outras dez faculdades receberam mais vagas, sendo quatro para o turno da noite. O destaque é para a Psicologia, que pela primeira vez receberá alunos à noite.
Geografia, Ciências Atuariais e Química Industrial também ampliaram vagas noturnas.
Ao todo, o vestibular 2009 vai oferecer 4.556 vagas, das quais 30% serão garantidas a candidatos egressos do ensino público. O sistema de cotas, instituído
em 2008 na UFRGS, também prevê que a metade da reserva seja garantida a estudantes que se declararem negros. O vestibular 2009 ocorrerá em três
cidades gaúchas simultaneamente.
O edital completo está disponível na página www.vestibular.ufrgs.brwww.vestibular

domingo, setembro 07, 2008

Escassez de talentos irá comprometer o crescimento


04/09/2008

O grande empecilho para o crescimento das empresas no Brasil e na Índia será a escassez de profissionais qualificados. A falta de talentos hoje é uma questão mundial e pode ser a maior restrição aos negócios. Está acima do capital e da tecnologia, diz Shumeet Banerji, CEO da Booz & Co. Entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), ele acredita que o único país que se preparou para enfrentar o problema foi a China. O país investiu não só nas universidades, mas no ensino técnico, pensou dez anos para frente, afirma.

No fim de maio, Banerji, PhD pela renomada escola de negócios Kellogg, assumiu o comando da Booz & Co, uma das maiores consultorias globais. A empresa é resultado da separação entre o negócio global de consultoria de alta gestão e o de serviços para o governo americano da Booz Allen Hamilton. Seu faturamento é de US$ 1 bilhão. São 3,3 mil funcionários e 200 sócios atuando em 52 países.

Desde que está no cargo, Banerji já visitou Rússia, China e Índia. Recentemente, veio conhecer a operação brasileira, iniciada há 43 anos, pela então Booz Allen Hamilton. Hoje, o país representa aproximadamente 10% dos negócios globais da Booz & Co. Segundo o CEO, o país é estratégico para a consultoria. Nosso desafio é crescer conforme a nossa capacidade de recrutar bons profissionais, diz. Isso leva tempo.

Em sua passagem por São Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva ao Valor. Nela, criticou a sede com que as empresas desses países têm feito aquisições no exterior para aumentar de tamanho, sem medir o real valor da empreitada. Não se trata de adicionar números, é preciso uma boa razão, diz o CEO. A seguir alguns trechos da entrevista:

Que semelhanças o senhor vê entres as companhias dos BRICs?

Shumeet Banerji: As empresas do Brasil têm mais pontos convergentes com as da Índia do que com as dos outros BRICs. Em comum, vejo a confiança e a vontade de ser uma companhia global. Numa visão mais macroeconômica, todos são muito bem sucedidos. Há uma estabilização e existe uma relativa melhora nas políticas fiscais, com algumas diferenças entre eles. Os setores fazem mais sentido. Foram reformados para isso. Tudo contribuiu para que as companhias melhorassem. O segundo estágio agora para as empresas é olhar para o mundo. Ser bem sucedido no meu país é o suficiente? Então é o momento das aquisições no exterior.

Como o senhor avalia a performance das novas multinacionais brasileiras nesse cenário?

Banerji: É cedo para dizer. Este é um fenômeno recente. Vemos diferentes razões para as brasileiras fazerem aquisições fora. A primeira é para adquirir capacidades. Existem aquisições para expandir, diversificar as fontes de suprimentos. E outras para se chegar a um novo patamar. Nós achamos que existe muita ênfase em aquisições para se conquistar uma posição melhor no ranking global. Mas, ser apenas o número um ou dois ou três em termos de tamanho não faz de você uma boa companhia. O grande desafio para as empresas brasileiras é saber operar a empresa adquirida. Não é uma questão de adicionar números, ontem tínhamos US$ 2 bilhões, agora temos US$ 5 bilhões. Acho que é preciso razões maiores que essa para se fazer uma aquisição.

Faltam planos de negócios mais estratégicos?

Banerji: Muitas companhias têm bons planos. Hoje existe muito dinheiro e recursos nos BRICs que levam a essas aquisições. Mas não é só adquirir capacidades e tecnologia, existe o time, o processo de negócios, a cultura corporativa da outra companhia. Algumas empresas são capazes de ir para outros mercados longe de casa e integrar tudo isso, outras não.

Como o senhor percebe o Brasil hoje?

Banerji: É uma das maiores economias. Tornou-se uma força significativa. Antigamente, na hiperinflação era impossível pensar no longo prazo. Agora com a estabilização, as companhias podem fazer isso. É bom ver que existem investimentos em infra-estrutura. O Brasil tem um papel importante em commodities e agronegócios e em todo o debate sobre energia. Além da economia é um país crítico em outros aspectos importantes para o mundo, como o meio-ambiente. Hoje precisamos prestar atenção em companhias no Brasil que serão players globais. Como consultoria, queremos conectar as discussões entres os países do BRIC, porque algumas questões que as companhias brasileiras estão enfrentando hoje são as mesmas de algumas indianas. Umas podem aprender com as outras.

Qual o maior desafio para as empresas brasileiras e indianas atualmente?

Banerji: No estágio que estão hoje, vejo que a questão mais importante é a falta de talentos. A economia vai bem, as companhias crescem, mas de onde virão as pessoas para viabilizar este crescimento? Esse também é um problema mundial. Entre os BRICs, cada país lida com esse problema de uma forma. Quem combate isso mais sistematicamente é a China. Eles não investem só em universidades, mas em escolas técnicas, vocacionais, no treino de linguagem. Eles olham dez anos para frente. Não faltam só engenheiros. É preciso ter gente treinada para lidar com a mecânica das máquinas. Na Índia, o maior desafio não é encontrar talentos no nível gerencial, mas um pouco mais abaixo. Uma das coisas que companhias sabem é que não dependem apenas do governo para cuidar desse gap. As indústrias e associações têm que cumprir esse papel. A falta de talentos pode ser a maior restrição ao negócio, não o capital ou a tecnologia.

Qual a importância desse movimento de talentos no mundo?

Banerji: Existem dois aspectos importantes. O primeiro é que se você é uma empresa global, os seus administradores precisam ter conhecimento sobre o que acontece em outros países. Essa á uma grande questão porque muitas companhias estão servindo o mundo e precisam entender o mercado no qual estão entrando para serem bem sucedidas. Para isso, terão que recrutar as pessoas talentosas, onde elas estiverem. Não dá para só buscar nas melhores universidades dos EUA, por exemplo. Os conselhos das empresas globais hoje são muito mais diversificados, têm gente de todas as partes.

A aposentadoria dos profissionais em alguns setores em alguns anos pode agravar esse busca por gente qualificada?

Banerji: Veja a área de petróleo. É um problema difícil. A força de trabalho agora está chegando aos 50 anos. E as universidades ao longo dos anos não produziram engenheiros de petróleo suficientes. De onde eles virão? Na maior parte dos países da OCDE, existirá um percentual muito pequeno da população sustentando outra parte e isso tem a ver com talentos também. O modelo tradicional de formação profissional previa que as pessoas atingiriam uma certa idade e depois iriam embora do mercado. O envelhecimento da população nos fará repensar o modelo de carreira.

Como o senhor avalia a falta de talento em países com população mais jovem como o Brasil?

Banerji: A questão da escassez do talento nos países mais jovens é diferente. Você cada vez mais verá a demanda pelas pessoas crescer, mas elas não terão qualificação. É um problema social que precisa ser resolvido.

O que lhe chama a atenção nos CEOs brasileiros?

Banerji: Antes, o mercado local, o network, os políticos garantiam o acesso ao capital, em países como o Brasil ou a Índia. Ser hábil para operar nesse ambiente era muito importante. Agora é diferente, o que conta é saber operar a companhia, levantar dinheiro, agir estrategicamente, fazer boas aquisições, construir times de liderança. Esses mercados estão mais maduros, o fluxo de dinheiro é livre, você vê que os CEOs respondem hoje aos mesmos incentivos.

Fonte: Por Stela Campos / Valor Econômico