sábado, outubro 20, 2007

Putin: “Iraque mostra que EUA não conseguirá criar mundo unipolar”

O presidente russo fez pronunciamento durante o encontro dos cinco países que margeiam o Mar Cáspio, realizado no Irã, onde foi aprovada declaração de defesa da soberania da região“O Mar Cáspio é um mar mediterrâneo que só pertence aos Estados do Cáspio, e portanto somente eles têm o direito de explorar suas riquezas e manter navios e forças militares na zona”, afirmou o presidente Vladimir Putin, no seu discurso na reunião de Cúpula dos países dessa região realizada no Irã, na terça-feira, dia 16. O dirigente destacou “a necessidade da Rússia, Azerbaijão, Irã, Cazaquistão e Turcomenistão não permitirem o uso de seus territórios com objetivos militares contra qualquer outro dos países do Cáspio”, tendo em conta o interesse dos EUA de interferir na região que possui grandes reservas de petróleo e gás na plataforma marítima, além de pretender utilizar alguma das ex-repúblicas soviéticas como base operacional contra o Irã.
“Nenhuma potência mundial, por grande que seja, poderá resolver os problemas mundiais por si só porque não lhe alcançariam os recursos financeiros, econômicos, materiais nem políticos, e os exemplos do Iraque e do Afeganistão confirmam esta tese. Os EUA não conseguirão criar um mundo unipolar, praticamente é irrealizável”, assegurou Putin a jornalistas em Teerã, enfatizando que “por essa razão, a Rússia propõe elevar o protagonismo de uma organização internacional universal como a ONU, conceder mais importância ao Direito Internacional, observar estritamente os princípios da soberania nacional e buscar acordos de compromisso na hora de tomar importantes decisões”, enfatizou.
O presidente Mahmud Ahmadinejad reforçou a importância de manter as potências estrangeiras, particularmente os Estados Unidos, fora do Mar Cáspio. “As cinco nações aqui reunidas coincidem com que a decisão sobre todos os aspectos relacionados com esse mar corresponde às nações litorâneas”.
PROJETOS
Putin propôs construir “um canal para conectar o Mar Cáspio com bacias do Mar Negro e do Mar de Azov”, e assinalou que os países da região devem coordenar os projetos para potenciar a eficiência, o uso dos recursos e impedir danos ao meio ambiente.
O Mar Cáspio encerra uma grande importância para a Rússia e o conjunto dos países banhados por ele. Depois da desintegração da URSS cujos tratados com o Irã, assinados em 1921 e em 1940, estabeleciam regras que beneficiavam ambos Estados, os EUA tentaram impor governos títeres nos novos países que surgiram, especificamente o Azer-baijão, Cazaquistão e Turco-menistão; ingerência que se agravou com a descoberta de riquíssimas jazidas de hidrocarbonetos. Nos últimos anos, o governo de Vladimir Putin realizou diversos projetos de desenvolvimento conjunto com os países que compunham a União Soviética com o objetivo de garantir a exploração dos recursos para a região.
“A Declaração aprovada testemunha que os países do Cáspio têm avançado muito em relação à cúpula de Asjabad de cinco anos atrás”, destacou Nursultan Nazarbaiev, presidente do Cazaquistão, acrescentando que o acordo tripartite assinado na reunião sobre a construção de uma ferrovia entre Irã, Cazaquistão e Turcomenistão levará a uma estreita colaboração dos Estados costeiros no desenvolvimento de novos corredores de transito.
No próximo ano, a Rússia acolherá uma conferencia econômica dos cinco países. “Aceitamos a proposta do presidente Ahmadinejad de criar um órgão de caráter econômico no Cáspio. A discussão que mantivemos agora foi sincera e concreta, existe um grande desejo de obter consenso entre nós para que todos nossos países ganhem e preservando este ambiente solucionaremos todos os problemas que se apresentarem”, frisou.
DECLARAÇÃO
A declaração que estabelece os princípios de conduta no Mar Cáspio estabelece que os cinco países assinantes “se comprometem a aprofundar o diálogo e a cooperação no âmbito econômico, especialmente, nos setores de energia e transporte”; potencializar na zona a formação “de corredores de transporte”; empreender com caráter imediato “ações conjuntas para prevenir o impacto negativo sobre o meio ambiente”; e contribuir por todos os meios para que o Mar Cáspio seja “uma região de paz, estabilidade, desenvolvimento econômico sustentado, bem-estar, boa vizinhança e cooperação eqüitativa”.
Azerbaijão, Cazaquistão, Irã, Rússia e Turcomenistão sublinharam que suas forças armadas não perseguem o objetivo de agredir a outros países dessa região e que, “em nenhuma circunstancia deixarão usar seu território para a agressão e outras ações militares de terceiros Estados contra alguma das partes”, consta no documento.
A Declaração repudia a prática de ingerência nos assuntos internos de países soberanos que têm o direito inalienável de escolher seu próprio modelo de desenvolvimento, em relação aos direitos humanos, e tomando em consideração os valores históricos, sociais e culturais da região. Os assinantes condenam o tráfico de armas e drogas, outras formas de delinqüência nas fronteiras, com cinismo e hipocrisia é financiado e incentivado pelo Império. Condenam também o separatismo agressivo e outras formas violentas de ingerência terrorista. Reafirmam o direito inalienável de qualquer país membro do Tratado de Não Proliferação Nuclear, TNPN, a investigação, produção e uso da energia nuclear com fins civis, sem discriminação alguma e segundo as cláusulas de dito tratado.

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