"Ele anda sempre fugindo. Sempre pobre e perseguido; não tem cova nem ninho como se fora um maldito, porque ser gaúcho....ser gaúcho é delito." José Hernández - Martín Fierro, 1872
Os versos de Martín Fierro demonstram a visão dominante sobre o gaucho pampeano nos idos de 1850. O gaúcho era o paria do campo. Aquele que não se curvava às mudanças econômicas e sociais advindas de um arremedo de capitalismo provinciano que se iniciava na pampa gaúcha neste momento.
Em razão disso, setores das oligarquias da época chegaram a dizer que para que houvesse civilização na América seria necessário, em primeiro lugar, derrotar o gaúcho. Iniciou-se assim uma disputa político-cultural sobre o modelo de civilização que seria adotado. Este embate deu-se de forma muita clara na Argentina através do personagem Martín Fierro e de seus opositores. No entanto, no Rio Grande do Sul o embate foi o mesmo, porém, talvez tenha tido contornos velados.
Os contrários aos gaúchos defendiam um modelo de civilização idêntico ao da Europa, ou seja, deveríamos ser "clones" da Europa. Um presidente argentino, Domingo Faustino Sarmiento, chegou a defender a idéia de que fossem importadas pessoas da Europa para que o país progredisse. É evidente que esse tipo de manifestação provocou a rebeldia dos setores populares, que encontraram na obra de José Hernández o personagem que representava os excluídos da época: Martín Fierro. Portanto, defender os gaúchos era defender aqueles que estavam alijados do processo político e despossuidos de propriedade.
Os gaúchos não serviam ao nascente capitalismo por que não se adaptavam as novas normas. Possuíam outra relação com a terra, com a família, com o trabalho. Desta forma, a nova relação do homem com a propriedade, por exemplo, não era bem recebida por este homens que eram chamados de "selvagens", por isso, havia perseguição.
Depois disso, a contemporânea concepção de gaúcho procurou dissolver o caráter classista da expressão. No entanto, os símbolos ainda estão em disputa e os setores conservadores se apropriaram de muitos. Porém, as coisas tendem a voltar às raízes. Em nossa raiz está uma identidade própria e a luta pela construção de uma sociedade não subjugada aos interesses externos.Em nossa raiz está outra concepção de propriedade, a concepção de amor pela terra e pelas coisas simples. Assim, reverenciamos as coisas terrunhas como não cansa de falar o amigo Adão e cantemos as graças de termos nascido gaúchos e gauchos.
Alisson Ferronato dos Santos
Sociedade Botucaraí Pró-Cultura
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