JURANDIR SOARES
Não bastassem os ataques diários da insurgência, Bush sofreu mais um revés no Iraque - e mais significativo. O Reino Unido, seu principal aliado, acaba de determinar a saída de suas forças da província de Basra. Os 500 militares que estavam no palácio de Basra juntam-se aos outros 5,5 mil soldados britânicos em processo de retirada. Oficialmente, o controle de Basra será repassado às forças iraquianas. O primeiro-ministro Gordon Brown disse que a medida foi planejada havia meses e que as tropas britânicas estariam disponíveis para auxiliar as iraquianas. No entanto, relatório do International Crisis Group revela que os ataques incessantes contra os britânicos causaram, inicialmente, sua saída das ruas e, agora, marcam a saída da região. A passagem do controle para tropas iraquianas é considerada ficção, porque Basra ficará sob o domínio das milícias xiitas. Assim, diz o relatório, os moradores vêem isso não como uma retirada, mas como uma derrota vergonhosa. Outro problema para Bush: na quarta-feira, ele foi desmentido por um de seus mais importantes ex-assessores, Paul Bremer, o primeiro interventor dos EUA no Iraque. Tudo porque foi lançado o livro 'Dead certain' ou 'Absolutamente convicto', de Robert Draper, uma biografia autorizada do presidente. No livro, Bush afirma que o plano original 'era manter o Exército do Iraque intacto, mas isso não aconteceu'. Deu a entender que a ordem para desmantelar o Exército de Saddam não partiu dele. Bremer juntou cartas que trocara com Bush e as enviou para o The New York Times, mostrando que a Casa Branca sabia dos planos para dissolver as estruturas militares e de inteligência do Iraque. A decisão é apontada como um dos mais graves erros dos EUA e parcialmente responsável pela explosão de ataques sectários e rebeliões.
A fracassada estratégia de Bush foi apontada esta semana, por duas figuras de relevo nos EUA, como o fator que está determinando a perda da hegemonia americana. Em palestra, terça, na PUCRS, o sociólogo americano Immanuel Wallerstein afirmou que os EUA estão em decadência, acelerada pelo erro estratégico no Iraque. Disse ele que, em poucas décadas, a grande potência não será mais do que um sócio júnior de três grandes concorrências mundiais, ao lado da Europa e do Japão. Seu posicionamento coincide com o do sociólogo italiano Giovanni Arrighi, que leciona na Universidade John Hopkins e acaba de lançar o livro 'Adam Smith em Pequim'. Diz ele que 'os EUA ainda são dominantes econômica, militar e politicamente. Mas é uma dominação sem hegemonia, no sentido de que hegemonia não é apenas dominação pura, mas também a capacidade de fazer os outros crer que você age no interesse geral'. Ora, a ação no Iraque foi a que mais pôs os EUA em confronto com a comunidade internacional. Para os dois sociólogos, foi o que acelerou a decadência do império. É a herança que o governo Bush deixa para os americanos.
Correio do Povo Porto Alegre - RS - Brasil
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