“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual”, afirma o economista
A situação atual é mais preocupante. Nos anos 90, as crises tinham origem na periferia do sistema internacional (México, Leste da Ásia, Rússia etc.). Agora, o epicentro está na maior economia do mundo, que exibe sinais de fragilidade e depende muito de capitais estrangeiros. O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos dos EUA cresceu significativamente nos últimos anos, estabilizando-se em torno de 6% do PIB desde 2005”, disse o economista Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Além do Brasil, o diretor-executivo do FMI representa também a Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago.
É preciso que se diga, aliás, que Paulo Nogueira é o primeiro integrante da diretoria do FMI, indicado pelo governo brasileiro, a defender posições de interesses do Brasil e demais países em desenvolvimento. Basta lembrar que em um passado não tão distante o indicado foi um certo Murilo Portugal, um entusiasta das políticas de arrocho determinadas pelo Fundo.
“Trata-se de mais uma turbulência passageira, como a que tivemos em fevereiro? Ou será que estamos diante do início do fim da fase de bonança financeira e econômica? Ninguém sabe ao certo. Os mercados financeiros sofisticaram-se enormemente e se tornaram mais opacos. A verdadeira extensão dos riscos é desconhecida. Mas há indicações de que o atual episódio de instabilidade é mais grave do que os anteriores. O fluxo de más notícias é praticamente contínuo. Os principais bancos centrais do mundo foram levados a intervir pesadamente, com maciças injeções de recursos, na tentativa de conter o pânico”, frisou o economista no artigo “De susto em susto”, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, do dia 16.
Ele afirmou que “o foco da crise está no mercado de hipotecas de alto risco dos EUA, mas ela já se propagou para outros segmentos do mercado financeiro e para outros países. Como não poderia deixar de ser, os mercados brasileiros sentiram o impacto das ondas de instabilidade externa”.
“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual. O Brasil aproveitou a bonança dos últimos cinco anos para reduzir consideravelmente a sua vulnerabilidade externa, um problema que nos perseguia há muito tempo”, destacou.
Paulo Nogueira enumerou alguns dados em seu argumento: “A balança comercial registrou megassuperávits. De 2003 a 2006, tivemos superávit no balanço de pagamentos em transações correntes. Em 2007, teremos provavelmente outro superávit. Cinco anos consecutivos de saldo em conta corrente é um resultado talvez inédito na história brasileira”.
Além disso, “nossas reservas internacionais cresceram de forma expressiva, alcançando quase US$ 160 bilhões. A situação fiscal está razoavelmente arrumada. A inflação foi controlada”.
“A economia brasileira começa a crescer a taxas mais adequadas”.
Resumindo a situação atual, Paulo Nogueira avaliou que a economia brasileira “está bem mais preparada para enfrentar choques externos. Não é invulnerável, claro. Temos pontos fracos. O maior deles talvez seja a existência de uma dívida pública interna de prazo curto e ativos financeiros domésticos de grande liquidez. Como a conta de capitais é bastante aberta, um agravamento dramático da situação internacional poderia desencadear uma fuga de capitais. A troca de ativos em reais por moeda estrangeira pressionaria a taxa de câmbio e/ou as reservas internacionais do país”.
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