quarta-feira, agosto 22, 2007

A dança dos vampiros

Ao desdenhar tão brutalmente o Piauí o presidente da Philips, Paulo Zottolo, cometeu um ato falho. Por isso mesmo suas palavras devem ser levadas a sério. E o preconceito que elas mostraram é da mesma natureza daquele contra o presidente Lula.
Flávio Aguiar - Carta Maior

No excelente filme de Roman Polanski, “A dança dos vampiros” (1967, com ele próprio e Sharon Tate), há uma cena em que os tão implacáveis quanto desajeitados caçadores dos dráculas contracenam com os próprios num baile. É uma cena inesquecível: alguns são mortos que dançam para parecer que estão vivos, outros são vivos que dançam para parecer que são mortos.A verdade vem à tona quando, inadvertidamente, os caçadores e Sharon Tate passam diante de um espelho. Os vampiros, como se sabe, não têm imagem no espelho. A verdadeira imagem denuncia as mútuas fraudes, e naturalmente os caçadores se vêem implacavelmente caçados, e por aí se vai a comédia macabra.
A cena lembra o que aconteceu com as declarações do presidente da Philips, Paulo Zottolo, um dos animadores do movimento “Cansei”, desdenhando o estado do Piauí. É evidente que o sr. Zottolo cometeu um ato falho, isto é, um “ato involuntário”, no sentido de que não media então as conseqüências de seu gesto. Mas por isso mesmo deve ser levado a sério. Aquilo, por assim dizer, lhe saiu “pela boca afora”. Pode ser até que ele estivesse, como se diz juridicamente, “tomado de forte emoção”.
Que emoção? A do seu movimento, sem dúvida, a das raízes profundas do movimento “Cansei”. E que são, na verdade verdadeira, toda a coleção de preconceitos contra o povo brasileiro, por parte das auto-proclamadas “elites”, ou “élites”, como se dizia antigamente num pseudo-francês grotesco e macarrônico. Elites? Elite, convenhamos, é José Mindlin, é Antonio Candido, é Machado de Assis, é Lima Barreto, é Milton Santos, Raimundo Faoro, é Carvalho Pinto para citar alguém do campo conservador. Quem se auto-proclama “élite”, assim como quem se auto-proclama “formador de opinião” não merece ser levado muito a sério não.
O movimento “Cansei” tem na origem o entalhe do forte preconceito de que nossos problemas vêm de sermos obrigados a conviver com um “zé povinho” ou “zé povão”, sobretudo no que toca à escolha de governantes. Por extensão, é o mesmo preconceito que periodicamente se alevanta contra o presidente que, por duas vezes, esse “zé povinho” ou “zé povão” escolheu, em 2002 e 2006.
Agora o preconceito contra o presidente, que bate sempre na tecla da sua “ignorância”, do seu “despreparo”, envereda pelas suas declarações de que a crise econômica nas bolsas do mundo inteiro não deva nos afetar tanto. Tal declaração, assim de bandeja, só pode ter raiz no fato de que o presidente “não sabe” ou “não quer saber das coisas”. E é evidente que as declarações sobre o preconceito mal conseguem disfarçar a expectativa vampiresca de que sim, algo dê errado, que a vida do povão despenque de novo no buraco de onde mal e mal começa a sair, para que então a popularidade do presidente caia também e o Palácio do Planalto volte a cair nos braços de quem espelhe a imagem dessa “élite”, ou, quem sabe, o seu vazio de imagem, já que nem como burguesa consegue se ver, preferindo, num ato falho histórico, se ver para sempre no alpendre da casa grande, a contemplar os cafèzais.
De qualquer modo, pode-se dizer que a frase de Zottolo se transformou no epitáfio do “Cansei”.

Para Conhecimento



Os Segredos do Cansaço

A população brasileira tem assistido espantada, o que certos setores da sociedade tem protagonizado no “movimento cansei”. Mais do que espantada, incrédula, porque a população que na sua grande maioria leva uma vida difícil, que luta pelo seu emprego, por melhores salários, por melhores condições de moradia, saúde, educação e transporte (mais uma cratera em Pinheiros na linha 4 do metro abriu-se na semana passada), tem na sua histórica trajetória a marca da luta, da combatividade, da cabeça erguida e do amor a sua pátria.

Do outro lado setores da sociedade que sempre quiseram entregar o Brasil aos interesses estrangeiros, que vivem de forma parasitária na dependência da riqueza que milhões de brasileiros incansáveis produzem sem poder usufruir, resolveram com objetivos golpistas, antidemocráticos, preconceituosos e elitistas se manifestarem cansados (as).

Cansados do que? De comer e beber em restaurantes onde uma garrafa de vinho é mais cara que muitos automóveis zero km? De morar em mansões como o João Dória Júnior de mais de 11 mil metros quadrados, isso mesmo, o equivalente a 220 apartamentos populares, onde o povo incansável luta para conseguir morar um dia? Estariam as “Madames” Hebe Camargo e Ana Maria Braga cansadas de contar os mais de um milhão de reais que ganham mensalmente, isso mesmo, o equivalente à 2.631 salários mínimos, salário mínimo esse que milhões de homens e mulheres ganham em trabalhos muitas vezes desumanos? Ou será que esse time está ainda cansado da surra que seu projeto politico tomou nas eleições em 2006?

Ninguém aqui em sã consciência vai subestimar as necessidades que o Brasil tem de superar as suas desigualdades sociais e econômicas. Muito pelo contrário, muito se luta nesse País pela sua soberania, pelo seu desenvolvimento econômico totalmente casado com o desenvolvimento social. Luta-se muito para acabar com o latifúndio urbano e rural, pelo acesso a educação e saúde de qualidade e mais ainda pela democratização das oportunidades para todos (as).

Porém o povo brasileiro não é bobo, não quer voltar atrás, não se engana com as elites que durante séculos não defenderam os nossos interesses. O povo olha incrédulo, figuras que vão aos EUA mais de uma vez ao ano comprar suas roupas, passeiam de Iates luxuosos para no dia seguinte aparecer em capas de revistas e promovem banquetes gastando seus milhões para uma meia duzia, enquanto na calçada crianças morrem de fome.

A violência, a fome, o desemprego, o preconceito e outros flagelos são obras desse pessoal. Alias, tanta coisa ruim feita junto realmente pode ter deixado essa turma cansada.

O referido movimento elitista, demonstra mais ainda seu preconceito e ódio ao nosso povo ao de forma asquerosa dizer “ se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”. O estado do Piaui é formado por pessoas que são vitimas daquilo que secularmente as elites deram ao povo brasileiro: fome e miséria. A frase não foi só para o Piauí, foi para todos (as) brasileiros (as) que são iguais ao povo do Piauí que representa o que tem de melhor no povo brasileiro, honra, dignidade, espírito de luta, generosidade e alegria.

Vamos fazer um boicote a Philips, de propriedade de um membro do “Cansei” e elaborador dessa frase, para ver se ele não fica esperto.

Abaixo o preconceito, as desigualdades sociais, às elites parasitárias e ao facismo!
Viva a luta do povo brasileiro!


Wander Geraldo da Silva
Lustrador de móveis, é presidente da CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores

terça-feira, agosto 21, 2007

“Economia está bem mais preparada para enfrentar os choques externos”

Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional


“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual”, afirma o economista



A situação atual é mais preocupante. Nos anos 90, as crises tinham origem na periferia do sistema internacional (México, Leste da Ásia, Rússia etc.). Agora, o epicentro está na maior economia do mundo, que exibe sinais de fragilidade e depende muito de capitais estrangeiros. O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos dos EUA cresceu significativamente nos últimos anos, estabilizando-se em torno de 6% do PIB desde 2005”, disse o economista Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Além do Brasil, o diretor-executivo do FMI representa também a Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago.


É preciso que se diga, aliás, que Paulo Nogueira é o primeiro integrante da diretoria do FMI, indicado pelo governo brasileiro, a defender posições de interesses do Brasil e demais países em desenvolvimento. Basta lembrar que em um passado não tão distante o indicado foi um certo Murilo Portugal, um entusiasta das políticas de arrocho determinadas pelo Fundo.


“Trata-se de mais uma turbulência passageira, como a que tivemos em fevereiro? Ou será que estamos diante do início do fim da fase de bonança financeira e econômica? Ninguém sabe ao certo. Os mercados financeiros sofisticaram-se enormemente e se tornaram mais opacos. A verdadeira extensão dos riscos é desconhecida. Mas há indicações de que o atual episódio de instabilidade é mais grave do que os anteriores. O fluxo de más notícias é praticamente contínuo. Os principais bancos centrais do mundo foram levados a intervir pesadamente, com maciças injeções de recursos, na tentativa de conter o pânico”, frisou o economista no artigo “De susto em susto”, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, do dia 16.


Ele afirmou que “o foco da crise está no mercado de hipotecas de alto risco dos EUA, mas ela já se propagou para outros segmentos do mercado financeiro e para outros países. Como não poderia deixar de ser, os mercados brasileiros sentiram o impacto das ondas de instabilidade externa”.


“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual. O Brasil aproveitou a bonança dos últimos cinco anos para reduzir consideravelmente a sua vulnerabilidade externa, um problema que nos perseguia há muito tempo”, destacou.


Paulo Nogueira enumerou alguns dados em seu argumento: “A balança comercial registrou megassuperávits. De 2003 a 2006, tivemos superávit no balanço de pagamentos em transações correntes. Em 2007, teremos provavelmente outro superávit. Cinco anos consecutivos de saldo em conta corrente é um resultado talvez inédito na história brasileira”.


Além disso, “nossas reservas internacionais cresceram de forma expressiva, alcançando quase US$ 160 bilhões. A situação fiscal está razoavelmente arrumada. A inflação foi controlada”.
“A economia brasileira começa a crescer a taxas mais adequadas”.


Resumindo a situação atual, Paulo Nogueira avaliou que a economia brasileira “está bem mais preparada para enfrentar choques externos. Não é invulnerável, claro. Temos pontos fracos. O maior deles talvez seja a existência de uma dívida pública interna de prazo curto e ativos financeiros domésticos de grande liquidez. Como a conta de capitais é bastante aberta, um agravamento dramático da situação internacional poderia desencadear uma fuga de capitais. A troca de ativos em reais por moeda estrangeira pressionaria a taxa de câmbio e/ou as reservas internacionais do país”.

“Economia está bem mais preparada para enfrentar os choques externos”

Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional

“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual”, afirma o economista

A situação atual é mais preocupante. Nos anos 90, as crises tinham origem na periferia do sistema internacional (México, Leste da Ásia, Rússia etc.). Agora, o epicentro está na maior economia do mundo, que exibe sinais de fragilidade e depende muito de capitais estrangeiros. O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos dos EUA cresceu significativamente nos últimos anos, estabilizando-se em torno de 6% do PIB desde 2005”, disse o economista Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Além do Brasil, o diretor-executivo do FMI representa também a Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago.

É preciso que se diga, aliás, que Paulo Nogueira é o primeiro integrante da diretoria do FMI, indicado pelo governo brasileiro, a defender posições de interesses do Brasil e demais países em desenvolvimento. Basta lembrar que em um passado não tão distante o indicado foi um certo Murilo Portugal, um entusiasta das políticas de arrocho determinadas pelo Fundo.

“Trata-se de mais uma turbulência passageira, como a que tivemos em fevereiro? Ou será que estamos diante do início do fim da fase de bonança financeira e econômica? Ninguém sabe ao certo. Os mercados financeiros sofisticaram-se enormemente e se tornaram mais opacos. A verdadeira extensão dos riscos é desconhecida. Mas há indicações de que o atual episódio de instabilidade é mais grave do que os anteriores. O fluxo de más notícias é praticamente contínuo. Os principais bancos centrais do mundo foram levados a intervir pesadamente, com maciças injeções de recursos, na tentativa de conter o pânico”, frisou o economista no artigo “De susto em susto”, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, do dia 16.

Ele afirmou que “o foco da crise está no mercado de hipotecas de alto risco dos EUA, mas ela já se propagou para outros segmentos do mercado financeiro e para outros países. Como não poderia deixar de ser, os mercados brasileiros sentiram o impacto das ondas de instabilidade externa”.

“É inegável que a posição brasileira é mais sólida hoje do que era na década de 90 ou no início da década atual. O Brasil aproveitou a bonança dos últimos cinco anos para reduzir consideravelmente a sua vulnerabilidade externa, um problema que nos perseguia há muito tempo”, destacou.

Paulo Nogueira enumerou alguns dados em seu argumento: “A balança comercial registrou megassuperávits. De 2003 a 2006, tivemos superávit no balanço de pagamentos em transações correntes. Em 2007, teremos provavelmente outro superávit. Cinco anos consecutivos de saldo em conta corrente é um resultado talvez inédito na história brasileira”.

Além disso, “nossas reservas internacionais cresceram de forma expressiva, alcançando quase US$ 160 bilhões. A situação fiscal está razoavelmente arrumada. A inflação foi controlada”.
“A economia brasileira começa a crescer a taxas mais adequadas”.

Resumindo a situação atual, Paulo Nogueira avaliou que a economia brasileira “está bem mais preparada para enfrentar choques externos. Não é invulnerável, claro. Temos pontos fracos. O maior deles talvez seja a existência de uma dívida pública interna de prazo curto e ativos financeiros domésticos de grande liquidez. Como a conta de capitais é bastante aberta, um agravamento dramático da situação internacional poderia desencadear uma fuga de capitais. A troca de ativos em reais por moeda estrangeira pressionaria a taxa de câmbio e/ou as reservas internacionais do país”.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Cansados do Brasil

Agência Carta Maior: "Os cansados do Brasil têm o direito à crítica, bem como têm os mesmos direitos, os que estão cansados da elite brasileira, de seus políticos corruptos de qualquer partido e dos irracionalismos de plantão. Luís Carlos LopesCansados do Brasil Os cansados do Brasil têm o direito à crítica, bem como têm os mesmos direitos, os que estão cansados da elite brasileira, de seus políticos corruptos de qualquer partido e dos irracionalismos de plantão. Luís Carlos Lopes"

Para ler na íntegra clique no link

México: EUA ou Colômbia?

Agência Carta Maior:
" Ficaram para trás as promessas de que o Tratado de Livre Comércio da América do Norte aproximaria o México dos níveis de vida dos EUA e do Canadá. A realidade é que o quadro hoje se parece a uma segunda Colômbia, com a expansão do narcotráfico e da violência. Dois países adeptos do livre comércio e os mais estreitos aliados dos EUA no continente. A análise é de Emir Sader. México: EUA ou Colômbia? Ficaram para trás as promessas de que o Tratado de Livre Comércio da América do Norte aproximaria o México dos níveis de vida dos EUA e do Canadá. A realidade é que o quadro hoje se parece a uma segunda Colômbia, com a expansão do narcotráfico e da violência. Dois países adeptos do livre comércio e os mais estreitos aliados dos EUA no continente. A análise é de Emir Sader. "

Clique no link para ler a íntegra!

domingo, agosto 19, 2007

Breve notícia da Europa


Dois anos após França e Holanda rejeitarem o projeto constitucional da UE, Berlusconi, Aznar, Chirac, Shroeder e Blair foram embora e o futuro da Europa está nas mãos de Angela Merkel, Gordon Brown e Nicolas Sarkozy. A Europa está cada vez mais parecida com sua longa história.

A análise é de José Luís Fiori.
José Luís Fiori*


Como era de esperar, o longo impasse europeu está se transformando num conflito aberto. Dois anos depois da França e Holanda rejeitarem o projeto constitucional da UE, Berlusconi, Aznar, Chirac, Shroeder e Blair foram embora para casa, e o futuro da Europa está agora nas mãos de Angela Merkel, Gordon Brown e Nicolas Sarkozy, mas as divergências são cada vez maiores. Faz poucos dias, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, comparou a criação da UE, com um “grande império”, e enfureceu o primeiro-ministro britânico. Não poderia ser diferente, porque logo depois da posse do novo governo trabalhista, seu secretário de relações exteriores, David Miliband, declarou ao jornal Financial Times, que a Grã Bretanha se transformou num “global hub” entre os principais pontos e povos da humanidade, e que portanto, não pode abrir mão de sua condição de potência global, e de ponte entre os EUA e a UE. Ou seja, Miliband anunciou ao mundo, com todas as letras, que o governo de Gordon Brown não se submeterá ao sistema monetário europeu, nem aceitará qualquer tipo de soberania imperial, ou de política externa unificada, sob o comando de Bruxelas.

Do outro lado do Canal, o novo presidente frances, Nicolas Sarkozy, empossado no mês de maio, já fez declarações e tomou decisões que colocam a França em confronto direto com a Alemanha, e com quase todos os seus pares da UE. Numa mesma semana, anunciou a decisão de atrasar o cumprimento francês do acordo de eliminação dos déficits orçamentários, estabelecido para 2010, e de levar a frente políticas protecionistas, para defender o emprego dos franceses ameaçado pela globalização liberal. E o que foi mais grave, defendeu a politização da política monetária do Banco Central Europeu, que segundo ele, deveria se submeter à uma estratégia européia de longo prazo, Além disto, a nova ministra da fazenda, Chistine Lagarde, conclamou os banqueiros e financistas a trocarem os Estados Unidos e a Grã Bretanha pela França, para transfomar Paris num grande centro financeiro global, situado na liderança de uma “economia nacional vibrante”, e em declarada competição com Londres e Frankfurt.

A resposta alemã foi imediata e dura: seu ministro da Fazenda, o social-democrata Peer Steinbruck, declarou em Bruxelas, no dia 10 de julho, com tom de deboche, que “ele não tinha nada contra o fortalecimento da moeda européia, pelo contrário, ele amava o euro forte”. E além disto, afirmou em tom mandatório, que todos os estados membros da UE terão que “zerar seus déficits orçamentários até 2010, sem nenhuma exceção”. A própria ministra Angela Merkel saiu à luz e deu uma entrevista seca à televisão alemã, exigindo que o presidente francês “pare de desestabilizar o euro, e a independência do Banco Central Europeu”. E deixou circular, paralelamente, a informação de que seu governo está preparando uma legislação especial - igual a que há nos EUA, Grã Bretanha e França - para impedir a desnacionalização de setores econômicos estratégicos para a segurança nacional alemã, como as telecomunicações, a energia e o setor bancário.

Paradoxalmente, esta briga está clarificando o cenário, depois de dois anos de pasmaceira generalizada. O governo de Angela Merkel unificou a elite política e empresarial alemã, e passou à ofensiva, assumindo a liderança agressiva da unificação européia, e da ocupação econômico-financeira da Europa Central. Além disto, acelerou seu projeto de integração econômica com a Rússia, independente do resto do continente, e voltou à sua posição de sheriff do rigor fiscal e monetário dos demais países europeus, com uma retórica econômica ortodoxa e liberal, característica das potências hegemônicas. Mas o jogo não terminou, e a França parece disposta a dobrar sua aposta. Enquanto Angela Merkel criticava o governo francês, o presidente Sarkozy viajou para a Argélia e a Tunísia, e propôs a criação de uma União Mediterrânea, incluindo os países da costa norte-africana, e a Turquia, sob a liderança francesa, e de costas para a Europa germânica, e para o “global hub” britânico. E ao mesmo tempo, no dia 12 de juilho, liderou um manifesto dos países mediterrâneos da UE, favorável à mudança da posição ocidental, frente à questão palestina, por cima das decisões e instâncias oficiais de Bruxelas.

Cabe saber se a França tem bala na agulha para sair do plano retórico. Mas de qualque maneira, é certo que o distanciamento entre a Alemanha, a França e a Grã Bretanha está se confirmando também no plano da disputa energética. A AIE difundiu nos últimos dias, um informe prevendo problemas graves de oferta de petróleo e gás, nos próximos cinco anos, e o aumento contínuo da sua demanda e dos seus preços. E frente a isto, cada uma das potências européias está buscando solução pelo seu lado: a França, com o petróleo do norte da África; a Grã Bretanha, com o dos países nórdicos; e a Alemanha, com o petróleo e gás, da Rússia.

Como se não fosse pouco, os Estados Unidos insistem em instalar seu “escudo anti-mísseis” na Polônia e Republica Checa, e não abrem mão da independência do Kosovo. Com isto os norte-americanos conseguem irritar a Rússia, e recolocá-la na tradicional posição do “príncipe negro”, que assusta os europeus, desde os tempos de Ivan o Terrível. Primeiro, os russos falaram em abandonar o Tratado das Forças Convencionais na Europa, assinado em 1990. Mas agora, o governo Putin anunciou que responderá ao “escudo” norte-americano, com a instalação de um novo sistema de foguetes em Kalingrado, o enclave russo situado entre a Lituânia e a Polônia, que já foi a capital da Prussia Oriental e terra natal de Immanuel Kant, o filósofo da “paz perpétua”. Todos estes movimentos lembram passos de um minueto, simétricos e previsíveis. Mas não há dúvida que a Europa voltou a se mexer, e está cada vez mais parecida consigo mesmo e com sua longa história passada. Até o papa alemão resolveu entrar na dança, e atacar os protestantes e a Igreja Anglicana, por conta de antiquíssimas divergencias teológicas. Mas neste ponto, pelo menos, a imprensa e todos os governos europeus estão de acordo: como já está se transformando num hábito, uma vez mais, o papa dos católicos exagerou na dose.

* José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Artigo publicado originalmente em espanhol, na revista Sin Permiso, da qual José Luís Fiori faz parte do Conselho Editorial.
Fonte Agência Carta Maior

Presidente da Phillips cansou da existência do Piauí


Em entrevista ao Valor Econômico, Paulo Zottolo, um dos líderes do movimento Cansei diz que "não se pode pensar que o país é um Piauí" e que "se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Governador Wellington Dias protesta e senadores atacam executivo: "Tolo, ignorante, imbecil, megalomaníaco".

Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

O presidente da Phillips do Brasil, Paulo Zottolo, cansou também da existência do Estado do Piauí. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o executivo disse que, ao apoiar o movimento Cansei, desejava remexer no “marasmo cívico” do Brasil, e exemplificou: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”. A colunista Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, informou que o governador do Piauí, Wellington Dias (PT) encaminhará ao presidente Lula e ao Congresso Nacional um ofício para que o governo e o parlamento se posicionem a respeito das declarações do executivo.

Em nota enviada a Mônica Bérgamo, Dias afirmou:

“Tenho certeza de que o capitalismo afasta o homem do ser humano. Que Deus dê a ele a oportunidade de conhecer o Piauí e os homens e mulheres que aqui vivem. Para se ter uma idéia, o Piauí tem 80% de suas florestas nativas preservadas e produz oxigênio para o Brasil e para o mundo. O Piauí, segundo estudos em andamento, tem uma das maiores bacias de gás e petróleo do país. É do Piauí a melhor escola do Brasil, eleita dois anos consecutivos pelo Enem. O Piauí tem a melhor produtividade de soja, mel e algodão do país. Por coincidência, um piauiense, José Horácio de Freitas, foi diretor financeiro da Philips. Por ele e por todos os cidadãos piauienses deveríamos ter respeito. E faço a ele o convite para vir conhecer o Piauí”.

“É um tolo, arrogante e imbecil”, diz Mão Santa

Os senadores do Piauí reagiram duramente às declarações de Zottolo. No plenário do Senado, Mão Santa (PMDB) disparou: “É um tolo, um arrogante tolo, porque tem uns dólares da Philips, ignorante da nossa história. Ó tolo, ó ignorante, imbecil mesmo. Nunca vi. É tolo. O nome dele é tolo”. E acrescentou: “Hoje é o aniversário, ó tolo, ó ignorante, ó imbecil, de Teresina. Teresina, tolo, ignorante, imbecil da Philips. Você está cansado? Nós não nos cansamos, não. Nós somos da luta”.

Indignado, Mão Santa prosseguiu: “Ali, está Rui Barbosa, ó tolo, ó ignorante, da Philips, cansado! Rui Barbosa, olhe lá, veja nos resultados eleitorais, ele só venceu em Teresina, mostrando uma clarividência. Ó tolo, ó ignorante, ó imbecil e cansado da Philips".

Simpático ao movimento Cansei, o senador Heráclito Fortes (DEM), também atacou as declarações do presidente da Phillips: “Para comandar uma campanha dessa natureza, como o Cansei, é preciso, no mínimo, ter equilíbrio e respeitar os Estados da Federação, porque também cansei de arrogância e de prepotência".

Fortes criticou o ataque preconceituoso do executivo e, na mesma linha de Mão Santa, afirmou: “Só me resta chegar à conclusão de que, além de tolo, Zottolo é megalomaníaco”

terça-feira, agosto 14, 2007

Efeito dominó de calote e títulos podres detonam crise nos EUA



Só da Bear Stearns, a quinta maior corretora de investimento dos EUA, evaporaram três fundos especulativos, antes avaliados em US$ 20 bilhões, um deles associado a Merrill Lynch

O abalo, nas bolsas do mundo inteiro e em alguns dos principais bancos e corretoras, na semana passada, trouxe à luz do dia a crise que vem grassando, há pelo menos um ano, nos EUA – o estouro da bolha do setor imobiliário. Em menos de um mês, a quinta maior corretora de investimentos norte-americana, a Bear Stearns; a maior corretora de hipotecas dos EUA, a Countrywide Financial, e a décima maior, a American Home Mortgage Investment; e ainda bancos estrangeiros que também lá operavam fundos especulativos, como o maior banco francês, o BNP Paribas, confessaram o colapso das suas operações de pirâmide financeira ligadas à hipotecas nos EUA. As operações mais especul-ativas ficaram conhecidas como “subprime”, por serem voltadas para aqueles com histórico de inadim-plência e sem capacidade de pagamento, comprovação de renda ou garantias.
A coisa já tinha vindo à tona há um ano atrás, quando o HSBC anunciou que um fundo de hipotecas evaporara, e só se agravou desde então. Em junho de 2007, a maior corretora dos EUA, a Merrill Lynch, se engalfinhou com a Bear Stearns, sobre quem ficaria com o mico de um fundo posto a pique. Ao todo, até aqui, foram três os fundos especulativos da Bear que naufragaram, antes avaliados em US$ 20 bilhões. Assim, era um colapso anunciado, mas os bancos, corretoras e os fundos especulativos aceleraram, no ano passado, sua disseminação, até os chamados empréstimos “subprime” atingirem 30% do total, comparados com 6% em 2002.

HIPOTECAS

O esquema funciona por meio de oferecimento de crédito predatório, com as pessoas sendo empurradas para hipotecas de longo prazo “financiadas” por titulos de curto prazo, que eram rolados entre seguradoras, corretoras e bancos, garantindo polpudas comissões e juros. De acordo com o “Wall Street Journal”, “o acumulado dessas dívidas excede o valor dos investimentos”. Resumindo: nem vendendo a casa dá pra pagar a dívida; e quem não pagar o banco toma a casa. Mas a coisa foi tão longe que, mesmo se executar a casa, o banco, ou quem quer que seja que esteja com o mico na mão, não consegue recuperar o dinheiro que emprestou. Na realidade, a situação que os especuladores estão vivendo é que os títulos de sua pirâmide virtualmente vaporizaram no meio do caminho.

MICO

Bem ao estilo da vigarice neoliberal, a velha pirâmide recebeu nomes pomposos, como “collateralised debt obligations (CDOs)” – o que apenas significava que os empréstimos sem cobertura, ou de duvidosa validade e documentação incompleta podiam ter seu risco disfarçado através dos chamados “derivativos”, negociados e renegociados entre especuladores. Lotes de empréstimos bichados podiam ser disfarçados junto a títulos menos podres, e assim por diante. Até o mico. Naturalmente, a teoria dos derivativos é que eles vão funcionar perfeitamente a menos de uma “problema sistêmico” generalizado. Mas como se sabe há bom tempo, o “sistema”, apesar daquela gente que acreditava no fim da história, é sujeito periodicamente a crises. Aliás, crise é o que não tem faltado: quebra da bolsa de Wall Street em 1987; quebra do México em 1994; da Ásia e do fundo LTCM em 1998; dos ponto.com em 2000; “credit crunch” após o 11 de Setembro em 2001; e novo abalo da bolsa em 2003.
Não faltou inventiva para tentar manter inchada a pirâmide. Havia até a modalidade “Ninja” – a revelação é da “The Economist” – um tipo de empréstimo em que o comprador da casa, ou a pessoa que a hipotecava para arrumar dinheiro para pagar outra dívida, squer precisava de ter emprego. No “interest-only loan” típico, a vítima pagava por um curto período, em geral dois anos, só os juros, e a seguir começava a pagar os juros e o principal; momento em que ia a pique. Há ainda as modalidades “híbridas”, combinando várias formas de atrair incautos. No mais, era aquela ciranda, entre corretoras hipotecárias, fundos de derivativos, corretoras e bancos – e a enrolação de bancar 30, 40, 50 anos de hipoteca com títulos rolados no overnight. Um “Frankenstein”, como definiu a revista inglesa.

US$ 300 BILHÕES

As perdas não são pequenas. Apenas nos últimos dias, para amenizar o impacto do “aperto de crédito” – o interbancário parou na maioria do mundo porque os bancos não sabem o que sobrou dos fundos de derivativos de hipoteca – foram liberados recursos, por bancos centrais, de mais de 300 bilhões de dolares.
Agora, não há mais como esconder a crise. Ainda segundo “The Economist”, “o boom do Mercado habitacional foi o principal motor do crescimento econômico Americano nos últimos anos”. Foi, acrescentou, “a principal razão” pela qual a economia dos EUA “manteve um desempenho melhor do que o esperado” após o estouro de Wall Street no início da década. “Desde 2000, o salário real da maioria dos trabalhadores americanos praticamente não subiu, mas a disparada dos preços das moradias permitiu que os consumidores continuassem gastando”. Trata-se, segundo a publicação inglesa, “da maior bolha [imobiliária] da história dos EUA: em termos reais, os preços das moradias cresceram pelo menos três vezes mais do que em qualquer boom anterior no mercado imobiliário”. Situação que possibilitou “contrabalançar tanto a queda nos preços das ações como o débil crescimento dos salários”. Segundo a Merrill Lynch, a construção civil e o “efeito riqueza” – as pessoas se sentindo “mais ricas” e usando suas casas “como um grande caixa automático para obter dinheiro mediante empréstimos”, responderam por “mais da metade do crescimento do PIB em 2005”. Mas a inelutável realidade é que essas famílias estavam sendo induzidas a um consumo excessivo, além das suas possibilidades efetivas, para manter na tona os bancos praticamente quebrados junto com a bolsa no início da década, o que foi feito via juros quase negativos estabelecidos por Greenspan. A diferença entre os gastos das famílias americanas e os respectivos salários já chegou a um saldo negativo correspondente a 5,1% do PIB - poupança negativa. Até onde vão arrastar o endivida-mento amplo e geral?
ANTONIO PIMENTA

domingo, agosto 12, 2007

Cientistas acham floresta de 8 milhões de anos na Hungria

Uma antiga floresta de ciprestes que pode ter 8 milhões de anos foi descoberta na Hungria.Uma antiga floresta de ciprestes que pode ter 8 milhões de anos foi descoberta na Hungria.

BBCBrasil.com Ciência & Saúde Cientistas acham floresta de 8 milhões de anos na Hungria