sexta-feira, agosto 29, 2008

Nova Guerra Fria > Novas e Velhas Fronteiras > Novas Ameaças > Nova Geografia


Análise: Criméia pode ser teste para intenções russas
 
Paul Reynolds
Da BBC News
 
 
Navio russo entra no porto de Sebastopol
Criméia abriga Frota do Mar Negro da Marinha russa em Sebastopol
A operação militar russa contra a Geórgia e seu reconhecimento das províncias separatistas da Ossétia do Sul e da Abecásia provocaram temores que às vezes beiram o pânico sobre a possibilidade de uma nova Guerra Fria estar se desenhando.

O presidente russo, Dmitry Medvedev, disse que não quer uma nova Guerra Fria, mas que também não tem medo de uma.

Então, o conflito é um momento decisivo que anuncia uma nova era de confrontação ou apenas uma ação russa limitada para solucionar duas disputas de fronteira herdadas do período soviético?

Ou é algo intermediário, um sinal de incerteza em ambos os lados que representa tensão, mas não o tipo de luta ideológica e impasse militar que foi a Guerra Fria?

Novo teste

Uma bom teste das intenções russas poderia ocorrer na Criméia, o território que se projeta no Mar Negro e é parte da Ucrânia.

O ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, disse: "É muito perigoso. Há outros objetivos que se pode supor sejam os da Rússia, em particular a Criméia, a Ucrânia e Moldávia".

O problema com a Criméia é este. A Criméia foi entregue à Ucrânia pela República Soviética por Nikita Khrushchev em 1954. No entanto, moradores de etnia russa ainda formam a maioria de seus quase 2 milhões de habitantes.

A Criméia também abriga a Frota do Mar Negro da Marinha russa em Sebastopol, porto sobre o qual a Rússia tem um contrato de arrendamento até 2017.

Sebastopol tem ressonância na história russa, desde o cerco de britânicos e franceses em 1854-55. Recentemente, houve pequenas manifestações lá pedindo que a Criméia seja devolvida à Rússia.

Valery Podyachy, líder da Frente Popular Sebastopol-Criméia-Rússia, disse: "Enquanto a Rússia enviou ajuda para regiões ucranianas afetadas por enchentes, a Ucrânia falhou em ajudar a Rússia a forçar a paz na Geórgia e adotou uma postura abertamente hostil".

Há, portanto, potencial para problemas. Se a Rússia começasse a agitar em nome de seus "irmãos" na Criméia e argumentasse que deve ter Sebastopol (apesar de estar construindo uma nova base), a Criméia certamente poderia fornecer um teste das ambições russas e possivelmente um ponto de partida.

Preocupações

Esse temor em relação às ações futuras da Rússia explica parcialmente as preocupações do Ocidente. O ministro britânico do Exterior, David Miliband, foi à Ucrânia falando em formar "a coalizão mais ampla possível contra a agressão russa na Geórgia".

Em um discurso em Kiev, Miliband disse que os acontecimentos na Geórgia foram um "duro despertar".

Mas ele disse também: "O presidente russo diz que não tem medo de uma nova Guerra Fria. Nós não queremos uma. Ele tem uma grande responsabilidade de não iniciar uma".

O vice-presidente americano, Dick Cheney, irá à Geórgia. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se reuniu para declarar que não pode haver "negócios como de costume" com a Rússia.

As pessoas estão respeitando os princípios estabelecidos pelo diplomata americano George Kennan depois da Segunda Guerra Mundial que pedia a "contenção" de uma União Soviética agressiva.

Outro ponto de vista

Há um outro ponto de vista, porém, e esse é o de que enquanto não se deve confiar nas intenções russas, a Rússia também não pode ser totalmente culpada pelo que ocorreu na Ossétia do Sul.

O ex-embaixador britânico na Iugoslávia Sir Ivor Roberts disse: "Moscou agiu brutalmente na Geórgia. Mas quando os Estados Unidos e a Grã-Bretanha apoiaram a independência do Kosovo sem a aprovação das Nações Unidas, eles abriram caminho para a 'defesa' russa da Ossétia do Sul e para a atual humilhação do Ocidente".

Por trás disso também há o problema das fronteiras européias. Durante e depois da Guerra Fria, foi estabelecido (e ainda é) que as fronteiras, não importa o quão irracional fossem para seus habitantes, não poderiam ser modificadas sem um acordo.

Isso deu aos governos um poder de veto. A Sérvia tentou vetar a desintegração da Iugoslávia. A Geórgia não permitiu que a Abecásia e a Ossétia do Sul se separassem. A Ucrânia se agarra à Criméia, etc.

O potencial para um choque entre os interesses conflitantes das populações locais e os governos centrais é óbvio.

O temor de que as fronteiras possam se desmembrar também ajuda a explicar por que o reconhecimento russo da Abecásia e da Ossétia do Sul irritou tanto os governos ocidentais.

O problema deles, porém, é que não oferecem soluções para essas disputas além de boas intenções e um status quo policiado por tropas de paz, um status quo que pode ser facilmente abalado.



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Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
http://profjefersongeo.blogspot.com/

sexta-feira, agosto 22, 2008

Veja ecoa Daniel Dantas e é rebatida pela ABIN

 

Por meio de nota, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) classificou de “tendenciosa e irresponsável, sem apresentar qualquer fato respaldado em elementos dignos de credibilidade e isenção jornalística” a acusação da revista “Veja” de que a Agência e a Polícia Federal teriam grampeado o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Esta é a segunda edição seguida em que “Veja” insiste no tema. O texto busca desqualificar duas autoridades em particular, o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, que levou Daniel Valente Dantas à cadeia, e o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda. “Veja” afirma que “a PF está investigando o delegado responsável pelo caso, Protógenes Queiroz, assim como a extensão do envolvimento clandestino, perigoso e ilegal da Abin na operação [Satiagraha]”.

Na semana passada, em conferência na CPI dos Grampos, Daniel Dantas, buscou desqualificar o delegado Protógenes Queiroz e a Operação que desbaratou parte do seu esquema. Segundo Dantas, a Satiagraha foi uma mera “retaliação” de Paulo Lacerda por ele (DVD) ter repassado um dossiê falso à “Veja”, contendo contas bancárias no exterior de integrantes do governo federal, incluindo Lacerda.

Tais declarações motivaram Lacerda a solicitar que a CPI realizasse uma sessão para ouvi-lo. “O diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, ofereceu-se voluntariamente para depor na CPI das Escutas Clandestinas, da Câmara dos Deputados, a quem enviou requerimento no dia 12/08/2008, estando a audiência confirmada para a próxima quarta-feira, 20, às 14:30h, quando ficará à disposição da Comissão Parlamentar de Inquérito para reafirmar a total legalidade das atividades realizadas por esta Agência”, diz a nota da Abin.

No entanto, para “Veja”, os parlamentares da CPI deveriam fazer algo que não fizeram com Dantas, isto é, questionar, pois Lacerda “tem muito que explicar” sobre as “evidências gravíssimas de que a Abin participou ilegalmente dessa investigação”.

“Mídia é instrumento do império contra a soberania e a integração”

 

Em entrevista ao HP, Oswaldo Peredo, parlamentar do Movimento Ao Socialismo (MAS - partido do presidente Evo Morales) e presidente da Fundação Che Guevara, faz uma análise sobre o momento político boliviano, os avanços do processo revolucionário em seu país e a postura progressista e solidária do governo brasileiro nas negociações que levaram à nacionalização dos hidrocarbonetos. Irmão de Inti e de Coco Peredo, que lutaram ao lado de Che, Oswaldo foi escolhido - após a queda em combate dos três - chefe do Exército de Libertação Nacional no início dos anos 70, sendo uma referência para todos os nacionalistas e revolucionários bolivianos desde então

HP - Quais as principais mudanças realizadas pelo governo Evo Morales?

Peredo - No Primeiro de Maio de 2006, poucos meses depois do presidente Evo Morales ter assumido o executivo, se dá a nacionalização dos hidrocarbonetos. Este negócio, que é uma das principais fontes de ingressos da Bolívia, significava a entrada de US$ 1,5 bilhão por ano, o que para nosso país é uma cifra astronômica. Porém, desse total, ficavam nominalmente US$ 300 milhões para o Estado e US$ 1,2 bilhão para as transnacionais. Com a nacionalização, invertemos esta situação. Mas digo algo mais: estas transnacionais não deixavam esses US$ 300 milhões no país, pois sugavam desses recursos, por meio de mecanismos como subsídios pela importação de diesel. A Repsol vendia, a si mesma, diesel para a Repsol da Bolívia. Assim, o Tesouro Geral da nação recebia apenas US$ 78 milhões ao ano. Hoje, com a nacionalização, que não é confisco, nosso país recebe anualmente US$ 2 bilhões. Ou seja, a retomada pelo país de seus recursos naturais, fundamentalmente do petróleo e do gás, por si só, já significou um salto monumental no plano econômico. Antes, os estrangeiros levavam 82% dos recursos do petróleo enquanto que os 18% que ficavam no país ainda eram malversados pela oligarquia. Eram contratos lesivos ao interesse nacional, mas completamente desconhecidos do povo boliviano. A bancada do MAS os trouxe à tona, nós mudamos as regras do jogo, invertemos os percentuais e por isso estamos vivendo este novo momento. A direita dizia que as transnacionais iriam embora. Não foram, porque seguem lucrando.

HP - Recursos que começam a ser utilizados para o desenvolvimento nacional e para redistribuir renda.

Peredo - Isso se sente, particularmente nos municípios, com a entrada de recursos provenientes da nacionalização. Sou parlamentar do MAS em Santa Cruz de la Sierra e posso citar um dado: em 2005, pelo imposto direto dos hidrocarbonetos o município recebia 2 milhões de bolivianos ao ano. Hoje, recebemos cerca de 300 milhões de bolivianos ao ano. É evidente que a oligarquia não está convencida de que isso deva ser conduzido pelo povo. Então, erguem a bandeira da autonomia, pois querem descentralizar o governo apenas e tão somente para reforçar o centralismo nas regiões, para desperdiçar todos esses recursos. Mas há boas notícias também na mineração, onde se firmaram convênios com grandes empresas internacionais para exploração das jazidas de ferro. E há uma avaliação do quanto a Bolívia pode arrecadar com o ferro. No primeiro ano serão US$ 60 milhões, chegando a US$ 400 milhões em dez anos, ingressos para o Estado boliviano. Essa mineração é em Santa Cruz, somente. No resto do país, o estanho se valorizou o que significa o ingresso de mais US$ 2 bilhões.

HP - Quais são as medidas adotadas para ampliar o acesso da população aos alimentos básicos?

Peredo - O governo se vê na necessidade de coibir a exportação para que possa ter uma cesta básica que caiba no bolso da população. Os grandes latifundiários, que são donos das fábricas de azeite, de beneficiamento de arroz, desviavam produtos do mercado interno para a exportação, ocultavam para especular, contrabandeavam, para que o preço subisse e ganhassem mais. Assim, encareciam os produtos no mercado interno, o que fez com que o governo colocasse um freio nestas práticas. Recentemente, começamos a permitir novamente a exportação, mas na medida em que baixam os preços de produtos. Também foram criados vários tipos de entidades financeiras como o Banco de Desenvolvimento Produtivo, onde o crédito vai direto para os pequenos e médios produtores. Isso também tem produzido um choque com a direita, com os grandes donos de terras e de indústrias alimentícias. Estamos avaliando uma parceria com investidores árabes, que querem incrementar a produção alimentária em US$ 2 bilhões. Por um lado combatemos a especulação, por outro ampliamos os incentivos à agricultura familiar.

HP - Como a eleição de Evo impactou na auto-estima nacional?

Peredo - O impacto foi substancial, mas vai além da auto-estima do povo boliviano majoritariamente indígena. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, 62% da nossa população é indígena, mas a realidade aponta que são mais, pois há muitas pessoas que pelo preconceito racial, pela intensa discriminação de que foram historicamente objeto, não declaram sua condição indígena. A auto-estima de todo o povo boliviano tem se elevado, porque éramos conhecidos como um país produtor de droga, de cocaína, que estava entre os últimos lugares na fila do desenvolvimento, totalmente submetido ao estrangeiro. Agora que o governo é comandado por um indígena revolucionário, que está propondo e produzindo transformações imprescindíveis, isso tem forte impacto não apenas para o nosso país, mas para toda a América Latina.

HP - Qual sua avaliação da postura do governo brasileiro nas negociações quando do decreto de nacionalização?

Peredo - O governo brasileiro teve um papel destacado na garantia desta transição não ter sido traumática, principalmente pelas duras negociações estabelecidas com a Petrobrás, onde encontramos, juntos, uma saída positiva. Tudo foi bem graças à ação do presidente Lula que, arriscando uma situação política interna difícil, sustentou que era preciso atuar com justiça com o povo boliviano. Nosso agradecimento ao presidente Lula.

HP - Uma postura solidária.

Peredo - Claro, uma solidariedade que tem representado uma importante base de sustentação. Por exemplo: com a cooperação cubana, em menos de dois anos, construímos 60 hospitais de qualidade. São dois mil médicos cooperando conosco. Este ano, graças à cooperação Cuba-Venezuela, nosso país será declarado pela Unesco livre do analfabetismo. Há pouco mais de dois anos, tínhamos 32% de analfabetos, um dos maiores índices da América Latina. Com a ajuda venezuelana, abrimos uma grande planta de perfuração de gás e petróleo no Altiplano, o que contribuirá cada vez mais para a nossa soberania energética e para a integração de nossos países e povos. Assim, vamos avançando. Lula, Chávez, Cristina Kirchner, Rafael Correa, Daniel Ortega, Lugo. Todos são componentes de uma mesma corrente, com suas variantes, porque cada povo tem a sua fortaleza. É uma diversidade e amplitude que nos dá força.

HP - Mas há obstáculos de peso contra a integração.

Peredo - Um dos graves empecilhos à integração é a avalanche desinformativa, a tirania midiática, pois os meios de comunicação privados adotam uma postura terrorista em nossos países. No caso da Bolívia, controlados pela direita, exacerbam o racismo. Afinal, ‘como um índio ignorante pode governar um país?’, perguntam. Por isso queremos conclamar aos companheiros para que acompanhem de perto o processo boliviano, que é de todos os latino-americanos, para evitar que haja confrontação, pois os fascistas querem a guerra civil. Há grupos paramilitares dessa direita que agridem as pessoas apenas pela diferença da cor de sua pele. Esses setores, confiantes na sua própria mentira, propuseram um projeto de lei para o referendo revogatório dos mandatos. Quando o governo encarou o desafio, eles tentaram fugir das urnas. O povo não quer violência, quer resolver estes problemas politicamente. Precisamos de todo apoio internacional, particularmente do povo brasileiro, para que a vitória no referendo signifique um aprofundamento do processo revolucionário e da integração.

HP - Como iniciou sua militância?

Peredo - Me inscrevi na Juventude Comunista aos 13 anos. Meus irmãos eram, claro, os que me influenciavam politicamente: Antonio, Inti e Coco. Então veio a revolução cubana, que foi mais um poderoso estímulo, oxigenando nossa determinação. De fato, quando Che chega na Bolívia são muitos os jovens comunistas que se incorporam à guerrilha.

HP - Estavas lá?

Peredo - Eu estava em Moscou estudando medicina, quando me foi dada a tarefa de recrutar jovens bolivianos e latino-americanos que estudavam em países socialistas. O Che em seu diário diz: ‘se incorporaram 20 estudantes de países socialistas’. Esta tarefa estava sendo desenvolvida por mim. Os desdobramentos disso são conhecidos pela história. Coco cai numa emboscada. Inti sobrevive e quando estamos organizando um novo contingente para voltar à montanha, assassinam Inti numa emboscada na cidade de La Paz, dois anos depois da guerrilha. Então, em 1970, os remanescentes - éramos 12 - me elegem chefe do Exército de Libertação Nacional, fundado por Che, e começamos a reestruturar a nossa coluna guerrilheira. Em 1970, dez meses depois da queda em combate de Inti, tínhamos uma coluna de 67 homens e voltamos à montanha, mas já com ramificações na cidade. Há um compromisso com o sangue de Che.

LEONARDO SEVERO

O ensino vai mal e Veja conhece os culpados

MÍDIA & EDUCAÇÃO
O ensino vai mal e Veja conhece os culpados

Por Gabriel Perissé em 19/8/2008

A principal reportagem da revista Veja desta semana (edição nº 2074) aborda, uma vez mais, a qualidade do nosso ensino, aproveitando a oportunidade para (de novo!) comparar o Brasil medíocre à insuperável Finlândia.

A idéia central da matéria é a de que não temos consciência do quanto vai mal o ensino brasileiro. A fonte desta certeza é uma pesquisa encomendada pela própria Veja à CNT/Sensus. As jornalistas Monica Weinberg e Camila Pereira querem abrir nossos olhos. A pesquisa revela que a maioria dos docentes, pais e estudantes está satisfeita, embora indicadores e resultados em abundância demonstrem graves problemas: alunos semi-analfabetos, professores com preparação insuficiente, repetência e outros.

Conclusão: nós não nos enxergamos direito. Estaríamos conformados perante uma situação muito longe da ideal. Os pais cujos filhos freqüentam escolas particulares, investindo no fracasso. Os pais cujos filhos estão nas escolas públicas, acreditando na ilusão.

Mas a matéria prossegue. E pretende colocar o dedo na chaga. Estamos nessa situação porque professores, livros didáticos e apostilas antepõem ao ensino a doutrinação esquerdista. Os professores, segundo a mesma pesquisa, identificam-se com Paulo Freire e Marx. Em sala de aula, elogiam Che Guevara e Lênin. Deixam em segundo plano o ensino de língua portuguesa, aritmética, física. Não ensinam o que interessa... em nome da ideologia.

Mera coincidência

Aproveitando a carona, o economista Gustavo Ioschpe aponta a neutralidade como um dever dos professores. Essa história de "formar cidadãos conscientes" e "desenvolver a criatividade e o espírito crítico dos alunos" seria, no fundo, sonegar o conhecimento necessário à profissionalização do indivíduo. Aulas politicamente neutras solucionariam nossos problemas.

De fato, é desejável acompanhar o que "rola" em nossas salas de aula, identificando motivações ideológicas (afinal, isso é também formar cidadãos críticos), mas fica difícil aceitar o véu ideológico da neutralidade política com que a revista Veja se cobre. Denunciando a mistura entre ideologia de esquerda e educação, defende (dissimuladamente) a mistura que faz entre ideologia de direita e informação, entre interesses econômicos e jornalismo.

Curiosamente, entre as páginas 72 e 87, em que Monica Weinberg, Camila Pereira e Ioschpe escrevem, surgem três páginas (79, 81 e 83) publicitárias, nas quais o grupo Santander Brasil se apresenta como o melhor banco do mundo. Será uma alusão à "educação bancária" de que falava Paulo Freire? Não... isso é mera coincidência. Pura neutralidade.

 

Observatório da Imprensa

quarta-feira, agosto 06, 2008

A esperança de uma mudança de modelo

ESTADOS UNIDOS

 

Somente por meio do reconhecimento e da punição por todos os erros cometidos neste período crítico de sua história os Estados Unidos recuperarão o prestígio perdido em todo o mundo. As eleições presidenciais à vista constituem uma fundada esperança de mudança de modelo na ordem internacional. A análise é do ex-presidente de Portugal, Mário Soares.

Mário Soares

LISBOA – Os passados governos norte-americanos foram firmes defensores dos direitos humanos, pelo menos desde que a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou, em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, talvez o documento jurídico internacional mais importante do século XX. É verdade que durante a Guerra Fria os Estados Unidos fizeram dos direitos humanos uma arma decidida contra a União Soviética e as chamadas democracias populares. E conseguiram afetar notavelmente a imagem do bloco pró-soviético com os exemplos, repetidos até à saciedade, dos dissidentes, privados de seus direitos.
Entretanto, a política norte-americana tinha “dois pesos e duas medidas”, já que condenava os atentados aos direitos humanos quando lhe convinha e os ignorava quando eram cometidos por governos amigos ou aliados. Toda a América Latina conserva amargas recordações dessa regra de comportamento, bem como numerosos países do Oriente Médio, da África e Ásia.
O campo de concentração de Guantánamo, de exclusiva responsabilidade da administração de George W. Bush, é o caso mais nefasto e escandaloso de atentado consciente e em grande escala contra os direitos humanos, porque foi conseguinte à invasão unilateral do Iraque, justificada com falsos pretextos e que apenas serviu para arruinar o prestigio e a credibilidade de Washington, além de abrir o caminho para a crise múltipla que estamos globalmente imersos.
E não se trata de um caso isolado. As torturas praticadas em diferentes prisões sob controle militar norte-americano (penso sobretudo em Abu Ghraib) com tons de perversidade e sadismo – provocando revoltas e transtornos psíquicos nas tropas que participaram – hoje são conhecidas no mundo inteiro. Ainda é pouco o que se sabe sobre o que ocorreu – e que parece continua ocorrendo – em Guantânamo. Em particular se desconhece o tipo de informação que receberam as autoridades dos aeroportos – e seus respectivos governos – por onde passaram os prisioneiros e as cumplicidades que existiram.
Já foram libertados alguns prisioneiros por terem provado sua inocência. As declarações feitas são reveladoras sobre as condições de sua prolongada detenção e as torturas que sofreram. Mas falta saber muito mais e espero que com o próximo presidente dos Estados Unidos a verdade venha à tona, pouco a pouco. Por seu lado, o Tribunal Penal Internacional ganharia em prestígio se decidisse investigar o ocorrido e julgar os responsáveis.
É certo que os Estados Unidos foram atacados por atentados terroristas de uma magnitude até então desconhecida, no dia 11 de setembro de 2001. Diante desta agressão imperdoável todo o mundo foi solidário com Washington e condenou o terrorismo. Mas o governo Bush em lugar de reagir com inteligência quis exibir sua força militar ímpar, que descarregou contra um inimigo mal escolhido. A invasão do Iraque destruiu os precários equilíbrios do Oriente Médio e, no plano interno, provocou uma perseguição histérica antiterrorista que levantou barreiras discriminatórias para sua população islâmica, e tudo isso, em lugar de aniquilar o terrorismo, o fomentou. Como bem diziam os antigos romanos, “o sangue de cristãos foi a semente de novos cristãos”.
O fanatismo religioso desenvolvido nos Estados Unidos – simetricamente oposto ao fanatismo islâmico – é outro fator de preocupação em relação à herança de Bush. Não estamos livres do perigo de um ressurgimento de guerras religiosas, que são as piores guerras possíveis. Mas, a democracia norte-americana parece funcionar – apesar de todos os ataques que sofreu – o que representa, com as eleições presidenciais à vista, uma fundada esperança de mudança de modelo na ordem internacional.
Organizações dedicadas à defesa dos direitos humanos como a Anistia Internacional e associações jurídicas internacionais e nacionais investigam diversos tipos de tortura e procedimentos ilegais graves cometidos por militares norte-americanos contra suspeitos de terrorismo presos em Guantânamo. Foram criadas comissões de juristas para julgar tais violações, sobre as quais se divulgou ampla informação, como, por exemplo, a prática da tortura chamada de submarino (water-boarding). O Parlamento Europeu se ocupou destes graves assuntos, considerados politicamente espinhosos e chamou a atenção para a necessidade de se conhecer toda a verdade, doa a quem doer. Nesse sentido, foram feitas investigações e pedidas explicações que, até o momento, não foram cabalmente respondidas.
Recentemente, a Suprema Corte de Justiças dos Estados Unidos se pronunciou a favor da competência dos tribunais norte-americanos em decidir sobre estas matérias. É um passo importante na direção de reimplantar a legalidade nestes planos. Porque somente por meio do reconhecimento e da punição por todos os erros cometidos neste período crítico de sua história os Estados Unidos recuperarão o prestígio perdido em todo o mundo. (IPS)
* Mário Soares, ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.

 

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15159

Brasil é um dos dez maiores petroleiros no mundo

 

Mario de Freitas e Willemien Groot

14-07-2008

O enorme campo de óleo no litoral do Rio de Janeiro coloca o Brasil entre os dez maiores países produtores de petróleo. Com as novas descobertas, as reservas submarinas triplicaram, confirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em pouquíssimo tempo o Brasil produzirá mais que a Nigéria.
A existência do campo petrolífero já é conhecida há algum tempo, mas, nos últimos meses, aumentaram as especulações em torno dessas notícias não oficiais. A Petrobrás calcula que o campo Tupi tem oito bilhões de barris de petróleo.
É possível que seja um dos maiores campos de petróleo descoberto nos últimos trinta anos. As reservas estão a uns 800 quilômetros da costa e com três quilômetros de profundidade no mar. Contando com as reservas já existentes, o Brasil dispõe aproximadamente de uma reserva de 80 a 100 bilhões de barris. Mais que a Nigéria, que agora ocupa o décimo lugar entre os dez países produtores de petróleo.
Biocombustíveis
O Brasil tem um papel importante no mercado internacional de energia. Não só é um grande consumidor de energia mas o maior exportador de etanol. É o país que mais investiu na produção de combustíveis alternativos. A maior parte do total da energia consumida é proveniente de fonte alternativa, como os biocombustíveis, o etanol e usinas hidrelétricas.
etanolDesde a ditadura militar, nos anos setenta, os governantes de então encorajavam a produção de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, para diminuir a dependência de fornecedores estrangeiros. Por causa da forte queda dos preços do petróleo, nos anos oitenta, a produção de etanol praticamente foi paralisada.

Desde o início desse século, o combustível limpo e alternativo ganhou apoio do governo. Atualmente, oito de dez carros novos no Brasil são movidos a álcool (ou álcool e gasolina). Fazendeiros do centro e sudeste são os principais produtores de cana para o combustível.
Normas ambientais
Em 2005, o presidente Lula deu a largada para um projeto novo e de grande escala para a produção de biocombustíveis. Os planos incluíam tirar os lavradores do Nordeste da pobreza, através da renda com a produção de mamona, utilizada para fazer o biodiesel. Aproximadamente 200 mil lavradores estão diretamente envolvidos no projeto e, indiretamente, outros 50 mil no restante do país. O biocombustível é misturado ao diesel comum. A mistura, assim como o etanol, está disponível em qualquer posto de gasolina no país.
O Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas questiona o preço dessa produção. Sem normas estabelecidas, a ONU alerta que a floresta amazônica vai ter cada vez mais que ceder espaço aos canaviais.

A carta de demissão da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi um sinal explícito para essa instituição da ONU. Na carta, ela justifica sua saída "devido a dificuldades de executar os programas federais de meio ambiente". Marina Silva estaria sofrendo pressão para amenizar as regras para o desmatamento. Apesar disso, houve a redução do desmatamento da floresta em dez por cento.
Independente
Com a descoberta de novas reservas de petróleo e o desenvolvimento de alternativas energéticas, o Brasil tornou-se auto-suficiente no setor. Tornou-se cada vez menos suscetível às inconstâncias do mercado petrolífero. Se o Brasil atingir suas metas, Lula promete que a população só terá a ganhar com isso. As descobertas recentes de petróleo serão destinadas ao mercado interno e ao desenvolvimento do país, de acordo com suas promessas.

http://www.parceria.nl/brasil/20080714-br-petroleo