segunda-feira, junho 04, 2007

Pouca ajuda do G-8 à África

Pouca ajuda do G-8 à África - Radio Nederland

Vanessa Mock*
29-05-2007Há dois anos, os sete mais ricos do planeta e a Rússia prometeram cancelar as dívidas da África e aumentar a ajuda a seu desenvolvimento. Enquanto os representantes dos países do G-8 se preparam para um novo encontro, em 8 de junho, na Alemanha, aumentam as críticas sobre o fracasso no cumprimento das promessas feitas na reunião de cúpula, em Gleneagles, na Escócia, em 2005.

Os questionamentos não são restritos ao G-8. Relatório recente indica que países da União Européia maquiam dados reais sobre as contribuições ao continente africano. Os dados questionam o real compromisso da Europa com a África.
"Crise de credibilidade"O hino da conferência do G8 na Escócia celebrava a histórica promessa das nações mais ricas de aumentar a ajuda ao desenvolvimento e cancelar muitas dívidas de países africanos.
No entanto, passaram-se dois anos e Bono, o cantor do hino que impulsionava a campanha pelo "Fim da dívida", diz que os membros do G-8 enfrentam uma "crise de credibilidade". Bono afirma que, na prática, menos da metade dos 50 bilhões de euros prometidos atingiram a África. Pior ainda, o vocalista do U2 acusa aos países europeus - incluindo os membros do G-8 - de empastelarem os gráficos referentes à ajuda financeira.
"Estamos tristes porque alguns países deram pra trás nos compromissos. E mais infelizes ainda porque o cancelamento das dívidas tem sido utilizado para florear os gráficos. O perdão da dívida é uma coisa fantástica: 20 milhões de crianças africanas estão indo pra escola em conseqüência da campanha pelo "fim da dívida".(...) Não queremos que cortes nos pagamentos representem uma cortina de fumaça no apoio que não está crescendo. Na França e na Itália temos dois exemplos que nos deixam preocupados". Bono
Maquiagem numéricaNão são apenas os países do G-8 que utilizam a redução da dívida como cortina de fumaça. Organizações Não-Governamentais dizem que a maioria dos países da União Européia também tem culpa nessa maquiagem sobre a ajuda à África.
Embora os dirigentes da União Européia tenham se comprometido com reforçados aumentos na ajuda aos países pobres, há dois anos, um novo relatório aponta que aproximadamente um terço dessa assistência não significa apoio de verdade. Joanna Maycock da ONG ActionAid afirma que a Áustria maquia os gráficos referentes à ajuda à África em 60%, mas este rico país não é o único a fazer isso:
"O caso da Áustria não é raro. A Áustria é o maior culpado quanto a inflar sua ajuda para a redução das dívidas da Nigéria e Iraque. Outros países que infringem as metas estabelecidas na Escócia estão entre as maiores economias da Europa e são membros do G-8, como a França, a Itália e a Alemanha. Para cumprir as metas estabelecidas inflam a ajuda realmente dada. A França inflou os dados em quase 50%, isto é, incluiu nos recursos contabilizados como perdão de dívidas de países africanos recursos gastos com asilados e refugiados no próprio território. Incluiu ainda, nesses gráficos, ajuda a estudantes estrangeiros que vivem na França."
Joana Maycock explica que, embora os países da União Européia não estejam tecnicamente quebrando as regras estabelecidas, estão "enganando a opinião pública". No entanto, Joana diz que há algumas exceções, como a Holanda e a Suécia, que cumprem as metas estabelecidas quanto ao apoio à África.
O ministro holandês do Desenvolvimento, Bert Koenders, diz que é necessário olhar a União Européia como um todo. Para ele, em geral, é notório que os países do bloco inteiro estão ajudando mais os países pobres. "Acho que muitos países europeus melhoraram quanto à cooperação para o desenvolvimento, tanto como nação quanto como instituição em bloco, nos últimos anos".
DiscordânciaBono e ONGs cooperantes acham, no entanto, que as melhorias são insuficientes. Eles temem que a África e a ajuda ao desenvolvimento, em geral, caiam da lista de prioridades da União Européia. Durante uma recente visita à capital da União Européia, Bruxelas, Bono apelou novamente para mais apoio à África. Para ele, quando os europeus juntam forças para ajudar o continente africano, tornam-se mais ligados.
Ainda não está claro se o apelo do cantor ativista será ouvido em tempo pelos participantes da cúpula do G-8. Embora a África esteja na agenda do encontro de Heiligendammem, no norte da Alemanha, as declarações mais fortes dos líderes desses países ricos devem ser sobre o ambiente e as mudanças climáticas.
*Adaptação: Railda Herrero

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