sexta-feira, abril 14, 2006

Estudo afirma que juro alto não permite aumento do investimento e da produtividade


Iedi: “A retração econômica foi produzida notadamente pelo BC”

“Por trás desse desempenho pouco alentador está a política monetária balizada pelo sistema de metas inflacionárias”

Em estudo intitulado “Não Temer o Crescimento”, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Econômico e Social (Iedi) mostra que “existem condições concretas e objetivas para o Brasil sustentar um rápido crescimento econômico nos próximos anos”, desde que a política de juros altos do Banco Central seja revista. “O crescimento de 2,3% do PIB brasileiro em 2005 foi modesto, considerando-se tanto o dinamismo da economia mundial, principalmente dos países emergentes, quanto os intentos de desenvolvimento nacional. Por trás desse desempenho pouco alentador está a política monetária balizada pelo sistema de metas inflacionárias. O principal instrumento para conter a inflação desse sistema no Brasil tem sido a taxa de juros”.

Conforme a análise do Iedi, “a redução da inflação é obviamente uma meta válida e necessária para a estabilidade macroeconômica. Contudo, metas de inflação devem ser perseguidas de modo responsável para não inviabilizar o próprio crescimento sustentável da economia”. “A principal diferença entre a desaceleração atual e as anteriores é que, desta vez, a queda no nível de atividade econômica não resultou de um fator exógeno, como um racionamento de energia, uma crise externa ou um ataque especulativo à moeda brasileira. Desta vez a retração do nível de atividade foi produzida pelo governo, notadamente pelo Banco Central, para fazer a inflação convergir para um valor próximo da meta ajustada de 5,1% estabelecida para 2005”.

JUROS ALTOS

O Iedi contestou o argumento de que “diante da forte aceleração do crescimento do PIB em 2004, o Banco Central teria sido obrigado a elevar a taxa básica de juros para evitar que o superaquecimento da economia gerasse pressões inflacionárias de demanda e, portanto, inviabilizasse a convergência da inflação para as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional”. Diante de tal argumento, o Iedi questionou: “Como saber se a economia está aquecida? A resposta reside na diferença entre o seu produto potencial – aquele que um país atinge quando seus fatores de produção (trabalho, capital, etc.) estão plenamente empregados – e o produto registrado de fato. Todavia, a partir dessa resposta, emerge outra questão: a de como estimar o produto potencial, pois só assim será possível ver o quão forte está a pressão sobre os preços exercida pela demanda interna. O fato é que, por maior que seja a sofisticação matemática do método adotado para estimar o produto potencial, todas as metodologias, inclusive a adotada pelo Banco Central, tendem a extrapolar o passado recente para o futuro”.

Continuando a análise, diz o Iedi que “assim, estimativas de produto potencial ou de hiato do produto devem ser utilizadas com cuidado e pragmatismo na condução da política monetária. No caso do Brasil, isto significa projeções muito conservadoras e possivelmente auto-realizáveis sobre a capacidade de crescimento da economia. Se o passado recente foi de lento crescimento, projeta-se um crescimento lento para o produto potencial e, à medida que a política monetária se guie por tal estimativa, ela pode acabar produzindo um baixo crescimento projetado inicialmente. Ou seja, o Banco Central pode acabar ‘produzindo’ um hiato de produto que justifica sua política monetária”.

Outro ponto considerado “relevante” pelo Iedi “concerne à constatação de que a taxa de inflação não depende exclusivamente de fatores de demanda, depende também de fatores de oferta. Como choques de oferta podem alterar a inflação independentemente do nível de atividade da economia, estimativas de produto potencial não são um bom indicador para o comportamento da inflação. Por fim, cumpre asseverar que o crescimento de hoje determina o investimento e a produtividade de amanhã, fazendo com que as taxas de crescimento efetivo e potencial não são um bom indicador para o comportamento da inflação”.

DESEMPREGO

No estudo, o Iedi apontou as condições “concretas e objetivas” para levar o país ao crescimento sustentado: “Em primeiro lugar, a taxa de desemprego ainda é elevada no país, situação que permite um rápido crescimento do emprego sem gerar pressões inflacionárias excessivas via aumento do salário real médio da economia. Segundo, como grande parte da força de trabalho brasileira está empregada em setores de baixa produtividade do trabalho, a aceleração do crescimento levará a um aumento da taxa de crescimento da produtividade pela simples transferência de trabalhadores dos setores ‘atrasados’ para os setores ‘modernos’. Terceiro, pelo lado do capital, a taxa de investimento do Brasil normalmente responde rapidamente a uma aceleração do crescimento. Logo, dada uma expansão rápida do PIB por dois anos consecutivos, é plausível esperar um grande aumento da taxa de investimento, o que por sua vez aumentará o estoque de capital e a capacidade produtiva da economia. Ademais, com o aumento do investimento em novas máquinas, equipamentos e estruturas também vem associado a novas tecnologias, a própria aceleração do crescimento e do investimento traz consigo um aumento estrutural da produtividade e da eficiência da economia”.

Segundo o Instituto, “as atuais condições internas e externas favorecem o rápido crescimento da economia brasileira por um longo período. Para que esta oportunidade seja aproveitada é preciso, antes de tudo, não temer o crescimento econômico”. E isso “não significa relaxar o controle da inflação, mas simplesmente trabalhar com um horizonte de tempo maior. Matar prematuramente uma expansão por medo da inflação pode até inviabilizar a própria política de metas de inflação, pois se a política monetária não permite um aumento do investimento e da produtividade, o produto potencial não cresce e qualquer pequena expansão da economia sempre parecerá inflacionária”.

LUIZ ROCHA

Nenhum comentário:

Postar um comentário