A obstrução da bancada republicana impede a prorrogação do auxílio desemprego dos americanos há mais tempo desempregados e deixa também os estados sem US$ 50 bilhões em verbas federais
Até este fim de semana – o 4 de Julho, data da independência dos EUA – a obstrução da bancada republicana no Senado já deixou sem a prorrogação do auxílio-desemprego a 1,7 milhão dos norte-americanos há mais tempo desempregados, e esse total ultrapassará os 2 milhões até o dia 12, quando o Congresso retoma as atividades após o recesso de meio de ano.
Deixou, também, os estados – até mesmo os governados por eles, como a combalida Califórnia - sem US$ 50 bilhões em verbas federais de emergência, inadiáveis para manter em funcionamento o Medicaid, a assistência médica aos miseráveis, e para evitar que milhares de professores sejam demitidos.
A lei que prorroga o auxílio-desemprego até novembro para esses trabalhadores está em tramitação há 11 semanas, mas a situação ficou crítica a partir de 1º de junho, dia seguinte ao “Memorial Day” – o feriado nacional em homenagem aos caídos na guerra -, quando expirou a extensão de emergência decretada por Obama em 2009. A extensão, que complementa o auxílio-desemprego pago pelos estados por 26 semanas (com variações), é bancada pelo governo federal em caráter de emergência com recursos do Tesouro. Apenas nos números oficiais – subestimados – o total de desempregados há mais de seis meses é de 7 milhões.
AJUDA SÓ A BANCO
Os mesmos republicanos que fabricaram um déficit monstruoso cortando impostos dos ricos por oito anos, se metendo em duas guerras e, depois, salvando Wall Street com trilhões de dólares, agora gritam que não dá para dar um modesto cheque de US$ 300 semanais a um cidadão, sem emprego há seis meses ou mais, para que possa alimentar sua família, comprar um tênis, e não ir para debaixo de uma ponte.
“Ninguém está pondo em questão o valor desses programas muito importantes”, asseverou o republicano de Massachusets, senador Scott Brown. Mas, acrescentou cinicamente, “precisamos viver dentro das nossas posses”, e é hora de “fazer escolhas difíceis”.
Mas a cruzada do “déficit first” e do “nenhum cent para a gentalha” não é composta só por republicanos; conta com a adesão de vários democratas. A extensão por mais seis meses do seguro-desemprego custa cerca de US$ 40 bilhões, para um país com PIB de US$ 13 trilhões. Aliás, menos, porque os republicanos “moderados”, para emprestar 1 ou 2 votos, sem os quais a lei não passa, cobram caro. Assim, os US$ 40 bilhões previstos já caíram para US$ 33 bilhões, após subtração do diminuto adicional de US$ 25 semanais que Obama havia instituído no ano passado para todos os desempregados que recebiam o auxílio.
Nas duas votações anteriores, os paladinos do “controle do déficit” nas costas dos desvalidos, haviam feito os desempregados, nos termos de editorial do “New York Times”, de “reféns” de seu pleito para derrubar item da lei que aumentava o imposto pago por gerentes de fundos especulativos (alíquota 15%) para o mesmo patamar (35%) dos demais norte-americanos de mesma faixa de renda.
EXCOMUNHÃO
O mesmo Scott do “viver conforme nossas posses” e das “difíceis escolhas” - anunciou depois ao líder democrata no Senado, Harry Reid, que não iria mais votar a favor da lei da reforma financeira por causa de uma taxa sobre os bancos de US$ 19 bilhões, em dez anos, para prevenir bailouts. Como se sabe, banco pagar imposto, para essa gente, é pecado mortal, caso de excomunhão.
No mesmo raciocínio, reforço de caixa do Pentágono, especialmente dotação para as guerras, não piora déficit. Jamais. É certa a aprovação de US$ 60 bilhões, e só com a parcela diretamente voltada para o Afeganistão – US$ 37 bilhões - já dava para cobrir aqueles seis meses de seguro-desemprego que os republicanos insistem em tentar garfar.
Na última tentativa de votar a extensão do benefício, na quarta-feira dia 30 de junho, ficou faltando um voto para superar a barreira dos 60 votos, necessários para derrubar a obstrução. Duas senadoras republicanas, Olympia Snowe e Susan Collins votaram com os democratas. O senador democrata Ben Nelson manteve o voto “não”. O líder Reid anunciou que só voltará a colocar a lei em votação quando tiver assumido o substituto do senador Robert Byrd, que faleceu esta semana.
ANTONIO PIMENTA Hora do Povo
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