sexta-feira, junho 26, 2009

Paul Craig liga distúrbios a plano da CIA para desestabilizar o Irã

 

Para o ex-secretário-adjunto do Tesouro de Reagan, há nos protestos de rua em Teerã “muitos sinais evidentes que são como marca registrada da CIA, já  observados na Geórgia e Ucrânia. É preciso ser completamente cego para não vê-los agora no Irã”

“Vários comentaristas têm manifestado crença inabalável na pureza de intenções de Mousavi e da juventude ocidentalizada de Teerã. É como se o plano da CIA, de desestabilização, noticiado há dois anos, nada tivesse a ver com o desenrolar dos eventos de hoje”, questiona Paul Craig Roberts, que exerceu o cargo de secretário-adjunto do Tesouro dos EUA durante o governo Reagan.

“Tem-se repetido”, destaca Paul Craig, “que Ahmadinejad roubou votos, porque o resultado foi apresentado depressa demais, em tempo que teria sido insuficiente para que os votos fossem contados”. “Mas, de fato”, esclarece, “Mousavi foi o primeiro a declarar vitória, apenas algumas horas depois de encerrada a votação. É procedimento ‘clássico’ da CIA, para desacreditar resultados eleitorais que não sejam os ‘desejados’. A CIA sempre apressa a declaração de vitória. Quanto mais tempo houvesse entre uma declaração ‘preventiva’ de vitória e a liberação das tabelas oficiais de votos apurados, mais tempo Mousavi teria para criar a impressão de que as autoridades eleitorais, responsáveis pelas eleições, estariam alterando as tabelas de apuração”.

Paul Craig lista fatos e declarações que comprovam a participação da CIA no fomento dos atuais distúrbios para colher a desestabilização do Irã e ajudar Mousavi a ganhar no grito, mesmo havendo perdido por uma diferença de 11 milhões de votos para o candidato Ahmadinejad.

APROVAÇÃO SECRETA

Craig relata que no dia 23/5/2007, Brian Ross e Richard Esposito noticiaram no canal ABC News: “A CIA recebeu aprovação secreta da Casa Branca para montar uma operação ‘negra’ para desestabilizar o governo iraniano, informaram à rede ABC News oficiais da ativa e da reserva da comunidade de inteligência”. No dia 27/5/2007, o jornal London Telegraph, citando outras fontes, noticiou: “O presidente Bush assinou hoje autorização para que a CIA construa campanha de propaganda e desinformação com vista a desestabilizar, e eventualmente destituir, o governo teocrático dos mulás.”

“Alguns dias antes”, diz ainda Craig, em seu artigo publicado no site Counterpunch, “o Telegraph noticiara, que um dos neoconservadores e senhores-da-guerra do governo Bush, John Bolton, declarara que um ataque militar dos EUA ao Irã ‘seria a última opção, caso não dessem resultado nem as sanções econômicas nem as tentativas para fomentar agitação de rua e levante da população nas cidades [grifo nosso]’”.

ESCALADA

Craig lembra ainda que “no dia 29/6/2008, Seymour Hersh escreveu, na revista New Yorker: “No final do ano passado, o Congresso aprovou pedido do presidente Bush para liberar verbas para uma grande escalada nas operações secretas de inteligência contra o Irã, conforme informam fontes militares, do serviço secreto e do Congresso. Essas operações, para as quais o presidente Bush solicitou 400 milhões de dólares, foram apresentadas em documento assinado por Bush e visam a desestabilizar o governo religioso do Irã.”

SINAIS

“Parece evidente que há manifestantes sinceros nos protestos de rua em Teerã. Mas há também muito sinais evidentes que são como marca registrada da CIA, já observados na Geórgia e na Ucrânia. É preciso ser completamente cego para não os ver em Teerã”, diz o ex-secretário de Reagan.

Daniel McAdams (British Human Rights Group) destacou que o neoconservador Kenneth Timmerman escreveu um dia antes das eleições, que “fala-se de uma ‘revolução verde’ em Teerã”. Como Timmerman poderia saber de uma ‘revolução’ que só começaria dois dias depois? A única explicação é que conhecia os planos da CIA.
“E por que haveria uma ‘revolução verde’ já preparada desde antes das eleições... sobretudo se Mousavi estivesse certo de que seria ‘eleito?’”, reflete Paul Craig.

É também Timmerman que cita a atuação de ONGs como a National Endowment for Democracy, que, segundo a escritora Eva Golinger, teve papel decisivo no financiamento dos golpistas na Venezuela, cujo complô o povo derrotou. “National Endowment for Democracy”, afirma Timmerman, “gastou milhões de dólares na promoção de revoluções ‘coloridas’ (...). Parte desse dinheiro parece ter chegado às mãos dos grupos pró-Mousavi, que têm laços com organizações não-governamentais fora do Irã financiadas pela [ONG] National Endowment for Democracy.”

NATHANIEL BRAIA - http://www.horadopovo.com.br/

quarta-feira, junho 24, 2009

Desdolarização: o desmantelamento do império financeiro-militar dos EUA

 

Além de evitar o financiamento tanto da compra da sua própria indústria pelos EUA como do cerco norte-americano ao globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de “almoço gratuito” que a América tem obtido. Tal como a questão se lhes apresenta, veem os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeira quanto militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio?

MICHAEL HUDSON*

Aquilo que pode vir a demonstrar-se como os ritos finais da hegemonia americana começou em abril na conferência do G-20 e tornou-se ainda mais explícito no Fórum Econômico Internacional de S. Petersburgo, quando o sr. Medvedev apelou à China, Rússia e Índia para “construírem uma ordem mundial cada vez mais multipolar”. O que isto significa em bom inglês é: nós atingimos o nosso limite no subsídio ao cerco militar da Eurásia pelos Estados Unidos, enquanto permitimos também que os EUA se apropriem das nossas exportações, companhias, ações e patrimônio em troca de papel-dinheiro de valor discutível.

“O sistema unipolar mantido artificialmente”, esclareceu o sr. Medvedev, “está baseado sobre um grande centro de consumo, financiado por déficits crescentes, e, portanto, dívidas crescentes, uma moeda de reserva anteriormente forte, e um sistema dominante de avaliação de ativos e riscos”.

O ponto de impasse é a capacidade dos EUA de imprimirem ilimitadas quantidades de dólares. Os super-gastos dos consumidores americanos com importações que excedem as exportações, as compras americanas de companhias e patrimônio estrangeiro, e os dólares que o Pentágono gasta no exterior, acabam todos em bancos centrais estrangeiros. Estas agências enfrentam então uma escolha difícil: ou reciclar estes dólares de volta aos Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro dos EUA, ou deixar a força do “livre mercado” aumentar o valor relativo da sua moeda em relação ao dólar – com isso aumentando o preço de suas exportações, colocando-as fora dos mercados mundiais e, portanto, criando desemprego interno e insolvência nos negócios.

Quando a China e outros países reciclam as suas entradas de dólares comprando títulos do Tesouro dos EUA para “investir” nos Estados Unidos, esta acumulação não é realmente voluntária. Ela não reflete a fé na economia dos EUA, ou o enriquecimento de bancos centrais estrangeiros através das suas poupanças, ou qualquer preferência de investimento calculado, mas simplesmente uma falta de alternativas. “Livres mercados” ao estilo-USA penduram países num sistema que os força a aceitar dólares sem limites. Agora eles querem sair.

Isto significa criar uma nova alternativa. Ao invés de fazer simplesmente “mudanças cosméticas, como alguns países, e talvez como as próprias organizações financeiras internacionais desejam”, concluiu o sr. Medvedev no discurso de S. Petersburgo, “o que precisamos são instituições financeiras de um tipo completamente novo, em que questões e motivos políticos, e países em particular, não dominarão”.

Quando os gastos militares no estrangeiro forçaram a balança de pagamentos dos EUA ao déficit e levaram os Estados Unidos ao abandono do ouro, em 1971, os bancos centrais ficaram sem o ativo tradicional utilizado para regular desequilíbrios de pagamentos. A alternativa, na falta de outra, era investir as suas subsequentes entradas de pagamentos em títulos do Tesouro dos EUA, como se estes ainda fossem “tão bons quanto ouro”. Os bancos centrais agora possuem US$ 4 trilhões desses títulos nas suas reservas internacionais – o aterrissamento desses empréstimos financiou a maior parte dos déficits do orçamento interno do governo dos EUA durante mais de três décadas! Uma vez que cerca da metade dos gastos discricionários do governo dos EUA é com operações militares – incluindo mais de 750 bases militares no estrangeiro e operações cada vez mais dispendiosas nos países produtores de petróleo e nas vias de acesso ao mesmo – o sistema financeiro internacional está organizado de um modo que financia o Pentágono, assim como as compras americanas de ativos estrangeiros, que se espera renderem muito mais do que os títulos do Tesouro possuídos pelos bancos centrais estrangeiros.

A principal questão política enfrentada pelos bancos centrais do mundo é, portanto, como evitar acrescentar ainda mais dólares às suas reservas e, portanto, financiar ainda mais o gasto deficitário dos EUA – incluindo a despesa militar junto às suas fronteiras.

Em primeiro lugar, os seis países da SCO [Organização de Cooperação de Shangai, que reúne Rússia, China, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão] e os países BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] pretendem usar suas próprias moedas no comércio, de modo a obterem o benefício do crédito mútuo que os Estados Unidos até agora monopolizaram para si próprios. Tendo em vista este objetivo, a China selou acordos bilaterais com a Argentina e o Brasil no sentido de fazer o seu comércio em renminbi ao invés do dólar, da libra esterlina ou dos euros, e duas semanas atrás a China alcançou um acordo com a Malásia no sentido de fazer o comércio entre os dois países em renminbi. O antigo primeiro-ministro, Dr. Mahathir Mohamad, explicou-me em janeiro que, como país muçulmano, a Malásia quer evitar fazer qualquer coisa que facilite a ação militar dos EUA contra países islâmicos, incluindo a Palestina. O país já tem demasiados ativos em dólares, explicaram os seus colegas. O governador do banco central Zhou Xiaochuan, do Banco do Povo da China, redigiu uma declaração oficial no seu site da Internet, segundo a qual o objetivo agora é criar uma moeda de reserva “que seja desconectada de países individuais”. Este é o objetivo das discussões em Yekaterinburg.

Além de evitar o financiamento tanto da compra da sua própria indústria pelos EUA como do cerco norte-americano ao globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de “almoço gratuito” que a América tem obtido. Tal como a questão se lhes apresenta, veem os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeira quanto militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio? Os Estados Unidos são agora o maior devedor do mundo, mas tem evitado o sofrimento dos “ajustes estruturais” impostos a outras economias devedoras. As reduções de taxas de juros e fiscais em face dos déficits comerciais e orçamentários em explosão são vistas como o cúmulo da hipocrisia, considerando os programas de austeridade a que Washington força outros países, através do FMI e outros dos seus veículos.

Os Estados Unidos dizem às economias devedoras para liquidarem as suas empresas públicas e os seus recursos naturais, elevarem as suas taxas de juros e aumentarem os impostos enquanto arruínam as suas redes de segurança social a fim de espremer dinheiro para pagar aos credores. E, internamente, o Congresso proibiu a CNOOK, da China, de comprar a Unocal com o argumento da segurança nacional, assim como proibiu Dubai de comprar portos e outros fundos de riqueza soberana de comprarem infraestruturas chave. Os estrangeiros são convidados a emularem a compra japonesa de troféus tipo elefantes brancos, tal como o Rockefeller Center, no qual os investidores perderam rapidamente um bilhão de dólares e acabaram por se afastar.

Quanto a isto, os EUA não deram realmente à China, e a outros países com excedentes de pagamentos, grande alternativa exceto descobrir um meio de evitar nova acumulação de dólares. Até à data, as tentativas da China de diversificar os seus haveres em dólares para além dos títulos do Tesouro não tiveram muito êxito. Para começar, Hank Paulson, da Goldman Sachs, dirigiu o seu banco central para os títulos de rendimento mais alto da Fannie Mae e do Freddie Mac, explicando-lhes que estes eram de fato obrigações públicas. Ambos entraram em colapso em 2008, mas pelo menos o governo dos EUA tomou posse destas duas agências de empréstimos hipotecários, acrescentando formalmente os seus US$ 5,2 trilhões em obrigações à dívida nacional. De fato, foi em grande parte o investimento oficial estrangeiro que estimulou o salvamento. Impor uma perda a agências oficiais estrangeiras teria rompido de imediato o padrão-título do Tesouro, não só por destruir totalmente a credibilidade dos EUA, como também porque, simplesmente, há muito poucos títulos do governo para absorverem a inundação de dólares na economia mundial devida à elevação dos déficits da balança de pagamentos norte-americana.

Procurando uma posição de equilíbrio para proteger o valor dos seus haveres em dólares quando a bolha do crédito do Federal Reserve levou ao rebaixamento das taxas de juro, os fundos de riqueza soberana da China procuraram diversificar a partir do fim de 2007. A China comprou participações no bem entrelaçado fundo de ações Blackstone e no Morgan Stanley, em Wall Street, no Standard Bank, do Barclays, na África do Sul (antes filiado ao Chase Manhattan, no tempo do apartheid) e no conglomerado financeiro belga Fortis, que entrou logo em colapso. Mas o setor financeiro dos EUA estava entrando em colapso sob o peso da sua dívida piramidal e os preços das ações de bancos e firmas de investimento afundaram em todo o mundo.

Os estrangeiros veem o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional de Comércio como emanações de Washington num sistema financeiro apoiado em bases militares e porta-aviões americanos que envolvem todo o globo. Mas esta dominação militar é um vestígio de um império americano que já não é mais capaz de dominar pela força econômica. O poder militar norte-americano é músculo em excesso, baseado mais no armamento atômico e ataques aéreos à longa distância do que sobre operações no terreno, as quais politicamente tornaram-se demasiado impopulares para serem montadas em grande escala.

Na frente econômica, não há meio previsível pelo qual os Estados Unidos possam descarregar os US$ 4 trilhões que devem a governos estrangeiros, aos seus bancos centrais e aos fundos de riqueza soberana estabelecidos para dar destino à inundação global de dólares. A América tornou-se uma caloteira – e na verdade, uma caloteira militarmente agressiva, pois procura manter-se como a potência única que, através de meios econômicos, chegou a ser. O problema é como restringir o seu comportamento. Yu Yongding, um antigo conselheiro do banco central chinês, agora na Academia de Ciências da China, sugeriu que o secretário do Tesouro, Tim Geithner, fosse avisado de que os Estados Unidos deveriam “salvar-se” antes e acima de tudo pela redução do seu orçamento militar. “O imposto de renda dos EUA provavelmente não aumentará no curto prazo devido ao baixo crescimento econômico, a despesas inflexíveis e ao custo de ‘combater duas guerras’ “.

Atualmente são as poupanças estrangeiras, não as dos americanos, que estão financiando o déficit orçamentário dos EUA, através da compra da maior parte dos títulos do Tesouro. O efeito é tributação sem representação para os eleitores estrangeiros, pois não podem dizer ao governo dos EUA como utilizar as suas poupanças forçadas. Portanto, é necessário aos diplomatas financeiros que ampliem o âmbito das suas decisões políticas para além do setor do mercado privado. As taxas de câmbio são determinadas por muitos fatores além de “cartões de crédito detidos pelos consumidores”, o eufemismo habitual que a mídia dos EUA menciona para o déficit da balança de pagamentos. Desde o século XIII, a guerra tem sido um fator dominante na balança de pagamentos dos principais países – e de suas dívidas nacionais. O financiamento de governos através de títulos faz-se sobretudo para dívidas de guerra, pois em tempos de paz normais os orçamentos tendem a ser equilibrados. Isto liga o orçamento de guerra diretamente à balança de pagamentos e às taxas de câmbio.

Os países estrangeiros veem-se presos a títulos de dívida impagáveis – sob condições em que, se se movimentassem para travar o almoço gratuito dos EUA, o dólar afundaria e os seus haveres em dólares cairiam de valor em relação às suas próprias moedas internas e outras divisas. Se a moeda da China se elevasse em 10% em relação ao dólar, o seu banco central teria o equivalente a uma perda de US$ 200 milhões nos seus haveres de US$ 2 trilhões, quando convertidos em yuan. Isto explica porque, quando agências de classificação de títulos falam acerca da perda da classificação AAA para os títulos do Tesouro dos EUA, elas não querem dizer que o governo não possa simplesmente imprimir os dólares de papel para “tornar bons” estes títulos. Querem dizer que os dólares se depreciarão em seu valor internacional. E isso é exatamente o que está se verificando agora. Quando o sr. Geithner fez uma cara séria e disse numa sessão na Universidade de Pequim, no princípio de junho, que acreditava num “dólar forte” e que, portanto, os investimentos da China nos EUA eram seguros e saudáveis, a reação foram risadas sarcásticas.

A previsão de uma elevação da taxa de câmbio da China dá um incentivo aos especuladores para procurarem tomar emprestado em dólares a fim de comprar renminbi e se beneficiarem com a valorização. Para a China, o problema é que este influxo especulativo tornar-se-ia uma profecia auto-cumprida ao forçar a alta da sua divisa. Assim, o problema das reservas internacionais está inerentemente ligado ao do controle de capitais. Por que a China deveria ver as suas companhias mais lucrativas serem vendidas por dólares criados livremente, os quais o banco central deve utilizar para comprar títulos do Tesouro dos EUA, de baixo rendimento, ou perder ainda mais dinheiro em Wall Street?

Para evitar esse dilema é necessário inverter a filosofia dos mercados de capital abertos que o mundo tem adotado desde Bretton Woods, em 1944. Por ocasião da visita do sr. Geithner à China, “Zhou Xiaochuan, ministro do Banco Popular da China, o banco central do país, disse enfaticamente que esta era a primeira vez, desde as conversações semestrais principiadas em 2006, que a China precisava aprender tanto com os erros americanos como com os seus êxitos” no que concerne à desregulamentação de mercados de capital e desmantelamento de controles.

Uma era está, portanto, chegando ao fim. Face ao contínuo super gasto dos EUA, a desdolarização ameaça forçar os países a retornarem à espécie de taxas de câmbio duais que eram comuns entre a I e a II Guerras Mundiais: uma taxa de câmbio para o comércio de mercadorias e outra para movimentos de capital e investimentos, pelo menos das economias da área do dólar.

Mesmo sem controles de capital, os países que se reúnem em Yekaterinburg estão dando passos para evitar serem os receptores relutantes de ainda mais dólares. Ao verem que a hegemonia global dos EUA não pode continuar sem os gastos de poder que eles próprios fornecem, os governos estão tentando acelerar o que Chalmers Johnson denominou “as aflições do império” no seu livro com o mesmo nome (“The Sorrows of Empire”). Se a China, a Rússia, e seus aliados não alinhados, prosseguirem o seu caminho, os Estados Unidos já não viverão mais das poupanças dos outros (na forma dos seus próprios dólares reciclados) nem terão o dinheiro para as suas despesas e aventuras militares ilimitadas.

Autoridades americanas quiseram comparecer como observadores à reunião de Yekaterinburg. Disseram-lhes Não. É uma palavra que os americanos ouvirão muito no futuro.

* É ex-economista de Wall Street especializado em balanço de pagamentos e bens imobiliários no Chase Manhattan Bank (agora JPMorgan Chase & Co.), Artur Anderson e, depois, no Hudson Institute. Em 1990 colaborou no estabelecimento do primeiro fundo soberano de dívida do mundo para Scudder Stevens & Clark. Hudson foi assessor econômico chefe de Dennis Kucinich na campanha primária presidencial democrata e assessorou os governos dos EUA, Canadá, México e Letônia, assim como o Instituto das Nações Unidas para Formação e Pesquisa. Destacado professor e pesquisador na Universidade de Missouri, na cidade de Kansas, é autor de numerosos livros, entre eles “Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire”.

http://www.horadopovo.com.br/

Quem é quem na política iraniana

 

M.K. BHADRAKUMAR*

“A oposição cenográfica dos habitantes dos bairros ricos de Teerã cumpriu o papel de acrescentar cor, óculos ‘de griffe’ e hinos pró-mercado à campanha de Mousavi. Tido com reformador e progressista, Mousavi jamais foi nem uma coisa nem outra”, diz o indiano M.K. Bhadrakumar

A política iraniana nunca é fácil de decifrar. A agitação criada em torno do resultado das eleições presidenciais da 6ª-feira passada intrigou muitos dos sempre presentes jornalistas e analistas autoproclamados decifradores bem informados dos códigos políticos iranianos. Tanto se escreveu sobre tantas pistas falsas que, hoje, já ninguém parece saber quem é quem na disputa política no Irã, e o que mais interessa a cada um.

O grande vitorioso foi o Líder Supremo, o Aiatolá Ali Khamenei; esse, sim, alcançou vitória retumbante. A ‘eminência parda’ da política iraniana, Akbar Hashemi Rafsanjani, é o perdedor, obrigado agora a lidar com os efeitos de uma acachapante derrota.
Resta saber se, afinal, estará caindo a cortina, depois de encerrado o último ato da tumultuada carreira do “Tubarão” –, apelido que ‘colou’ em Rafsanjani, desde o tempo em que nadava no poço sem fundo de intrigas que é o Parlamento ( Majlis) iraniano. Naquele poço, Rafasanjani acostumou-se a nadar sem qualquer restrição, como predador político e como deputado porta-voz da Revolução Iraniana, desde os primeiros dias.

Com a enormíssima porcentagem de 64% dos votos, o presidente Mahmud Ahmedinejad venceu as eleições em 2009. E é difícil resistir à tentação de escrever que, como a grande baleia de Herman Melville em Moby Dick – a força, a fúria, a premeditação e a maldade –, Rafsanjani foi profundamente ferido pelo arpão eleitoral; e resta-lhe agora afundar, o mais silenciosamente possível, rumo ao esquecimento, no oceano da política iraniana. Isso, é claro, se a política iraniana fosse facilmente previsível; mas não é.

O governo do presidente Barack Obama nos EUA parece ter conseguido adivinhar o que viria, ou interpretou corretamente o significado alegórico da eleição iraniana; seja como for, antecipou-se ao terremoto que viria, desencadeado pelo vingancismo de Rafsanjani-Mousavi; e fez o melhor que havia a ser feito: manteve-se à distância, cuidadosamente afastado das eleições iranianas, resultados, protestos. Começa agora a parte mais difícil, para Obama: seduzir o Conselho dos Anciãos que Khamenei preside como monarca quase absoluto.

Primeiro, um ‘abecedário’ das eleições.

Quem é Mir Hossein Mousavi, principal adversário que Ahmedinejad derrotou nas eleições? É um enigma, travestido em mistérios. Impressionou a juventude e as classes médias urbanas como reformador e progressista. Jamais foi nem uma coisa nem outra.

Como primeiro-ministro iraniano, de 1981 a 1989, Mousavi jamais passou de político linha-dura, sem qualquer refinamento político. Estranhamente, a campanha eleitoral caríssima e over high-tech pôs em circulação outro Mousavi, que ninguém jamais vira antes, no Irã: como se o personagem tivesse sido desmontado peça a peça e, depois, se tivesse remontado, ele mesmo, para outras finalidades operacionais.

Para avaliar a mudança, basta ler as declarações de Mousavi, em 1981, depois da ‘crise dos reféns’ (como ficou conhecido o cerco de 444 dias à embaixada norte-americana em Teerã, quando estudantes, da jovem guarda revolucionária iraniana mantiveram presos, no prédio da embaixada, os diplomatas norte-americanos): “Foi o começo do segundo estágio da revolução islâmica. Depois da tomada da embaixada dos EUA descobrimos nossa verdadeira identidade islâmica. Depois daquela ação, sentimos que podíamos enfrentar cara à cara a política ocidental e analisá-la com a frieza com que o ocidente sempre nos analisou e avaliou ao longo de muitos anos.”

Há quem diga que Mousavi também participou da organização e criação do Hizbollah no Líbano. Ali Akbar Mohtashami, mártir reverenciado pelo Hizbollah, foi ministro do Interior no governo de Mousavi nos anos 80. Mousavi também teve participação no ‘affair’ conhecido como “Irangate” em 1985. O caso conhecido como “Irangate” foi negócio costurado pelo governo Ronald Reagan, no qual os EUA forneceriam armas ao Irã; em troca, Teerã trabalharia para obter que o Hizbollah liberasse os reféns presos em Beirute.

Ironia é que, naqueles idos dos anos 80s, Mousavi aparecia como perfeita antítese de Rafsanjani; aliás, o primeiro ato de Rafsanjani, quando afinal assumiu a presidência em 1989, foi demitir Mousavi. Rafsanjani não perderia nem um segundo de tempo, com os delírios “antiocidentais” de Mousavi, ou com suas manifestações de rejeição visceral ao ‘mercado’.

A plataforma eleitoral de Mousavi foi uma estranhíssima mistura de políticas contraditórias e interesses ocultados mas muito claramente dirigidos para uma única meta, como uma espécie de obscessão maníaca: retirar poderes da presidência da República, no Irã.

Por isso conseguiu reunir autoproclamados ‘reformistas’ que apoiavam o ex-presidente Mohammad Khatami, e, também as alas mais ultraconservadoras do regime. Rafsanjani é o único político iraniano capaz de reunir grupos tão completamente diferentes; e sempre trabalhou ao lado de Khatami para fazer diminuir os poderes da presidência da República.

Se se deixa de lado a ‘oposição’ cenográfica feita pelos habitantes dos bairros ricos de Teerã (“multidão Gucci”, como se disse em Teerã), que cumpriu o papel de acrescentar cor, maquiagem, óculos ‘de griffe’ e hinos pró-mercado à campanha de Mousavi, o núcleo duro de sua plataforma política foram poderosos interesses que, nessa eleição, fizeram sua derradeira tentativa para derrubar o regime liderado pelo Aiatolá Khamenei.

Por outro lado, esses grupos de interesse sempre se opuseram furiosamente às políticas econômicas implantadas durante a presidência de Ahmadinejad, políticas que ameaçaram o controle que aqueles grupos sempre tiveram sobre setores-chave da economia, como comércio internacional, educação privada, propriedade da terra e produção agrícola.

Para quem conheça melhor o Irã, basta dizer que a família (clânica) Rafsanjani é proprietária de vários impérios financeiros no Irã, empresas de exportação-importação, latifúndios e da maior rede de universidades privadas do país. O grupo, conhecido como “Azad” tem mais de 300 universidades espalhadas pelo Irã; não são unidades produtoras apenas de pensamento ‘privatista’, também chamado ‘neoliberal’; também serviram como importante instrumento de propaganda da candidatura Mousavi: no total, foram cerca de 3 milhões de estudantes ativistas anti-Ahmadinejad, organizados nas universidades da família Rafsanjani.

As universidades do grupo “Azad” e grupos associados foram a espinha dorsal da campanha de Mousavi nas províncias. A ideia geral foi mobilizar os estudantes das universidades do grupo “Azad” para levar a campanha até os mais pobres nas provínciais e ‘desmontar’ as bases consideradas chave para a reeleição do presidente Ahmadinejad.

Rafsanjani é político cujo estilo sempre o levou a construir redes extensas em praticamente todos os escalões da estrutura do poder, com especial atenção a corpos político-administrativos como o Conselho de Guardiães, o “Expediency Council”, os clérigos Qom, o Parlamento, os tribunais, a burocracia, o bazar e, até, com elementos infiltrados nos grupos mais próximos de Khamenei. Construídas suas redes, Rafsanjani põe-se a jogar com esses bolsões de influência.

O eixo Rafsanjani e Khatami foi a base da plataforma política de Mousavi, que reuniu reformistas e conservadores. Tudo estava preparado para levar a eleição para um segundo turno, dia 19/6, com o Irã, sim, já completamente dividido ao meio. A candidatura do ex-comandante do Corpo de Guardas Revolucionários Iranianos [ing. Iranian Revolutionary Guards Corps, IRGC] foi incluída na disputa para arrancar uma fatia de votos dos mais conservadores.

Esperava-se também que o programa “reformista” do quarto candidato, Mehdi Karrubi, contribuísse para arrancar votos de Ahmedinejad, mediante a propaganda de políticas econômicas de justiça social, como o programa imensamente popular de distribuição da renda do petróleo entre os cidadãos, em vez de esses lucros serem acrescentados diretamente no orçamento do governo.

O plano de Rafsanjani visava, de certo modo, a levar a eleição para fora da disputa eleitoral; esperava-se que Mousavi capitalizasse todos os votos ‘anti- Ahmedinejad’ – estimando-se que Ahmedinejad teria, no primeiro turno, 10-12 milhões dos 28-30 milhões de votos (de um total de 46,2 milhões de eleitores). Por esses cálculos – mas só se houvesse 2º turno – Mousavi seria o grande beneficiário, se os votos para Rezai e Karrubi fossem essencialmente votos ‘anti-Ahmadinejad’.

O regime já estava bastante envolvido na campanha eleitoral, quando afinal percebeu que, por trás do clamor por ‘mudanças’, Rafsanjani trabalhava, de fato, contra, sobretudo, a liderança de Khamenei; a batalha eleitoral não passava de simulacro e pretexto.

De fato, a luta entre Rafsanjani e Khamenei tem longa história, desde o final dos anos 80; e foi, então, vencida por Khamenei, que assumiu a liderança em 1989.
Rafsanjani foi um dos indicados pelo Imam Khomeini para o primeiro Conselho da Revolução Islâmica; Khamenei chegou bem depois, quando o Conselho aumentou o número de membros. Por isso, Rafsanjani sempre cultivou um ressentimento; sempre entendeu que Khamenei usurpou o lugar que seria seu, como Líder Supremo. O establishment clerical mais próximo de Rafsanjani difundiu a ideia de que Khamenei não teria as credenciais religiosas necessárias; que seria indeciso; e que o processo eleitoral seria questionável, o que gerou dúvidas sobre a legalidade do poder de Khamenei.

Clérigos de prestígio, estimulados por Rafsanjani, insistiram na ideia de que o Líder Supremo não seria apenas autoridade religiosa ( mujtahid), mas deveria ser também fonte de emulação e proselitismo (marja ou um mujtahid com ‘adeptos’, seguidores religiosos) e que Khamenei não satisfaria esse requisito; mas Rafsanjani, sim.

Os ataques contra Khamenei passaram a ser construídos a partir do argumento, vil sob vários aspectos, de que sua educação religiosa não seria satisfatória. O trabalho de desconstrução, pelos clérigos ligados a Rafsanjani, continuaram até os primeiros anos da década de 90. Então, Khamenei escolheu recolher-se e permaneceu recolhido, consciente de que estava sob cerco, durante os anos em que Rafsanjani ocupou a presidência (1989-1997).

Resultado disso, Rafsanjani foi o presidente que mais poder teve, em todos os tempos, em Teerã. Mas enquanto isso, Khamenei, recolhido, também construía novos poderes. Se não tinha prestígio entre a elite do establishment clerical iraniano, cuidou de atrair para seu lado o establishment da segurança, sobretudo o ministro da Inteligência, os Guardas Islâmicos Revolucionários e as milícias Basij.

Enquanto Rafsanjani mais e mais se envolvia com os clérigos e com o ‘mercado’, Khamenei procurou apoio num grupo de jovens políticos brilhantes, com experiência de organização e de luta, e que estavam voltando ao Irã depois da guerra Irã-Iraque; por exemplo, Ali Larijani, atual líder do governo no Parlamento; Said Jalili, atual secretário do Conselho de Segurança Nacional; Ezzatollah Zarghami, presidente da Rádio e Televisão Estatais; e, sim, também o próprio Ahmadinejad.

O poder político real começou a tender na direção de Khamenei, depois de ele ter atraído para seu campo os Guardas Revolucionários e as milícias Basij. Quando o mandato presidencial de Rafsanjani chegou ao fim, Khamenei já comandava os três principais braços do poder governamental e toda a mídia estatal; já era comandante-em-chefe das Forças Armadas e, também, de várias instituições estatais, como a “Imam Reza Shrine” ou a “Fundação pelos Oprimidos”, máquinas praticamente ilimitadas para gerar apoios políticos.

Hoje, toda a estrutura de poder assumiu a forma de um complexo aparelho de liderança patriarcal. Analistas bem informados e sensíveis anotaram, com precisão, que Ahmadinejad não teria qualquer interesse pessoal ou eleitoral que justificasse atacar diretamente Rafsanjani, durante o debate do dia 4/6, em Teerã, com Mousavi. O ataque a Rafsanjani não foi ataque eleitoral: foi ataque em disputa política mais profunda.

Ahmadinejad disse, naquele debate: “Hoje, nesse debate, não enfrento apenas o Dr. Mousavi, nem ele está sozinho, aqui à minha frente. Aí estão três governos passados: do Dr. Mousavi, do Dr. Khatami e do Dr. Rafsanjani, todos reunidos contra a minha presidência e o desejo dos eleitores iranianos.” Mirou e atirou diretamente contra Rafsanjani, acusando-o de organizar golpe contra as eleições. Disse que Rafsanjani prometera à Arábia Saudita que não haveria segundo governo de Ahmadinejad.

Rafsanjani respondeu fogo com fogo, dias depois, em carta a Khamenei, em que exigia que Ahmadinejad se retratasse, “para evitar que [Rafsanjani] fosse forçado a tomar medidas judiciais cabíveis”.

“Espero que o senhor resolva esse impasse, e apague o fogo, cuja fumaça já se vê de longe; e que evite desdobramentos perigosos. Mesmo que eu estivesse disposto a relevar esse tipo de agressão, não duvide de que há gente, partidos, grupos, facções, que não a relevariam” – Rafsanjani ameaçou Khamenei sem meias-palavras.
Simultaneamente, Rafsanjani convocou toda a sua base clerical: uma claque de 14 altos clérigos reuniram-se em Qom, à volta dele.

Já foi ato de desespero, acionado por interesses ocultos que já sabiam do crescimento muito significativo dos movimentos dos Guardas Revolucionários, nos últimos anos. Mas, se Rafsanjani supusera que seria fácil criar um ‘motim’ entre os clérigos, e que isso ‘desequilibraria’ Khamenei... errou muito gravemente no cálculo do poder político em Teerã.

Khamenei fez o que de melhor poderia ter feito para esvaziar o ‘movimento’ golpista de Rafsanjani: Khamenei simplesmente ignorou o “Tubarão”.
Dezenas de milhões de voluntários da Guarda Revolucionária e das milícias Basij foram rapidamente mobilizados para votar; somaram-se aos milhões de pobres das áreas rurais que se vêem manifestos em Ahmadinejad. Daí em diante, foi só esperar que se repetisse o que já acontecera nas eleições de 2005. O comparecimento às urnas – 85% dos eleitores votaram – foi o maior da história do Irã. Esse comparecimento às urnas, não qualquer tipo de ‘fraude’ eleitoral, determinou a vitória de Ahmadinejad, sem 2º turno; horas depois de anunciados os resultados, Khamenei aplaudiu o comparecimento dos eleitores às urnas, que, segundo suas palavras, mereceria “verdadeira celebração”.

Disse Khamenei: “Congratulo-me (...) com o povo iraniano por esse sucesso de todos. Todos temos muito o que agradecer, por tantas bênçãos recebidas”. Preveniu os jovens e “os que apoiam o candidato eleito e demais candidatos e apoiadores”, para que todos se mantivessem bem alertas, “para evitar os discursos e as ações de provocação.”

A mensagem de Khamenei a Rafsanjani foi bem clara: aceite a derrota e não volte a envolver-se em movimentos golpistas. Os resultados da eleição de 6ª-feira asseguram que a casa do Aiatolá Khamenei, Líder Supremo, continuará a ser o ponto focal do poder político no Irã. É o quartel-general do Presidente, das forças armadas iranianas e, sobretudo, dos Guardas Revolucionários. É fonte legítima do poder dos três braços do governo e é ponto nodal de todas as políticas econômicas, de segurança e de relações internacionais no Irã.

O presidente Barack Obama já deveria já estar pensando em construir caminho para aproximar-se (amistosamente, não beligerantemente, nem mediante sanções econômicas) e buscar vias de entendimento com o Aiatolá Khamenei. Difícil imaginar desafio maior e mais complexo.
*M. K. Bhadrakumar é diplomata de carreira do MRE indiano. Serviu na União Soviética, na Coreia do Sul, no Sri Lanka, na Alemanha, no Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.

http://www.horadopovo.com.br/

Pontal: Por que votar NÃO?




Existem os que ainda tem dúvidas sobre a "consulta" do dia 23 de agosto.

Por que votar NÃO? Isso impedirá construções na Ponta do Melo?

A lei atualmente permite a construção, com restrições, na Ponta do Melo.
Trata-se da Lei 470, de 2002.
E isso será outra batalha!
Mas antes, teremos que vencer a atual luta:
IMPEDIR A CONSTRUÇÃO de RESIDÊNCIAS na Ponta do Melo!

A "consulta pública" de 23 de agosto é uma farsa, mas mesmo assim a sociedade não pode se omitir!
Foi por pressão da opinião pública que a prefeitura viu-se obrigada a colocar o artigo para consultar a população.

Se as pessoas não votarem, será o mesmo que dizer SIM para a mudança na lei e para a privatização da orla do Guaíba com a construção de residências, que logo serão cada vez em maior número.
Não esqueçam: o grande filé da especulação imobiliária é a construção de residências de luxo!
Por causa delas pretendem abocanhar as áreas de preservação ambiental.

O projeto imobiliário Pontal do Estaleiro é apenas a PONTA DO ICEBERG!

Se o SIM passar, imaginem o estímulo que os especuladores imobiliários terão...


Veja mais aqui:

http://poavive.wordpress.com/2009/06/16/vote-nao-ao-pontal/
http://goncalodecarvalho.blogspot.com/2009/06/dia-23-de-agosto.html

Movimento em Defesa da Orla do Rio Guaíba
Porto Alegre RS
Ainda não temos página na internet. Por enquanto acesse os blogs: Porto Alegre RESISTE!, Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho e AGAPAN para maiores informações sobre a defesa da Orla do Rio Guaíba.

Você está recebendo nossas mensagens por ter manifestado apoio a nossas causas ou por seu nome ter sido indicado por alguém de nosso grupo.
Caso não queira receber nossas mensagens, por favor nos envie um e-mail para que seu endereço seja retirado de nossas listas.



--
Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
http://profjefersongeo.blogspot.com/

Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o meio ambiente.

segunda-feira, junho 22, 2009

Quermesse 2009

Atenção Amigos!

O mês de julho está chegando!

Pensou julho, pensou em friozinho e, claro, na nossa tradicional Quermesse!

Está chegando a hora de comer e beber nos arraiais do CMA!

Vale a pena prestigiar e participar desta festa. A diversão é garantida!

Se desejar ser voluntário para participar conosco desta emoção inscreva-se com a equipe CENTRAL (Irmã Madalena, Cátia Lange e Cláudia)

quermesse.png

Colégio Maria Auxiliadora

Canoas/RS

www.auxiliadora.net

sse@nd.org.br

0(xx)51 3462-8600

CMA 2009- Construindo um futuro de valores e conhecimento

cid:image006.jpg@01C98AD5.69593190

**** Antes de imprimir pense em seu compromisso com o Meio Ambiente.

Isso também é Responsabilidade Social! ****



--
Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
http://profjefersongeo.blogspot.com/

Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o meio ambiente.

quinta-feira, junho 18, 2009

Luis Nassif: Estudo doPSDB desmascara sua CPI

-


Luis Nassif: Estudo do
PSDB desmascara sua CPI

Do blog de Luis Nassif
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif

Como se monta ou se prorroga uma CPI? Conta-se uma inverdade, cria-se a marola, depois pouco importa se o fato relatado era mentiroso.

Exemplo 1 - O relatório com conclusões falsas que a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) passou para a revista Veja, sobre suposta escuta ambiental no órgão. Era falso. Resultou na prorrogação da CPI do Grampo. Tempos depois, na entrevista concedida à UOL, Gilmar Mendes candidamente admitiu que os dados poderiam ser furados, mas eram "verossímeis". Em qualquer país com mídia séria, seria um escândalo.

Exemplo 2 - A operação contábil da Petrobras, visando reduzir o pagamento de impostos quando a crise interrompeu a liquidez do sistema financeiro.

Escrevi na época que era bobagem, que toda grande empresa recorre à engenharia fiscal, que a medida tinha fundamentação jurídica, mesmo podendo ser questionada pela Receita.

Hoje, no Valor, matéria de César Felício: "Manobra contábil da Petrobras é usada por grandes empresas, sugere estudo".

Que estudo é esse? Preparado por José Roberto Afonso, consultor do PSDB para assuntos fiscais e tributários, um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Diz a matéria:

Estopim para a criação de uma CPI no Senado, a manobra contábil da Petrobras, que deixou de recolher três meses de contribuições, reforçando seu caixa em R$ 4 bilhões este ano, pode ter sido seguida pela maioria dos grandes contribuintes do País. Um estudo preparado pelo economista José Roberto Afonso, consultor do PSDB, com base em dados coletados no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem acesso ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), detalha a queda na arrecadação tributária federal no primeiro quadrimestre deste ano, que é desproporcional à redução do PIB . Enquanto o Produto Interno Bruto teve uma redução de 1,8% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período no ano passado, as receitas federais tiveram uma redução de 7,2% de janeiro a abril, percentual que sobe a 8,7%, caso se retirem as receitas previdenciárias. Em termos absolutos, houve uma perda de R$ 11 bilhões.

(…) Um sinal neste sentido é a retração maior na arrecadação do IRPJ pelo lucro real, regime de recolhimento das grandes companhias. Enquanto o IR do lucro real caiu 19% até abril, a arrecadação do imposto pelo lucro presumido, regime das pequenas e médias empresas, cresceu 4,6% no mesmo período. "Uma hipótese para explicar o resultado é que grandes contribuintes estejam deixando de recolher para ter mais acesso a crédito, com mecanismos de compensação tributária", observa o texto. Entre os pequenos e médios contribuintes o desempenho é diverso em função do menor acesso a ferramentas de compensação tributária.

(…) Os dados mostram que, mesmo depois da Petrobras encerrar a sua compensação tributária e voltar a recolher as contribuições em abril, a arrecadação federal acelerou a queda: de retração de 4,4% em março para 8,8% em abril, quando comparada com igual mês no ano anterior, o que pode ser um indicativo de que os mecanismos de compensação tributária foram seguidos por outras grandes empresas.

(…) O estudo mostra ainda outro sinal de queda desproporcional da arrecadação, ao abordar as instituições financeiras. A redução no primeiro quadrimestre da estimativa mensal do lucro no IRPJ deste setor foi de 28%.

Ou seja, o PSDB sabe que a denúncia é um factóide, sabe que traz intranquilidade para o país em um momento de esforço nacional para superar a crise, sabe que lança suspeitas sobre o partido, de que os interesses em jogo são a regulamentação do pré-sal, mas segue em frente.



Conheça os novos produtos Windows Live. Clique aqui!


--
Cordialmente,

Profº Jeferson Pitol Righetto
http://profjefersongeo.blogspot.com/

Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o meio ambiente.

7 FENÔMENOS DA NATUREZA POUCO CONHECIDOS.

Sete fenômenos da natureza que pouca gente conhece
Os fenômenos naturais são absolutamente impressionantes.
Alguns são tão raros, que nem a ciência, com todo avanço tecnológico,
é capaz de identificar. Imagine que a natureza nos oferece a possibilidade
de vermos várias pedras que se movem sozinhas ou formações geométricas geradas
pelo esfriamento de lava.
A seguir você pode acompanhar sete fenômenos impressionantes, que muita gente
desconhece.

<<>
Até hoje ninguém conseguiu explicar por que, misteriosamente, pedras de centenas
de quilos deslocam-se do seu ponto de origem pelo deserto de Death Valley.
Alguns pesquisadores atribuem tal fenômeno aos fortes ventos e superfície gelada,
mas esta teoria não explica, no entanto, por que as pedras se movem lado a lado,
em ritmo e direções diferentes. Além disso, cálculos físicos não apóiam plenamente
esta teoria.

..
Colunas de Basalto >>
Este fenômeno ocorre com o esfriamento de um fluxo de lava espessa,
formando uma malha geométrica com notável regularidade.
Um dos famosos exemplos é o Giant´s Causeway, na Costa DA Irlanda (fotos),
embora a maior e mais conhecida seja Devil´s Tower em Wyoming.

.
<<>
.Os buracos azuis são gigantes elevações subaquáticas, que levam este Nome
pela tonalidade de azul que apresentam quando vistos do alto.
Normalmente possuem centenas de metros de profundidade e tem ambiente desfavorável
para a vida marinha, já que a circulação de água é ruim.
Curiosamente, em alguns buracos foram encontrados restos fósseis
preservados em suas profundezas.
..
.
.
Maré vermelha >>
As Marés Vermelhas são formadas pelo súbito aumento do fluxo de algas de cor única,
que podem converter uma parte DA água em uma cor vermelha sangue.
Embora fenômenos desta natureza sejam relativamente inofensivos, alguns podem ser
mortais, causando a morte de peixes, aves e mamíferos marinhos. Em alguns casos, até
mesmo OS seres humanos podem ser afetados, embora a exposição humana não seja
conhecida por ser fatal.
.
..
.
<<>
Enquanto muitos acreditem que estes círculos perfeitos sejam obra de alguma teoria
DA conspiração, OS cientistas geralmente aceitam que else são formados por turbilhões
d´água que giram em um considerável pedaço de gelo, em um movimento circular.
Como resultado desta rotação, outros pedaços de gelo e objetos gerados pelo desgaste
uniforme nas bordas do gelo vão lentamente formando um círculo.
.
..
.
Nuvens Mammatus >>
Aparentemente assustadoras, as nuvens Mammatus também são mensageiras de
tempestades e outros eventos meteorológicos extremos. Normalmente compostas de
gelo, elas podem se estender por centenas de quilômetros em vários sentidos e
formações, permanecendo visíveis e estáticas entre 10 minutos e 1 hora. Embora
pareçam portadoras de más notícias, elas são apenas mensageiras, aparecendo antes
e/ou depois de uma Grande mudança meteorológica..
.

<<>
Este raro fenômeno só ocorre quando há a participação do Sol e das nuvens.
Cristais dentro das nuvens refratam a luz em várias ondas do espectro, fazendo
surgir cores entre as nuvens. Devido a raridade com que este evento acontece,
existem poucas fotos.

Fwd: O jornalismo e a comunicação em Cuba



O jornalismo e a comunicação em Cuba

por Michelle Amaral da Silva última modificação 15/06/2009 16:42
Colaboradores: Elaine Tavares

"A imprensa é o cão guardador da casa pátria", adverte Martí, e os jornalistas cubanos seguem à risca o conselho do grande colega




15/06/2009

Elaine Tavares



Dezembro de 1956. A pequena ilha de Cuba fervilhava diante da possibilidade de uma mudança radical. A ditadura de Fulgêncio Batista recrudescia, como é comum aos regimes que estão morrendo. No começo do mês, um pequeno grupo de homens iniciou uma caminhada que só teria fim com o triunfo da revolução. Apesar da chegada trágica, com o barco encalhando e muitas vidas se perdendo, 22 dos 82 que vieram do México conseguiram montar um foco guerrilheiro ao pé da Sierra Maestra. Junto com eles estava o argentino Che Guevara que, em muito pouco tempo na selva, tratou de inventar um jeito de divulgar notícias que fizessem o contraponto à mídia cortesã. Ele sabia que perdendo a guerra informativa, perdia tudo. Assim, no meio da floresta criou a primeira célula da imprensa rebelde com um velho mimeógrafo no qual imprimia manifestos e até um jornal.



Logo o argentino conheceu o sistema cubano responsável pela transmissão de informações do MR-26, movimento do qual saíra Fidel: a rádio bemba, espécie de boca-a-boca, eficiente e eficaz, que percorria toda a região rural da ilha. Então teve a idéia de criar, desde a sierra insurgente, uma rádio de verdade, a Rádio Rebelde. Era o mês de fevereiro de 1958 quando quatro combatentes, sob o comando de Che, colocaram no ar a primeira transmissão. "... Aquí, Radio Rebelde, la voz de la Sierra Maestra, transmitiendo para toda Cuba en la banda de 20 metros diariamente a las 5 de la tarde y 9 de la noche, desde nuestro campamento rebelde en las lomas de Oriente". Com esta frase iniciava um dos mais importantes veículos de comunicação da guerrilha. Foram vinte minutos nos quais se denunciou os crimes da ditadura, se informou sobre os combates na sierra, as ações dos lutadores, e divulgou-se uma série de informações ao povo cubano sobre como agir diante da presença dos rebeldes. Começava também uma profunda relação de cumplicidade e confiança entre os "jornalistas" e a gente cubana. Não é sem razão que hoje, 51 anos depois desta histórica transmissão, a figura do jornalista cubano esteja intimamente ligada aos ideais da revolução. Quem afirma é o presidente da União de Periodistas de Cuba, Tubal Paez, que esteve em Florianópolis para a XVII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, promovida pela Associação Cultural José Martí de Santa Catarina.



Mas, se voltarmos na história, veremos que esta relação entre os jornalistas e os anseios populares não era uma novidade naqueles dias de 1958. Foi a imprensa, conforme conta o escritor Ramón Becali, que começou a difundir na Cuba colonial, lá pelos idos do setecentos, a idéia de uma pátria livre. E o maior de todos os jornalistas cubanos, José Martí, fez de sua vida e de sua obra um ato sublime de amor à liberdade cubana. Assim, um país que contou com a pena de um Martí, não poderia ter jornalistas diferentes. "Não merece escrever para os homens, aquele que não sabe amá-los", ensinava.



"Em Cuba os jornalistas são críticos, porque é nossa função ser crítico. É o que nos ensinou a revolução, é o que ensinam na escola e é o que a união dos jornalistas exige. Defendemos a revolução, mas aquilo que é mal feito, nós criticamos". É assim que o jornalista sintetiza a missão dos jornalistas na ilha revolucionária. Ele reafirma que, lá, os jornalistas foram e são protagonistas da mudança. Desde o começo das lutas de libertação houve grupos de jornalistas atuando e ajudando na transformação. "Ser protagonista do processo revolucionário é bom, mas às vezes há jornalistas que exageram na retórica ou no louvor. Até porque nós temos por princípio a idéia de informar, opinar e defender o país que está sob bloqueio há 50 anos e numa guerra em que o inimigo procura semear a desesperança. Isso, por vezes, é um problema, mas estamos sempre vigilantes".



É certo que esta imbricada relação dos jornalistas com o processo revolucionário provoca outra maneira de olhar a realidade. "Se estamos diante da construção de um hotel, por exemplo, a primeira questão que a gente se coloca é: isso vai proteger o país ou não? Em que lugar do mundo um jornalista se põe estas questões? Só em Cuba. Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também, caso vire um vício. É por isso que no nosso código de ética a gente coloca como falta grave tanto a apologia quanto o triunfalismo. Nosso propósito deve ser a crítica. Falamos de tudo o que ruim, dos sacrifícios que a população tem de passar. Mas também falamos da resistência".



Tubal Paez conta ainda que na ilha caribenha também existem outros "jornalistas", que assim são designados pelo Departamento de Estado estadunidense, e lá estão, fazendo suas reportagens "independentes". Isso tudo é tolerado porque a população cubana tem educação suficiente para diferenciar a verdade da mentira. "Escrever para um povo alfabetizado politicamente não é coisa fácil. O povo está muito preparado para julgar tudo aquilo que o jornalista faz". Também é certo que em Cuba ainda existe gente que prefere o anexionismo, que os Estados Unidos invada a ilha e que tudo volte a ser como antes, quando a ilha era um quintal dos ricos estrangeiros. Mas são poucos.



Liberdade de expressão

Quem fala que em Cuba não há liberdade de expressão não conhece Cuba. "Se assim fosse minha mãe estaria na prisão", brinca Tubal. "Porque ela é boa na crítica ao que está mal". Na verdade, como explica o presidente da UPC, Cuba é o país onde existe o maior número de imprensa de oposição. Só para que se tenha uma idéia, existem 32 emissoras de rádio transmitindo todos os dias desde a Flórida, sempre com conteúdo especificamente contra Cuba e contra o socialismo. "O governo estadunidense liberou este ano mais de 34 milhões de dólares para estas emissoras e, deste montante, 18 milhões são para pagar jornalistas, escritores, locutores, que vendem sua mão e sua voz na intenção de gerar desesperança entre os cubanos". Além das emissoras de rádio ainda há uma emissora de TV, cinicamente chamada de TV Martí (nome do mais importante revolucionário cubano, também jornalista) que transmite diariamente conteúdo anti-Cuba com um sinal que é gerado por aviões que sobrevoam a ilha. "São, portanto, mais de 1900 horas semanais de informação anti-governo, o que nos faz crer que não há governo no mundo que tenha tanta oposição".



Além disso, estão em Havana mais de 160 jornalistas que são correspondentes estrangeiros, podendo transmitir o que quiserem, sem qualquer censura. "Já os Estados Unidos sim não podem falar de liberdade de expressão, porque eles proíbem que um jornalista cubano esteja lá olhando e reportando. Então, quem precisa ter liberdade?" Tubal lembra que o único espaço onde os Estados Unidos permitem a presença de um jornalista cubano é nas Nações Unidas, mas ele só pode falar do que se passa ali, mais nada. "Isso é ou não censura? E quem a pratica não é o regime cubano".



A democracia

Tubal Paez comenta as investidas do presidente estadunidense Barak Obama, quando este coloca como condição na mudança de relação com Cuba a questão da democracia. E questiona a chamada "democracia" do mundo capitalista que fica inviabilizada dentro de um sistema em que há tanta desigualdade econômica. "Como pode haver democracia numa sociedade dividida entre pobres e ricos? Que democracia é esta em que só os ricos podem ter os meios de comunicação, por exemplo? O fato é que no mundo capitalista quando se fala que as coisas devem mudar em Cuba no que diz respeito à democracia, isso significa sempre um passo atrás. Já para nós, mudança significa sempre um passo adiante".



O jornalista cubano insiste que a democracia cubana é radicalmente diferente da que caracteriza o mundo liberal burguês. Lá, as pessoas não participam da vida política apenas uma vez a cada quatro anos. A participação é uma coisa entranhada no cotidiano. Tubal é parlamentar e conta que em Cuba uma pessoa que se candidata a um cargo público não faz campanha como nos países capitalistas, em que o dinheiro comanda o voto. "Em Cuba, ninguém se apresenta à comunidade dizendo o que vai fazer. Ele se apresenta dizendo o que já fez. Os candidatos visitam juntos os eleitores e são submetidos ao escrutínio dos seus atos passados. Depois, uma vez eleitos, eles precisam prestar contas anuais dos seus atos como representante. Essa é a nossa democracia que cada dia vai se aperfeiçoando. Não é perfeita, mas vamos avançando".



Ele lembra que quando Cuba tinha o multipartidarismo o que imperava era o dinheiro. Até o prédio da Câmara nacional foi construído a semelhança do Capitólio e ali, segundo Tubal, foram aprovados os piores projetos contra a soberania nacional. O povo não tinha vez. "A minha mãe, que tem 85 anos, mostra como um orgulho a sua cédula eleitoral daquele dias antes da revolução. Está branca. Ela nunca votou. Dizia que jamais se prestaria àquela farsa. Hoje não há partidos.. Quem decide é povo, diretamente na sua comunidade. Isso, para nós, é um avanço".



A comunicação é prioridade

A obsessão informativa de Che e Fidel no início da revolução segue sendo uma diretiva entre os cubanos. As rádios são veículos fundamentais e todas as cidades têm a sua. Além disso, os grupos organizados também têm as suas mídias, sempre com alcance nacional. As mulheres, os camponeses, os jovens editam suas revistas, seus programas, enfim, passam suas pautas a toda a nação. O jornalista, para exercer a profissão em Cuba, precisa ser formado em curso universitário de jornalismo, o que também não é nenhuma novidade visto que lá, a formação universitária é estimulada e garantida a todos. "Hoje, com a explosão dos meios de comunicação estamos vivendo uma situação em que há mais postos de trabalho do que jornalistas formados, então estamos buscando gente nas áreas afins como a de Comunicação Social". Tubal Paez explica que um jovem recém formado já tem assegurado o seu posto de trabalho tão logo saia da faculdade, o que também mostra a abissal diferença entre o regime cubano e a realidade de competição capitalista.



Em todo o país o contingente de jornalistas chega a quatro mil, com mais 700 estudantes prontos a se graduar. E ainda assim faltam profissionais. A considerar a população cubana que é de 12 milhões de pessoas, dá para perceber o quanto a informação é importante. E não basta a informação somente, ela tem de ser de qualidade, daí a necessidade da formação universitária. "Em Cuba nós não trabalhamos com esse jornalismo de espetáculo, não tem essa coisa de assalto a banco, nem bandos de mafiosos".



Outra especificidade da imprensa escrita cubana é a quase inexistência da propaganda de produtos. "Nós somos muito pobres, o papel é caro. A publicidade estimula o consumismo e cria necessidades. Por isso não usamos o pouco que temos a disposição para este tipo de coisa". Em Cuba os meios de comunicação não são todos estatais. A maioria é de propriedade social, o que significa que quem controla é a comunidade. Esta também acaba sendo uma diferença tremenda na relação com o mundo capitalista. "Estes veículos acabam se sustentando com a venda de seus produtos, mas é claro que o Estado não lhes dá as costas, porque a comunicação é uma coisa estratégica em Cuba".



Já no campo da internet os cubanos ainda sofrem muita restrição. "Mas não é porque o governo não queria que o povo tenha acesso. O que acontece é que os Estados Unidos proíbem que os cabos de banda larga sejam conectados a Cuba. Nossa banda é estreita e então a prioridade acaba sendo para as instituições sociais". Para se ter uma idéia dos efeitos do bloqueio, todos os serviços oferecidos pelo Google, que hoje são utilizados automaticamente pelos internautas do mundo todo, estão fechados para Cuba. "Estas são questões que ainda estamos tratando de resolver. O bloqueio nos causa grandes problemas, mas também nos coloca desafios. E o povo cubano, nestes 50 anos de revolução tem dado respostas à altura".



E assim segue a vida na pequena e resistente ilha cubana. Enquanto o gigante império trama contra a revolução as gentes seguem ouvindo o chamado del Che insurgente, iniciado naquele distante 24 de fevereiro de 1958, com a voz do capitão Luiz Orlando Rodríguez: "...Aquí Radio Rebelde, la voz de la Sierra Maestra, transmitiendo para toda Cuba en la banda de 20 metros diariamente a las 5 de la tarde y 9 de la noche, desde nuestro campamento rebelde en las lomas de Oriente". E a mesma rádio, ali está, há 51 anos, um a mais que a revolução, informando e formando o povo cubano. Não mais no acampamento em Sierra Maestra, mas sempre rebelde, infinitamente rebelde, tal como toda a comunicação.


"A imprensa é o cão guardador da casa pátria", adverte Martí, e os jornalistas cubanos seguem à risca o conselho do grande colega.