terça-feira, abril 26, 2011

O Norte revolto e brutal

FIDEL CASTRO

Estava lendo materiais e livros em abundância para cumprir minha promessa de continuar a Reflexão de 14 de abril sobre a Batalha de Girón, quando dei uma olhada nas notícias frescas de ontem, que são abundantes como todos os dias. Podem-se acumular montanhas em qualquer semana, que vão desde o terremoto no Japão, até a vitória de Ollanta Humala sobre Keiko, filha de Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru.

Peru é grande exportador de prata, cobre, zinco, estanho e outros minerais; possui grandes jazidas de urânio que poderosas transnacionais aspiram explorar. Do urânio enriquecido saem as armas mais terríveis que a humanidade conheceu, e o combustível das usinas termonucleares que, apesar das advertências dos ecologistas, estavam sendo construídas em ritmo acelerado nos Estados Unidos, na Europa e Japão.

Não seria justo, é claro, culpar o Peru por isso. Os peruanos não criaram o colonialismo, o capitalismo e o imperialismo. Também não se pode culpar o povo dos Estados Unidos, que também é vítima do sistema que tem engendrado ali os políticos mais atordoados que o planeta tem conhecido.

No dia 8 de abril os amos do mundo publicaram seu relatório anual de costume sobre as violações dos “direitos humanos”, o que motivou uma aguda análise no site Web Rebelión, assinado pelo cubano Manuel E. Yepe, baseada na resposta do Conselho de Estado da China, enumerando fatos que demonstram a desastrosa situação de tais direitos nos Estados Unidos.

“…os Estados Unidos são o país onde mais se agridem os direitos humanos, tanto em seu próprio país quanto no mundo todo, e é uma das nações que menos garante a vida, a propriedade e a segurança pessoal dos seus habitantes.

“Cada ano, uma em cada 5 pessoas é vítima de um crime, a taxa mais alta do planeta. Segundo cifras oficiais, as pessoas maiores de 12 anos sofreram 4,3 milhões de atos violentos.

“A delinqüência cresceu de forma alarmante nas quatro maiores cidades do país (Filadélfia, Chicago, Los Angeles e Nova Iorque), e registraram-se incrementos notáveis relativamente ao ano anterior em outras grandes urbes (Saint Louis e Detroit).

“O Tribunal Supremo resolveu que a posse de armas para a defesa pessoal é um direito constitucional que não pode ser ignorado pelos governos estaduais. Noventa dos 300 milhões de habitantes do país possuem 200 milhões de armas de fogo.

“No país se registraram 12.000 homicídios causados por armas de fogo, ao passo que 47% dos roubos foram cometidos igualmente com uso dessas armas.

“À sombra da seção de “atividades terroristas” do Ato Patriótico, a tortura e a extrema violência para obter confissões de suspeitos são práticas comuns. As condenações injustas ficam evidenciadas nas 266 pessoas, 17 delas já no corredor da morte, que têm sido absolvidas graças a provas de DNA.

“Washington advoga pela liberdade na Internet para fazer da rede de redes uma importante ferramenta diplomática de pressão e hegemonia, mas impõe estritas restrições no ciberespaço em seu próprio território, e tenta estabelecer um cerco legal para lidar com o desafio que representa Wikileaks e suas infiltrações.

“Com uma alta taxa do desemprego, a proporção de cidadãos estadunidenses que vive na pobreza atingiu um nível recorde. Um em cada oito cidadãos participou no ano passado nos programas de cupões para alimentos.

“O número de famílias acolhidas em centros para desamparados aumentou 7% e as famílias tiveram que permanecer mais tempo nos abrigos. Os delitos violentos contra essas famílias sem teto aumentam sem cessar.

“A discriminação racial permeia cada aspecto da vida social.  Os grupos minoritários são discriminados em seus empregos, tratados de maneira indigna e não são levados em conta para promoções, benefícios ou processos de seleção trabalhista. Um terço dos negros sofreu discriminação em seus lugares de trabalho embora só 16% se atrevesse a fazer uma queixa.

“A taxa de desemprego entre os brancos é de 16,2 %, entre hispanos e asiáticos de 22 %, e entre os negros é de 33 %. Os afro-americanos e os latinos representam 41% da população carcerária. A taxa de afro-americanos cumprindo prisão perpétua é 11 vezes mais alta do que a de brancos.

“90% das mulheres têm sofrido discriminação sexual de algum tipo em seu local de trabalho. Vinte milhões de mulheres são vítimas de estupro, quase 60.000 presas têm sofrido agressão sexual ou violência. Uma quinta parte das estudantes universitárias são agredidas sexualmente e 60% das violações em campus universitários acontece nos dormitórios femininos.

“Nove em cada dez estudantes homossexuais, bissexuais ou transexuais sofrem de assédio no centro escolar.

“O relatório dedica um capítulo a lembrar as violações dos direitos humanos de responsabiidade do governo dos Estados Unidos fora de suas fronteiras. As guerras do Iraque e do Afeganistão, dirigidas pelos EUA, têm causado cifras exorbitantes de vítimas entre a população civil desses países.

“As ações ‘anti-terroristas’ dos EUA têm incluído graves escândalos de abuso a prisioneiros, detenções indefinidas sem acusações ou julgamentos em centros de detenção como o de Guantánamo e outros lugares do mundo, criados para interrogar os denominados ‘presos de grande valor elevado’ onde se aplicam as piores torturas.

“O documento chinês também lembra que os EUA têm violado o direito a existir e a se desenvolver à população cubana sem acatar a vontade mundial expressada pela Assembléia-Geral da ONU durante 19 anos consecutivos sobre ‘A necessidade de pôr término ao bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba’.

“Os EUA não ratificaram convenções internacionais sobre os direitos humanos como o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas da Discriminação contra a Mulher; a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências e a Convenção sobre os Direitos da Criança.

“Os dados fornecidos pela recontagem apresentada pelo governo chinês demonstram que o funesto histórico dos EUA neste terreno o desqualificam como ‘juiz dos direitos humanos no mundo’. Sua ‘diplomacia dos direitos humanos’ é pura hipocrisia de dois pesos e duas medidas a serviço de seus interesses imperiais estratégicos. O governo chinês aconselha ao governo dos EUA que tome medidas concretas para melhorar sua própria situação em direitos humanos, que examine e retifique suas atividades nesse terreno e pare com seus atos hegemônicos consistentes em utilizar os direitos humanos para interferir nos assuntos internos de outros países.”

O importante desta análise, em nossa opinião, é que se faça tal denúncia num documento assinado pelo Estado chinês, um país de 1.341 milhões de cidadãos, que possui 2 trilhões de dólares em suas reservas monetárias, sem cuja cooperação comercial o império se afunda. Considerei importante que nosso povo conhecesse os dados precisos contidos no documento do Conselho de Estado chinês.

Se Cuba o dissesse, careceria de importância; levamos mais de 50 anos denunciando esses hipócritas.

Martí disse há 116 anos, em 1895: “…o caminho que se há de fechar, e com nosso sangue estamos fechando, da anexação dos povos da nossa América, ao Norte revolto e brutal que os despreza…”

“Vivi no monstro, e conheço-lhe as entranhas”.

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