domingo, junho 20, 2010

Merkel quer radicalizar arrocho a europeus para locupletar bancos

Premiê Merkel anunciou o maior programa de cortes desde a II Guerra Mundial para repassar bilhões de euros do Tesouro aos bancos privados em crise
A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que enterrou 50 bilhões de euros na “salvação” do banco Hypo Real State e agora em maio mais 10 bilhões de euros; injetou 8,2 bilhões de euros no arrombado Commerzbank, o segundo maior do país, além de 15 bilhões em garantias; e escorou com 3 bilhões o combalido Banco Industrial Alemão – o que só é parte da derrama -, passou agora a dar aulas de “austeridade” à Europa, anunciando o maior arrocho no país desde a II Guerra Mundial. Também arrancou do presidente francês Nicholas Sarkozy, com quem se reuniu na segunda-feira dia 14, que o país da União Europeia que violar os 3% de déficit fiscal e os 60% do PIB de dívida pública – os números mágicos de Helmut Kohl - terá seu voto cassado.
Trata-se, insistiu Merkel, de “dar o exemplo à Europa” – apesar de, no momento, se aplicada a exigência, nem mesmo eles poderiam votar. São 80 bilhões de euros de arrocho até 2014, subtraídos do seguro-desemprego, das aposentadorias e até do auxílio-maternidade, entre outros setores, e através de medidas como a demissão de 15.000 servidores públicos. Aumento de 2,5% para os servidores públicos, já conquistado anteriormente, para vigorar em 2011, seria surrupiado. Aos bancos alemães pendurados na “dívida soberana” da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália – além de o leste europeu e outras plagas -, tudo. À população, a “austeridade”, o aperto de cinto e a “vida pelos próprios meios”, como gosta de encenar.
NO CABIDE
Segundo o órgão regulador alemão BaFin (dados de março/2010), os bancos alemães estão pendurados em 522,4 bilhões de euros na Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e Grécia – o que de acordo com o mesmo relatório é “cerca de 20% do total devido a bancos alemães por países estrangeiros” (o que dá mais de 1 trilhão de euros de exposição). Conforme essa mesma fonte, bancos alemães são “os principais credores na Espanha e na Irlanda, e os segundos mais importantes na Itália”. Os bancos franceses não estão em situação diferente; são, por exemplo, os maiores credores na Grécia.
Com seis meses de ataque especulativo contra o euro, a reunião Merkel-Sarkozy se deu em meio à boataria sobre iminente colapso da Espanha, após notas em dois jornais alemães e um jornal financeiro espanhol, e declaração do presidente do segundo maior banco espanhol (BBVA), Francisco Gonzalez, de que os “mercados internacionais de capital” não estavam mais dando crédito “à maioria das empresas e bancos espanhóis”. Rumores desmentidos quase em desespero pelo primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, e negados ainda pelo FMI e pelo Banco Central Europeu, mas reforçados a cada novo detalhe sobre o plano de arrocho.
ESPANHA
Os cortes de 50 bilhões de euros de janeiro foram ampliados por Zapatero em US$ 15 bilhões. A título de “reduzir o desemprego”- de 20% -, o governo espanhol tornou mais fácil demitir, ao reduzir os encargos sobre as demissões. Também são atacados salários, pensões e programas sociais. Esse arrocho foi aprovado com maioria de apenas um voto no parlamento. Nos demais países europeus, a cena se repete. Sarkozy tenta descarregar o aumento da idade mínima de aposentadoria, em dois anos, para 62 anos. Já a idade mínima para aposentadoria dos que não atingiram o tempo de contribuição exigido passará de 65 para 67 anos. A Grécia já raspou o tacho, e Portugal está sob ameaça de cair no mesmo desvão.
A “Der Spiegel” registrou a reunião como “toda sorrisos”, para acrescentar “cada vez mais forçados”. Há necessidade de um “governo econômico europeu forte”, concordaram Merkel e Sarkozy, para discordar no resto. O presidente francês quer priorizar a “coordenação” dos 16 países da zona do euro – antes que o euro acabe; e Frau Merkel, que chamou o FMI para impalar a Grécia, quer um mecanismo dos “27 países”. Ele teria dito à “kanzler” que o socorro à Grécia – entenda-se aos bancos – teria custado em fevereiro 15 bilhões de euros e agora já custa 1 trilhão.
Isso nos palácios. Nas ruas, onde a questão será decidida, a tensão se intensifica - e o repúdio ao arrocho e ao favorecimento dos banksters. Na semana passada, foi a vez de Merkel aturar manifestações em Berlim e Stuttgart, com dezenas de milhares. Pela Europa inteira, com greves e manifestações a população vai se erguendo contra o arrocho, a devastação e a supressão da soberania.
ANTONIO PIMENTA – Hora Do Povo -2873

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