Presidente Obama, coloque-me no lugar de Rahm
O5 de Março de 2010
Caro presidente Obama,
Entendi que está buscando colocar alguém no lugar de Rahm Emanuel como seu chefe de equipe. Gostaria de, humildemente, oferecer-me para substituí-lo.
Estarei em Washington e arrumarei a bagunça que tem sido criada em torno de você. Trabalharei por US$ 1 ao ano. Vou ajudar os democratas no Capitol Hill (Congresso Americano) a se encontrarem e os ensinarei como derrotar os republicanos e, sem violência, transformá-los em pasta.
E vou lhe ajudar a dar conta daquilo que o povo Americano o enviou aí para fazer. Não preciso muito, uma cama no porão da Casa Branca será suficiente.
Mas não fique alegre demais com minha oferta, porque você e eu vamos estar de pé às 5 da manhã, 7 dias por semana e vou fazê-lo criar músculos para a batalha todos os dias (veja foto). A cada manhã você e eu vamos fazer 100 polichinelos e você vai repetir comigo:
“O POVO AMERICANO ME ELEGEU, NÃO OS REPUBLICANOS, PARA GOVERNAR O MEU PAÍS! EU ESTOU NO COMANDO! VOU TIRAR TODOS OS OBSTRUCIONISTAS FORA DO MEU CAMINHO! SE O POVO AMERICANO NÃO GOSTAR DO QUE ESTOU FAZENDO PODE ME DAR UM PÉ NA BUNDA EM 2012. ENQUANTO ISSO, TOMO AS DECISÕES EM SEU NOME, FAÇA 50 FLEXÕES!!”
GINÁSTICA
Depois vamos colocar os casacos de ginástica e correr até Capitol Hill. Vamos anotar nomes, dar alguns chutes e depois anotar mais nomes. Se tiver que dar algumas gravatas, que seja. Em nossos bolsos vamos levar pedaços de papel para mostrar aos pançudos democratas quanto eles ganharam em 2008 – e resultados de pesquisas que mostram que a maioria dos americanos se opõem às guerras do Afeganistão e do Iraque e querem ver os banqueiros punidos. Como sargentos em exercícios militares, vamos chegar junto e, nas suas caras, perguntar a eles “QUE PARTE DO MANDATO PÚBLICO VOCÊS NÃO ENTENDERAM, SOLDADOS?!! FAÇAM 50 FLEXÕES!”
Sei que este é o trabalho que Rahm Emanuel deveria estar fazendo.
Agora, não me entenda mal. Sempre admirei Rahm Emanuel (se não for levado em conta seu apoio ao NAFTA no Congresso nos anos 90, que destruiu cidades como Flint, no Estado de Michigan). Ele é o que precisávamos há muito tempo – uma máquina de combate sem pedidos de desculpas, sem poupar prisioneiros. Alguém que não tenha medo de sujar as mãos e faça a direita se submeter. Longe de ser o fanfarrão de boca cheia – como tem sido retratado – Rahm é aquele que BATEU os fanfarrões para nos proteger dela.
Isso foi seguramente o que ele fez em 2006. Depois de seis longos e miseráveis anos com a classe média sendo dizimada e os pobres sendo jogados descarga abaixo, Rahm Emanuel assumiu o trabalho de trazer o Congresso de volta aos Democratas. Ninguém achava que isto pudesse ser feito.
Mas ele o fez. Um grande momento. Ele colocou o medo a Deus no partido de Rush e Newt. Eles nunca tiveram tanto medo. De forma mais importante, instilou senso de esperança nos democratas de que eles poderiam atingir o pódio em 2008 – e com você, um afro-americano, nada menos, na pole position!
Funcionou. A escuridão acabou. A grande maioria da nação chorou de alegria na noite da eleição (os que não estavam chorando, saíram e compraram uma quantidade recorde de armas e munição). Diferente do último presidente, você não ‘venceu’ por 537 votos na Flórida (ainda que Gore tenha vencido no voto popular por mais de meio milhão), você derrotou McCain nacionalmente por 9.522.083 votos! Os democratas na Câmara (House) obtiveram uma galopante margem de 79 votos. Os democratas no Senado reuniriam uma supermaioria de 60 votes, não vista em mais de 30 anos. As guerras acabariam. A América teria saúde universal. Wall Street e os bancos seriam, no mínimo, tratados com rédea curta. Os cidadãos que trabalham duro não seriam despejados. Supunha-se que seria a aurora de uma nova era.
Porém os republicanos não iriam em silêncio noite a dentro. Veja, ao invés de terem apenas um Rahm Emanuel, eles todos são Rahm Emanuels. Por isso normalmente vencem. Diferente da maioria dos democratas, eles são incansáveis e não dá para pará-los. Quando eles acreditam em algo (que é normalmente neles mesmos e no serviço da K Street [avenida em Washington onde se concentram os escritórios de lobistas] pelo qual esperam ser remunerados algum dia), eles vão lutar por aquilo até a morte. São leais aos erros uns dos outros (nunca foram capazes de denunciar Bush, ainda que soubessem que estava destruindo o partido). Eles atolam suas rodas fundo, não importa no que. Se você os exilasse em um bloco de gelo polar em derretimento, eles seguiriam insistindo de que se trata de um “degelo normal de janeiro”, ainda que as frígidas águas árticas chegassem acima de seus pescoços tementes a Deus (“Vejam o que estou dizendo – a água está GELADA! Qual ‘aquecimento global’?! Adão e Eva montavam em dinossauros … qual é!!!...gulp, gulp gulp”).
LOUCURA
Pensávamos que estávamos todos livres desta loucura, mas estávamos errados. Como uma besta que simplesmente não se pode enjaular, os republicanos convenceram não apenas a mídia, mas VOCÊ e seus colegas democratas, de que 59 votos seria uma ‘minoria’! Tempo precioso foi gasto tentando chegar a um “consenso” e tentando ser “bipartidário”.
Bem, você e os democratas estão no comando por mais de um ano e não há uma regulamentação bancária reposta. Não temos plano de saúde universal. A Guerra no Afeganistão entrou em escalada. E dezenas de milhares de americanos continuam a ser jogados para fora de suas casas. Para muitos de nós, simplesmente não é suficientemente bom que Bush tenha ido embora. Woo hoo. Bush se foi. Yippee. Isso não criou nenhum novo emprego.
Você é um cara tão legal, Mr. President. Chegou a Washington com sua mão estendida aos republicanos e eles simplesmente a cortaram. Você quis ser respeitoso e eles decidiram que iriam dizer “não” a tudo que você sugerisse. E ainda assim você se manteve dizendo acreditar no bipartidarismo.
Bem, se você realmente quer bipartidarismo, vá em frente e deixe os republicanos vencer em novembro. Aí vai ter todo o bipartidarismo que deseja.
CONSERTO
Deixe-me ser claro sobre uma questão: os democratas, no dia da eleição de 2010, vão gestar uma decepção de proporções bíblicas se as coisas não mudarem agora, já. E depois que a nova maioria republicana retomar o poder, eles, junto com uns poucos democratas conservadores vão chegar ao bipartidarismo e promover seu impeachment por você ser um socialista e um cidadão do Quênia. Como será bom ver os dois lados do corredor juntos novamente!
E a pequena janela que tínhamos para consertar o país terá se afastado.
Ido embora.
Ido embora, baby, ido.
Não sei no que a sua equipe andou metida, mas não o serviram bem. E Rahm, pobre Rahm, tornou-se um lutador – não contra os republicanos, mas contra a esquerda. Ele chamou aqueles de nós que querem saúde pública de “retardados fud...”. Veja, não sei se o problema é Rahm ou se é Gibbs ou Axelrod ou alguma das grandes pessoas às quais você deve agradecimentos por ter sido eleito. Tudo que sei é que tudo aquilo que serviu de combustível para levá-lo à Casa Branca está virando fumaça. É hora de chacoalhar as coisas! É hora de me chamar para bombá-lo toda manhã! Vai Barack! Vamos Obama! Lute, equipe, lute!
MALAS
Estou de malas prontas e pronto para ir a Washington amanhã mesmo. Se isso ajuda não vou perder Rahm inteiramente por que estarei trazendo seu irmão comigo – meu agente, Ari Emanuel. Cara, você devia vê-lo fazendo um negócio! Você já pensou em ver Mitch McConnell [líder da bancada republicana no Senado] andando em volta de Capitol Hill carregando sua própria cabeça nas mãos depois que ela lhe foi entregue pelo infame Ari? Oh, baby, não vai ser nada bonito – mas rapaz – vai ser doce!
O que você diz, Barack? Você e eu contra o mundo! Sim, nós podemos! Vai ser engraçado – e nós poderemos conseguir fazer alguma coisa. O que você tem a perder? A esperança?
Retardadamente seu,
Michael Moore
MMFlint@aol.com
MichaelMoore.com
P.S. Só para lhe dar uma idéia do novo estilo que estarei trazendo comigo, quando um miolo mole como o senador Ben Nelson tentar segurá-lo da próxima vez, eis o que eu direi para conseguir o seu voto: “Você tem exatamente 30 segundos para rescindir sua demanda ou eu vou pessoalmente garantir que Nebraska não consiga nenhum dólar federal pelo resto do mandato de Obama. E depois vou fazer com que todo mundo em seu Estado saiba que você usava calças curtas, para trás. Agora faça 50 flexões”
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