domingo, março 14, 2010

Entrevista com Jean-Bertrand Aristide:

 

“O que está em jogo no Haiti é a dignidade de todo o povo ou a dependência servil” (1)

A entrevista que hoje começamos a publicar apareceu originalmente na revista “London Review of Books”, em fevereiro de 2007. Apesar da data, ela é, até hoje, a mais extensa e mais reveladora entrevista do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide. O entrevistador não foi um jornalista, mas o filósofo canadense Peter Hallward – o que é visível na forma de suas perguntas, que mantivemos na íntegra – e realizada em Pretoria, África do Sul, onde Aristide encontra-se asilado desde o golpe de Estado patrocinado pelos EUA – e, em verdade, executado por tropas norte-americanas, que invadiram o Haiti em 2004.

Jean-Bertrand Aristide é a figura central da história do Haiti após o fim da alucinada ditadura dos Duvalier e seus tonton macoutes, como, de resto, da vida política atual do país. Se é lícito assim expressarmo-nos, sua ausência é a presença mais marcante da vida do país. Há seis anos, o retorno de Aristide é a principal questão política que mobiliza o povo haitiano.

Formado em filosofia e psicologia, Aristide foi um padre salesiano até 1988, quando sua adesão à Teologia da Libertação e ao lema “lapè nan tèt, lapè nan vant” (em créole: “não há paz na mente, se não há paz na barriga”) fez com que os superiores da ordem tornassem impossível sua permanência. Mas continuou um católico romano e adepto da não-violência no mesmo sentido de Gandhi.

Em 1990, candidato a presidente pela Frente Nacional pela Mudança e Democracia, foi eleito com 67% dos votos. Posteriormente, fundou o partido Fanmi Lavalas. Em créole, a palavra “fanmi” significa “família” e “lavalas” pode ser traduzido como “avalanche”, “dilúvio”, mas também “todos juntos”.

A história de Aristide após essa eleição é mais conhecida: o golpe de Estado em 1991, sua volta ao Haiti e à presidência, em 1994, e, depois do primeiro mandato de René Préval, sua vitória na eleição de 2000 com 92% dos votos e o golpe de Estado de 2004, com a invasão das tropas norte-americanas, a perseguição, inclusive assassinatos e torturas, dos partidários de Aristide e a subsequente proibição do Fanmi Lavalas de concorrer às eleições.

O fato é que a volta de Aristide ao Haiti é a condição política mais importante para que aquele país encontre, com  a unidade de seu povo, a paz baseada na justiça. A situação atual, sobretudo depois do terremoto de janeiro, tornou mais urgente ainda que essa condição política seja cumprida.

C.L.

O Haiti é um país profundamente dividido e você tem sido sempre um personagem profundamente conflituoso. Para a maioria dos numerosos observadores simpatizantes dos anos 90 era fácil entender essa divisão mais ou menos em função de critérios de classe: você foi demonizado pelos ricos e idolatrado pelos pobres. Então, as coisas começaram a ficar mais complicadas. Certos ou errados, ao final da década, muitos dos que originalmente o apoiavam passaram a ficar mais céticos e seu segundo governo (2001 - 2004), do início ao fim, foi implacavelmente perseguido por acusações de violência e corrupção. Apesar de, em todas as medidas possíveis, você permanecer folgadamente como o político mais confiável e popular entre o eleitorado haitiano, parece que você tem perdido muito do apoio que gozava entre partes da classe política, dos trabalhadores, ativistas, intelectuais e outras, tanto no país como no exterior. Muitas de minhas questões referem-se a essas acusações, especialmente a de que, com o passar do tempo, você fez concessões ou abandonou muitos de seus ideais originais. Para começar, gostaria de retornarmos brevemente a um território familiar e perguntar sobre o processo que o conduziu ao poder em 1990. O final dos anos 80 foi um período muito reacionário na política mundial, especialmente na América Latina. Como você explica a considerável força e resistência do movimento popular contra a ditadura no Haiti, movimento que passou a ser conhecido como “Lavalas” – palavra que em creóle significa “inundação”, ou “avalanche”, assim como “multidão”, ou “todos juntos”? Como você explica que, apesar das circunstâncias, e certamente contra os interesses dos EUA, dos militares e de todo o poder que dominava o Haiti, você conseguiu vencer as eleições de 1990?

Jean-Bertrand Aristide - Grande parte do trabalho já tinha sido feito por pessoas antes de mim. Refiro-me a pessoas como o padre Antonio Adrien e seus companheiros, e Padre Jean Marie Vincent, que foi assassinado em 1994. Eles haviam desenvolvido uma visão teológica progressista que refletia as esperanças e expectativas do povo haitiano. Já em 1979, eu estava trabalhando no contexto da Teologia da Libertação. Há uma frase em particular que ficou marcada em minha mente e que pode ajudar a resumir meu entendimento da situação naquela época. Você deve lembrar-se de que a Conferência de Puebla aconteceu no México, em 1979, e naquele tempo muitos teólogos da libertação estavam trabalhando sob severas restrições, ameaçados e impedidos de participar. O slogan ao qual estou me referindo dizia algo como “si el pueblo no va a Puebla, Puebla se quedara sin pueblo” – se o povo não vai a Puebla, Puebla ficará sem povo.

Em outras palavras, o povo é para mim o próprio centro de nossa luta. Não se trata de lutar pelo povo, em nome do povo, à distância do povo; é o povo, ele mesmo, que está lutando. Trata-se de lutar com o povo e no meio do povo. Isso leva a um segundo princípio teológico, que Sobrinho, Boff e outros entenderam muito bem. A teologia da libertação somente pode ser uma etapa de um processo mais abrangente. Esta etapa, na qual nós temos que começar falando em nome dos pobres e oprimidos, tem fim assim que eles comecem a falar com sua própria voz e com suas próprias palavras. O povo começa a assumir seu próprio lugar na cena pública. A teologia da libertação dá lugar, então, à libertação da teologia. O processo completo leva-nos longe do paternalismo, de toda noção de um “saber” que poderia vir a conduzir o povo e resolver seus problemas. Os padres que eram inspirados pela teologia da libertação naquele tempo entendiam que nosso papel era acompanhar o povo, e não tomar o lugar dele.

No Haiti, a emergência do povo como força pública organizada, como consciência coletiva já tinha começado nos anos oitenta, e, por volta de 1986, essa força era forte o suficiente para afastar a ditadura Duvalier do poder. Foi um movimento da base popular, e não um projeto piramidal, dirigido por um único líder ou uma só organização. Também não foi apenas um movimento político. Ele tomou forma, sobretudo através da construção de numerosas pequenas comunidades eclesiais de base, ou “ti legliz”, por todo o país. Foram essas comunidades que desempenharam um papel histórico decisivo. Quando fui eleito presidente, não se tratava somente de um cargo estritamente político, da eleição de um político, de um partido político convencional. Não! Tratava-se da expressão de um grande movimento popular, da mobilização do povo como um todo. Pela primeira vez o Palácio Nacional tornou-se um lugar não só de políticos profissionais, mas para o povo, ele mesmo. O simples fato de permitir-se a pessoas comuns entrarem no palácio, o simples fato de serem bem vindas pessoas das camadas mais pobres da sociedade haitiana no coração central do poder tradicional – isto já foi um gesto profundamente transformador.

Você hesitou por algum tempo antes de aceitar colocar-se como candidato naquelas eleições de 1990. Você estava perfeitamente consciente de como, considerando-se as relações das forças existentes, a participação nas eleições poderia enfraquecer ou dividir o movimento. Olhando para trás agora, você ainda pensa que foi a coisa certa a fazer? Haveria alguma alternativa viável àquela de seguir a via parlamentar?

Aristide - Eu sou inclinado a pensar a história como um processo de cristalização de diferentes tipos de variáveis. Algumas delas são conhecidas, outras não. As variáveis que nós conhecíamos e entendíamos naquele tempo eram bastante claras. Nós tínhamos uma idéia do que éramos capazes e também sabíamos que aqueles que buscavam manter o status quo tinham inúmeros meios à disposição. Eles tinham toda sorte de estratégias e mecanismos – militares, econômicos, políticos... – para desorganizar qualquer movimento que desafiasse sua continuidade no poder. Mas nós não podíamos saber exatamente como eles se serviriam destes meios. Eles mesmos não poderiam saber. Estavam acompanhando atentamente a forma como o povo lutava para inventar modos de organizar a si mesmo, modos de promover efetivamente este desafio. Isso é o que eu penso acerca de variáveis desconhecidas: o movimento popular estava em processo de ser inventado e desenvolvido, sob pressão, no campo de batalha, e não havia meios de saber de antemão que contra-ataque eles iriam provocar.

Agora, dado o equilíbrio desses dois tipos de variáveis, eu não podia voltar atrás. Não recuei em nada. Em 1990, fui convocado por outros no movimento a aceitar a cruz que tinha caído sobre mim. Foi nesses termos que o Padre Adrien descreveu isso e foi assim que eu entendi: eu deveria aceitar o fardo daquela cruz. “Você está no caminho do Calvário”, ele disse, e eu sabia que ele estava certo. Quando recusei isso, no início, Monsenhor Willy Romélus, em quem eu depositava muita confiança, como conselheiro, insistiu que eu não tinha escolha. “Sua vida não pertence mais a você”, ele disse, “Você a ofereceu em sacrifício ao povo. E agora que uma missão concreta se apresenta a você, agora que você se encontra frente a essa convocação especial, de seguir Jesus e carregar sua cruz, reflita cuidadosamente antes de voltar atrás”. Isto era o que eu sabia, e sabia muito bem, então. Foi uma espécie de caminho do Calvário. E assim que decidi, aceitei este caminho tal como ele seria, sem ilusões, sem enganar-me a mim mesmo. Nós sabíamos perfeitamente bem que não seríamos capazes de mudar tudo, que não seríamos capazes de corrigir cada injustiça, que iríamos trabalhar sob severas restrições, e assim por diante.

Suponha que eu dissesse não, que não aceitasse ser candidato, como as pessoas iriam reagir? Entendo agora o eco de certas vozes que perguntavam: “Vamos ver agora se você tem a coragem de tomar essa decisão. Vamos ver agora se você não passa de um covarde para aceitar essa tarefa. Você, que tem proferido os mais belos sermões, o que vai fazer agora? Vai nos abandonar, ou vai assumir essa responsabilidade de modo que juntos possamos seguir em frente?” E eu pensei sobre isso. Qual a melhor maneira de colocar em prática a mensagem do evangelho? O que eu deveria fazer? Eu lembro como respondi a essa questão, quando, alguns dias antes da eleição de 1990, fui a uma manifestação pelas vítimas do massacre da Viela de Vaillant, no qual vinte pessoas foram mortas pelos Macoutes, no dia das eleições canceladas de 1987. Um estudante me perguntou: “Padre, o senhor pensa que poderá mudar sozinho essa situação tão corrupta e injusta?” E eu, em resposta, disse-lhe: “Para chover, é necessária uma, ou muitas gotas de chuva? Para uma inundação, basta um fiozinho de água, ou a torrente de um rio?” E eu agradeci a ele por me dar a chance de apresentar nossa missão coletiva na forma dessa metáfora: não será sozinhos, como gotas de chuva, que você e eu conseguiremos mudar essa situação, mas juntos, como uma inundação ou uma torrente, “lavalassement”, que iremos transformá-la, saná-la, sem ilusão de que isso será fácil ou rápido.

Então, haveria alternativas? Acho que não. No entanto, estou seguro de que havia uma oportunidade histórica, e de que nós demos uma resposta histórica, uma resposta que transformou a situação, um passo na direção certa. Naturalmente, fazendo isso, provocamos uma reação. Nossos oponentes responderam com um golpe de estado. Primeiro, a tentativa de golpe de estado de Roger Lafontant, em janeiro de 1991, e, como ele falhou, o golpe de 30 de setembro de 1991. Nossos oponentes tinham sempre meios desproporcionalmente poderosos de reprimir o movimento popular. Nenhuma simples ação ou decisão poderia mudar isso. O que importa é que nós tínhamos dado um passo adiante, um passo na direção certa, seguido de outros passos. O processo que começou naquele época ainda é forte, apesar de tudo, ainda é forte, e eu estou convencido de que ele virá somente a se fortalecer, e que, no fim, ele irá prevalecer.

O golpe de setembro de 1991 aconteceu apesar do fato de as políticas concretas que você aplicou, quando estava no poder, terem sido muito moderadas, muito prudentes. Teria sido um golpe inevitável, então? Apesar do que você fez ou não fez, bastaria que a simples presença de alguém como você no Palácio Presidencial fosse inaceitável para a elite haitiana? E, neste caso, o que mais poderia ser possível fazer para prever e resistir aos violentos contra-ataques?

Aristide - Bom, essa é uma boa questão. Eu entendo a situação do seguinte modo: o que aconteceu em setembro de 1991 aconteceu também em fevereiro de 2004 e poderia facilmente ocorrer novamente no futuro, sempre que a oligarquia que controla os meios de repressão venha a empregá-los para manter uma versão oca de democracia. Essa é sua obsessão: manter uma situação que poderia ser chamada de democrática, mas que, de fato, consiste em uma democracia importada e superficial, controlada de cima para baixo. Eles têm sido capazes de manter essa situação por um longo tempo. O Haiti é independente há 200 anos, mas nós agora vivemos num país onde um por cento da população controla mais que a metade da riqueza. Para a elite, trata-se de estarmos nós contra eles, de procurar um modo de preservar as desigualdades massivas que afetam cada faceta da sociedade haitiana. Nós estamos submetidos a uma espécie de apartheid. Mesmo depois de 1804, a elite tem feito o possível para manter as massas à margem, no outro lado dos muros que protegem seus privilégios. É a isso que nós somos contra. É a isso que qualquer democracia genuína é contra. A elite fará tudo que puder para certificar-se de que controla um presidente fantoche, que controla um parlamento fantoche. Ela fará o que for preciso para proteger o sistema de exploração do qual seu poder depende. A sua questão deve ser colocada em relação a esse contexto histórico, em relação a essa profunda e considerável permanência.

Continua

CARTA ABERTA DE MICHAEL MOORE

Presidente Obama, coloque-me no lugar de Rahm

 

O5 de Março de 2010

Caro presidente Obama,

Entendi que está buscando colocar alguém no lugar de Rahm Emanuel como seu chefe de equipe. Gostaria de, humildemente, oferecer-me para substituí-lo.

Estarei em Washington e arrumarei a bagunça que tem sido criada em torno de você. Trabalharei por US$ 1 ao ano. Vou ajudar os democratas no Capitol Hill (Congresso Americano) a se encontrarem e os ensinarei como derrotar os republicanos e, sem violência, transformá-los em pasta.

E vou lhe ajudar a dar conta daquilo que o povo Americano o enviou aí para fazer. Não preciso muito, uma cama no porão da Casa Branca será suficiente.

Mas não fique alegre demais com minha oferta, porque você e eu vamos estar de pé às 5 da manhã, 7 dias por semana e vou fazê-lo criar músculos para a batalha todos os dias (veja foto). A cada manhã você e eu vamos fazer 100 polichinelos e você vai repetir comigo:

“O POVO AMERICANO ME ELEGEU, NÃO OS REPUBLICANOS, PARA GOVERNAR O MEU PAÍS! EU ESTOU NO COMANDO! VOU TIRAR TODOS OS OBSTRUCIONISTAS FORA DO MEU CAMINHO! SE O POVO AMERICANO NÃO GOSTAR DO QUE ESTOU FAZENDO PODE ME DAR UM PÉ NA BUNDA EM 2012. ENQUANTO ISSO, TOMO AS DECISÕES EM SEU NOME, FAÇA 50 FLEXÕES!!”

GINÁSTICA

Depois vamos colocar os casacos de ginástica e correr até Capitol Hill. Vamos anotar nomes, dar alguns chutes e depois anotar mais nomes. Se tiver que dar algumas gravatas, que seja. Em nossos bolsos vamos levar pedaços de papel para mostrar aos pançudos democratas quanto eles ganharam em 2008 – e resultados de pesquisas que mostram que a maioria dos americanos se opõem às guerras do Afeganistão e do Iraque e querem ver os banqueiros punidos. Como sargentos em exercícios militares, vamos chegar junto e, nas suas caras, perguntar a eles “QUE PARTE DO MANDATO PÚBLICO VOCÊS NÃO ENTENDERAM, SOLDADOS?!! FAÇAM 50 FLEXÕES!”

Sei que este é o trabalho que Rahm Emanuel deveria estar fazendo.

Agora, não me entenda mal. Sempre admirei Rahm Emanuel (se não for levado em conta seu apoio ao NAFTA no Congresso nos anos 90, que destruiu cidades como Flint, no Estado de Michigan). Ele é o que precisávamos há muito tempo – uma máquina de combate sem pedidos de desculpas, sem poupar prisioneiros. Alguém que não tenha medo de sujar as mãos e faça a direita se submeter. Longe de ser o fanfarrão de boca cheia – como tem sido retratado – Rahm é aquele que BATEU os fanfarrões para nos proteger dela.

Isso foi seguramente o que ele fez em 2006. Depois de seis longos e miseráveis anos com a classe média sendo dizimada e os pobres sendo jogados descarga abaixo, Rahm Emanuel assumiu o trabalho de trazer o Congresso de volta aos Democratas. Ninguém achava que isto pudesse ser feito.

Mas ele o fez. Um grande momento. Ele colocou o medo a Deus no partido de Rush e Newt. Eles nunca tiveram tanto medo. De forma mais importante, instilou senso de esperança nos democratas de que eles poderiam atingir o pódio em 2008 – e com você, um afro-americano, nada menos, na pole position!

Funcionou. A escuridão acabou. A grande maioria da nação chorou de alegria na noite da eleição (os que não estavam chorando, saíram e compraram uma quantidade recorde de armas e munição). Diferente do último presidente, você não ‘venceu’ por 537 votos na Flórida (ainda que Gore tenha vencido no voto popular por mais de meio milhão), você derrotou McCain nacionalmente por 9.522.083 votos! Os democratas na Câmara (House) obtiveram uma galopante margem de 79 votos. Os democratas no Senado reuniriam uma supermaioria de 60 votes, não vista em mais de 30 anos. As guerras acabariam. A América teria saúde universal. Wall Street e os bancos seriam, no mínimo, tratados com rédea curta. Os cidadãos que trabalham duro não seriam despejados. Supunha-se que seria a aurora de uma nova era.

Porém os republicanos não iriam em silêncio noite a dentro. Veja, ao invés de terem apenas um Rahm Emanuel, eles todos são Rahm Emanuels. Por isso normalmente vencem. Diferente da maioria dos democratas, eles são incansáveis e não dá para pará-los. Quando eles acreditam em algo (que é normalmente neles mesmos e no serviço da K Street [avenida em Washington onde se concentram os escritórios de lobistas] pelo qual esperam ser remunerados algum dia), eles vão lutar por aquilo até a morte. São leais aos erros uns dos outros (nunca foram capazes de denunciar Bush, ainda que soubessem que estava destruindo o partido). Eles atolam suas rodas fundo, não importa no que. Se você os exilasse em um bloco de gelo polar em derretimento, eles seguiriam insistindo de que se trata de um “degelo normal de janeiro”, ainda que as frígidas águas árticas chegassem acima de seus pescoços tementes a Deus (“Vejam o que estou dizendo – a água está GELADA! Qual ‘aquecimento global’?! Adão e Eva montavam em dinossauros … qual é!!!...gulp, gulp gulp”).

LOUCURA

Pensávamos que estávamos todos livres desta loucura, mas estávamos errados. Como uma besta que simplesmente não se pode enjaular, os republicanos convenceram não apenas a mídia, mas VOCÊ e seus colegas democratas, de que 59 votos seria uma ‘minoria’! Tempo precioso foi gasto tentando chegar a um “consenso” e tentando ser “bipartidário”.

Bem, você e os democratas estão no comando por mais de um ano e não há uma regulamentação bancária reposta. Não temos plano de saúde universal. A Guerra no Afeganistão entrou em escalada. E dezenas de milhares de americanos continuam a ser jogados para fora de suas casas. Para muitos de nós, simplesmente não é suficientemente bom que Bush tenha ido embora. Woo hoo. Bush se foi. Yippee. Isso não criou nenhum novo emprego.

Você é um cara tão legal, Mr. President. Chegou a Washington com sua mão estendida aos republicanos e eles simplesmente a cortaram. Você quis ser respeitoso e eles decidiram que iriam dizer “não” a tudo que você sugerisse. E ainda assim você se manteve dizendo acreditar no bipartidarismo.

Bem, se você realmente quer bipartidarismo, vá em frente e deixe os republicanos vencer em novembro. Aí vai ter todo o bipartidarismo que deseja.

CONSERTO

Deixe-me ser claro sobre uma questão: os democratas, no dia da eleição de 2010, vão gestar uma decepção de proporções bíblicas se as coisas não mudarem agora, já. E depois que a nova maioria republicana retomar o poder, eles, junto com uns poucos democratas conservadores vão chegar ao bipartidarismo e promover seu impeachment por você ser um socialista e um cidadão do Quênia. Como será bom ver os dois lados do corredor juntos novamente!

E a pequena janela que tínhamos para consertar o país terá se afastado.

Ido embora.

Ido embora, baby, ido.
Não sei no que a sua equipe andou metida, mas não o serviram bem. E Rahm, pobre Rahm, tornou-se um lutador – não contra os republicanos, mas contra a esquerda. Ele chamou aqueles de nós que querem saúde pública de “retardados fud...”. Veja, não sei se o problema é Rahm ou se é Gibbs ou Axelrod ou alguma das grandes pessoas às quais você deve agradecimentos por ter sido eleito. Tudo que sei é que tudo aquilo que serviu de combustível para levá-lo à Casa Branca está virando fumaça. É hora de chacoalhar as coisas! É hora de me chamar para bombá-lo toda manhã! Vai Barack! Vamos Obama! Lute, equipe, lute!

MALAS

Estou de malas prontas e pronto para ir a Washington amanhã mesmo. Se isso ajuda não vou perder Rahm inteiramente por que estarei trazendo seu irmão comigo – meu agente, Ari Emanuel. Cara, você devia vê-lo fazendo um negócio! Você já pensou em ver Mitch McConnell [líder da bancada republicana no Senado] andando em volta de Capitol Hill carregando sua própria cabeça nas mãos depois que ela lhe foi entregue pelo infame Ari? Oh, baby, não vai ser nada bonito – mas rapaz – vai ser doce!
O que você diz, Barack? Você e eu contra o mundo! Sim, nós podemos! Vai ser engraçado – e nós poderemos conseguir fazer alguma coisa. O que você tem a perder? A esperança?
Retardadamente seu,
Michael Moore
MMFlint@aol.com
MichaelMoore.com
P.S. Só para lhe dar uma idéia do novo estilo que estarei trazendo comigo, quando um miolo mole como o senador Ben Nelson tentar segurá-lo da próxima vez, eis o que eu direi para conseguir o seu voto: “Você tem exatamente 30 segundos para rescindir sua demanda ou eu vou pessoalmente garantir que Nebraska não consiga nenhum dólar federal pelo resto do mandato de Obama. E depois vou fazer com que todo mundo em seu Estado saiba que você usava calças curtas, para trás. Agora faça 50 flexões” 

“Greve de fome não pode ser pretexto para liberar bandidos”, diz presidente

 

As declarações de presidente Lula à Associated Press de que o Brasil respeita as decisões do sistema judiciário de Cuba como quer ver respeitado o do Brasil gerou alvoroço e histeria na mídia colonizada local. “A greve de fome não pode ser um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em SP entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”, ponderou o presidente. Nada mais justo. Lugar de bandido é na cadeia. No entanto, os serviçais do império para tentar atingir a figura de Lula, estão transformando delinqüentes comuns, ladrões, assaltantes e traficantes cubanos em paladinos dos direitos humanos e em “dissidentes políticos”. Senão vejamos.

Guillermo Fariñas, atualmente em greve de fome, apesar de estar solto, foi integrante do bando do traficante Arnaldo Ochoa, e tem sobre si várias condenações criminais. Segue uma pequena ficha corrida do marginal: primeira condenação em 1995, quando agrediu uma funcionária do posto de saúde onde trabalhava como psicólogo. A segunda, em 2002, quando agrediu outra pessoa idosa usando um bastão, tão fortemente que tiveram de extrair-lhe o baço. Por isso, ele foi condenado a 5 anos e 10 meses de prisão, por um tribunal da cidade de Santa Clara. Desde então, vem usando greves de fome para “libertar presos”. Mesmo assim, ele ganhou, em dezembro de 2003, licença para cumprir a pena em liberdade.

O outro, Orlando Zapata, morto há alguns dias em consequência de uma greve de fome também nunca foi ativista político. Ele era um preso comum que iniciou a sua atividade criminosa em 1988. Foi julgado e condenado pelos delitos de “violação de domicílio” (1993), assalto a mão armada e “lesões com posse de arma branca”. Saiu em liberdade condicional no mês de março de 2003 e dez dias depois já cometeu um novo delito e voltou para a cadeia.
S.C.