sábado, outubro 25, 2008

Aumenta abismo entre ricos e pobres na Itália

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Sábado - 25/10/2008

Gráfico revela que desigualdade de renda na Itália cresce além da média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - OCDE. Imagem: OCDE

A desigualdade de renda entre ricos e pobres na Itália continua elevada, fazendo com que o país  apresente a sexta maior diferença  entre os 30 países associados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OECD. Os dados da organização, divulgados nesta semana, revelam que a desigualdade de renda e a pobreza cresceram rapidamente na Itália ao longo do início dos anos 90 e, de um patarmar equivalente à média dos países da OECD,  a Itália passou a um nível comparativamente elevado em termos de diferença de renda.

A renda média dos 10% dos italianos mais pobres chega a 5 mil dólares – levando-se em conta a paridade do poder de compra -, enquanto a média da OECD é de 7 mil dólares/ano. A renda média dos 10% dos italianos mais ricos chega a 55 mil dólares, superior à média da OCSE. Os ricos se beneficiaram mais do crescimento econômico do que os pobres e a classe média.

O Brasil não integra a OECD, mas naturalmente a realidade italiana ainda é incomparavelmente melhor do que a existente no país do bolsa família. A Pesquina Nacional por Amostra de Domicílio- Pnda de 2007 revelou que a fatia da renda do 1% mais rico da população é ligeiramente menor apenas do que aquela apropriada pelos 50% mais pobres. Além disso, os 10% mais ricos no Brasil se apropriam de mais de 40% da renda, enquanto que os 40% mais pobres ficam com menos de 10% da renda.

www.oecd.org/els/social/inequality

Redação revista eletrônica Oriundi

“Cortar gasto público? Foi essa receita que empurrou a Alemanha para o nazismo em 1933”

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

 

Diante da crise que se aprofunda, o economista e professor titular da Unicamp sugere um tripé para preservar a economia brasileira: estatização do crédito, defesa das reservas cambiais e expansão do investimento público. O governo, adverte Belluzzo, está sendo acossado pela demência de um certo pensamento econômico que pode imobilizá-lo. "O governo brasileiro não pode sacrificar o PAC em nome de uma religião de superávit primário".

Redação - Carta Maior

Data: 22/10/2008

Retoma inestimável atualidade nos dias que correm – ou talvez fosse mais honesto dizer, nas horas que urgem - a frase bordão proferida pelo presidente Franklin Delano Roosevelt no famoso discurso de posse, em março de 1933. Em meio à Grande Depressão, que destruiria 25% dos postos de trabalho nos EUA, o político de origem conservadora, mas que passaria à história por ter abraçado instrumentos heterodoxos que permitiram tirar os norte-americanos do fundo da recessão, inaugurou seu mandato com uma advertência que, 79 anos depois, presta-se como uma luva a seus pares de hoje, igualmente assombrados por uma crise de gravidade equivalente, ou pior, que a de então. “A única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo”, disse o líder democrata à Nação, a si mesmo e, agora vê-se, à posteridade.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor-titular da Unicamp e Presidente do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento – que fará um seminário com economistas de todo o mundo para discutir a crise, nos dias 6 e 7 de novembro, no Rio - está preocupado com a semeadura “insandecida” do medo no debate econômico do país no momento.
“O governo”, adverte cuidadosamente o sempre afável professor da Unicamp, “está sendo acossado, assim como toda a sociedade, pela demência de um certo pensamento econômico que pode imobilizá-lo”. Aquilo que ele caracteriza como sendo “o pior produto da metafísica ocidental” materializa-se nas últimas horas em editoriais de jornalões conservadores e repercute em discursos de altos decibéis orquestrados pela oposição parlamentar ao governo Lula.
“As pessoas simplesmente abstraem a realidade; divagam sobre uma dimensão que não existe mais: o mundo mudou. Radicalmente”, sublinha.
Ao que parece, não para todos. Na última terça-feira, por exemplo, o PSDB levou para questionar o ministro da Fazenda Guido Mantega, em sua fala no Congresso, uma plêiade de exemplares do que há de mais ortodoxo em termos de raciocínio econômico, matéria-prima como se sabe generosa nas trincheiras tucanas e na de seus aliados de palanques e idéias, os assim chamados “democratas”.
O seleto plantel formado por economistas de banco e de corretoras foi proibido de argüir o ministro. Por certo, Mantega ouviria aquilo que os editoriais vociferavam no mesmo dia em conhecida orquestração: alertas contra a famigerada gastança pública. A escolha da bancada tucana mereceu pelo menos de um alto coturno da agremiação paulista um desabafo não propriamente elogioso às leis de bronze da sabedoria econômica ortodoxa : ”Partido de merda”.
“A situação é muito séria e o governo não pode ter medo de agir”, continua Belluzzo em tom pausado. O professor não costuma se empenhar nos decibéis mas é contundente nas assertivas quando o momento exige: “A demência ensandecida insiste em recitar seu mantra dos livre mercados num momento em que os mercados encontram-se virtualmente pedindo socorro ao Estado”. Nesse ponto seu tom de voz se altera: “Estamos numa corrida contra o tempo: não basta acertar as respostas, é crucial não errar o timming. A resposta adequada ontem poderá ser inútil amanhã – ou hoje”, adverte em entrevista à Carta Maior.
O professor da Unicamp trata sumariamente a ofensiva ortodoxa que já reúne uma fornida trincheira na qual se aboletam impressos quatrocentões, agrupamentos tucanos e demos e que, agora, acaba de receber a chancela do inefável FMI. Das cinzas de uma falência ideológica e financeira, depois de quebrar países urbi et orbi, e a si próprio, por gestão equivocada, o Fundo Monetário, que não encontra mais audiência nem no gabinete de Hank Paulson, o mais novo keynesiano do quarteirão, não hesita em lançar advertências ao governo brasileiro... contra a expansão do "gasto primário".
“Cortar investimento público em meio a uma crise como essa é reeditar a mesma receita que jogou a Alemanha ao nazismo, em 1933”, qualifica Belluzzo, recordando a obsequiosa gestão pró-mercados do chanceler Brünning, na instável República de Weimar dos anos 20/30. Chefe de gabinete da coalizão católica/social democrata, sob a Presidência do Marechal Von Hinderburg, Brünning tangeu então a economia e o povo alemão rumo a um suicídio histórico perpetrado com doses letais de cortes de gastos públicos; erosão das reservas externas; fuga de capitais e conseqüente desemprego galopante.
Em seu livro “Ensaios sobre o Capitalismo no Século XX” (vencedor do prêmio Juca Pato- 2004) o professor da Unicamp lembra que a contrapartida desse fiasco estratégico foi o avanço fulminante do até então obscuro Partido Nacional Socialista. Nas eleições de setembro de 1930 ele saltou de 12 para 104 cadeiras no parlamento. Hjalmrar Schacht, um banqueiro nacionalista (havia disso no século XX), que depois seria nomeado presidente do Reichsbank, o BC de Hitler, observou então que “a política passiva” do gabinete Brünning, de imobilização pró-cíclica do Estado, endossando o mergulho da economia, não poderia jamais resolver o problema de uma sociedade em meio a uma hecatombe mundial.
De fato não resolveu. Refém de uma prisão ideológica semelhante àquela com a qual o “não intervencionismo nativo” quer capturar e imobilizar o governo Lula nos dias de hoje, a Alemanha protagonizou o pior flagelo da Depressão dos anos 30 em todo o mundo. Sem controle cambial, suas reservas foram exauridas por capitais em fuga. O marco sofreu um esfarelamento que redundou na hiperinflação e na derrocada da República de Weimar - que não encontraria, recorde-se, da parte de comunistas e social-democratas, clareza política para erguer uma barreira à ascensão nazista. O gabinete Brünning –seguido depois pelos de Papen e Schleicher-- delegou os destinos da sociedade ao salve-se quem puder dos mercados. Dois anos e seis milhões de desempregados depois, zero de reservas e inflação galopante, Hitler chegaria ao poder.
A seguir trechos da conversa de Luiz Gonzaga Belluzzo com Carta Maior em que o economista aponta três medidas para o Brasil enfrentar a crise: administração discricionária das reservas cambiais; estatização do crédito direcionado à produção e expansão do investimento público:
É preciso defender as reservas do país com uma administração centralizada.
“Os capitais estão se bandeando em todo o mundo. Não é um problema brasileiro. Está ocorrendo a mesma coisa da Turquia à Lituânia; do Burundi ao Azerbaijão. É um movimento de fuga para a moeda reserva e para títulos do governo norte-americano. Uma diáspora em busca de segurança e liquidez. A Rússia já decretou o controle cambial; a China, que nunca abriu mão dele, aprofundou a defesa das suas reservas. E o Brasil? O governo deve agir também de forma serena para preservar nossas reservas. Trata-se de adotar uma administração discricionária dos dólares penosamente acumulados nestes anos. Insisto, não é um problema do Brasil. O país está bem, apresenta indicadores mais saudáveis do que a maioria dos outros, inclusive de alguns entre os ricos. Mas é necessário entender que o cenário mudou radicalmente. Acabou o mundo que existiu até meados de setembro de 2008: os investidores querem liquidez e zero de risco. Para eles, hoje, isso significa proteger-se na moeda reserva que é o dólar: vão buscá-la onde estiver. Nas nossas reservas, inclusive. A menos que fixemos barreiras contra isso”
A ilusão dos fundamentos e do equilíbrio via liberdade da conta de capitais
“Diante de uma manada em movimento não adianta acenar o boletim de boas notas nos fundamentos. A manada, como sabem os vaqueiros experimentados, após o estouro, não obedece a qualquer tipo de coerência. A crise é o estouro. Estamos diante de uma dinâmica regida por impulsos irrefletidos, portando, infundamentados. Esqueçam a blindagem dos fundamentos. A lógica agora é a falta de fundamentos – não do Brasil, da dinâmica mundial. O Brasil fez tudo direitinho; tem um superávit robusto, inclusive. Mas se não agir de forma defensiva receberá da manada o mesmo tratamento de uma economia com déficit público de 10%. O governo não pode dar ouvido aos que insistem em lutar a guerra do dia anterior, pior, com armas obsoletas. Quem acha que o equilíbrio das contas correntes do pais pode ser delegado ao livre fluxo de capitais não entendeu ainda o que se passa. Quando vier a entender talvez seja tarde demais. A idéia liberal de que você pode gastar mais do que exporta, por exemplo, porque o ingresso de investimentos externos fechará as contas do país pode até ser verdade. Mas eu pergunto: em que circunstâncias? Lamento informar que as circunstâncias mudaram. Vamos esperar o equilíbrio prometido até o dólar atingir qual cotação? Ao custo de bilhões em sangria nas reservas, esse é o risco. E mesmo assim, sem estabilizar o câmbio.
Expandir o crédito e investimentos públicos que maximizem dinâmicas produtivas
O governo brasileiro não pode sacrificar o PAC em nome de uma religião de superávit primário. Economia não é metafísica (se fosse o banco do Vaticano não acumularia prejuízos...). O PAC não apenas deve ser preservado: o governo deve expandir o gasto em investimentos que maximizem efeitos multiplicadores para trás e para frente, na forma de emprego, encomendas às cadeia produtivas e expansão de uso de capacidade instalada. Ninguém está falando aqui em gasto com a máquina pública. Não é gasto de custeio. É para injetar recursos adicionais em projetos e áreas que rapidamente possam irradiar seus efeitos em todo sistema. Trata-se de reverter a dinâmica da desaceleração em curso na economia.
Numa hora dessas não podemos gerar emprego para os chineses
As ações devem ser coordenadas; uma resposta requer a complementação de outra, ou não funciona. Se vamos investir recursos públicos para gerar empregos e renda aqui dentro, não podemos deixar esse esforço escapar para o exterior. Daí por que é indispensável uma administração firme das reservas. Caso contrário, o dinheiro público aportado aqui vai abrir vagas no mercado de trabalho chinês, via importações que podem perfeitamente ser atendidas pela nossa cadeia industrial. Dentro dessa mesma lógica, a política de exportações não pode ignorar o mundo da crise. A China tentará furiosamente preservar seus empregos e o PIB invadindo todos os mercados com seus produtos. Eles já criaram inclusive um subsídio para azeitar ainda mais a engrenagem comercial do país. A partir de agora os exportadores chineses contam com um prêmio de 13% sobre a receita obtida no exterior. É algo semelhante ao nosso crédito prêmio para exportação. O que não pode acontecer numa hora dessas – e está acontecendo - é a nossa burocracia falar em extinguir o crédito-prêmio aos exportadores brasileiros. Em nome de quê? Corte de gastos público? De novo cabe informar, o mundo econômico está conflagrado. O governo deve esquivar-se daqueles que ostentavam certezas graníticas nas virtudes da auto-regulação dos mercados. Suas lições maciças, esféricas eu diria, geraram, entre outros rebentos, a crise monstruosa que hoje nos ameaça.

O "New Deal" francês: Por que não aqui?

SOLUÇÕES PARA A CRISE

 

Confira as medidas anunciadas ontem pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, para enfrentar os efeitos da crise financeira. Propostas incluem gastos públicos pesados para proteger e estimular o setor produtivo.

Redação - Carta Maior

Medidas anunciadas ontem pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, podem significar , no plano produtivo, aquilo que o "plano Brown" representou na esfera financeira da crise: a definição de um novo modelo econômico para superar o ciclo do capitalismo neoliberal.
Algumas decisões tomadas pelo governo francês:
a) Criação de um Fundo Estratégico de Investimentos de 200 bilhões de euros para capitalizar empresas produtivas atingidas pela crise e expandir a atividade econômica;
b) Ampliação do Plano Plurianual de Investimentos (2009 e 2012).
c) Mais 175 bilhões de euros serão investidos em pesquisa científica, educação superior e projetos nas áreas de defesa, energia e transportes.
d) Universalização da banda larga na França com aportes estatais de 30 bilhões de euros nos próximos três anos.
e) Isenção do Imposto Profissional (uma das quatro grandes taxas francesas) para empresas que anunciarem novos investimentos até 31 de dezembro de 2010.
f) Desoneração fiscal significativa sobre a produção de manufaturados industriais.

 

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15325

A relação entre as finanças e a economia da produção e do consumo

 

Matéria da Editoria:
Economia
25/10/2008

PAUL SINGER

 

Para superar a crise financeira e impedir que ela lance a economia real em recessão, é essencial que o crédito seja restaurado, o que possivelmente exigirá uma intervenção efetiva do poder público nos bancos. Se os governos não fizerem isso, é provável que o dinheiro público injetado nos bancos seja entesourado, porque é o que todos os agentes privados fazem enquanto o pânico perdura.

Paul Singer

Data: 23/10/2008

O mistério do interrelacionamento entre as finanças e a economia da produção e do consumo
É nos momentos de crise financeira que a opinião pública se volta a este tema: como se interrelacionam o mundo financeiro com suas vicissitudes especulativas e o mundo da produção e consumo de valores de uso. São dois mundos distintos: no primeiro circulam valores monetários denominados genericamente de ativos porque são créditos, a cada um dos quais corresponde um débito (ou passivo); no segundo circulam bens e serviços que satisfazem necessidades de seres humanos, que por isso se dispõem a pagar para adquiri-los. Estes bens e serviços são mercadorias – produtos do trabalho humano destinados à venda, à troca por dinheiro - e neste sentido também são valores monetários. A diferença entre ativos e mercadorias é que os primeiros são valores virtuais, isto é, não satisfazem qualquer necessidade diretamente, ao passo que os últimos são valores reais, prontos para serem utilizados ou consumidos.
As finanças prestam serviços à economia real: recebem em depósito a poupança de famílias e empresas (sem falar dos governos) e lhes oferecem empréstimos. Serviços financeiros são basicamente de intermediação entre famílias e empresas que têm poupanças e outras que necessitam de dinheiro. As finanças recolhem o dinheiro sobrante das primeiras e o emprestam às últimas. Mas, sua atividade principal é emprestar a governos e empresas para que possam fazer investimentos. Embora as compras a prazo dos consumidores sejam importantes – sobretudo o crédito hipotecário - a maior parte dos ativos se destina a financiar investimentos do poder público e das empresas capitalistas, sobretudo de grande porte.
Além disso, boa parte da poupança captada pelas finanças são delas mesmas. A atividade financeira expandiu-se acentuadamente nos últimos decênios de globalização e neo-liberalismo, usufruindo de lucros extraordinários, parte dos quais alimentam as remunerações milionárias dos altos executivos financeiros. Uma parte crescente do capital total da economia capitalista globalizada gira no mundo financeiro e nas fases de alta dos ciclos de conjuntura usufrui de inegável hipertrofia.
São muitas as modalidades de empréstimos praticados pelas finanças: depósitos bancários, títulos negociados em Bolsas de Valores, emissões de títulos por governos, grandes empresas, companhias de seguros (apólices), emissão de cartões de crédito e de débito e assim por diante. O que efetivamente importa é que os intermediários podem emprestar mais dinheiro do que captaram do público ou de outros intermediários. Eles podem fazer isso porque gozam de crédito por parte do público que aceita em pagamento os ativos avalizados por bancos. É assim que funcionam os cheques e os cartões eletrônicos: são ordens de pagamento que o cliente do banco emite para que determinadas dívidas, que ele faz junto a lojas, restaurantes etc., sejam pagas pelo seu banco. A grande maioria das transações dos agentes da economia real é liquidada por meio de instrumentos chamados meios de pagamento emitidos por bancos. Só transações de pouco valor são liquidadas por meio da moeda oficial emitida pela Autoridade Monetária, que pode ser o Banco Central ou o Tesouro do governo nacional.
Os bancos ganham dinheiro fazendo empréstimos, pelos quais cobram juros. Os serviços que prestam aos depositantes só lhes dão despesas. Os bancos precisam dos depósitos porque eles constituem o lastro dos empréstimos que fazem. O Banco Central exige que os bancos comerciais mantenham um encaixe mínimo que serve para cobrir os saques dos depositantes. Os prestatários (que recebem os empréstimos) sacam rapidamente os valores acrescentados aos seus saldos para pagar os fornecedores de equipamentos, instalações, matérias primas etc. que são os elementos materiais de seus investimentos. Os fornecedores, por sua vez, depositam imediatamente o dinheiro recebido em seus bancos, quando o dinheiro não é transferido diretamente para suas contas. O que significa que o dinheiro utilizado pelos agentes da economia real para liquidar transações entre eles circula incessantemente entre os bancos, ou seja, no âmbito financeiro.
Quando todos os bancos, no afã de ganhar mais, ampliam os empréstimos a agentes da economia real, os depósitos de todos eles aumentam. O efeito importante é sobre a economia real, que se expande na medida em que os investimentos crescem, o que ocasiona a ampliação do emprego, da produção e do consumo. A expansão da economia real se auto-alimenta na medida em que desempregados conseguem trabalho, os gastos do público aumentam, o que suscita mais investimentos, mais emprego e mais produção.
O ciclo de conjuntura
A fase de alta do ciclo se origina mais frequentemente na economia real do que no âmbito financeiro. Ela é desencadeada geralmente por inovações tecnológicas de grande impacto sobre a produção e/ou consumo ou por mudanças institucionais, como a instauração de sistemas de previdência social, de assistência à saúde ou de transferência de rendimentos à população mais pobre. A realização de inovações tecnológicas exige investimentos vultosos, o que eleva as demandas de financiamento por parte das empresas. O mesmo se dá quando iniciativas governamentais de redistribuição de renda elevam os gastos de consumo de amplos setores da sociedade, o que também requer investimentos para ampliação da capacidade de produção dos bens e serviços consumidos por aqueles setores.
O crescimento da demanda por empréstimos normalmente evoca resposta favorável das finanças, que farejam oportunidades para bons negócios. É conhecida a tendência dos intermediários financeiros de agir como rebanhos: quando a alta cíclica da economia real acontece, todos os banqueiros se entusiasmam, convictos de que os riscos de que os empréstimos deixem de ser pagos tornaram-se insignificantes. Na medida em que as expectativas otimistas se revelam verdadeiras – os financiamentos são pagos pontualmente – o entusiasmo cresce até se tornar euforia. Microempresas, incapazes de oferecer garantias reais normalmente exigidas, acabam por receber empréstimos em função do seu potencial, representado algumas vezes por não muito mais do que uma boa idéia.
A euforia é contagiante. Ela pode ter começado na economia real e contaminado as finanças ou vice-versa. Seja como for, enquanto o potencial das inovações tecnológicas ou das mudanças institucionais não estiver esgotado, a fase de alta do ciclo se eleva cada vez mais, graças à interação simbiótica das finanças com a economia real. Até que ela bate num teto. Este pode ter por causa o esgotamento da capacidade de expansão da oferta de mercadorias, por falta de mão-de-obra ou de oferta de energia ou de capacidade de transporte e armazenagem ou de tudo isso em conjunto.
Outra origem do teto para a alta pode ser o esgotamento da necessidade das mercadorias cuja produção está em perene aceleração. Este foi o caso da bolha imobiliária, que está na origem da atual crise financeira. A demanda por habitação costuma ser grande, mas certamente não é infinita. A alta da atividade de construção tem elevado poder de irradiação por toda economia, na medida em que ela implica em procura crescente por material de construção, equipamentos e mão-de-obra, além de mobília, eletrodomésticos, objetos de decoração etc., etc.. Como a construção de casas e prédios é relativamente prolongada, quando o esgotamento da demanda se torna manifesto, a quantidade de construções em andamento está no auge. Interrompê-las pode ser extremamente custoso, mas levá-las a cabo implica em mais investimentos numa mercadoria que provavelmente se tornará invendável, a não ser por um preço muito abaixo do custo.
O estouro duma bolha imobiliária atinge em cheio as finanças porque imóveis são objetos privilegiados para a especulação, particularmente porque os investimentos parecem protegidos por elevada garantia material, qual seja, os próprios imóveis. Uma parte da intermediação financeira se especializa no financiamento hipotecário e quando a bolha atinge seu apogeu este setor atrai enorme quantidade de dinheiro, parte do qual é investida na especulação fundiária. Quando finalmente a oferta de residências ultrapassa a demanda solvável, o preço tanto dos terrenos como das construções despenca, acarretando grandes prejuízos não só aos investidores, mas também às instituições que os financiam. No caso da atual crise financeira, a peculiaridade é que, durante a alta, instituições financeiras fizeram empréstimos à população de baixa renda, que implicam riscos maiores do que os normais. Por isso os títulos de crédito destas operações recebem a classificação de subprime, o que significa algo como “abaixo dos melhores”.
Para poder vender estes títulos ao público sem deságio, as instituições os empacotaram com outros títulos de risco considerado menor, numa manobra conhecida como de diluição de riscos. A operação aparentemente foi um sucesso: títulos no valor de muitos bilhões de dólares foram incorporados às carteiras de ativos de numerosos bancos de investimento, não só dos Estados Unidos, mas também da Europa. Quando o ciclo imobiliário entrou em baixa, o preço das residências e o aluguel das mesmas sofreram forte queda, tornando desproporcionalmente onerosa a dívida assumida por milhões de famílias pobres. Em outras palavras, o prejuízo causado pelo estouro da bolha foi colocado sobre os ombros de quem menos podia suportá-lo. Os devedores deixaram de honrar suas dívidas, arriscando-se a perder suas casas e apartamentos, cada vez mais desvalorizados. Desta maneira o prejuízo bilionário da crise imobiliária voltou ao colo dos especuladores financeiros, que se mostraram igualmente incapazes de suportá-lo. Um grande banco estadunidense faliu e diversos outros foram provisoriamente estatizados, tanto na América do Norte como na Europa.
Crises que se originam no âmbito financeiro
Há crises que se originam no próprio setor financeiro, sem envolver inicialmente a economia real. Uma crise deste tipo ocorreu em 2000, nos Estados Unidos, por ocasião da grande euforia ocasionada pela criação da Internet e a conseqüente revelação de suas inegáveis potencialidades. A criação de empresas de informática muito lucrativas e capazes de expansão fulminante provocou uma corrida nas Bolsas de Valores por ações de firmas em setores de alta tecnologia. As ações passaram a se valorizar cada vez mais, proporcionando ganhos milionários aos especuladores institucionais – fundos de investimento, fundos de pensão, companhias de seguro etc. – e também a um crescente número de pessoas físicas, que passaram a arriscar suas economias neste jogo.
O Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – resolveu intervir para deter a bolha, certamente para limitar as perdas quando seu inevitável estouro tivesse lugar. Para tanto, o Federal Reserve começou a elevar paulatinamente a taxa oficial de juros, encarecendo deliberadamente o crédito em geral. Esta ação levou meses, até que a taxa de juros para investimento praticamente ‘sem risco’ chegasse a um patamar que levasse investidores a preferir aplicações a juros em lugar de comprar ações, cujo rendimento depende da lucratividade da firma que as emite. A partir deste momento o volume de recursos aplicados em ações começou a diminuir, o que fez com que os seus preços passassem a crescer cada vez menos. Subitamente, o humor dos especuladores mudou inteiramente e um número cada vez maior deles começou a vender suas ações, tendo em vista aplicar o dinheiro em outros ativos. O que causou uma débâcle nas Bolsas, não só dos EUA, mas também do resto do mundo, com queda vertical das cotações.
Os prejuízos dos intermediários financeiros foram enormes, com a perda de trilhões de dólares no valor das empresas. Ficou evidente que as cotações haviam atingido níveis muito maiores do que a lucratividade destas empresas justificaria. O Federal Reserve imediatamente inverteu sua política, passando a reduzir também paulatinamente a taxa de juros, para tentar evitar que a crise das bolsas afetasse a economia real. Mas, apesar da notável agilidade do Federal Reserve, a economia real estadunidense entrou em recessão. O débâcle dos mercados de ações ocasionou fortes perdas aos fundos, cujos investidores passaram a conter seus gastos, o mesmo acontecendo com os milhões de particulares que arriscaram suas economias no jogo especulativo. E o crédito mais restrito e caro também impediu que muitos investimentos planejados fossem executados.
A queda na demanda dos consumidores e na realização de investimentos causou uma queda na atividade econômica, que foi enfrentada pela Autoridade Monetária mediante injeções de dinheiro, que ajudaram a financiar o setor imobiliário. A recessão de 2000/2001, agravada pelo ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque, foi superada pela persistente alta dos preços dos imóveis e a expansão da atividade construtiva, que constitui o pano de fundo da crise financeira começada em 2007 e que atualmente (2008) começa a afetar a economia real estadunidense e européia.
O inter-relacionamento entre as finanças e a economia real
Historicamente, as finanças modernas surgiram desde o século XIV, na Europa Ocidental para financiar os governos monárquicos, principalmente suas guerras e suas alianças matrimoniais. Em muitos países, os primeiros bancos eram oficiais, possuídos por autoridades nacionais ou locais. No Brasil, nosso primeiro banco foi criado por D.João VI no início do século XIX e permaneceu sob controle do governo imperial até a Proclamação da República, sendo a criação de bancos privados mal tolerada pelo poder público.
A conhecida propensão das finanças entrarem em crise, como vimos acima, provoca praticamente sempre uma forte intervenção estatal no setor, tendo em vista preservar a normalidade dos negócios financeiros e muitas vezes com o propósito explícito de proteger a economia real das emanações destrutivas da crise financeira. Em diversos países, todos os intermediários financeiros chegaram a ser estatizados e ficaram nesta condição por anos, até que algum governo resolveu reprivatizá-los..
Sem considerar o papel do Estado é impossível compreender o inter-relacionamento entre as finanças e a economia real. Atualmente, as finanças de cada país são constituídas majoritariamente por entidades privadas, mas sob controle e fiscalização do Banco Central. As finanças são quase sempre dominadas por um número reduzido de grandes entidades, que constituem complexos financeiros com atuação em quase todas modalidades financeiras, desde os bancos de varejo e os bancos de investimento atacadistas (que lidam apenas com grandes inversores) até as companhias de seguro, os fundos de investimentos, as companhias de cartões eletrônicos etc..
Com o advento da globalização financeira, produto da abertura total da circulação dos capitais sobre as fronteiras nacionais de numerosos países, o poder do Estado nacional sobre as finanças foi consideravelmente erodido, porque se algum governo nacional vier a tomar medidas que contrariem os interesses das firmas financeiras privadas, ele se defrontaria imediatamente com forte fuga de capitais para paraísos fiscais, que lhes garantem liberdade total de ação a custo muito baixo. Para que os governos nacionais possam recuperar o controle sobre o capital financeiro, a primeira medida teria que ser o restabelecimento do controle sobre a movimentação internacional dos capitais privados.
A economia real também é dominada por um punhado de transnacionais de grande porte. Para não ter de se submeter aos complexos financeiros, estas firmas criaram seus próprios braços financeiros, semelhantes aos complexos financeiros independentes. As estruturas das finanças e da economia real se assemelham, sobretudo em seus aspectos oligopólicos e transnacionais. Mas, a economia real é muito mais diversificada e é composta por um número muito maior de empreendimentos de pequeno porte do que o setor financeiro. Por isso, na maior parte dos países, a intervenção do Estado na economia real é mais dispersa e muito mais diversificada, consistindo em geral na concessão de incentivos e imposição de proibições de atividades que violam a concorrência, os direitos dos trabalhadores ou a preservação de recursos naturais não renováveis.
A economia real é instável e imprevisível por causa da ausência de qualquer tentativa de coordenação da produção e do consumo, distribuídos hoje em dia por milhares de mercados distintos. Tentativas de coordenar as ações de todas as empresas de determinado setor são consideradas formação de cartel e portanto ameaças à competição, o que é punível por lei. Decisões devem ser tomadas isoladamente por cada empresa, para que a competição nos diversos mercados seja livre.
Para tornar a economia real mais estável e previsível a cartelização de determinados ramos deveria ser não só permitida, mas fomentada e controlada pelo poder público, para tornar as decisões estratégicas das empresas mutuamente congruentes e portanto mais eficazes. O controle público teria por objetivo impedir que o ganho de eficiência seja apoderado apenas pelo segmento mais forte, mas compartilhado com todas as empresas da cadeia produtiva e com os consumidores dos produtos.
A instabilidade e imprevisibilidade do mundo financeiro são, em certa medida, reflexos destas características da economia real. Mas, no mundo financeiro a imprevisibilidade é condição indispensável para que possa haver especulação, que constitui a razão de ser de parte considerável (Bolsas de Valores e de Mercadorias) deste mundo. Isso faz com que a instabilidade e a incerteza quanto ao futuro, nas finanças, sejam muito maiores do que na economia real. Os ativos com que lidam as finanças, são contratos a serem executados num futuro, que no capitalismo é inevitavelmente incerto.
Além disso, há outra diferença entre as finanças e a economia real que torna a instabilidade e imprevisibilidade muito maior no âmbito financeiro: é que este está sujeito a ondas de otimismo ou pessimismo que arrastam o conjunto de operadores numa ou noutra direção, maximizando ganhos e perdas sempre que o rebanho muda bruscamente de direção. A especulação na economia real se funda mais em informações específicas sobre determinados setores de produção e consumo. Por isso, a economia real é menos propensa a se lançar inteira em ondas de otimismo ou pessimismo, provocadas por apreciações apenas subjetivas.
A crise financeira, por tudo isso, pode ser considerada inevitável, pelo menos enquanto a desregulação das finanças permanecer em vigor. A crise faz com que a prestação de serviços financeiros à economia real se contraia cada vez mais até cessar ao todo, a partir do momento em que a crise alcança a maior parte dos bancos e demais intermediários. O trancamento das fontes de crédito obriga as empresas que não dispõem de reservas líquidas abundantes a suspender o pagamento de suas dívidas e se a crise se prolongar elas acabam por falir. Os rombos deixados pelas falidas arrastam suas credoras à inadimplência por sua vez. Desta maneira, a crise financeira contamina a economia real, podendo lançá-la em recessão em pouco tempo.
Então, o que fazer?
Trata-se de circunscrever a crise financeira, num primeiro momento, para evitar que ela venha a paralisar a economia real. Uma eventual crise da economia real tem conseqüências sociais e políticas muito mais amplas porque ela começa por lançar no desemprego e logo mais na miséria uma parcela substancial da sociedade. Uma crise da economia real é muito mais difícil de reverter por medidas de Estado, porque não basta recuperar a confiança da população em determinadas instituições. Seria necessário criar novas atividades capazes de reinserir milhões de pessoas na economia mediante políticas de fomento e incentivo que somente poderão ser definidas por um processo prolongado de tentativa e erro. A grande crise de 1929 levou uma década para ser superada e mesmo assim graças ao “auxílio” de uma guerra mundial.
Como a crise da economia real não aconteceu ainda e tão pouco é fatal, partiremos do pressuposto de que é possível preveni-la desde que sejam adotadas políticas capazes de resolver em curto prazo a atual crise financeira e ao mesmo tempo lancem fundamentos de uma nova estrutura institucional capaz de evitar novas crises financeiras no futuro. Convém lembrar que o sistema monetário internacional implantado nos anos 1930, e consolidado e sistematizado na Conferência de Bretton Woods em 1944, livrou o mundo de crises financeiras internacionais por mais de 40 anos.
Ao contrário da política do governo de Bush, que se dispõe a resgatar os bancos falidos comprando seus créditos podres, e por isso sem valor, por preços que evitem a bancarrota gastando algo como 700 bilhões de dólares do erário público, o Estado deveria se apossar dos bancos falidos e só então reabilitá-los com recursos do tesouro. Se os governos não fizerem isso, é provável que o dinheiro público injetado nos bancos seja entesourado, porque é o que todos os agentes privados fazem enquanto o pânico perdura. Mas, para superar a crise financeira e impedir que ela lance a economia real em recessão, é essencial que o crédito seja restaurado, o que possivelmente exigirá uma intervenção efetiva do poder público nos bancos.
Uma vez superada a crise, uma reformulação em profundidade das finanças deveria ser pautada. Há bons argumentos a favor da estatização perene de todos os bancos que emitem os meios de pagamento do país, não só para preservar o meio circulante da especulação mas, sobretudo, para garantir os valores dos depositantes e fazer com que sejam aplicados onde são mais necessários do ponto de vista do interesse geral da sociedade. O que pode implicar numa governança participativa do novo sistema financeiro, com forte presença dos assalariados, trabalhadores da economia solidária, além dos setores empresariais de praxe.
Se as finanças fossem todas colocadas sob um comando unificado, elas poderiam controlar a economia real inteira, impondo-lhe diretrizes sobre o que e quanto produzir e consumir, de forma semelhante ao que foi feito nos países do ‘socialismo real’ no afã de planejar centralmente todas as atividades econômicas. Este não é um modelo que permitiria a paulatina construção duma economia socialista autogestionária. Em lugar dele algo como um parlamento econômico, composto por representantes eleitos dos diferentes modos de produção – capitalismo, pequena produção de mercadorias, economia solidária, economia pública local, regional e nacional etc.. – certamente seria mais adequado.
Finalmente, o mercado de capitais teria de ser reformulado, tendo em vista não só coibir a especulação, mas também reconstruir os laços entre o investidor privado e o empreendimento em que ele é sócio. Neste sentido, seria necessário retirar a presente “liquidez” dos investimentos, que hoje podem ser colocados numa firma e retirados depois num piscar de olhos e quase sem custos. Entre as idéias que me ocorrem uma seria limitar o número de sócios de cada firma, de modo que seja possível a cada um participar efetivamente da administração da mesma, pelo menos na condição de membro duma assembléia de acionistas com influência real sobre a empresa. Só assim, propostas de cogestão de empresas por proprietários, empregados e representantes dos clientes p.ex. poderiam ser viáveis.
(*) Paul Singer é economista, Secretário Nacional de Economia Solidária

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15322&boletim_id=479&componente_id=8426

quarta-feira, outubro 15, 2008

Lançamento de livro!

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Metas do Milênio não serão cumpridas

 

COR DOESWIJK E RAILDA HERRERO

25-09-2008

As Metas do Milênio para a redução da pobreza e da fome no mundo pela metade, até 2015, não serão cumpridas, porque os avanços registrados são lentos. Se for mantido o ritmo atual, os Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pelas Nações Unidas, serão inalcançáveis. A avaliação é de uma rede de mais de 400 organizações da sociedade civil de 70 países.

Metas_do_Milenio_340.jpgApesar da repetição oficial do jargão de que a pobreza está diminuindo rapidamente no mundo, o Índice de Capacidades Básicas (ICB), divulgado pela ONG Social Watch, demonstra que persiste o minguado atendimento às necessidades básicas, condição para a superação da pobreza.
Ainda segundo dados da coalizão da rede de organizações sociais, a situação até mesmo piorou, apesar do crescimento econômico significativo da maioria dos países em desenvolvimento.
Crescimento econômico
Mesmo pessimista, o coordenador da coalizão, Roberto Bissio, reconhece que "uma significativa redução da pobreza ocorre na Ásia, região que concentra o maior número de pobres do planeta".
A explosão da economia chinesa, a partir dos anos 80, deu impulso às estatísticas globais de crescimento.
As mais recentes estimativas do Banco Mundial sobre a pobreza, divulgadas em agosto, revelam que 1,4 bilhão de pessoas de países em desenvolvimento do hemisfério sul, ou seja, uma em cada quatro, vive com menos de US$ 1,25 por dia. Em 1981 a proporção era de um em cada dois, totalizando 1,9 bilhões. A população mundial atual estimada é de seis bilhões de pessoas.
Índices negativos
O Índice de Capacidades Básicas, publicado pela Social Watch, revela que a maior parte da população mundial vive em países com indicadores sociais estancados ou que melhoram muito lentamente. A região da África Subsaariana exemplifica esses índices.
Os indicadores divulgados pelo Social Watch mostram que dos 176 países registrados, apenas 21 dispõem de dados que apontam progressos visíveis aos mais pobres, em comparação com a realidade do ano 2000. Em contraposição, 77 países não registraram avanços ou estão em situação pior. São os casos, entre outros, dos países latino-americanos, da Ásia Central, do Caribe e da África Subsaariana.

Tags: desenvolvimento, Metas do Milênio, Nações Unidas, ONU, pobreza, políticas internacionais, Social Watch, Índice de Capacidades Básicas

http://www.parceria.nl/atualidade/organizacao/20080925-qg-metasdomilenio

terça-feira, outubro 14, 2008

750 mil famílias perderam seus lares nos EUA entre janeiro e setembro

 

Os despejos nos EUA atingiram 750 mil famílias entre janeiro e setembro deste ano, informa o ForeclosureS.com, site norte-americano que contabiliza as aberturas de processos para execução hipotecária. A previsão é que chegue a 1 milhão até o final do ano.

De acordo com o site, as execuções de hipotecas subiram 82,6% este ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Apenas no mês de setembro, ocorreram 107.500 despejos, 6,6% a mais do que em agosto.

Outro site, o MarketWatch, informa que o número de entradas nos processos de execução, que inclui notificações por falta de pagamento e abertura de processos, pode chegar a 2 milhões até o final do ano. Para The Wall Street Journal, 1 em cada 6 proprietários norte-americanos está “com água pelo pescoço” e, depois que os preços dos imóveis caíram mais de 30% em algumas áreas, estes devem mais do que o valor de suas casas.

“Como xerife do Condado de Cook [Illinois] sou o responsável por manter uma prisão com 10 mil condenados, de prover patrulhas em toda a cidade e em áreas não habitadas, além de garantir a segurança dos cidadãos. Mas, talvez, a parte mais difícil do nosso trabalho seja o realizada pelas unidades policiais de despejo. Em um dia qualquer, nossos policiais são solicitados a despejar uma família de sua casa, levando todas as suas coisas para a calçada. Algumas vezes essas coisas são saqueadas por vizinhos”, relata Tom Dart, xerife do Condado de Cook.

Dart conta que, ao contrário do que determina a lei, “muitas vezes, nossos policiais chegam a uma casa para proceder a uma ação de despejo e encontram uma família que paga religiosamente seu aluguel. Essa gente não sabia que o proprietário da casa deixara de usar o aluguel para pagar a hipoteca. Eles não tiveram nenhum aviso que seriam despejados de sua casa por essa razão. Isso acontece porque, em muitos casos, os bancos não fizeram nada para determinar quem está vivendo na moradia. Mesmo que isso seja exigido por lei estadual. Mesmo assim, esses bancos ainda querem que o serviço público pague pela investigação que deveria ser feita por eles”.

O xerife escreveu o testemunho para explicar porque se recusou a “surpreender os inquilinos com uma ordem de despejo contra os proprietários da casa onde vivem”. Segundo Tom Dart, “não é parte do nosso trabalho agir de acordo com a vontade dos bancos e das milionárias indústrias de hipotecas”.

http://www.horadopovo.com.br/

Inglaterra: a cada dia mais de uma centena de famílias é despejada

 

Número de despejos cresce e pode chegar a até 45 mil, até o final do ano. Enquanto isso, o governo inglês decidiu destinar US$ 860 bilhões para a salvação de bancos

Mais de 45 mil famílias devem ser despejadas na Inglaterra até o final deste ano. Impossibilitadas de pagar empréstimos hipotecários refinanciados para suprir necessidades - diante do arrocho em seus salários – as famílias inglesas não estão sendo despejadas a um ritmo de mais de cem por dia e que mostra tendência à elevação nos próximos meses.

Matéria do jornal londrino The Guardian, cita o Conselho dos Empres-tadores por Hipoteca para dizer que 18.900 famílias foram desalojadas até a metade do ano, um aumento de 48% em relação ao mesmo período de 2007.

Além disso, de janeiro a junho o número de famílias com atrasos de três meses ou mais nos seus pagamentos subiu de 129,6 mil para 155,6 mil. O Guardian relata que houve um aumento de reações desesperadas e casos de suicídio.

“Vemos mais e mais pessoas apavoradas. Dezenas de milhares estão vivendo com medo de terem a casa que trabalharam tão duro para comprar ser retomada por credores, sem o menor cuidado”, assinalou Adam Sampson, diretor da organização Shelter, que abriga pessoas sem teto.

No dia 8 de outubro o governo inglês anunciou um pacote para direcionar mais dinheiro em “socorro” dos bancos: £ 500 bilhões (US$ 860 bilhões) entre compras de ações e de títulos podres. 

Quanto aos defenes-trados de seus lares, Gordon Brown disse palavras muito justas: “O governo não pode simplesmente a sós para sair apanhando”, mas sem nenhuma medida concreta a respeito dos dezenas de milhares que perderam casas com a crise.

Revoltadas com o plano do governo para sustentar os bancos, na última sexta-feira milhares de pessoas, estudantes, sindicalistas e lideranças políticas de oposição protestaram no centro de Londres. Os manifestantes tentaram chegar ao prédio do “Royal Exchange”, próximo ao Banco de Inglaterra, entoando palavras de ordem como “Com que dinheiro? Nosso dinheiro!”, e “Por que nós devemos pagar a crise?”.

“Os banqueiros não fazem nada, além de roubar o povo e o Estado”, disse o manifestante Martin Smith. “Se os tempos são bons, eles ganham dinheiro. Se os tempos são maus, também ganham dinheiro”, assegurou.

O governo inglês usará o dinheiro dos contribuintes para aportar US$ 25,2 bilhões ao banco RBS (Royal Bank of Scotland), sendo US$ 8,6 bilhões em ações preferenciais (sem direito a voto) e US$ 15 bilhões para “garantir” títulos podres do banco.

Outro exemplo de “socorro” é o apoio à “fusão bem sucedida”  - nos termos do pacote - quando na verdade o que houve foi um açambarcamento do HBOS pelo Lloyds TSB financiado pelo caixa do governo. Para que o negócio fosse fechado, o combalido HBOS recebeu US$ 19,78 bilhões (sendo que uma parte em ações preferenciais). Na mesma transação, o Lloyds recebeu US$ 8,6 bilhões, sendo US$ 1,72 bilhões em ações preferenciais.

Já o distinguido Barclays, informou que vai tentar levantar US$ 11,18 bilhões vendendo ações ordinárias que só serão adquiridas por que garantidas pelo governo, que não fica com nenhuma ação.

A dinheirama, prestes a ser despejada em socorro aos bancos pelos tesouros europeus somados, só neste pacote atinge US$ 2,3 trilhões. 

Segundo o governo informa, um dos principais objetivos do dinheiroduto é fazer com que os bancos comecem a emprestar uns aos outros. Mas, depois das montanhas de papéis apodrecendo nos cofres de todos os bancos, parece que nenhum dos que não soçobraram com a crise da especulação quer apostar no antigo parceiro ou nos certificados AAA de agências-arapucas, papéis que antes eram considerados verdadeiros salvo condutos e viraram pó.

Como afirmou o articulista inglês Mark Steeel no jornal The Indepen-dent “parece que os governos [da Europa e EUA] vão fazer qualquer coisa, não importa o quão desesperada, para reviver a ‘confiança’ nos mercados, pois estes mercados, que são dirigidos pelos especuladores, controlam a economia”.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Der Spiegel: o que você poderia comprar com US$ 700 bi?

 

O Congresso dos EUA deu outra facada nos cidadãos do país ao aprovar na última sexta-feira (3) o gigantesco pacote de ajuda aos bancos. Mas de quanto dinheiro está se falando? A revista alemã Der Spiegel (O Espelho), em seu site,  dá uma idéia do que alguém poderia fazer com tal quantia.

Quanto dinheiro significa isto? Muitas pessoas ficam confusas ao verem números com mais de seis zeros. A dádiva proposta pelo governo Bush-Paulson e aprovada sexta-feira pelo Congresso dos EUA – para evitar bancarrotas em série tão grandes como a do banco Lehman Brothers – tem 11 zeros. Este montante, além de salvar banqueiros insolventes, poderia ser utilizado em muitas outras coisas. A revista Spiegel Online elaborou uma lista de possibilidades. Eis algumas delas:

1: Pagar os salários de 22 milhões de pessoas
U$ 700 bilhões seriam suficientes para pagar o salário médio anual a 22 milhões de pessoas nos Estados Unidos. De acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA, o pagamento médio por uma semana de trabalho foi de US$ 612 em agosto passado.

2: Estabelecer cobertura de saúde universal
Os EUA poderiam finalmente estabelecer seguro de saúde universal, um objetivo que até agora foi constantemente evitado pelos políticos. O governo poderia financiar até seis anos de seguro de saúde para cada um de todos os cidadãos estadunidenses.

3: Comprar 47 sistemas de comunicações para serviços médicos de emergência
Washington poderia comprar um sistema de comunicações uniforme para todos os serviços de emergência médica do país, que é urgentemente necessário, mais de 47 vezes. Estimativas estabelecem o preço de um tal sistema em torno dos US$15 bilhões.

4: Construir 100 barreiras ao redor de Nova Orleans
O projeto para fortalecer as barreiras em torno de Nova Orleans poderia realmente ser pago mais de uma centena de vezes. Desde o furacão Katrina, o governo gastou cerca de US$7 bilhões em tais esforços.

5: Comprar duas Dinamarcas
US$700 bilhões é suficiente para financiar as economias de países inteiros. A soma considerada pelo Congresso é mais do que o dobro do produto interno da Dinamarca, o qual em 2007 foi cerca de US$ 312 bilhões.

6: Financiar todo o orçamento nacional da Alemanha durante mais de um ano
Projecções estabelecem o orçamento nacional da Alemanha para 2009 em 288 bilhões de euros, os quais, às atuais taxas de câmbio, resultam em cerca de US$ 420 bilhões. Com esta soma de dinheiro seria possível financiar o país durante 1,6 anos.

7: Combater a pobreza na África durante 10 anos
Este montante de dinheiro poderia financiar programas da ONU para combater a fome e pobreza na África durante 10 anos. De acordo com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, o continente precisa de US$72 bilhões por ano de ajuda ao desenvolvimento.

8: Financiar todas as operações de inteligência dos EUA durante 15 anos
O governo dos EUA poderia financiar todas as suas 16 agências de inteligência/espionagem durante mais de 15 anos. Atualmente o custo anual somado das mesmas, incluindo 100 mil empregados, sistemas de comunicações, equipamento de reconhecimento e armas totaliza cerca de US$44 bilhões.

9: Lançar múltiplos "New Deals"
Franklin Dellano Roosevelt ficaria verde de inveja. Seu "New Deal" da década de 1930, inigualável até agora como programa de crescimento, poderia ser financiado muitas vezes mais. Segundo o Wall Street Journal, os investimento de infraestrutura do programa custariam cerca de US$ 250 bilhões em dólares de hoje. Estes investimentos ajudaram a construir ou renovar 8.000 parques, 40 mil edifícios públicos e 71 mil escolas.

10: Salvar a Terra (ao invés de bancos)
Ao invés de ajudar bancos, US$700 bilhões poderiam ser utilizados para salvar o ambiente. Esta, pelo menos, é a opinião de M. A. Sanjayan, cientista principal do grupo de proteção ambiental The Nature Conservancy. Embora os dados dos institutos de investigação variem consideravelmente quanto à quantia precisa que seria necessária para por o ambiente de novo numa base saudável, todos concordam em que US$ 700 bilhões dava para um longo caminho.

11: Permanecer no Afeganistão e no Iraque por mais sete anos
Os números de Washington mostram quão absurdamente caras podem ser as guerras. Desde a invasão do Iraque, os EUA gastaram aproximadamente US$ 648 bilhões na guerra. A níveis atuais de gastos, US$ 700 bilhões seriam suficiente para continuar as guerras no Iraque e no Afeganistão durante mais sete anos.

12: Voar quatro vezes para a Lua, ida e volta
A quantia também seria suficiente para financiar quatro missões diferentes de vôos tripulados para a Lua. O programa "Apolo" da NASA, durante a década de 1960, custou cerca de US$164 bilhões em dólares de hoje. O dinheiro também poderia comprar sete estações internacionais no espaço.

O original encontra-se no site da Der Spiegel

“O erro histórico dos EUA foi achar que o mercado regula tudo”

Peer, ministro das Finanças alemão:

O ministro da economia alemã, Peer Steinbrück afirmou em entrevista à revista Der Spiegel, que a crise que os EUA enfrentam é resultado da “falta de legislação e de uma estrutura regulamentar”.

“Eles sempre diziam: O mercado regula tudo. Que erro histórico!”, acrescentou.

Steinbrück descreveu que “o modo de pensar em Wall Street era bastante claro: ‘O dinheiro faz o mundo girar’. A lógica foi esta: O governo deveria permanecer fora do nosso negócio! E quando nós alemães começamos – e talvez fosse mesmo tarde naquela altura – a pedir por controles, por mais transparência e linhas de orientação justas, a princípio eles riam de nós”.

BANCOS AMERICANOS

Questionado sobre a possibilidade de participar do pacote de salvamento dos bancos norte-americanos, como propôs o governo Bush a outros países, Steinbrück disse que não vê “nem a necessidade nem a possibilidade de tomar a responsabilidade por bancos americanos”.

Ele criticou o comportamento “de algumas elites”: “Estou falando de evasão fiscal e corrupção. São a espécie de coisa que o público geral entende demasiado bem. E quando permitem-lhes continuar por demasiado tempo, o público fica com a impressão de que ‘aquelas pessoas no topo’ já não têm de jogar de acordo com as regras. Houve tempos na Alemanha em que estas elites estavam mais próximas da população geral. Algumas coisas ficaram fora de controle neste aspecto”.

 

“New Yorker” faz inventário da herança maldita de Bush

“Nestes tempos de calamidade econômica, perplexidade internacional, fracasso político e moral em baixa, os EUA precisam levantar-se, precisam de mudança e firmeza”, afirmou em editorial a revista norte-americana “New Yorker”, através do qual declara apoio ao candidato democrata Barack Obama.

A revista faz uma análise dos oito anos da gestão de Bush nas áreas econômica, social e militar. “Durante o governo Bush, a dívida nacional, agora se aproximando de dez trilhões de dólares, praticamente dobrou. Cinco milhões de pessoas caíram ao nível da pobreza. O número de norte-americanos sem seguro-saúde cresceu em sete milhões, enquanto o custo para pagá-lo dobrou. Enquanto isso, a principal realização doméstica do governo Bush foi cortar os impostos dos ricos. Para os 1% mais ricos, os cortes de Bush pouparam, em média, mil dólares por semana; para os 20% mais pobres, a economia semanal foi cerca um dólar e meio”, afirma o editorial.

Ao referir-se sobre a guerra do Iraque, o editorial afirma que “não há mais a menor dúvida de que o governo Bush manipulou e mentiu ao povo norte-americano sobre a invasão”.

“Os custos diretos, além dos gastos de seiscentos bilhões de dólares, incluem a perda de mais de quatro mil norte-americanos e o ferimento de trinta mil [...] e quatro milhões e meio de iraquianos se tornaram refugiados”.

E continua: “Os custos indiretos da guerra e da política externa unilateral também foram imensos: a tortura de prisioneiros, autorizadas no mais alto nível, foi uma catástrofe ética e público-diplomática”.“Em oposição à guerra antes mesmo da invasão, Obama teve a antevisão de uma indefinida e custosa ocupação e o aumento do radicalismo anti-americano em todo o mundo”.

A “New Yorker” criticou também o despreparo do candidato republicano John McCain nas questões econômicas, pois “nunca demonstrou interesse ou conhecimento nessas questões” e “não tem muita substância para falar sobre a crise”. E elogiou as propostas de Obama: “Ele defende uma maior e mais programada regulação do sistema financeiro; a criação de um Banco Nacional de Investimento em Infra-Estrutra, que poderia reverter a ruína de nossas estradas, pontes e sistemas de transporte em massa e criar milhões de empregos”.

Sobre a escolha da vice de McCain, o editorial afirma que “Sara Palin não tem condições de ser vice de um presidente com qualquer idade, muito menos de um com 72 anos e com saúde imperfeita”.Ao finalizar, a revista afirma que os EUA “precisam de um líder que esteja intelectual e emocionalmente em sintonia com as complexidades de nosso perturbado planeta. Este líder se chama Barack Obama”.

EUA perde 159 mil postos de trabalho em setembro

O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou na sexta-feira (3) o fechamento de 760 mil postos de trabalho nos primeiros nove meses deste ano.
Os maquiados números oficiais norte-americanos registram que o desemprego atingiu, em setembro, 6,1% da força de trabalho, que perdeu no mês 159 mil empregos contra 73 mil no mês de agosto. Esta foi a maior queda registrada pelo departamento nos últimos cinco anos.

O número de pessoas que têm emprego em tempo parcial porque não encontram emprego pleno chegou a 6,1 milhões, aumentando em 337 mil em apenas um mês.
Segundo pesquisa divulgada na semana passada, realizada pela Associação Nacional de Economia Empresarial, os economistas avaliam que o desemprego deve subir 0,01%, para 6,2%, no quarto trimestre, e alcançar 6,4% em 2009.

Já a associação empresarial The Conference Board calculou que o índice pode superar 7% na segunda metade de 2009.

 

Presidente do Lehman Brothers recebeu mais de US$ 3 milhões por mês até quebrar o banco

O presidente do banco Lehman Brothers, que entrou em concordata em setembro, Richard Fuld, admitiu em depoimento na Câmara dos Deputados dos EUA na segunda-feira, dia 6, que recebeu apenas US$ 300 milhões em salários e bônus nos últimos oito anos e não US$ 480 milhões. Disse também que se sentia “horrível” com a quebra do banco, o quarto maior dos EUA entre os estabelecimentos dedicados à especulação.
Richard Fuld revelou a cifra durante depoimento em uma audiência do Comitê de Supervisão e Reforma do Governo da Câmara dos Representantes (deputados federais), que investiga as causas da crise econômica que atinge o país.

O presidente do Comitê, Henry Waxman, perguntou a Fuld se era verdade que ele havia recebido US$ 480 milhões em salários e bônus desde 2000 e se ele considerava justo ter ganho tudo isso. Fuld afirmou que “havia um comitê de compensação que gastava um tempo imenso só garantindo que os interesses dos executivos e dos empregados eram alinhados com os dos acionistas”.

Waxman criticou Fuld por ter pedido bônus milionários para os executivos da Lehman Brothers poucos dias antes do colapso do banco, no mês passado.
Apesar de ter quebrado o banco, Richard Fuld defendeu sua gestão à frente do Lehman Brothers e disse que sua conduta foi “prudente e apropriada”.

Hora do Povo

quarta-feira, outubro 01, 2008

Algumas coisas que a mídia não diz sobre a crise nos EUA

A ESTRATÉGIA DO MEDO

 

Em um artigo intitulado "Querem nos meter medo", o cineasta Michael Moore (foto) conta como centenas de milhares de pessoas entupiram os telefones e correios eletrônicos dos congressistas dos EUA contra a lei proposta pelo governo Bush para salvar os bancos em crise. E aponta como Wall Street e seu braço midiático (as redes de TV e outros meios) seguem com a estratégia de atemorizar a população.

Michael Moore - Página 12

Data: 01/10/2008

Quem acompanha a cobertura da crise nos Estados Unidos feita pela imprensa brasileira pode ser levado a acreditar que a política está "atrapalhando" a busca de uma solução para o problema. Essa afirmação vem sendo feita todos os dias por vários jornalistas e colunistas econômicos em todo país, supostamente especializados no assunto. A aprovação da proposta de ajuda aos bancos quebrados é apontada como uma condição necessária para evitar o caos. Há vários silêncios nesta cobertura, aqui e também nos EUA.
Em um artigo intitulado "Querem nos meter medo", o cineasta Michael Moore conta como centenas de milhares de pessoas entupiram os telefones e correios eletrônicos dos congressistas dos EUA contra a lei proposta pelo governo Bush para salvar os bancos em crise. E aponta como Wall Street e seu braço midiático (as redes de TV e outros meios) seguem com a estratégia de atemorizar a população, omitindo, entre outras coisas, que a proposta apresentada ao Congresso não trazia qualquer esperança para os pobres mortais ameaçados de perder suas casas hipotecadas (Marco Aurélio Weissheimer)

Tradução do artigo de Michael Moore publicado no jornal Página 12:
Querem nos meter medo
Todos diziam que a lei seria aprovada. Os especialistas do universo já estavam fazendo reservas para celebrar nos melhores restaurantes de Manhattan. Os compradores particulares em Dallas e Atlanta foram despachados para fazer as primeiras compras de Natal. Os homens loucos de Chicago e Miami já estavam abrindo as garrafas e brindando entre eles muito antes do café da manhã.
Mas o que não sabiam era que centenas de milhares de estadunidenses tinham acordado pela manhã e decidido que era tempo de se rebelar. Milhares de chamadas telefônicas e correios eletrônicos golpearam o Congresso tão forte como se Marshall Dillon (Comissário Dillon, personagem de uma série de televisão) e Elliot Ness tivessem descido em Washington D.C. para deter os saques e prender os ladrões.
A Corporação do Crime do Século foi detida por 228 votos contra 205. Foi um acontecimento raro e histórico. Ninguém conseguia lembrar de um momento onde uma lei apoiada pelo presidente e pelas lideranças de ambos os partidos fosse derrotada. Isso nunca acontece. Muita gente está se perguntando por que a ala direita do Partido Republicano se uniu à ala esquerda do Partido Democrata para votar contra o roubo. Quarenta por cento dos democratas e dois terços dos republicanos votaram contra a lei.
Eis o que aconteceu:
A corrida presidencial pode estar ainda muito parelha nas pesquisas, mas as corridas no Congresso estão assinalando uma vitória esmagadora dos democratas. Poucos questionam a previsão de que os republicanos receberão uma surra no dia 4 de novembro. As previsões indicam que os republicanos perderão cerca de 30 cadeiras na Câmara de Representantes, o que representaria um incrível repúdio a sua agenda. Os representantes do governo têm tanto medo de perder seus assentos que, quando apareceu esta “crise financeira” há duas semanas, deram-se conta que estavam diante de sua única oportunidade de separar-se de Bush antes da eleição, fazendo algo que fizesse parecer que estavam do lado da “gente”.
Estava vendo ontem C-Span, uma das melhores comédias que assisti em anos. Ali estavam, um republicano depois do outro que apoiaram a guerra e afundaram o país em uma dívida recorde, que tinham votado para matar qualquer regulação que mantivesse Wall Street sob controle – ali estavam, lamentando-se e defendendo o pobre homem comum.Um depois do outro, usaram o microfone da Câmara baixa e jogaram Bush sob o ônibus, para baixo do trem (ainda que tenham cotado para retirar os subsídios aos trens também), diabos, teriam jogado o presidente nas águas crescentes de Lower Ninth Ward (bairro de Nova Orleans) se
pudessem prever outro furacão.
Os valentes 95 democratas que romperam com Barney Frank e Chris Dodd eram os verdadeiros heróis, do mesmo modo como aqueles poucos que votaram contra a guerra em outubro de 2002. Reparem nos comentários dos republicanos Marcy Kaptur, Sheila Jackson Lee e Dennis Kucinich. Disseram a verdade. Os democratas que votaram a favor do pacote o fizeram em grande parte porque estavam temerosos das ameaças de Wall Street, que se os ricos não recebessem sua dádiva, os mercados enlouqueceriam e então adeus às pensões que dependem das ações e adeus aos fundos de aposentadoria. E adivinhem? Isso é exatamente o que fez Wall Street! A maior queda em um único dia no índice Dow da Bolsa de Valores de Nova York.
À noite, os apresentadores de televisão gritavam: os estadunidenses acabaram de perder 1,2 bilhão de dólares na Bolsa! É o Pearl Harbour financeiro! Caiu o céu! Gripe aviária! Obviamente, quem conhece a bolsa sabe que ninguém “perdeu” nada ontem, que os valores sobem e baixam e que isso também acontecerá porque os ricos compraram agora que estão baixo, os segurarão, depois os venderão e logo em seguida os comprarão novamente quando estiverem baixos de novo. Mas, por enquanto, Wall Street e seu braço de propaganda (as redes de TV e os meios de comunicação que possuem) continuarão tratando de nos meter medo. Algumas pessoas perderão seus empregos. Uma débil nação de fantoches não suportará muito tempo esta tortura. Ou poderemos suportar?
Eis no que acredito: a liderança democrata na Câmara baixa esperava secretamente todo o tempo que esta péssima lei fracassasse. Com as propostas de Bush derrotadas, os democratas sabiam que poderiam então escrever sua própria lei que não favoreça apenas os 10% mais ricos que estavam esperando outro lingote de ouro. De modo que a bola está nas mãos da oposição. O revólver de Wall Street, porém, aponta para suas cabeças. Antes que dêem o próximo passo, deixem-me dizer no que os meios de comunicação silenciaram enquanto se debatida essa lei:
1. A lei de resgate NÃO prevê recursos para o chamado grupo de supervisão que deve monitorar como Wall Street vai gastar os 700 bilhões de dólares;
2. A lei NÃO considerava multas, sanções ou prisão para nenhum executivo que roubar dinheiro público;
3. A lei NÃO fez nada obrigar aos bancos e aos fundos de empréstimo a renovar as hipotecas do povo para evitar execuções. Esta lei não deteria uma sequer execução!
4. Em toda a legislação NÃO havia nada executável, usando palavras como “sugerido” quando se referiam à devolução do dinheiro do resgate a ser feito pelo governo.
5. Mais de 200 economistas escreveram ao Congresso e disseram que esta lei poderia piorar a crise financeira e provocar ainda MAIS uma queda.
É hora de nosso lado estabelecer claramente as leis que queremos aprovar.

Tradução para o espanhol: Celita Doyhambéhére
Tradução para o português: Marco Aurélio Weissheimer