terça-feira, maio 30, 2006

O INTELECTUAL ANÔNIMO

Pelo dia do Geógrafo...
- Por Milton Santos*, Geógrafo.

Por definição, vida intelectual e recusa a assumir idéias não combinam. Esse, aliás, é um traço distintivo entre os verdadeiros intelectuais e aqueles letrados que não precisam, não podem ou não querem mostrar, à luz do dia, o que pensam.

O intelectual verdadeiro é o homem que procura, incansavelmente, a verdade, mas não apenas para festejar intimamente, dizê-la, escrevê-la e sustentá-la publicamente. É um fato conhecido que, em épocas de obscuridade, os mandões do momento o proíbam ou o inibam de fazê-lo, gerando como conseqüência a listagem daqueles que se tornam mártires do seu próprio pensamento, como Unamuno, durante a Guerra Civil Espanhola, e dos que não renunciam ao dever da verdade, ainda que deixando para pronunciá-la quando retornam os regimes de liberdade. Mas é isso mesmo o que distinguiu a universidade de outras instituições. Por isso, a atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro. Por isso mesmo, observadores da universidade, no passado e no presente, temem por seu destino atual, já que são raras as manifestações de protesto oriundas de suas práticas, deixando, às vezes, a impressão de que a academia pode preferir a situação de mera testemunha da história, em lugar de assumir um papel de guia em busca de melhores caminhos para a sociedade.

Quando os intelectuais renunciam a esse dever - sejam quais forem as circunstâncias -, um manto de trevas acaba por cobrir a vida social, uma vez que o debate possível torna-se, por natureza, falso.

Essa poderia também ser a definição mais desejada da vida acadêmica em todos os lugares. Mas a verdade é que a forma como, nos últimos tempos, se está organizando a convivência universitária acaba por reduzir dentro dela o número de verdadeiros intelectuais, mesmo se aumenta o de cientistas e de letrados de todo tipo. A vida universitária é cada vez mais representativa de uma busca de poder sem relação obrigatória com a procura do saber. E isso corrompe, de alto a baixo, as mais diversas funções da academia, inclusive ou a começar pela trilogia agora ambicionada pelas atividades de ensinar, pesquisar e transmitir à sociedade o trabalho intelectual.
Um primeiro resultado é, sem dúvida, o encolhimento do espaço destinado aos que desejam produzir o saber, e não é raro que esse movimento seja acompanhado por uma verdadeira hostilização, da parte dos que mandam, em relação aos que teimam em colocar em primeiro plano a busca da verdade. Constata-se, desse modo, uma separação, cada vez maior, entre estes e o conjunto de docentes viciados em poder e que a ele se agarram por longos e longos anos, formando um grupo com tendência ao isolamento e à auto-satisfação, bem mais preocupado com as perspectivas de manter esse poder do que com a construção de uma universidade realmente independente e sábia. A esses colegas preferimos chamar de buroprofessores. Na medida em que a noção de poder se arraiga como algo normal, tais comportamentos parecem banalisar-se, tomando diferentes feições no processo de reduzir as possibilidades de um trabalho independente e de convocar, até mesmo, espíritos promissores para a aceitação de um trabalho viciado, exatamente pela ingerência cada vez mais generalizada das lógicas de poder. Não sabemos em que medida será útil buscar a relação entre as ações acima enumeradas e incluí-las no conjunto das realidades que atualmente produzem o grande mal-estar ressentido nas universidades brasileiras.
O certo é que esse conjunto de fatos conduz, com mais ou menos força, segundo os lugares, ao enfraquecimento do espírito acadêmico, e isso acaba por contaminar o ensino, a pesquisa, as relações entre colegas e as relações das faculdades frente à sociedade. A força autêntica da universidade vem do espírito acadêmico partilhado por professores e alunos e cuja preservação seria de esperar que as autoridades universitárias sejam capazes de conduzir. É essa fortaleza da instituição acadêmica o garante da autonomia na produção do saber, assegurada através da liberdade de cátedra e da liberdade acadêmica efetiva, conferida a cada professor, a despeito da vocação, às vezes, autoritária dos colegiados e da prática de falsificação da democracia acadêmica. A força exterior da universidade deriva de sua força interior e esta é ferida de morte sempre que a idéia e a prática do espírito acadêmico são abandonadas em favor de considerações pragmáticas. Na grande crise em que o país agora se confronta, torna-se evidente e clamorosa a ausência de uma discussão mais intensa e mais profunda, partindo da academia, em suas diversas instâncias, e que, como em outras ocasiões na vida de todos os povos, mostra o papel pioneiro da universidade na construção dos grandes debates nacionais. A apatia ainda está presente na maior parte do corpo professoral e estudantil, o que é sinal nada animador do estado de saúde cívico dessa camada social cuja primeira obrigação é constituir, como porta-voz, a vanguarda de uma atitude de inconformismo com os rumos atuais da vida pública.
Fonte: Expresso Vida © (nº 73 - 15 de Junho de 2001 - ano 2) São Francisco do Sul, Sc, Brasil.

*O Prof. Dr. Milton Santos (Milton de Almeida Santos ou Milton Almeida dos Santos), nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, no dia 03 de Maio de 1926. Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar, coragem que sempre teve. Doutor honoris causa em vários países, professor em diversos países (em função do exílio político), autor de cerca de 40 livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre outros. Formou-se em Direito no ano de 1948, pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi professor em Ilhéus e Salvador, autor de livros, que surpreenderam os geógrafos brasileiros e de todo o mundo, pela originalidade e audácia: "O Povoamento da Bahia" (48), "O Futuro da Geografia" (53), "Zona do Cacau" (55) entre muitos outros. Em 1958, já voltava da Universidade de Estrasburgo, da França, com o doutorado em Geografia, trabalhou no jornal "A Tarde" e na CPE (Comissão de Planejamento Econômico-BA), precursora da Sudene, foi preso em 1964 e exilado. Passou o período entre 1964 a 1977 ensinando na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela, Tânzania; escrevendo e lutando por suas idéias. Foi o único brasileiro e receber um "prêmio Nobel de Geografia", o Vautrin Lud. Outras de suas magistrais obras são: "Por Uma Outra Globalização" e "Território e Sociedade no Século XXI" (editora Record). Um dos mais respeitados intelectuais brasileiros, considerado por seus pares um dos mais conceituados geógrafos vivos do mundo, Milton Santos quase se compara ao intelectual americano Noam Chomsky, em termos de radicalidade de sua original reflexão de resistência em tempos de "pensamento único". Milton Santos, este grande brasileiro, morreu em São Paulo-SP, no dia 24 de Junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer.

segunda-feira, maio 29, 2006

Simón Bolívar no Brasil

RNW: Simón Bolívar no Brasil: "A América Latina, que já teve em comum regimes militares, tem agora governos progressistas e de esquerda. No Chile, a socialista Michele Bachelet, na Argentina, Nestor Kirchner e no Uruguai, Tabaré Vázquez. Com mais destaque, temos Hugo Chávez, na Venezuela e Evo Morales, na Bolívia."

sábado, maio 27, 2006

Brasil em Relevo - Embrapa Monitoramento por Satélite

Brasil em Relevo - Embrapa Monitoramento por Satélite

Cientistas divergem sobre aumento da intensidade dos furacões - 26/05/2006

Folha Online - Ciência - Cientistas divergem sobre aumento da intensidade dos furacões - 26/05/2006

Rebeldes sudaneses se infiltram em campos de refugiados do Chade - 26/05/2006

Folha Online - Mundo - Rebeldes sudaneses se infiltram em campos de refugiados do Chade - 26/05/2006

Saiba quais foram os piores terremotos dos últimos 15 anos - 27/05/2006

Folha Online - Mundo - Saiba quais foram os piores terremotos dos últimos 15 anos - 27/05/2006

Tropas tentam controlar situação no Timor Leste em meio ao caos - 26/05/2006

Folha Online - Mundo - Tropas tentam controlar situação no Timor Leste em meio ao caos - 26/05/2006

sexta-feira, maio 26, 2006

Assim, tenta-se simplesmente começar despertando a consciência quanto a que os homens são enganados de modo permanente, pois hoje em dia o mecanismo da ausência de emancipação é o mundus vult decipi em âmbito planetário, de que o mundo quer ser enganado. A consciência de todos em relação a essas questões poderia resultar numa crítica imanente, já que nenhuma democracia normal poderia se dar ao luxo de se opor de maneira explícita a um tal esclarecimento. —


Adorno em 'Educação e Emancipação' (1995:183)

sábado, maio 20, 2006

Galeria de imagens Sobre o Tufão Chanchu

Folha Online - Galeria de imagens Tufão Chanchu

Novo diesel estimulará agronegócio, diz Dilma - 20/05/2006

Folha Online - Dinheiro - Novo diesel estimulará agronegócio, diz Dilma - 20/05/2006

Novo diesel será produzi com óleo vegetal

Petrobrás


Novo diesel será produzi com óleo vegetal


A diferença do biodiesel convencional está no processo de produção: o H-Bio é mais barato


A Petrobrás desenvolveu uma tecnologia inédita para a produção de um diesel com 18% de óleo vegetal em sua composição, cujo custo é menor do que o produto convencional (100% derivado do petróleo) e todo o processamento ocorre na refinaria de petróleo.
Batizado de H-Bio, o novo produto será fabricado em duas refinarias da companhia––Regap (MG) e Repar (PR)––a partir do próximo ano e em cinco unidades até 2011. A estatal não informou o investimento necessário para o desenvolvimento do projeto, inédito no mundo.
A diferença do biodiesel convencional está no processo de produção, que do H-Bio é mais barato. No caso do biodiesel tradicional, o óleo ou os grãos (soja, mamona ou outro) são processados em uma unidade produtora de biodiesel, produto de depois é misturado ao diesel derivado de petróleo que sai das refinarias da Petrobrás. A mistura é feita pelas distribuidoras.
O governo estabeleceu que a partir de 2008 é obrigatória a mistura de 2% do biodiesel (convencional) ao diesel derivado de petróleo. Esse percentual sobe para 5% em 2013.
Pela nova tecnologia, a Petrobrás compra o óleo vegetal e o mistura ao petróleo antes de completar o processo de refino. Ao final, sai da refinaria o diesel pronto para abastecer os veículos, sem precisar de adição de nenhum outro produto.


“Testamos o produto e vimos que ele é técnica e economicamente viável”, disse o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Os testes em escala comercial foram realizados na Regap utilizando exclusivamente óleo de soja.


Segundo Costa, além do preço menor, o novo produto permitirá reduzir as importações de diesel. Se a mistura de óleo vegetal fosse de 10%, haveria uma economia de 256 mil metros cúbicos de diesel ao ano. A cifra representa hoje 10% do diesel importado.
Com base na estimativa de usar 10% de óleo de vegetal, a Petrobras estima que demandará 10% das exportações atuais de óleo de soja––2,7 milhões de metros cúbicos/ano––para a produção do diesel H-Bio.


Costa disse que o percentual de óleo vegetal a ser utilizado na produção do H-Bio dependerá das condições de preço do mercado e da oferta do produto.

O País que quer existir

Eduardo Galeano

Uma imensa explosão de gás: esse foi o desfecho popular que sacudiu toda a Bolívia e culminou com a renúncia do presidente Sánchez de Lozada, que fugiu deixando atrás de si um rastro de mortos.

O gás iria ser enviado para a Califórnia, a preço ruim e a troco de mesquinhas regalias, através de terras chilenas que em outros tempos haviam sido bolivianas. A saída do gás por um porto do Chile colocou sal na ferida, em um país que há mais de um século vem exigindo, em vão, a recuperação do caminho para o mar que perdeu em 1883, na guerra vencida pelo Chile.

A rota do gás, no entanto, não foi o motivo mais importante da fúria que ardeu por todas as partes. Outra fonte essencial foi a indignação popular, que o governo respondeu a balas, como de costume, regando de mortos ruas e caminhos. As pessoas se indignaram porque se negaram a aceitar que ocorra com o gás o que antes ocorreu com a prata, o salitre, o estanho e todo o resto.

A memória dói, mas ensina: os recursos naturais não renováveis se vão sem dizer adeus, e jamais regressam. ..

Por volta de 1870, um diplomata inglês sofreu, na Bolívia, um desagradável incidente. O ditador Mariano Melgarejo lhe ofereceu uma taça de chicha, uma bebida nacional feita de raiz fermentada; o diplomata agradeceu, mas disse que preferia chocolate. Melgarejo, com sua habitual delicadeza, obrigou-o a beber uma enorme tigela quente de chocolate e depois o fez passear em um burro, montado ao contrário, pelas ruas de La Paz. Quando a rainha Victória, em Londres, tomou conhecimento do assunto, mandou trazer um mapa, colocou uma cruz de tinta sobre o país e sentenciou: “A Bolívia não existe!”.

Várias vezes ouvi esta história. Ocorreu assim? Pode ser que sim, pode ser que não.

Mas a frase, atribuída à arrogância imperial, se pode ler também como uma involuntária síntese da atormentada história do povo boliviano. A tragédia se repete, girando como um peão: há cinco séculos, a fabulosa riqueza da Bolívia amaldiçoa os bolivianos, que são os pobres mais pobres da América do Sul. “A Bolívia não existe”: não existe para seus filhos.

Na época colônia, a prata de Potosi foi, durante mais de dois séculos, o principal alimento do desenvolvimento capitalista da Europa. “Vale um Potosi” se dizia para elogiar algo que não tinha preço.

Em meados do século 16, a cidade mais populosa, mais cara e mais decadente do mundo brotou e cresceu aos pés da montanha da qual provinha a prata. Essa montanha, a chamada Cerro Rico, tragava os índios.

“Estavam os caminhos cobertos, que parecia que se mudava o reino” escreveu um rico mineiro de Potosi: as comunidades se esvaziavam de homens, que de todas as partes marchavam, prisioneiros, rumo à boca que conduzia às escavações. Do lado de fora, temperatura de inverno. Dentro, o inferno. De cada dez homens que entravam, somente três saíam vivos. Mas os condenados à mina, que pouco duravam, geravam a fortuna dos banqueiros flamencos, genoveses e alemães, credores da coroa espanhola, e eram esses índios que possibilitaram a acumulação de capitais que converteu a Europa no que a Europa é.

O que obteve a Bolívia com tudo isso? Uma montanha oca, uma incontável quantidade de índios assassinados pelo cansaço, e uns tantos palácios habitados por fantasmas.

No século 19, quando a Bolívia foi derrotada na chamada Guerra do Pacífico, não só perdeu sua saída para o mar e ficou encurralada no coração da América do Sul. Perdeu, também, seu salitre.

A história oficial, que é a história militar, conta que o Chile ganhou essa guerra. Mas a história real comprova que o vencedor foi o empresário britânico John Thomas North. Sem disparar um tiro ou gastar um centavo, North conquistou territórios que haviam sido da Bolívia e do Peru e se converteu no rei do salitre, que era à época o fertilizante imprescindível para alimentar as cansadas terras da Europa.

No século 20, a Bolívia foi o principal abastecedor de estanho do mercado internacional.

As latas de sopa, que deram fama a Andy Warhol, provinham das minas que produziam estanho e viúvas. Nas profundidades das escavações, o implacável pó de silício matava por asfixia. Os operários apodreciam seus pulmões para que o mundo pudesse consumir estanho barato.

Durante a segunda Guerra Mundial, a Bolívia contribuiu para a causa aliada vendendo seu mineral a um preço dez vezes mais baixo do que o baixo preço de sempre. Os salários dos operários se reduziram a nada, houve greve, as metralhadoras cuspiram fogo. Simon Patiño, dono do negócio e senhor do país, não teve que pagar indenizações porque a matança por metralhadas não é acidente de trabalho.

À época, o senhor Simon pagava 50 dólares de imposto de renda, mas pagava muito mais para o presidente da nação e a todo seu gabinete. Ele havia sido um morto de fome tocado pela varinha mágica da fortuna. Suas netas e netos ingressaram na nobreza européia; casaram-se com condes, marqueses e parentes de reis.

Quando a revolução de 1952 destronou Patiño e nacionalizou o estanho, restava pouco mineral, não mais que restos de meio século de desaforada exploração a serviço do mercado mundial.

Há mais de 100 anos, o historiador Gabriel René Moreno descobriu que o povo boliviano era “cerebralmente incapaz”. Ele havia posto na balança um cérebro indígena e outro mestiço e havia comprovado que pesavam entre cinco e dez onças a menos que o cérebro da raça branca.

Com o passar do tempo, o país que não existe segue enfermo de racismo. Mas o país que quer existir, onde a maioria indígena não tem vergonha de ser o que é, não culpa o espelho.

Essa Bolívia, farta de viver em função do progresso alheio, é o país de verdade. Sua história, ignorada, abunda em derrotas e traições, mas também em milagres dos quais são capazes de fazer os desapreciados, quando deixam de desapreciar a si mesmos e quando deixam de brigar entre si.

No ano 2000 ocorreu um caso único no mundo: uma população desprivatizou a água. A chamada “guerra da água” ocorreu em Cochabamba. Os camponeses marcharam desde os vales e bloquearam a cidade. A população apoiou. Foram atacados com balas e gases, o governo decretou estado de sítio. No entanto, a rebelião coletiva continuou, sem recuar, até que na investida final a água foi arrancada das mãos da empresa Bechtel. (A empresa, com sede na Califórnia, recebe agora um consolo do presidente Bush, que a premia com contratos milionários no Iraque.).

Faz alguns meses, outra explosão popular em toda Bolívia venceu nada menos que o Fundo Monetário Internacional. No entanto, o FMI vendeu caro sua derrota, cobrou mais de 30 vidas assassinadas pelas chamadas forças da ordem, mas o povo cumpriu sua façanha. O governo não teve outro remédio a não ser anular o imposto aos salários, que o FMI havia mandado aplicar.

Agora, é a guerra do gás. A Bolívia dispõe de enormes reservas de gás natural. Sanches de Lozada havia chamado de “capitalização” à sua privatização mal dissimulada, mas o país que quer existir acaba de demonstrar que não tem memória fraca. Outra vez a velha história de riqueza que se evapora em mãos alheias? “O gás é nosso direito” proclamam os panfletos e as manifestações. O povo exigia e seguirá exigindo, uma vez mais, que o gás seja posto a serviço da Bolívia, em lugar de a Bolívia se submeter, novamente, à ditadura de seu subsolo. O direito à autodeterminação, que tanto se invoca e tão pouco se respeita, começa por aí.

A desobediência popular fez a corporação Pacific LNG, integrada pela Repsol, British Gás e Panamericana Gas (que se supõe ser sócia da empresa Enron, famosa por seus virtuosos costumes) perder um valioso negócio. Tudo indica que a corporação viera com intenção de ganhar US$ 10 para cada dólar investido.

Por sua parte, o fugitivo Sánchez de Lozada perdeu a presidência. Seguramente, não perdeu o sono. Sobre sua consciência pesa o crime de mais de 80 manifestantes, mas essa não foi sua primeira carnificina e este porta-voz da modernização não se atormenta por nada que não seja rentável. Afinal, ele pensa e fala em inglês, mas não é o inglês de Shakespeare: é o de Bush.

O artigo "El país que quiere existir", de Eduardo Galeano, foi publicado originalmente nos jornais Pagina 12 (Argentina), El Mundo (Espanha), e Bolpress (Bolivia).

sexta-feira, maio 19, 2006

O atlas do universo

Astrônomos montam um mapa tridimensional com um milhão de galáxias
Por Luciana Sgarbi

Quando se trata de observar o céu, o mais difícil é calcular a que distância estão os objetos do cosmos em relação à Terra. Os telescópios, as sondas e demais equipamentos de estudo do espaço só dão conta de flagrar astros e galáxias situados a 13,8 bilhões de anos-luz (um ano-luz equivale a 9,461 trilhões de quilômetros). Em outras palavras, só 5% de tudo que existe no universo é conhecido pelos cientistas. O restante é um mistério que os impulsiona a tentar decifrar uma charada astronômica: qual o tamanho do “infinito” e de que ele é feito?

O primeiro passo para resolver esse enigma acaba de ser dado pelo astrônomo Chris Blake, da Universidade de Colúmbia Britânica, no Canadá. Em parceria com instituições do Reino Unido, dos EUA e da Austrália, ele elaborou o maior mapa tridimensional do cosmos. Trabalhando com dados obtidos pelo Telescópio Anglo-Australiano, Blake teve acesso a observações precisas da distância de dez mil galáxias. A partir delas, ele desenvolveu um programa de computador que projetou a localização exata de outras 990 mil. No espaço elas costumam emitir uma luz que se propaga e, nesse trajeto, sofrem distorções que são captadas pelos aparelhos de observação na Terra – e também pelas sondas espalhadas no espaço. Quanto maior a distorção, mais longe está o ponto de origem. Após comparar cada feixe luminoso emitido, Blake e sua equipe calcularam as distâncias das galáxias. “Mais de um milhão delas estão mais longe da Terra do que imaginávamos”, diz ele.

Com esse projeto é possível também demarcar a fronteira celeste que separa a nossa galáxia das demais. Antes se imaginava que elas se aglomeravam a um bilhão de anos-luz, o equivalente a um bilhão de vezes a distância entre a Terra e Plutão, o último planeta do Sistema Solar. “Descobrimos que há galáxias gigantescas e muito mais perto”, diz Blake. Ao montar as peças desse colossal quebra-cabeça, os especialistas agora concluíram: 90% das maravilhas do universo não se projetam no céu que admiramos em claras noites de lua cheia.

quarta-feira, maio 17, 2006

De um vulcão nasceu a barbatana

USGS
A barbatana cresce sem parar.
Nesse ritmo, o vulcão pode
explodir a qualquer momento
Dissimulado: as mudanças de "humor" do vulcão

Geologia

Uma parede que já atinge 20 m de
altura não pára de crescer na cratera do
vulcão Santa Helena e sua pressão pode
levar à maior explosão de sua história
Por Luciana Sgarbi

Há nada menos de dois séculos geólogos de todo o mundo estudam
a hiperatividade do vulcão Santa
Helena na região americana de Seattle. Quanto mais pesquisam, mais se surpreendem com essa montanha de 91 metros de altura. A mais recente perplexidade é o crescimento, no corpo desse vulcão, de uma barbatana rochosa que já atingiu cerca de 20 metros de altura. Na semana passada, técnicos do Observatório Geológico dos Estados Unidos não hesitaram em soar o alerta. “Essa barbatana pode ser o sinal de que o Santa Helena vai explodir e a erupção pode acontecer a qualquer momento”, diz o geólogo Tom Pierson. Segundo ele, é “quase inevitável” que essa barbatana afunde a cratera e provoque a explosão.

Diferentemente dos demais vulcões, que “descansam” por longo tempo entre
uma erupção e outra, o Santa Helena vive a todo vapor. Em 1980 entrou em atividade e lançou nuvens de cinzas, gases e lavas que se espalharam na atmosfera num
raio de 400 quilômetros. Estima-se que 24 mil animais foram extintos e sabe-se
com certeza que 57 pessoas morreram. Em outubro de 2004, ele soltou vapores e cinzas num raio de 96 quilômetros, durante cinco dias. Quarenta e oito horas após a sua explosão uma misteriosa saliência apareceu em sua encosta. O que era somente uma saliência transformou-se nessa parede de magma resfriado que desafia os mais elementares princípios da física e da engenharia civil – ela cresce sem a menor sustentação.

Além do acúmulo de magma, ela é o resultado da movimentação das placas tectônicas que se encaixam como peças de quebra-cabeça a cerca de 50 quilômetros abaixo do solo. Em algumas áreas do globo, essas placas deslizam umas sobre as outras e essa “dança” gera um atrito tão forte que empurra a crosta terrestre para cima – fazendo com que ela se infle como um bolo no forno. “É nessas áreas que se formam os vulcões”, diz o pesquisador Wilson Wildner, do Serviço Geológico do Brasil. O problema é que, quando essas pranchas rochosas se movem com muita força debaixo de um vulcão, libertam o magma. “Ele sobe então para a superfície, dando início a uma erupção”, diz Wildner.

Os especialistas americanos acham que esse é o fenômeno que está acontecendo com o Santa Helena. Tanto é assim que geólogos utilizam satélites que fotografam diariamente a barbatana, seis estações sismográficas medem a intensidade dos tremores de terra e uma equipe de químicos analisa os gases que saem de pequenas aberturas da rocha. Uma operação de emergência aérea está sendo montada para retirar a população da região porque, se o Santa Helena explodir, a sua nuvem de cinzas destruirá em poucas horas o motor das aeronaves. Engenheiros do Exército já construíram uma enorme represa que funcionará como barreira para as lavas. Nos últimos dias, a barbatana tem crescido, em média, 1,5 metro a cada 24 horas. Hoje ela é o melhor sismógrafo a indicar que o Santa
Helena vai explodir.

O contrabando do urânio brasileiro

Investigação secreta da Polícia Federal desvenda quadrilha que extrai e envia
material radioativo para fora do País
Por Rodrigo Rangel – Enviado especial a Macapá e Porto Grande (AP)
Vanderlei Almeida/AFP
Dentro do reator: material contrabandeado do Brasil vira combustível para programas
nucleares na Europa e na Ásia


Procurador e senador são citados em conversa de contrabandistas
O que é torianita




Em julho de 2004, a Polícia Federal apreendeu no interior do Amapá, na caçamba de uma caminhonete, 18 sacas de um mineral granulado escuro muito mais pesado do que aparentava ser. O material, examinado depois nos laboratórios da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), era um composto de urânio e tório, minérios altamente radioativos que abundam em jazidas encravadas no extremo Norte brasileiro. Estava ali o fio da meada para a descoberta de uma das mais obscuras máfias em atuação no País, com braços internacionais e especializada na extração clandestina e na comercialização ilegal de urânio. Nas duas últimas semanas, ISTOÉ avançou nesse explosivo terreno. Conheceu a realidade das minas onde garimpeiros põem suas vidas em risco, expostos à radiação, e desvendou uma investigação que, até aqui, vinha sendo tratada como segredo de Estado. São centenas de horas de gravações telefônicas feitas pela polícia que revelam por dentro o funcionamento da máfia, desde a extração do minério nos garimpos situados em plena selva amazônica até as negociatas encabeçadas por quadrilhas que exportam o urânio para clientes tão misteriosos quanto elas próprias – e, muitas vezes, com o respaldo de autoridades constituídas e políticos. Além de brasileiros, estão sob a mira das polícias irlandesa, russa e alemã supostos integrantes de uma conexão que, segundo os investigadores, estaria levando o minério para países da Europa, Ásia e África, em particular a Rússia e a Coréia do Norte. O Palácio do Planalto já recebeu o alerta de que, daqui, o urânio pode estar indo parar, também, nas mãos do terrorismo internacional.

No rastreamento da teia de relações mantidas pelos traficantes, a polícia chegou
ao nome de Haytham Abdul Rahman Khalaf, libanês apontado como o elo com o grupo extremista islâmico Hamas. Na ponta brasileira da trama, até agora a Polícia Federal já identificou três grupos especializados no tráfico de urânio. Todos com base em Macapá. O principal deles tem como testa-de-ferro o empresário João
Luís Pulgatti, dono de um pool de empresas de mineração que consegue autorização oficial para pesquisar jazidas de ouro, mas que, na prática, explora e negocia minério radioativo. Por trás de Pulgatti está John Young, 58 anos, irlandês naturalizado canadense que diz representar no Brasil os interesses de uma companhia internacional de mineração. A partir de 2004, Young passou a ser
sócio das empresas de Pulgatti. De olho nas jazidas e com dólares para investir, a parceria do estrangeiro com o brasileiro avançou. Em agosto do ano passado, o canadense destacou um geólogo para visitar minas no Amapá. Queria comprar uma área de mil hectares que, segundo as conversas grampeadas pela polícia, guarda nada menos que 50 mil toneladas de minério radioativo. Provavelmente de tório e urânio. “Pode mandar o seu pessoal lá checar, trazer amostras e analisar”, diz o dono da área a Pulgatti, encarregado de cuidar das negociações. Pelas terras, o grupo pagaria US$ 1,2 milhão. As escutas revelam que, fora os planos para ampliar a exploração direta de urânio, a dupla tem toda uma estrutura para comprar minério radioativo. Espalha garimpeiros em lugares estratégicos e tem preferência na compra do que for encontrado. Segundo a polícia, outro grupo especializado na aquisição de urânio é encabeçado por Robson André de Abreu, dono de madeireiras, de uma mineradora e de um conhecido restaurante de Macapá. A exemplo de Pulgatti, ele possui uma rede de fornecedores de urânio. O terceiro “grupo criminoso”, como escrevem os agentes nos relatórios secretos obtidos por ISTOÉ, é chefiado por um homem até agora identificado apenas como Nogueira. Ao longo da investigação, os policiais descobriram que o negócio é infinitamente maior que aqueles 600 quilos apreendidos há quase dois anos. Nas escutas, surgem negociações de até dez toneladas.

A máfia do urânio também tem um braço no poder público. Os grampos da Polícia Federal registraram conversas em que o geólogo José Guimarães Cavalcante, braço direito de João Pulgatti, revela o auxílio de um senador da República para desencravar no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em Brasília, um processo em que se buscava autorização para pesquisa de minério. O senador em questão é Papaléo Paes, do PSDB do Amapá. “Ele (um advogado de nome Luís Carlos) ia falar amanhã com o Papaléo pra pedir pra ele ver se segunda-feira ele vai logo lá falar com o diretor-geral (do DNPM), porque assim ele manda publicar isso”, diz Guimarães a um interlocutor, de nome Édson. Mais adiante, ele festeja: “O caminho do doutor Papaléo foi exatamente os orixás que abriram para solucionar o meu problema.” Também conhecido como Zé do Mapa, José Guimarães já foi diretor do distrito do DNPM no Amapá. Acabou afastado após investigação da própria Polícia Federal. Ao mesmo tempo que ocupava o cargo, ele era dono de garimpos no Estado. O atual diretor do distrito, João Batista Picanço Neto, é outro que foi sugado para dentro da investigação. Ele aparece falando com um dos sócios de Pulgatti. Dá orientações sobre como aprovar processos de lavra e indica o funcionário que pode resolver o problema. O interlocutor acolhe a orientação e evidencia a existência de algo suspeito no ar. “Vou procurá-lo pessoalmente. Isso não se fala por telefone”, diz. A investigação envolve até o procurador da República, que estava encarregado de acompanhar o caso. José Cardoso, um dos representantes do Ministério Público Federal no Amapá, passou a ser investigado depois de ter sido citado nas conversas grampeadas. Numa delas, um homem não identificado diz que ele o ajudaria a resolver em Brasília uma pendência burocrática no DNPM. “O dr. José Cardoso levou meu processo em mãos para Brasília e me garantiu que ele mesmo ia falar com o diretor-geral”, afirma o homem em conversa com o sócio de uma das empresas investigadas. Além de ter aparecido nos grampos, Cardoso tem algo mais a explicar. Até o mês passado, José Guimarães, o ex-diretor do DNPM pilhado no contrabando de urânio, trabalhava como funcionário de seu gabinete. Como passou a ser alvo, o procurador foi afastado do inquérito. Há, ainda, outras autoridades e políticos na mira da polícia. Entre eles, um deputado estadual, Jorge Salomão (PFL), e um ex-deputado federal, Sérgio Barcellos.

O esquema é organizado e envolve cifras significativas. Os grupos trabalham com o auxílio de engenheiros e geólogos. Quando os garimpeiros encontram minério radioativo, submetem pequenas amostras a técnicos que certificam os teores exatos de urânio de cada carregamento. É o que vai indicar o valor do material. O quilo de torianita, que os negociantes preferem chamar de “material pesado”, ou simplesmente “pedra”, para evitar problemas, é vendido em dólar. Varia de US$ 200 a US$ 300. As empresas envolvidas no negócio lucram com a atividade, mas na prática não passam de firmas de fachada. Em Macapá, ISTOÉ foi averiguar o endereço declarado à Receita Federal pela Uniworld Mineração, teoricamente uma das principais empresas do grupo de Pulgatti e do canadense John Young. No lugar, numa rua enlameada de um bairro periférico da cidade, está um barraco de madeira. A pobreza do endereço é inversamente proporcional à vida que levam os cabeças do esquema. Nas escutas, eles aparecem comprando caminhonetes importadas e fazendo orçamento até de avião. Para driblar as autoridades, os estratagemas incluem mudanças constantes dos números de telefone. E as reuniões costumam ser em lugar ignorado, que nas ligações interceptadas eles chamam de “base” ou “batcaverna”. Mesmo com os dribles, a Polícia Federal tem tudo para desmantelar o esquema em breve. A operação, batizada de “Ouro Negro” em referência à cor e ao valor do material radioativo, mobiliza agentes da superintendência de Macapá, da Diretoria de Inteligência e da Divisão Anti-Terrorismo. Já há mais de uma centena de investigados. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também acompanha o caso, por ordem do Planalto.

O urânio, menina-dos-olhos dos traficantes e alvo principal da investigação, é parte da composição da torianita, minério que mais parece uma areia grossa e escura. Cada quilo do material chega a ter 80 gramas de urânio e 750 de tório, igualmente radioativo e também prejudicial à saúde. A extração, o transporte e o armazenamento são feitos na surdina, para driblar a lei – afinal, exploração de minério radioativo é monopólio da União. A maior concentração das minas está na região central do Amapá, num triângulo formado pelos municípios de Porto Grande, Serra do Navio e Pedra Branca. Por ser mais próximo da capital, Macapá, localizada a 110 quilômetros e com ligação por rodovia asfaltada, Porto Grande funciona como uma espécie de entreposto do tráfico. É para lá que é levada boa parte da produção que sai dos garimpos. A rota a seguir é variada. O minério segue de carro para Macapá ou do garimpo é levado de barco até o Oiapoque, na ponta norte do Estado. Depois, vai para a Guiana Francesa, de onde é despachado para outros países. Rússia, Coréia do Norte e países do continente africano são alguns dos destinos sob investigação. Nos grampos, há referência até a um estoque de oito toneladas que estaria sendo mantido no interior de São Paulo.

Em Porto Grande, embora seja um dos motores da economia local, urânio é palavra proibida. Ainda mais agora que a Polícia Federal começou a apertar o cerco. “O quê? Nem me fale de urânio, isso tá dando problema. A Federal tá em cima”, responde o comerciante Antônio Teixeira Lima ao ser perguntado se sabia de alguém que pudesse ter urânio para vender. O medo de contaminação, porém, não é tão grande quanto o medo da polícia. Atravessadores e garimpeiros costumam guardar o material até mesmo dentro de casa ou do quintal. Em fevereiro, a polícia apreendeu 500 quilos de torianita nos fundos do barraco onde o fiscal da prefeitura Estevam dos Santos Nascimento vive com cinco filhos, o menor com três anos. “Sempre tem gente com material escondido por aí”, diz um morador da vila, sem se identificar. Num dos garimpos da região do Cupixi, a 186 quilômetros de Macapá, no meio da selva, falar em urânio é pedir para encerrar a conversa. “Aqui não tem isso não, é proibido”, desconversa o maranhense João Moraes, 36 anos. Ressabiado, ele só fala de ouro. Ouro negro, ao menos diante de estranho, nem pensar. Pode ser polícia.


UM PROCURADOR E UM SENADOR SÃO CITADOS PELOS CONTRABANDISTAS


Joedson Alves
Wilson Sicsu é um dos flagrados nas conversas interceptadas pela Polícia
João Guimarães - O advogado ligou pra mim agora. Dr. Luis Carlos. Ele tentou falar hoje com o José Cardoso (procurador da República). Segunda-feira ele vai falar com o diretor-geral Edson, porque assim que ele mandar publicar isso eu tenho uma viagem pra fazer para fora e só posso ir depois que resolver isso.
Edson - É, com certeza.
J – Mas fica tranqüilo, né? O caminho do dr.
Papaléo (Paes, senador do PSDB-AP) foi exatamente
os orixás, que abriram para solucionar o meu problema, porque o José Nilton quer que eu trabalhe diretamente com ele, né?

Em outra conversa, dois contrabandistas acertam
a venda de uma tonelada do minério
Valente – Fala, Herman!
Herman – Oi!
V – O cara quer vender a tonelada e meia nesse
final de semana ainda. E esse material tá aqui.

Sicsu pede amostras do material a ser vendido
Valente – Fala!
Sicsu – Quando você vier traz a amostra "pra" mim
que a mulher chegou e ela quer ver a amostra do bicho.
V – Do quê?
S – A amostra do pesado pra ela ver.

Queimada faz floresta crescer, diz estudo - 17/05/2006

Folha Online - Ciência - Queimada faz floresta crescer, diz estudo - 17/05/2006

Interromper negociação de acordo foi "chantagem" dos EUA, diz Equador - 17/05/2006

Folha Online - Dinheiro - Interromper negociação de acordo foi "chantagem" dos EUA, diz Equador - 17/05/2006

terça-feira, maio 09, 2006

ONU elege membros do novo Conselho de Direitos Humanos

da France Presse, em Nova York

A eleição dos membros do novo Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta terça-feira não conseguiu atenuar a polêmica gerada pela velha Comissão de Direitos Humanos, criticada por aceitar países com um histórico duvidoso em matéria de direitos humanos.

Depois do voto secreto dos 191 membros da Assembléia Geral, foram eleitos para a nova instância países como Tunísia, China, Arábia Saudita, Rússia e Cuba, alvos tradicionais das organizações de defesa dos direitos humanos.

Os outros oito assentos que correspondiam à região latino-americana serão ocupados por Argentina, Brasil, Equador, Guatemala, México, Peru e Uruguai. Ficaram de fora Nicarágua e Venezuela, além das três candidaturas apresentadas na última hora: Honduras, Colômbia e Costa Rica.

O conselho, no entanto, ainda não está completo, pois falta a eleição dos países do Leste Europeu.

Se na antiga comissão bastava o apoio dos países do grupo regional para conseguir a vaga, no conselho os membros devem obter um mínimo de 96 votos para serem eleitos.

"A boa notícia é que alguns dos governos que menos mereciam entrar no conselho não foram eleitos, como é o caso da Venezuela e do Irã", disse Kenneth Roth, diretor da organização Human Rights Watch.

"Há um certo número de governos que preferíamos não ter aqui, como China, Rússia, Arábia Saudita, Cuba, mas isso era quase inevitável e eles são a minoria", acrescentou.

A disputa pelos 47 assentos da instância que, como sua antecessora, se reunirá em Genebra, envolveu 63 Estados.

Além das oito vagas da América Latina, a África contará com 13, a Ásia com 13, a Europa Oriental com seis e a Europa Ocidental e "outros Estados" com sete.

Se um país integrante do conselho violar os direitos humanos, ele poderá ser expulso do conselho dentro de um ano se dois terços da Assembléia Geral votarem a favor da retirada. Essa regra foi lembrada por alguns diplomatas da ONU depois da votação.

O embaixador alemão, Gunter Pleuger, disse que o fato de que estarem no conselho "lhes dará a oportunidade de trabalhar construtivamente" em matéria de direitos humanos.

Os Estados Unidos decidiram não integrar o conselho, argumentando que se contentavam com as boas candidaturas apresentadas em seu grupo regional. Admitiram que talvez não fossem eleitos devido à boa qualidade das candidaturas de seu grupo.

"Vamos apoiá-lo política, diplomática e financeiramente, e manteremos uma posição de observador", declarou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack.

Citando explicitamente Irã, Cuba, Zimbábue, Mianmar, Sudão e Coréia do Norte, McCormack afirmou que Washington trabalharia com o conselho no caso dos países em que os direitos humanos são mais vulneráveis.

Os sete assentos do grupo Europa Ocidental e outros países, ao qual pertencem os Estados Unidos, foram para Alemanha, Canadá, Finlândia, França, Holanda, Reino Unido e Suíça.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Conselho de Direitos Humanos da ONU
  • sexta-feira, maio 05, 2006

    Petróleo no mundo

    BBC Portuguese | Petróleo no mundo

    O recomeço da história

    As novas condições materiais, base da globalização perversa, poderão alavancar a mutação filosófica do homem

    (9/1/2000)



    MILTON SANTOS

    Vivemos em um mundo complexo, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que aos objetos nos unem.

    Nosso mundo é complexo e confuso ao mesmo tempo, graças à força com a qual a ideologia penetra nos objetos e ações. Por isso mesmo, a era da globalização, mais do que qualquer outra antes dela, exige uma interpretação sistêmica cuidadosa, de modo a permitir que cada coisa seja redefinida em relação ao todo planetário.

    A grande sorte dos que desejam pensar a nossa época é a existência de uma técnica planetária, direta ou indiretamente presente em todos os lugares, e de uma política planetária, que une e norteia os objetos técnicos.

    Juntas, elas autorizam uma leitura ao mesmo tempo geral e específica, filosófica e prática, de cada ponto da Terra. Emerge, desse modo, uma universalidade empírica, de modo a ajudar na formulação de idéias que exprimam o que é o mundo e o que são os lugares.

    Cria-se, de fato, um novo mundo. Para sermos ainda mais precisos, o que, afinal, se cria é o mundo como realidade histórica unitária, ainda que ele seja extremamente diversificado.

    Ele é datado com uma data substantivamente única, graças aos traços comuns de sua constituição técnica e à existência de um único motor das ações hegemônicas, representado pelo lucro em escala global.

    É isso, aliás, que, junto à informação generalizada, assegura a cada lugar a comunhão universal com todos os outros. Ao contrário do que tanto se disse, a história universal não acabou; ela apenas começa.

    Antes o que havia era uma história de lugares, regiões, países. As histórias podiam ser, no máximo, continentais, em função dos impérios que se estabeleceram em uma escala mais ampla.

    A vez da humanidade O que até então se chamava de história universal era a visão pretensiosa de um país ou continente sobre os outros, considerados bárbaros ou irrelevantes.

    O ecúmeno era formado de frações separadas ou escassamente relacionadas do planeta. Somente agora a humanidade faz sua entrada na cena histórica como um bloco, entrada revolucionária, graças à interdependência das economias, dos governos, dos lugares.

    O movimento do mundo conhece uma só pulsação, ainda que as condições sejam diversas segundo continentes, países, lugares, valorizados pela sua forma de participação na produção dessa nova história. Um dado importante de nossa época é a coincidência entre a produção dessa história universal e a relativa liberação do homem em relação à natureza.

    A denominação de era da inteligência poderia ter fundamento nesse fato concreto: os materiais hoje responsáveis pelas realizações preponderantes são cada vez mais objetos materiais manufaturados e não mais matérias-primas naturais.

    Na era da ecologia triunfante, é o homem quem fabrica a natureza, ou lhe atribui valor e sentido, por meio de suas ações já realizadas, em curso ou meramente imaginadas. As pretensões e a cobiça povoam e valorizam territórios desertos.

    Todavia a mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana.

    A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da informação, as quais, ao contrário das técnicas das máquinas, são constitucionalmente divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que o seu uso perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua utilização for democratizada, essas técnicas doces estarão a serviço do homem.

    Por outro lado, muito falamos hoje nos progressos e nas promessas da engenharia genética, que conduziriam a uma mutação do homem biológico. Isso, porém, ainda é do domínio da história da ciência e da técnica.

    Pouco, no entanto, se fala das condições ainda hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e também do planeta.

    Nesse emaranhado de técnicas dentro do qual estamos vivendo, o homem descobre suas novas forças. Já que o meio ambiente é cada vez menos natural, o uso do entorno imediato pode ser menos aleatório. Aumenta a previsibilidade e a eficácia das ações.

    Ampliam-se e diversificam-se as escolhas, desde que se possa combinar adequadamente técnica e política.

    O mundo misturado O mundo fica mais perto de cada qual, não importa onde esteja. Criam-se, para todos, a certeza e a consciência de ser mundo e de estar no mundo, mesmo se ainda não o alcançamos em plenitude material ou intelectual.

    O próprio mundo se instala nos lugares, sobretudo nas grandes cidades, pela presença maciça de uma humanidade misturada, vinda de todos os quadrantes e trazendo consigo interpretações variadas e múltiplas que ao mesmo tempo se chocam e colaboram na produção renovada do entendimento e da crítica da existência. Assim, o cotidiano de cada qual se enriquece, pela experiência própria e pela do vizinho, tanto pelas realizações atuais como pelas perspectivas de futuro.

    As ricas dialéticas da vida nos lugares criam, paralelamente, o caldo de cultura necessário à proposição e o exercício de uma nova política.

    Ousamos, desse modo, pensar que a história do homem sobre a
    Terra dispõe afinal das condições objetivas, materiais e intelectuais, para superar o endeusamento do dinheiro e dos objetos técnicos e enfrentar o começo de uma nova trajetória.

    Aqui, não se trata de fixar datas para as etapas ou o início do processo e, nessa ordem de idéias, o ano 2000, o novo século, o novo milênio são apenas momentos da folhinha, marcos num calendário.

    Ora, a folhinha e o calendário são outros nomes para o relógio, por isso são convencionais, repetitivos e historicamente vazios. O que conta mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente criadas, a que chamamos tempo empírico, cujas mudanças são marcadas pela irrupção de novos objetos, de novas ações e relações e de novas idéias.

    As condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada grande mutação, mas o seu destino vai depender de como serão aproveitadas pela política. O que, talvez, seja irreversível são as técnicas, porque elas aderem ao território e ao cotidiano.

    Mas a globalização atual não é irreversível. Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se dizer que uma história universal verdadeiramente humana, finalmente, está começando.

    Leia mais: Nação ativa, nação passiva

    Os deficientes cívicos

    Mundo do pragmatismo triunfante pode destruir o equilíbrio educacional entre a formação para uma vida plena e a formação para o trabalho




    MILTON SANTOS

    Em tempos de globalização, a discussão sobre os objetivos da educação é fundamental para a definição do modelo de país em que viverão as próximas gerações.

    Em cada sociedade, a educação deve ser concebida para atender, ao mesmo tempo, ao interesse social e ao interesse dos indivíduos. É da combinação desses interesses que emergem os seus princípios fundamentais e são estes que devem nortear a elaboração dos conteúdos do ensino, as práticas pedagógicas e a relação da escola com a comunidade e com o mundo.

    O interesse social se inspira no papel que a educação deve jogar na manutenção da identidade nacional, na idéia de sucessão das gerações e de continuidade da nação, na vontade de progresso e na preservação da cultura. O interesse individual se revela pela parte que é devida à educação na construção da pessoa, em sua inserção afetiva e intelectual, na sua promoção pelo trabalho, levando o indivíduo a uma realização plena e a um enriquecimento permanente. Juntos, o interesse social e o interesse individual da educação devem também constituir a garantia de que a dinâmica social não será excludente.

    Em todos os casos a sociedade será sempre tomada como um referente, e, como ela é sempre um processo e está sempre mudando, o contexto histórico acaba por ser determinante dos conteúdos da educação e da ênfase a atribuir aos seus diversos aspectos, mesmo se os princípios fundamentais permanecem intocados ao longo do tempo. Foi dessa forma que se deu a evolução da idéia e da prática da educação durante os últimos séculos, paralelamente à busca de formas de convivência civilizada, alicerçadas em uma solidariedade social cada vez mais sofisticada.

    As modalidades sucessivas da democracia como regime político, social e econômico levaram, no após guerra, à social-democracia. A história da civilização se confundiria com a busca, sempre renovada, e o encontro das formas práticas de atingir aqueles mencionados princípios fundamentais da educação, sempre a partir de uma visão filosófica e abrangente do mundo.

    Esse esforço, para o qual contribuíram filósofos, pedagogos e homens de Estado, acaba por erigir como pilares centrais do sistema educacional: o ensino universal (isto é, concebido para atingir a todas as pessoas), igualitário (como garantia de que a educação contribua a eliminar desigualdades), progressista (desencorajando preconceitos e assegurando uma visão de futuro).

    Daí, os postulados indispensáveis de um ensino público, gratuito e leigo (esta última palavra sendo usada como sinônimo de ausência de visões particularistas e segmentadas do mundo) e, dessa forma, uma escola apta a formar concomitantemente cidadãos integrais e indivíduos fortes. Aliás, foram essas as bases da educação republicana, na França e em outros países europeus, baseada na noção de solidariedade social exercida coletivamente como um anteparo, social e juridicamente estabelecido, às tentações da barbárie.

    A globalização, como agora se manifesta em todas as partes do planeta, funda-se em novos sistemas de referência, em que noções clássicas, como a democracia, a república, a cidadania, a individualidade forte, constituem matéria predileta do marketing político, mas, graças a um jogo de espelhos, apenas comparecem como retórica, enquanto são outros os valores da nova ética, fundada num discurso enganoso, mas avassalador.

    Em tais circunstâncias, a idéia de emulação é compulsoriamente substituída pela prática da competitividade, o individualismo como regra de ação erige o egoísmo como comportamento quase obrigatório, e a lei do interesse sem contrapartida moral supõe como corolário a fratura social e o esquecimento da solidariedade.

    O mundo do pragmatismo triunfante é o mesmo mundo do "salve-se quem puder", do "vale-tudo", justificados pela busca apressada de resultados cada vez mais autocentrados, por meio de caminhos sempre mais estreitos, levando ao amesquinhamento dos objetivos, por meio da pobreza das metas e da ausência de finalidades. O projeto educacional atualmente em marcha é tributário dessas lógicas perversas. Para isso, sem dúvida, contribuem: a combinação atual entre a violência do dinheiro e a violência da informação, associadas na produção de uma visão embaralhada do mundo; a perplexidade diante do presente e do futuro; um impulso para ações imediatas que dispensam a reflexão, essa cegueira radical que reforça as tendências à aceitação de uma existência instrumentalizada.

    É nesse campo de forças e a partir dessa caldo de cultura que se originam as novas propostas para a educação, as quais poderíamos resumir dizendo que resultam da ruptura do equilíbrio, antes existente, entre uma formação para a vida plena, com a busca do saber filosófico, e uma formação para o trabalho, com a busca do saber prático.

    Esse equilíbrio, agora rompido, constituía a garantia da renovação das possibilidades de existência de indivíduos fortes e de cidadãos íntegros, ao mesmo tempo em que se preparavam as pessoas para o mercado. Hoje, sob o pretexto de que é preciso formar os estudantes para obter um lugar num mercado de trabalho afunilado, o saber prático tende a ocupar todo o espaço da escola, enquanto o saber filosófico é considerado como residual ou mesmo desnecessário, uma prática que, a médio prazo, ameaça a democracia, a República, a cidadania e a individualidade. Corremos o risco de ver o ensino reduzido a um simples processo de treinamento, a uma instrumentalização das pessoas, a um aprendizado que se exaure precocemente ao sabor das mudanças rápidas e brutais das formas técnicas e organizacionais do trabalho exigidas por uma implacável competitividade.

    Daí, a difusão acelerada de propostas que levam a uma profissionalização precoce, à fragmentação da formação e à educação oferecida segundo diferentes níveis de qualidade, situação em que a privatização do processo educativo pode constituir um modelo ideal para assegurar a anulação das conquistas sociais dos últimos séculos. A escola deixará de ser o lugar de formação de verdadeiros cidadãos e tornar-se-á um celeiro de deficientes cívicos.

    É a própria realidade da globalização -tal como praticada atualmente- que está no centro desse debate, porque com ela se impuseram idéias sobre o que deve ser o destino dos povos, mediante definições ideológicas sobre o crescimento da economia, como a chamada competitividade entre os países. As propostas vigentes para a educação são uma consequência, justificando a decisão de adaptá-la para que se torne ainda mais instrumental à aceleração do processo globalitário. O debate deve ser retomado pela raiz, levando a educação a reassumir aqueles princípios fundamentais com que a civilização assegurou a sua evolução nos últimos séculos -os ideais de universalidade, igualdade e progresso-, de modo que ela possa contribuir para a construção de uma globalização mais humana, em vez de aceitarmos que a globalização perversa, tal como agora se verifica, comprometa o processo de formação das novas gerações.

    Leia mais: Da cultura à indústria cultural

    Brasileiros casam tarde

    Estadao.com.br :: Especiais

    Substâncias químicas afetam reprodução humana, diz Greenpeace - 04/05/2006

    Folha Online - Ciência - Substâncias químicas afetam reprodução humana, diz Greenpeace - 04/05/2006

    Pólo RS :: Fórum das AD's

    A China chegou à América antes de Colombo? - 4/5/2006

    The Economist

    Os bravos marinheiros que abriram as fronteiras do mundo com suas grandes viagens de exploração são figuras marcantes na história européia. Colombo encontrou o Novo Mundo em 1492; Dias contornou o Cabo da Boa Esperança em 1488; e Magalhães circunavegou o mundo em 1519. Há, no entanto, um problema na confiante asserção sobre a maestria européia: ela pode não ser verdadeira.

    Parece mais provável que o mundo e todos seus continentes tenham sido descobertos por um almirante chinês, Zheng He, cujas frotas rondaram os oceanos de 1405 a 1435. Suas navegações, bem documentadas nos registros históricos chineses, foram descritas em um livro que surgiu na China por volta de 1418: "As maravilhosas visões da Balsa Estrela".

    Em Pequim e Londres, foram reveladas novas evidências que fortaleceram a posição favorável ao pioneirismo de Zheng He. É uma cópia de 1763 de um mapa datado de 1418, o qual tem notas que conferem substancialmente com as descrições do livro. "Revolucionará nossa forma de pensar a história do mundo no século XV", diz Gunnar Thompson, estudante de mapas antigos e de navegadores.

    O mapa foi mostrado em Pequim e no Museu Marítimo Nacional, de Greenwich. Seis caracteres chineses no canto direito superior do mapa indicam ser um "mapa do mundo integrado". Num canto inferior, uma nota diz que o mapa foi desenhado por Mo Yi Tong, imitando um mapa feito em 1418, que mostrava bárbaros pagando tributos ao imperador Zhu Di, da dinastia Ming. O cartógrafo distingue o que copiou do original e o que ele adicionou.

    O mapa foi comprado por cerca de US$ 500 de um pequeno comerciante de Xangai em 2001. O comprador, Liu Gang, é um dos mais eminentes advogados comerciais da China e coleciona mapas e pinturas. Liu diz que ele sabia ser algo importante, mas pensava que podia ser uma falsificação moderna. Mas cinco colecionadores experientes concordaram que o mapa tinha mais de cem anos, por causa da despigmentação e dos traços de insetos sobre o papel de bambu.

    Incerto de seu significado, Liu pediu a opinião de vários especialistas em história chinesa antiga, mas nenhum, diz, estava disponível. Então, no outono passado, ele leu 1421: The Year China Discovered the World ("1421: o ano em que a China descobriu o mundo"), de Gavin Menzies, o qual diz que Zheng He circunavegou o mundo, descobrindo a América no caminho. Menzies, que era tripulante de submarino da Marinha britânica e funcionário de banco, é um historiador amador e sua teoria teve pouca aprovação entre profissionais. Mas seu livro virou sucesso de vendas. Seus argumentos convenceram Liu de que seu mapa era uma relíquia das primeiras viagens de Zheng He.

    Os detalhes na cópia do mapa são notáveis. Os perfis da África, da Europa e da América podem ser reconhecidos instantaneamente. Mostra o Nilo com duas fontes. A passagem entre norte e oeste parece não ter nenhuma área com gelo. As imprecisões também são evidentes. A Califórnia é mostrada como uma ilha; as ilhas britânicas não aparecem. A distância entre o mar Vermelho e o Mediterrâneo é dez vezes maior do que a verdadeira. A Austrália está no lugar errado (embora os cartógrafos não tenham mais dúvidas de que a Austrália e Nova Zelândia foram descobertas por navegadores chineses séculos antes do capitão Cook).

    Os comentários no mapa, que parecem ter sido copiados do original, estão escritos em claros caracteres chineses, que ainda podem ser lidos facilmente. Da costa oeste da América, o mapa diz: "A pele da raça nesta área é preta-vermelha e penas são amarradas ao redor de suas cabeças e cinturas". Dos australianos, assinala: "A pele do aborígine também é preta. Todos estão nus e usam peças de ossos ao redor de suas cinturas".

    É a notável precisão, e não os erros, que os críticos da teoria de Menzies deverão usar para questionar a autenticidade do mapa de 1418. Menzies e seus seguidores tendem a estabelecer a cópia de 1763 como representante fiel do original de 1418, o que traria respaldo à tese de que a China descobriu a América por volta de 1421. Análises espectrográficas de massa para datar o mapa estão sendo feitas na Universidade Waikato, na Nova Zelândia. Mesmo se confirmarem a antiguidade do mapa, a análise terá uma importância limitada, já que só determina a data de tintas e papel do copista.

    Cinco especialistas em mapas antigos destacaram que o mapa de 1418 compila informações que estavam disponíveis aos poucos em mapas náuticos anteriores da China, que datam desde o século XIII e de Kublai Khan, que não era de forma nenhuma um navegador. Eles crêem na autenticidade da cópia.

    O mapa tem boas estimativas de latitude e longitude de grande parte do mundo e vê a Terra redonda. "Os chineses tinham noção de longitude antes de Zheng He", diz Robert Cribbs, da Universidade da California. Eles presumiram que o mundo era redondo. "O formato do mapa é totalmente consistente com o nível de conhecimento que poderíamos supor dos cartógrafos reais chineses, após as viagens de Zhen He", diz Thompson.

    E alguns dos erros do mapa de 1418 logo apareceram nos mapas europeus, o mais gritante sendo a Califórnia como uma ilha. Os portugueses têm conhecimento de um mapa de antes de 1420 feito por um cartógrafo chamado Abertin di Virga, que mostrava a África e a América. Como os portugueses não haviam descoberto esses lugares, as fontes mais óbvias da informação parecem ser cópias européias de mapas chineses.

    A visão, porém, está longe de ser unanimidade entre os especialistas, com muitos dos críticos mais vorazes sendo da própria China. O jornalista Wang Tai-Peng, em Vancouver, que atesta as navegações chinesas pelo mundo no século XV (ele escreve sobre uma visita de embaixadores chineses a Florença em 1433), tem dúvidas de que os navios de Zheng He tenham chegado à América do Norte. Wang também argumenta que as cartas de navegação de Zheng He eram feitas de uma forma diferente da tradição chinesa de mapas.

    A maioria das falsificações é motivada por fins monetários, especialmente com o mercado de mapas em alta. A Biblioteca do Congresso dos EUA pagou recentemente US$ 10 milhões por uma cópia de um mapa-múndi de 1507, do cartógrafo alemão Martin Waldseemüller. Liu, no entanto, diz que não vende. "O mapa faz parte de minha vida", assegura.

    As conseqüências da descoberta do mapa poderiam ser consideráveis. Se provar, de fato, ser o primeiro mapa-múndi, a" história da descoberta do Novo Mundo terá de ser reescrita", avalia Menzies. O que isso importa? Mostrar que o mundo foi explorado antes por navegadores chineses em vez de europeus significaria um grande dose de revisionismo histórico. Mas há mais do que história na questão. Não deixaria de ser menos interessante que os chineses, tendo descoberta a real extensão do mundo, não o tenham explorado comercialmente e politicamente. Afinal, a descoberta da América por Colombo levou à exploração e desenvolvimento do continente pelos europeus, algo que 500 anos depois tornou os EUA mais poderosos do que a China nunca foi.

    Autor: The Economist

    terça-feira, maio 02, 2006

    Bolívia garante fornecimento e preços ao Brasil e à Argentina, diz governo - 02/05/2006

    Folha Online - Dinheiro - Bolívia garante fornecimento e preços ao Brasil e à Argentina, diz governo - 02/05/2006

    Folha Online - Dinheiro - Uruguai se prepara para deixar o Mercosul, diz Vázquez - 01/05/2006

    da Efe, em Montevidéu

    O Uruguai está se preparando para renunciar à sua condição de membro pleno do Mercosul e passar a ser um parceiro comercial do bloco, anunciou neste domingo o presidente do país, Tabaré Vázquez.

    Em uma entrevista ao "Canal 10" de Montevidéu, Vázquez, que está em Washington em visita oficial, disse que o Mercosul "é mais um problema que uma solução para o Uruguai".

    O presidente declarou que seu país invocará os artigos 20 e 21 do Tratado de Assunção --sobre a carta de renúncia ao acordo-- para se "tornar um simples associado". Para Vázquez, o modelo que o Uruguai seguirá "é o do Chile, um país moderno e aberto ao mundo".

    O presidente disse ainda que o Uruguai terá apenas um acordo de livre comércio com o Mercosul e "nenhum outro compromisso com o bloco"

    Vázquez criticou o fato de as relações dentro do bloco, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, serem permanentemente fontes de problemas.

    Ele citou como exemplo o "fechamento das pontes" que ligam Argentina e Uruguai por ambientalistas argentinos, que protestam contra a construção de duas fábricas de papel na cidade uruguaia de Frei Bentos, às margens do rio Uruguai. Os bloqueios são "retrocessos no processo de integração", assim como as "negociações dos países grandes (Brasil e Argentina), que excluem o Paraguai e o Uruguai", disse Vásquez.

    Segundo declarações de Vázquez ao "Canal 10", em contraste a tudo isso, "um leque de oportunidades representado pelo resto do mundo se abre ao Uruguai".



    O anúncio do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, de que seu país se prepara para deixar o Mercosul, gerou nesta segunda-feira um clima de incerteza, apesar de não surpreender os uruguaios.

    Vázquez anunciou a decisão pela TV, de Washington, onde está em visita oficial. Ele explicou que está estudando uma renúncia à condição de membro pleno do bloco, fundado há 15 anos com Brasil, Argentina e Paraguai. Ele pretende adotar o status de país associado, como Chile, Bolívia e Peru, além da Venezuela, que está em processo de integração plena.

    O presidente adiantou que, quando voltar para Montevidéu, vai se reunir com todas as forças políticas do país, para que a saída seja resultado de um amplo consenso. Câmaras empresariais e sindicatos de trabalhadores também serão ouvidos, segundo ele.

    Vázquez anunciou a saída numa entrevista ao enviado do Canal 10 de Montevidéu a Washington. No entanto, outros meios disseram que membros da delegação presidencial foram mais cautelosos ao comentar a retirada do Mercosul.

    Por outro lado, ninguém no país parece se surpreender. Governo, oposição, imprensa, industriais, exportadores e importadores concordam que o Mercosul "não funciona", "não serve" e que só existe para que "Argentina e Brasil o usem como bem entendem".

    O próprio Vázquez disse hoje ao Canal 10 que o Mercosul "é um problema, e não uma solução para o Uruguai".

    O conflito com a Argentina por causa das fábricas de celulose e o fato de que o governo de Néstor Kirchner, que preside temporariamente o bloco, não tenha atendido a um pedido uruguaio para tratar o assunto no Mercosul, contribuíram para uma visão negativa.

    O Uruguai pediu a convocação do Conselho do Mercosul, mas a Argentina decidiu que o assunto era "bilateral". Na última reunião do Mercosul, os representantes uruguaios receberam o apoio dos outros membros para que o conflito fosse resolvido pelo bloco.

    A Argentina desmentiu o Uruguai e disse que brasileiros e paraguaios rejeitaram a proposta. O governo de Vázquez contestou com a publicação da ata da reunião. No documento, Brasil e Paraguai aprovam a convocação do Conselho.

    Uma semana depois, uma reunião dos presidentes da Argentina, Brasil e Venezuela, em São Paulo, levou a uma mudança da posição brasileira, o que incomodou o Uruguai.

    Os bloqueios das pontes que unem o Uruguai e a Argentina, em protestos de manifestantes argentinos contrários à construção das fábricas de celulose, têm sido denunciados como violações do princípio da livre circulação, exposto nos tratados do Mercosul.

    O Uruguai calcula suas perdas no conflito em US$ 400 milhões.

    Assim, foi com naturalidade que o país recebeu as declarações de Vázquez. Ele disse ao Canal 10 que as relações no Mercosul "são permanentes fontes de problemas" e que o país tem o "leque de oportunidades representado pelo resto do mundo".

    Segundo Vázquez, o modelo para o Uruguai no futuro "é o do Chile, um país moderno e aberto ao mundo".

    O presidente uruguaio elogiou o Tratado de Livre-Comércio assinado com o México em 2004. Agora, ele pretende chegar a um bom acordo também com os Estados Unidos. Na quinta-feira (5), ele vai se reunir com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush e espera conseguir "os melhores resultados possíveis".

    Vázquez revelou sua intenção de assinar acordos de livre-comércio com qualquer país que se interessar. Depois de um tratado comercial com a União Européia, os próximos alvos seriam países árabes, como o Marrocos e os Emirados Árabes Unidos.

    Além disso, para 2007 ele prepara uma viagem pela Ásia, onde, disse que "há um enorme mercado para os produtos uruguaios".

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Mercosul
  • Veja os principais pontos do decreto que nacionaliza o gás da Bolívia - 02/05/2006

    Folha Online - Dinheiro - Veja os principais pontos do decreto que nacionaliza o gás da Bolívia - 02/05/2006

    Saiba mais sobre a disputa em torno do gás e petróleo na Bolívia - 02/05/2006

    Folha Online - Mundo - Saiba mais sobre a disputa em torno do gás e petróleo na Bolívia - 02/05/2006

    segunda-feira, maio 01, 2006

    Evo Morales vai assinar nacionalização dos hidrocarbonetos :: Estadao.com.br

    Evo Morales vai assinar nacionalização dos hidrocarbonetos :: Estadao.com.br

    Mexicanos apóiam boicote a empresas dos EUA

    Mexicanos apóiam boicote a empresas dos EUA :: Estadao.com.br

    O gasoduto de US$ 20 bi - Isto É

    Com o Mercosul em crise, Hugo Chávez insiste num projeto polêmico
    Por Cláudio Camargo


    Conciliador: o “encrenqueiro” Chávez fala em união.

    O projeto de uma comunidade sul-americana de nações vem se esvaindo antes mesmo de se tornar realidade – e por obra de presidentes supostamente interessados em promovê-la. Os sintomas mais recentes são a campanha de Evo Morales contra empresas brasileiras na Bolívia e a rusga entre Tabaré Vazquez (Uruguai) e Néstor Kirchner (Argentina) por conta da instalação de duas multinacionais produtoras de celulose no Uruguai. Ironicamente, a idéia de integração regional só recupera fôlego nas mãos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tido por muitos como um grande encrenqueiro. Numa reunião na semana passada em São Paulo entre ele, o presidente Lula e Kirchner, o venezuelano obteve a ratificação do Brasil e da Argentina para seu projeto de construir, até 2017, um supergasoduto de quase dez mil quilômetros que transportaria gás da Venezuela para o Brasil, o Uruguai e a Argentina. A obra, que poderá acabar com o gargalo energético da região, custará cerca de US$ 20 bilhões, a serem financiados pela PDVSA, Petrobras e por investidores privados. De quebra, Chávez – em sintonia com o Brasil – estendeu o convite à Bolívia, que é contra esse gasoduto do Cone Sul. “A incorporação da Bolívia é fundamental. Juntas, as reservas da Venezuela e da Bolívia (as duas maiores da América do Sul) tornam o projeto sustentável”, disse Chávez.

    “O investimento se pagará em pouco tempo. Acho que vão sobrar recursos”, brincou ele. Chávez garantiu que o gás sairá barato para os consumidores sul-americanos, mas vendeu seu peixe na embalagem de integração regional, não se esquecendo de alfinetar os EUA. “A Venezuela está mais interessada no desenvolvimento da América do Sul”, disse. “Se levássemos em conta apenas o interesse financeiro, não estaríamos aqui em São Paulo, mas em Washington. Se a questão fosse apenas a ganância econômica, estaríamos fazendo acordo com os EUA”, disparou Chávez, o único dos “três mosqueteiros” (definição do venezuelano para a trinca formada por ele, Lula e Kirchner) que se dignou a falar com a imprensa.